INTRODUÇÃO
Desde que comecei minha jornada na audiofilia, vejo um nome frequentemente sendo indicado como um best-buy: o Audio Technica ATH-M50. É um circunaural fechado, de 160 dólares, destinado ao mercado profissional, mas que achou um lugar de respeito no círculo audiófilo. Acho inclusive, que já pode ser considerado um clássico.
ASPECTOS FÍSICOS
Muitos fones são descritos como robustos. Eu mesmo já usei esse termo algumas vezes, mas confesso que ele nunca foi tão apropriado quanto agora. Por exemplo, considero um AKG K271 robusto porque é todo feito de plástico e é leve, mas ao mesmo tempo não me parecem materiais de qualidade, e ele passa alguma sensação de fragilidade. O HiFiMAN HE500 também se enquadraria nessa categoria, mas é assustadoramente pesado e, por isso, certamente não aguentaria bem cair no chão.
O M50 é, com alguma facilidade, o fone mais robusto que já vi, e fica evidente que foi feito para suportar a vida em estúdios. É todo feito de um plástico de alta qualidade, sempre muito espesso. A única peça visível de metal é a parte do headband que faz o ajuste de altura. Mas isso não é algo ruim, muito pelo contrário. Se fosse um fone inteiramente feito de metal, eu teria medo de amassos ou riscos. Aqui, tenho nas mãos um produto que certamente aguentará anos e anos de abuso.
Já os pads e o headband são feitos de courino. Em termos de conforto, acho o M50 bom. Ele exerce uma pressão lateral considerável, mas não é o suficiente para me causar desconforto porque ela é muito bem distribuída. A pressão superior também é justa. Não é uma sensação de leveza como a proporcionada pelos fones de estúdio da AKG por exemplo, mas em compensação ganha-se muito em isolamento. Nesse aspecto, o Audio-Technica é excelente.
Meu único problema é o cabo em forma de mola, que é ótimo em ambientes profissionais mas bem inconveniente para o ouvinte casual. Vale dizer, porém, que há a versão M-50S, com o cabo reto.
O SOM
Acho que, no meio audiófilo, a palavra basshead tem um sentido um pouco pejorativo. O motivo é que graves impressionam com o impacto físico, e por isso leigos muitas vezes ficam maravilhados com equipamentos que sejam muito felizes nessa região. E o resultado é que muitas marcas, voltadas ao mercado de massa, partem para excessos justamente com o objetivo de impressionar, e não de criar uma apresentação fiel e realista. Então formou-se uma cultura que cultua os graves e os colocam em detrimento de todo o resto – vide microssystems, Sony Mutekis e os Beats. Aos menos experientes, frequentemente é o mais importante, e por isso vejo em fóruns o frequente pedido “quero fones com graves bons”.
Então, em minha opinião, acabou virando cool colocar as frequências baixas em último lugar. Mas vamos ser sinceros: todos gostamos delas. Não arruinando o resto, mas um incremento frequentemente acaba proporcionando um incremento bem divertido na música. Não é toda hora e também não é em qualquer quantidade, mas isso pode ser sim interessante. Afinal, o que há de errado em querer se divertir ao invés de ouvir criticamente?
O M50 é um desses casos. Estamos falando aqui de um fone seriamente basshead. Há um claro peso extra nos médio-graves, mas isso é feito de maneira muito competente. Apesar de sangrar um pouco nos médios, não é nada agressivo, e o resultado é um puro aumento do divertimento proporcionado pelo fone. É lógico que o objetivo não é a neutralidade, mas vale dizer que é algo muito diferente de um Monster – o incremento é feito muito bem. Há bastante impacto e a extensão também é muito boa. Como é de se esperar, o Audio Technica não é um exemplo em definição nos graves, mas em compensação ela também não é ruim.
Mas, obviamente, há um preço a se pagar. A apresentação é pesada, e torna-se, assim como no Ultrasone Edition 8 que avaliei, um pouco agressiva e fadigante. Além disso, há, como já foi dito, uma leve interferência nos médios. Não há aquela sensação de leveza em gêneros mais calmos, porque a força dos graves está sempre ali. Então esse não é um fone feito para relaxar.
Os médios também são interessantes, mas estão num volume menor. De qualquer forma, a presença ainda se enquadra no que considero boa. No entanto, aqui existem os maiores problemas do fone: a região é consideravelmente congestionada, o que é em parte agravado pelo excesso de graves. Ele não é um exemplo em transparência e definição, tampouco em resolução – mas não é um problema crítico (principalmente quando consideramos o preço do Audio Technica), e se limita a afetar passagens mais complexas. Ouvindo gêneros mais leves, o defeito é muito pouco notado.
Outra questão – como é de se esperar de um fone fechado nessa faixa de preço – é que há muito pouca espacialidade, apesar de o detalhamento ser razoável. De certa forma, esse problema é a consequência do equilíbrio tonal pesado nos graves e do congestionamento nos médios. A apresentação soa compactada – melhor que o V-Moda M80 mas bem pior que o Logitech UE6000 e, claro, que o Ultrasone Edition 8, todos fones fechados. Por isso, espacialidade, transparência e definição não são o forte do M50.
Os agudos são bons, mas assim como nos médios, o volume parece baixo em relação aos graves. Entretanto, a relação entre os médios e os agudos é muito boa, e a progressão é lógica e previsível. O fato de eles serem inofensivos seria muito conveniente se os graves não fossem tão fortes, porque permitiriam um volume maior sem fadiga auditiva. Mas, com as frequências graves já incrementadas, esse aumento de volume já é mais complicado. Por isso, em diversos momentos gostaria de mais presença e brilho. Aqui, eles soam simplesmente como um complemento dos médios, que já são baixos. Não há a definição de fones com mais competência nessa área – como o próprio A700X, da mesma marca.
O resultado de tudo isso é um fone muito competente, com um equilíbrio tonal que favorece gravações mainstream modernas, proporcionando bons momentos de audições casuais e despretensiosas. Aliás, um detalhe interessante é que, como muitos fones de monitoração, ele não é nem um pouco exigente e já atinge excelentes níveis de desempenho ligado diretamente a um tocador portátil. Amplificação dedicada é, na minha opinião, desnecessária.
CONCLUSÕES
Para mim está muito claro o motivo para o Audio Technica ATH-M50 ter atingido o status de best-buy e se tornado um dos favoritos da comunidade entusiasta. Ele tem as características certas para estar bem no limite entre dois públicos bem diferentes.
É um fone extremamente robusto, confortável, com bom isolamento, e um bom e divertido equilíbrio tonal, sem se tornar excessivamente desbalanceado. É evidente que não é neutro, mas está longe dos níveis de distorção de um Beats. É um bass-heavy dentro de níveis aceitáveis, e esse equilíbrio tonal favorece muito boa parte do que toca nas rádios hoje em dia.
Isso o torna, em minha opinião, uma opção fenomenal para aqueles que buscam um primeiro fone de qualidade. Para os que ainda não tiveram a oportunidade de ouvir algo melhor que o earbud do iPod, não tenho dúvidas de que vai arrancar muitos sorrisos. O M50 tem os predicados para agradar as massas. Sejamos sinceros, boa parte do público comum preferiria um Beats Pro a um K701, porque eles querem impacto e energia. Esse Audio Technica tem a energia para agradá-los, que o tira da categoria neutra, mas sem o exagero que causaria repúdio aos entusiastas.
E, para esse average Joe, pouco importa o congestionamento nos médios ou a pouca espacialidade. A energia e o vigor são os requisitos, e isso o M50 entrega muitíssimo bem, de maneira bem julgada e com qualidade. Para ele, vai ser o fone definitivo, e um investimento que não vai quebrar o banco e que trará muitos e muitos anos de alegria – afinal, não tenho dúvidas de que esse Audio Technica foi feito para durar muito. Mas, caso ele cruze a linha e queira algo mais, se tornando um audiófilo que quer palco sonoro, resolução e neutralidade, o M50 não vai ser o fone definitivo – vai ser uma porta de entrada muito divertida, confortável e conveniente de ouvir música casualmente.
Por isso, quando algum amigo vier me perguntar que fone deve comprar para ouvir com qualidade, acho que vou me juntar ao coro e responder “Audio Technica M50”.
Audio Technica ATH-M50 – R$530,00
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 38 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 99 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 15Hz – 28kHz
Equipamentos Associados:
Portáteis: iPod Classic
Mesa: iMac, MacBook Pro, Cambridge Audio DacMagic, HeadAmp GS-X