Light Harmonic Labs Geek Out 450

INTRODUÇÃO

IMG_7624Em sistemas mais sofisticados, não é raro encontrar fones de ouvidos empurrados por amplificadores e DACs bastante imponentes. O meu é um exemplo: o DAC Yulong D100 não é dos maiores, mas o GS-X, com seus dois chassis, está longe de ser discreto. Não é bem que tamanho seja documento, mas ao mesmo tempo, um bom equipamento geralmente exige um número saudável de componentes que não costumam ser pequenos. Capacitores e transformadores são exemplos de peças substanciais que têm influência direta sobre a sonoridade e a potência de um amplificador.

Entretanto, conveniência também pode ser muito importante, e por isso uma nova categoria de produtos parece ter surgido nos últimos tempos: conjuntos de DAC/amplificador USB ultraportáteis, não muito maiores que pen-drives. A ideia é que eles são companhias convenientes que podem ser ligadas a notebooks e que oferecem uma qualidade de som maior do que a de suas saídas de fones integradas.

O primeiro aparelho do tipo que lembro de ter visto foi o AudioQuest Dragonfly, e desde então uma série de concorrentes começou a aparecer, até o que tenho aqui para avaliação, que causou um grande rebuliço nos entusiastas: o Geek Out.

 

UMA HISTÓRIA DIFERENTE

Sua história foi um tanto conturbada. Ele foi criado pelos engenheiros da Light Harmonic Labs, responsável pelo desenvolvimento de DACs caríssimos e extremamente sofisticados, usando o financiamento por crowdfunding. Para os que não sabem, o crowdfunding funciona da seguinte forma: ao invés de procurar investidores ou de usar o próprio capital para custear o desenvolvimento de um produto, uma marca vai diretamente para os consumidores usando plataformas como o Kickstarter ou o Indiegogo, fazendo uma campanha em que apresenta a ideia do produto e estabelecendo uma meta de arrecadação mínima necessária para seu desenvolvimento.

MD-6286_20150306122543_bea223e47115e5feOs que se interessarem por ele podem optar por financiar o projeto com diferentes quantias, e cada uma delas os entitula a algum retorno específico: desde camisas e adesivos, por exemplo, até o próprio produto quando ele estiver pronto (a um preço geralmente promocional) e, em muitos casos, edições especiais com benefícios extras para doações substanciais. Em suma, é um brilhante novo paradigma na relação entre os consumidores e as marcas e os designers, possibilitado pela tecnologia e pelas mídias sociais.

O Geek Out foi um enorme sucesso de arrecadação, superando em múltiplas vezes sua meta inicial. O problema é que a marca pareceu se animar demais com essa realidade, e acabou se enrolando um pouco. Houve muitas mudanças no design do Geek Out, com atrasos sucessivos, e antes mesmo de finalizar seu desenvolvimento, a LH Labs já estava criando novos produtos, como o Geek Wave e o Geek Pulse, e veiculando novas campanhas de crowdfunding – o que, a meu ver, é um desrespeito com aqueles que já haviam pago e estavam esperando por seu Geek Out há meses.

Em Maio de 2015, a marca lançou o Geek Out V2 numa nova campanha de arrecadação, mas dessa vez no Indiegogo. Assim como no caso do primeiro aparelho, a campanha superou a meta inicial e o envio das primeiras unidades está previsto para esse mês, Agosto de 2015.

 

ASPECTOS FÍSICOS E FUNCIONALIDADE

O Geek Out original vinha em quatro versões: 100, 450, 720 e 1000. Os números se referem à potência de saída em mW, então o 100 era o menos potente, otimizado para intra-auriculares mais sensíveis, e o 1000 o mais forte, com 1W de potência. O 450 (a versão que tenho aqui) custava 199 dólares; o 720 saía por 249; o 100 era 289 dólares; e o 1.000 custava 299. Ao mesmo tempo em que ter diversas opções é interessante, é ruim ter que escolher um equipamento inteiro para um determinado grupo de fones ao invés de ter opções de ganho no próprio aparelho. Afinal, se o usuário tiver um conjunto variado de fones, em teoria seria necessário mais de um Geek Out. Porém, essa foi uma questão que o Geek Out V2 resolveu.

IMG_7636Ao passo que todas as versões são capazes de decodificar arquivos de até 32bits/384kHz, inclusive DSD 128, nativamente, em termos de funcionalidades não há muito. No primeiro firmware, o 1.0, era possível alterar o volume no próprio aparelho e selecionar a taxa de upsampling em até 8x, além de habilitar um modo chamado “3D awesomifier”, que adicionava mais espacialidade à apresentação. No entanto, o firmware 1.5, além de corrigir alguns problemas (um deles, picos inesperados de volume que poderiam danificar o fone ou a audição, bem grave), trouxe melhorias – os filtros TCM, time coherence mode e FRM, frequency response mode – que impossibilitaram a manutenção do 3D awesomifier. Além disso, nesse firmware, o controle de volume passou a ser feito exclusivamente pelo computador.

Consequentemente, usar o Geek Out é relativamente fácil. No caso de um Mac é apenas plug&play, mas em PCs é necessário instalar os drivers e um software próprio, chamado Light Harmonic Control Panel. Aliás, aqui aproveito para fazer uma reclamação: só é possível fazer o upgrade de firmware em computadores com Windows. Outro pequeno problema durante o uso é o calor excessivo que o GO produz. Em algumas situações chega a ser difícil encostar nele por mais de 5 segundos.

Há duas saídas P2 no Geek Out, com impedâncias diferentes: a da esquerda possui 47 ohms de impedância de saída, podendo ser usada com fones de maior impedância de entrada e como line-out (fazendo com que o GO atue somente como DAC), e a da direita possui apenas 0.47 ohms, sendo portanto destinada a fones de impedância mais baixa.

Fisicamente ele é bem construído, feito quase inteiramente em metal – só os jacks P2 são de plástico –, compacto e relativamente atraente, estando disponível em várias cores. O único acessório incluso no pacote é uma pequena extensão USB.

 

O SOM

IMG_7631Apesar de um aparelho desse tipo geralmente ser algo claramente focado num nicho de mercado, o enorme sucesso da campanha do Geek Out e sua linguagem de marketing, assim como alguns outros sinais interessantes nesse cenário (como o Pono Player), mostram que talvez estejamos observando uma popularização cada vez maior da busca pelo áudio de qualidade. Portanto, talvez um dos grandes obstáculos do GO não seja o AudioQuest Dragonfly ou o Cambridge DacMagic XS, e sim desafiar o status quo – ou seja, fazer com que pessoas que não são necessariamente entusiastas o vejam como uma compra interessante. Por isso, a primeira coisa que farei é compará-lo diretamente à saída de fones de ouvido tanto do meu MacBook Pro (2011, de 15 polegadas) quanto do meu Mac Pro (6 núcleos, 2013). É uma comparação interessante, visto que em minha opinião a saída de fones de ambos os computadores é bastante competente.

Em primeiro lugar, há a comum questão do ruído de fundo. Saídas de fones comuns de computadores geralmente apresentam esse problema – ao menos com intra-auriculares mais sensíveis –, e aqui não é diferente. Tanto com o JH Audio Roxanne quanto com o Xtreme Ears Xtreme ONE o Mac Pro é o que o apresenta em maior proporção, enquanto o MacBook Pro é o mais silencioso. O Geek Out 450 não é a versão otimizada para intra-auriculares, mas é a menos potente entre as “normais” e por isso ainda acho que ele deve se comportar bem com fones desse tipo.

Ele não se mostrou totalmente silencioso, e apresenta um nível de ruído de fundo semelhante ao do MacBook Pro. É algo que não ouço nem com o Yulong D100 e nem com o HeadAmp GS-X. Dito isso, é um piso que está longe de incomodar, já que é totalmente imperceptível mesmo em passagens extremamente silenciosas. Em termos de potência, porém, o Geek Out é o mais fraco dos três. Com ele, preciso colocar o volume um ou dois pontos acima da saída direta de fones.

Já em termos de assinatura e de qualidades gerais, sendo sincero, acho que encontrei diferenças muito sutis. O Geek Out me parece ligeiramente mais encorpado e eufônico, com um pouco menos de ênfase nos médio-agudos e agudos. Mas é uma diferença pequena e que eu dificilmente seria capaz de detectar num teste cego com um intervalo de mais de, digamos, 10 segundos entre as audições.

IMG_7623Com relação ao Yulong D100 as diferenças são mais evidentes, mas talvez não na direção que você está imaginando. O Geek Out é consideravelmente mais aberto e transparente, enquanto o D100, em comparação, me parece mais fechado, escuro, com pouca presença nos agudos e uma sonoridade mais centrada nos médios. Em termos de tonalidade o GO se mostrou muito mais próximo do HeadAmp GS-X (minha referência), e por consequência o vejo como mais neutro.

Isso não significa, porém, que como amplificador e DAC o Yulong seja pior que o Geek Out – e por consequência que as saídas de fones do MacBook Pro e do Mac Pro –, mas sim que é uma personalidade diferente. Na maior parte dos casos prefiro a apresentação do Geek Out, que me parece mais neutra, mas sei que muitas pessoas vão preferir o D100. Em alguns casos também o prefiro, como por exemplo com o Audio-Technica W3000ANV. E não podemos nos esquecer, evidentemente, que o Yulong é muito mais potente e apropriado para um número muito maior de fones – desde intra-auriculares sensíveis, como o Roxanne, até circunaurais famintos, como o HD800. Inclusive, com o HD600, essa tonalidade mais neutra do Geek Out torna-se muito menos evidente frente à maior autoridade e pegada proporcionada pelo amplificador mais potente do D100.

Já em comparação com o HeadAmp GS-X, apesar de em termos de tonalidade os dois estarem bem mais próximos, ainda existem diferenças: em primeiro lugar, o Geek Out me parece sensivelmente mais eufônico, com médios e graves um pouco menos secos e definidos, por assim dizer. O solo da Esperanza Spalding em Love In Time deixa isso evidente – no GO seu contrabaixo acústico é mais embolado. O GS-X também sai na frente em termos de refinamento e, principalmente, na habilidade de mostrar um espaço tridimensional (com maior expansão lateral e em profundidade) mais evidente e desenvolvido. O GO me soa mais “chapado” numa comparação direta. Entretanto, logicamente, essa está longe de ser uma comparação justa.

Já como DAC, comparado ao Yulong e usando a saída de 47 ohms como line-out alimentando o GS-X, surpreendentemente, as diferenças são muito menores, e não parecem se estender à tonalidade. Ambos são muito parecidos, mas o D100 parece trazer uma camada extra de espacialidade que o Geek Out não mostra.

 

CONCLUSÕES

O Geek Out 450 se mostrou um aparelho muito interessante, mas talvez não em todos os casos.

IMG_7629Por um lado, gostei de sua simplicidade e conveniência e também de sua tonalidade, que me parece bastante neutra, inclusive quando comparado ao meu Yulong D100. São personalidades distintas, mas na maior parte dos casos prefiro a do GO em termos de assinatura sonora (não considerando a menor potência de saída).

Por outro, não estou totalmente convencido dos benefícios trazidos por ele em relação à saída de fones dos meus computadores. Até acho que o Geek Out é melhor, mas por uma margem minúscula e que, para os meus ouvidos, certamente não vale o preço. Ao mesmo tempo, sei que muitos computadores possuem saídas de fones muito menos competentes e, com eles, o GO certamente trará benefícios – mas ainda nesses casos, não posso esquecer de alguns aparelhos que custam menos mas são mais completos, como por exemplo o FiiO E17K. Não sei dizer de memória como os dois se comparam em qualidade de som, mas em termos de funcionalidade, o chinês claramente leva vantagem.

Penso que as versões mais fortes (principalmente a 1000) fazem muito mais sentido porque elas sim vão muito além do que as saídas de fones comuns de computadores podem oferecer em termos de potência, e ter algo pouco maior do que um pen-drive capaz de empurrar um HD800 ou um planar-magnético cascudo com autoridade é fantástico – quanto mais se elas mantiverem as mesmas virtudes tonais que o 450, o que imagino ser o caso. Arrisco dizer que, tendo em vista o que ouvi dessa versão, as mais potentes têm o potencial para me agradar até mais do que meu Yulong D100 como um conjunto de DAC e amplificador, o que é impressionante para algo desse tamanho e preço. Porém, ainda me incomodaria o fato de haver apenas uma única opção de ganho, o que limitaria os fones com os quais ele poderia ser usado.

Por isso, fico um pouco incerto sobre o Geek Out em sua primeira versão, porque apesar de ele ter diversos talentos, sua aplicabilidade me parece um pouco limitada. Sua segunda versão, entretanto, parece resolver a maior parte desses problemas: a V2 comum vem numa única versão que conta com três opções de ganho, e a V2+ é maior e mais cara porém pode ser usada como DAC e amplificador para celulares, assim como o FiiO E17 que mencionei anteriormente, resolvendo em partes a questão da funcionalidade.

Consequentemente, apesar de ter gostado do Geek Out 450, talvez eu o veja mais como um ponto de partida, um primeiro passo, para algo que – aí sim – tem o potencial de se tornar realmente especial.

 

Geek Out 450 – fora de produção ($299 pelo Geek Out v2)

  • USB 2.0
  • PCM até 384kHz/32bit e DSD 64/128 nativamente
  • Entrada: USB, coaxial, ótica, 3.5mm (P2)
  • Classe-A
  • Impedância de saída: 0.47Ω/0.47Ω
  • Potência de saída: 450mW
  • Entrada digital: até 24Bits/192 kHz

 

Equipamentos Associados:

Fones: Audio-Technica ATH-W3000ANV, Beats Solo2, EarSonics Velvet, Grado HP1000, JH Audio Roxanne, InEar SD-1, Ortofon e-Q8 e Sennheiser HD600

Fontes/Amplificadores/Transportes: Yulong D100, HeadAmp GS-X, HeadAmp pico Slim, MacBook Pro, Mac Pro

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