INTRODUÇÃO
No mundo dos fones, em minha opinião, a Sennheiser está no topo da cadeia alimentar. Afinal, ela consegue não só atuar em basicamente todas as categorias e faixas de preço desse tipo de produto, mas também apresentar um desempenho consistente em praticamente todas. Existem poucos fones da marca dos quais não gosto. E, com fones como o Orpheus e o HD800, mostra que é capaz de esticar barreiras de tecnologia e de performance.
Já testei diversos fones da Sennheiser, mas um que sempre tive curiosidade para testar formalmente (pude ouví-lo rapidamente em outras situações) é o HD598. A questão é que ele é extremamente popular, possivelmente por estar numa faixa de preço que o coloca ao alcance de muitas pessoas que têm o interesse e a vontade de ter um fone mais sofisticado, porém não são exatamente entusiastas dispostos a investir grandes quantias.
Agora, finalmente tenho um HD598 para avaliação.
ASPECTOS FÍSICOS
O HD598 é, assim como a maioria dos outros HD5XX, um circunaural aberto. Porém, fisicamente, ele sempre foi uma exceção na linha da Sennheiser, porque segue uma proposta bem diferente dos outros fones da fabricante. Enquanto o normal são fones cinzas e pretos, aqui temos uma temática bege e marrom que tenta, ao que parece, trazer um visual mais “classudo” ao fone (observação: recentemente, foi lançada uma versão preta, o HD598SE). É bem diferente da cara predominantemente técnica da vasta maioria dos outros fones da linha HD ou dos futuristas HD700 e HD800.
Ele é todo construído em plástico, porém há alguns acentos que imitam madeira e tanto o acolchoamento do arco (que é anormalmente flexível, aliás) quanto sua parte superior são revestidos de courino. Já as almofadas são revestidas de veludo e são muito macias ao toque.
E ao passo em que se trata de um fone bastante confortável, ele certamente não é tão bem resolvido ergonomicamente quanto o irmão maior, o HD600. O encaixe de alguma forma não é tão bom – sinto alguma pressão na cabeça, porque o formato não distribui o pouco peso tão bem quanto o HD600. E as almofadas laterais não são tão envolventes. Além disso, a qualidade do plástico do qual o fone em si é construído é visivelmente inferior, e isso pode ser sentido com os dois fones na cabeça.
Tenham em mente, porém, que o HD598 é consideravelmente mais barato que o HD600, podendo ser encontrado por 150 dólares, enquanto o irmão maior custa 350. Logo, sei que a comparação não é justa. Meu objetivo com a comparação é apenas frisar que estamos falando de fato de um fone de 150 dólares que não vai brigar, nesses aspectos, com modelos muito mais caros – ainda que sua aparência luxuosa possa indicar o contrário.
Em termos de acessórios, não há muito: apenas o longo cabo, emborrachado, que é removível e terminado num P1 do lado do fone e num P10 do outro, e um adaptador P10-P2. Visivelmente, não é um fone feito para uso portátil.
O SOM
Antes da introdução do HD800 e do HD700, praticamente toda a linha HD da Sennheiser apresentava uma sonoridade típica: um pouquinho mais escura, e voltada à musicalidade, de certa forma. Tanto que há a expressão Sennheiser Veil, para designar a sensação de um véu em cima da música que o HD650 proporcionava, principalmente em relação ao AKG K701 e ao Beyerdynamic DT880 Premium.
Fora o HD650 e alguns outros fones dessa linha, nunca considerei essa personalidade exatamente escura por si só – o que sempre vi foi uma sonoridade mais natural, que não se preocupava em escancarar detalhes para o ouvinte ou projetar espacialidade a qualquer custo. O que parecia importar para a Sennheiser é mostrar uma voz que soa realista. O HD600, em particular, em minha opinião, é o ápice dessa filosofia na marca (fora o HE90) e ainda uma referência nesse quesito.
O HD598 está com os dois pés nessa proposta. Ou seja, comparado a alguns concorrentes – como AKG Q701, Audio-Technica ATH-AD900X e Grado SR125e –, ele é mais escuro e musical, e parece trazer o famoso Sennheiser Veil. Ao mesmo tempo, o considero um fone relativamente natural. Não tenho mais um HD650 para fazer uma comparação, mas ele é relativamente próximo do HD600 em termos de tonalidade, então acredito que ele esteja, nesse quesito, num meio termo entre ele e seu irmão mais eufônico.
Essa personalidade mais escura não significa que estejamos falando de um fone com graves exagerados – longe disso. O HD598 me parece muito natural nessa parte do espectro, e apresenta as baixas frequências com muita compostura e moderação. Elas estão lá quando devem estar, na medida certa, e nunca passam do ponto. No entanto, curiosamente, são graves relativamente secos, que contrastam um pouco com a personalidade mais musical e eufônica do fone. Fones como o Philips Fidelio L2, por exemplo, têm graves consideravelmente mais cheios e autoritários. O próprio HD600 é mais musical nessa região.
Por isso, aqueles que buscam um desempenho incrementado nessa área – para empolgar com música eletrônica ou para dar um soco nos ouvidos com um bom rock – serão melhor servidos com outras opções. O que define os graves do HD598 é equilíbrio. A extensão é boa, assim como o detalhamento e a capacidade de texturização – mas não espere nada incrivelmente acima do que sua faixa de preço sugere.
Inclusive, um adendo: apesar de a impedância nominal ser 50Ω, o gráfico de impedância x frequência mostra que, aos 100Hz, há um forte pico que alcança os 250Ω (!), o que indicaria que, com fontes menos capazes, os graves deveriam sofrer. Entretanto, felizmente, encontrei uma situação mais branda do que esses números parecem indicar. Ao passo em que esse não é um fone incrivelmente fácil de ser tocado, também não é dos mais difíceis. Com um iPhone, por exemplo, o resultado já é perfeitamente satisfatório, inclusive nos graves. Eles de fato ganham um pouco mais de autoridade quando passo para o meu sistema de mesa, mas a diferença está longe de ser dramática. Por isso, acredito que em muitos casos, será possível comprar um HD598 sem se preocupar muito com equipamentos auxiliares. Se for possível, a adição de um amplificador trará um incremento interessante; mas se não for, não estamos falando de um caso impeditivo.
Nos médios, o Sennheiser Veil começa a se fazer presente. Essa região é um pouco escura e para a frente, mas como eu gosto. Suavidade talvez seja a palavra que melhor a descreve, e o conjunto com os graves corretos cria uma apresentação muito confortável, por assim dizer. Para os meus ouvidos eles são muito naturais, e em termos de tonalidade estão muito próximos do que considero ideal. Mas, como já comentei anteriormente, a preocupação da Sennheiser evidentemente não é revelar detalhes a qualquer custo – por isso, ao passo em que ele está longe de ser um fone excessivamente escuro e que esconde detalhes, o HD598 também não é um monstro revelador como, por exemplo, um Audio-Technica AD700X.
Entretanto, é uma personalidade que, para os meus ouvidos, se dá muito melhor com uma quantidade infinitamente maior de gêneros musicais. Assim como boa parte dos Sennheisers que já ouvi, o HD598 é um ótimo all-rounder que toca música. Vozes, em especial, são muito bem apresentadas.
Em termos de espacialidade, o HD598 é interessante, mas não é fenomenal. De fato, ele é aberto e consequentemente dispensa algumas colorações geralmente associadas a fones fechados, em particular nos graves, mas aqueles que estiverem esperando uma apresentação dramaticamente expansiva provavelmente seriam melhor servidos por outros fones. O próprio Philips Fidelio L2, por exemplo, apesar de para os meus ouvidos ser consideravelmente menos natural que o HD598 em termos de tonalidade, me soa mais espacial. Hoje em dia, o AKG Q701 pode ser comprado por pouco mais que o Sennheiser, e é uma referência nesse quesito em sua faixa de preço, ainda que geralmente seja visto como menos musical que o HD598. Mas para aqueles que buscam um fone para FPS, por exemplo, seria uma melhor pedida – só é necessário ter em mente que se trata de um fone mais exigente em termos de amplificação.
Já nos agudos, temos uma resposta que me parece novamente equilibrada em termos de presença, mas talvez falte um pouquinho de brilho e extensão. No entanto, em geral, eles compõem uma apresentação condizente com o restante do espectro. O timbre é bom, mas por vezes acho que poderia haver um maior detalhamento e definição na região.
VS. HD600
E agora, a pergunta que não quer calar: o que se ganha ao subir um degrau e passar para o HD600? Sinceramente, esperava que as diferenças fossem muito pequenas, mas não é bem assim. Os dois de fato apresentam uma voz muito parecida, mas o irmão maior proporciona um salto considerável em diversos aspectos. O primeiro deles, como já comentei, fica por conta da ergonomia muito mais bem acertada.
Já no que diz respeito ao som, a área em que o HD600 mais se destaca é nos agudos: eles são mais presentes do que no HD598, trazendo justamente o brilho que faltava, e mais lineares. Toda a região parece ser mais coerente. Há também um pouco mais de peso nos graves, que são um pouco mais melodiosos, e os médios são mais quentes – mas como os agudos possuem mais brilho, ele não passa a sensação de ser um fone mais fechado. Pelo contrário, é mais caloroso e mais aberto.
Mas a maior diferença é algo extremamente difícil de explicar, e não faço a menor ideia do motivo pelo qual isso acontece. O HD600 possui mais foco. Passando dele para o HD598, a sensação que tenho é que a apresentação se torna mais “aérea”, se embaralha um pouco e faz menos sentido em termos de espaço e posicionamento dos instrumentos. Quando passo dele para o HD600, além de os instrumentos ganharem corpo e tridimensionalidade, é como se eles “descessem” e assumissem uma posição mais firme clara num ambiente definido. Nota-se uma imagem mais coerente.
É evidente, porém, que não estou fazendo uma comparação justa – é como se estivesse dizendo que o Golf é muito melhor que o Gol –, mas o objetivo dessa comparação é mostrar o que se ganha passando para o irmão mais sofisticado, já que em muitas situações prevalece a noção de que os ganhos serão pequenos. Nesse caso, por mais que a “voz” de ambos os fones sejam relativamente parecidas (eles audivelmente pertencem a uma mesma família), não há como negar que o HD600 oferece uma experiência notavelmente mais realista e fidedigna. Paga-se mais, porém ganha-se mais.
CONCLUSÕES
O Sennheiser HD598 mostrou os motivos pelos quais é tão popular. Trata-se de um excelente headphone mid-fi que pode ser uma bela entrada para o mundo da audiofilia. A palavra que melhor o define talvez seja correto.
Sua apresentação é calorosa, suave, agradável e se adequa a qualquer gênero musical sem muitas dificuldades. Por isso, é uma fácil recomendação para basicamente qualquer caso, com pouquíssimas ressalvas (além, é claro, de não se tratar de um fone portátil): aqueles que quiserem algo extremamente revelador e espacial exclusivamente para jogos têm opções mais indicadas no mercado, assim como os que desejarem algo com uma personalidade mais divertida para ouvir gêneros mais energéticos. Para esses, o Sennheiser pode ser visto como sem graça – seu trunfo está justamente em não chamar atenção para nada.
Mas se você quiser algo que faça de tudo um pouco, e que não decepcione em nenhum momento, sem quebrar o banco, o HD598 faz jus à fama.
Sennheiser HD598 – US$145,00
- Driver dinâmico único
- Sensibilidade (1 mW): 112 dB SPL/V RMS
- Impedância (1kHz): 50Ω
- Resposta de Frequências: 12Hz-38,5kHz
Equipamentos Associados:
Portátil: iPod Classic, Sony Xperia Z5, Oppo HA-2
Mesa: Mac Pro, Yulong D100, HeadAmp GS-X