Índice da Série Passei 3 Anos da Minha Vida Desenvolvendo um Fone
- Capítulo I: Introdução
- Capítulo II: Minha Entrada na Audiofilia
- Capítulo III: O Primeiro Fone Que Criei
- Capítulo IV: O Surgimento da Kuba
- Capítulo V: Os Primeiros Desenhos
Capítulo III: O Primeiro Fone que Criei
No último post, falei sobre como comecei a me interessar pela audiofilia, e como isso culminou na criação deste site, o MIND THE HEADPHONE.
Porém, por mais que o site seja razoavelmente grande – em 2015, tive mais de 25 milhões de visualizações de página, o que, para um assunto de nicho como esse, é ótimo –, nunca consegui de fato ter algum tipo de lucro. Quando tive anunciantes, a pequena verba servia apenas para cobrir os custos de manutenção, que durante um determinado período foram muito altos para mim. Cheguei a pagar R$400 por mês em hospedagem sem estar ganhando nada com o site.
O ponto é que, por conta disso, mesmo com este site, fones eram apenas um hobby para mim. Neste post, vou falar sobre como eles passaram a ser minha profissão.
Quando voltei da Inglaterra, decidi estudar Design, com habilitação em Projeto de Produto na PUC do Rio de Janeiro. Sempre fui um grande apreciador da estética das coisas, e por isso quis fazer design. No entanto, quando comecei a faculdade, vi que design era muito mais do que isso.
Design, quando baseado no design thinking, é uma disciplina que, resumidamente, ensina uma metodologia processual para a solução de problemas ou atuação diante de oportunidades de mercado. Em outras palavras, é uma forma de projetar, diferente daquela de outras áreas.
Vou exemplificar: se alguém pedir para um engenheiro projetar um bicicletário, a maioria deles vai pensar na maneira mais simples e econômica de construir um bicicletário. Não há nada de errado nisso – é uma das maneiras de se cumprir essa tarefa.
Um designer, porém, terá outra abordagem: em primeiro lugar, ele pensará não num bicicletário, mas na função que este objeto tenta cumprir: ou seja, prender uma bicicleta. E então ele começará entrevistando pessoas que usam bicicletas. Vai tentar entender quem elas são; com o que trabalham; o que fazem no tempo livre; por que motivo se locomovem de bicicleta; quais as dificuldades que encontram quando usam; em que momento usam; o que há de bom em seu uso; qual modelo é utilizado e por aí vai. E vão tentar andar de bicicleta, para viver o mundo dos usuários desse meio de transporte.
A seguir, ele analisará o mercado para descobrir quais soluções para prender bicicletas já existem, para observar de que maneira elas se encaixam nos anseios e dificuldades observados dos ciclistas. Então, tentará desenvolver algo melhor.
Em outras palavras, o designer traz uma abordagem mais humana para a solução desse problema. Tentará desenvolver a melhor maneira possível de prender uma bicicleta para aqueles que as usam.
Na faculdade, a matéria mais importante chama-se projeto. São 10 horas semanais e o objetivo é, justamente, colocar o design thinking em prática. Observamos necessidades no mercado e criamos soluções utilizando essa metodologia já descrita. Já pude desenvolver um brinquedo de crianças que ajuda na alfabetização, um jogo para o Médico Sem Fronteiras, a identidade visual de uma cooperativa de costureiras, um bicicletário, um kit para criar hortas caseiras para crianças e outras coisas. Para uma formação mais completa, até o Projeto Final (que é o nosso TCC, equivalente a uma monografia) não há a necessidade de atuar dentro da nossa habilitação. Por isso pude criar coisas também de Mídia Digital e Comunicação Visual, e não somente de Projeto de Produto.
Neste TCC, o objetivo é desenvolver um produto de maneira ainda mais profissional. Deve haver um enorme embasamento, com amplas pesquisas e contato com o público-alvo, para que possamos criar uma solução pertinente para um problema ou oportunidade encontrados no mercado. A parte de pesquisa e ideação já dura 6 meses, e os outros 6 são dedicados ao desenvolvimento do produto em si, que culmina num protótipo funcional.
Quando cheguei ao Projeto Final, já sabia o que queria fazer: um fone de ouvido. Porém, como disse, não era o suficiente simplesmente projetar um fone de ouvido, já que existem tantos no mercado, e nem algo ligeiramente diferente. O requisito era ousar, já que estava na faculdade e esse é justamente o local onde podemos sonhar alto sem restrições. Ou seja: primeiro pensamos em qual seria a solução ideal para um determinado problema – depois decidimos como vamos de fato fazer.
Em minhas pesquisas, pude notar que a maioria das pessoas que usa fones de ouvido o faz por questões de conveniência, e não porque essa é a forma mais apropriada de ouvir música em todos os momentos. São pessoas que, quando estão em casa, ouvem música pelo próprio notebook ou por caixinhas de som bluetooth. Então, seria muito interessante poder desenvolver um fone que se tornasse uma caixa de som.
E foi isso que fiz. O resultado do meu projeto final foi o Volna (onda, em russo): um fone de ouvido que se dividia em duas partes e se tornava uma caixa de som. Isso é feito da seguinte maneira: seu arco, de madeira laminada, se divide em dois e se transforma num suporte para o modo caixa de som – no qual os cups, que são presos ao arco por ímãs, trocam de posição e vão para a parte externa do arco. Basta ver as imagens que o funcionamento fica claro.
A parte de som não foi propriamente testada e desenvolvida, porque não era o foco do projeto. Considerei que seria possível encontrar um alto-falante no mercado de custo razoável (ou seja, nada de planares) que conseguisse atuar tanto para um fone quanto para uma caixa de som portátil. Hoje, sei que isso não é possível sem grandes comprometimentos para uma função ou outra, e por isso teria feito diferente.
Um pouco a contragosto, vou dividir com vocês os relatórios completos das duas partes da matéria, incluindo o detalhamento técnico. Digo a contragosto porque, confesso, tenho um pouco de vergonha de várias das coisas que fiz naquela época! Por isso, algumas observações: não reparem na qualidade dos meus desenhos! Ao contrário do que geralmente se pensa, um designer não necessariamente tem que desenhar bem – ele precisa, simplesmente, conseguir passar uma mensagem com eficácia através de desenhos. Vejam, também, que foi um trabalho de faculdade feito há 3 anos, quando eu ainda não tinha o conhecimento que tenho hoje. Certamente, se eu fosse fazer o projeto agora, faria muitas coisas de forma diferente. Além disso, lembrem que era uma matéria de faculdade, que apresenta alguns requisitos além de sérias limitações de tempo. No mercado, um produto como esse seria desenvolvido por uma equipe ao longo de dois anos ou algo do tipo – e não por uma única pessoa em 6 meses.
Por último, quem fez esse projeto não é o Leonardo “audiófilo”, e sim o Leonardo designer. Então, peguem leve comigo 😊
- Link para o relatório da primeira parte
- Link para o relatório da segunda parte
- Link para o detalhamento técnico
Esse foi meu projeto de faculdade. No próximo capítulo, vou contar sobre como esse mesmo projeto acabou fazendo com que eu tivesse uma conversa descompromissada que iria culminar na Kuba.