INTRODUÇÃO
E vamos a mais um capítulo da saga chinesa. Mas, dessa vez, com uma marca ainda mais obscura: a Pai Audio (também chamada 3.14 Audio ou, ainda, Shenzhen paili Sound Electronics). Mas, aqui, parece que temos uma proposta muito clara e extremamente interessante: simplicidade, no bom sentido.
O que a Pai Audio faz é oferecer fones com componentes de alta qualidade (como armaduras balanceadas da Knowles e cabos removíveis, com conectores MMCX), numa cápsula de plástico simples porém bem projetada, sem nenhum excesso, tanto em termos de acessórios e embalagem quanto de um trabalho de marca. De certa forma, é um pouco como um medicamento genérico: você não vai ter o selo de um grande laboratório ou um nome chique, mas ele deve fazer a mesma coisa que alternativas mais caras.
Tenho, para avaliação, os dois modelos mais sofisticados da marca: o MR2, um intra-auricular com duas armaduras balanceadas, de 140 dólares (R$799), e o MR3, com três, de 180 (R$1.099).
ASPECTOS FÍSICOS
Em termos físicos, ambos os fones são simples porém eficazes e bem projetados. São atraentes, de plástico, podendo vir em diversas cores, e o formato lembra o dos intra-auriculares personalizados. O encaixe de fato é muito bom, mas é uma pena que sejam inclusos no pacote apenas três pares de ponteiras comuns – não há espumas, double-flanges nem nada do tipo. O único outro acessório que vem com os fones é um saquinho de veludo para transporte, bem simples. Não há sequer um adaptador P2-P10. Não é que isso me incomode muito – está em linha com o que parece ser a proposta da marca –, mas talvez a acessorização seja simples demais. Acho que várias pessoas podem acabar tendo que comprar ponteiras extras, como as Comply, e um adaptador P2-P10, principalmente se o objetivo for usar o fone no meio profissional.
Já o cabo, removível, parece ser de ótima qualidade, não embola e é conectado ao fone por meio de um conector MMCX, o que transmite bastante segurança e permite que ele seja trocado por outros cabos sem muita dificuldade.
O SOM
MR2
O MR2 deixa claro, de imediato, que é baseado em armaduras balanceadas: sua sonoridade é equilibrada, mais centrada nos médios, e bastante aberta e transparente. É uma personalidade que me agrada muito, porque costuma me soar mais natural do que a de fones dinâmicos em faixas de preço parecidas. Assim como o Xtreme Ears Xtreme ONE, o MR2 me lembra o Sennheiser HD600.
Os graves do MR2 têm boa presença. Em termos de quantidade, acho que estão em linha com o que considero neutro – acho que não há nem falta e muito menos excesso. É um desempenho bastante equilibrado, parecido com o do Xtreme ONE. Confesso que tenho gostado de graves um pouquinho mais fortes – como no DUNU DN-2000 ou no Fidelio L2 –, e em gêneros como rock ou música eletrônica uma pitada a mais de vontade cairia bem, mas sei que o que ouço no MR2 é mais correto.
Em termos de qualidade, eles novamente estão de acordo com o que se espera de um fone baseado em armaduras balanceadas: eles são mais magros, secos e definidos, ou seja, é mais tuc do que tum, por assim dizer. Ou seja, é um desempenho que prioriza precisão, e não melodia. Mas as baixas frequências são mais “soltas” e têm um pouco mais de presença do que no Xtreme ONE. Já a extensão é boa, principalmente para um fone desse tipo.
Nos médios, o bom desempenho permanece. Como comentei, eles estão à frente no espectro, mas não de forma exagerada. Pelo contrário, compõem o que vejo como uma apresentação bastante equilibrada. Eles são um pouco mais sedosos e fechados do que no Xtreme ONE, que apresenta essa região de forma um pouco mais aberta e espacial – aqui, sinceramente, escolher entre os dois se torna uma questão de gosto.
Há ótimo detalhamento, e não ouço granulação exagerada, algo comum em intra-auriculares com apenas uma ou duas BAs. É simplesmente um bom desempenho nos médios – logicamente não há a última palavra em linearidade e tonalidade, ou a espacialidade de algo como um JH Audio Roxanne ou de um DUNU DN-2000, mas é um desempenho muito respeitável e que me deixa bastante satisfeito. Não ouço picos ou vales significativos. São médios que parecem não exibir características próprias significativas.
Nos agudos, o desempenho do MR2 ainda é muito respeitável. Eles podem não ser os agudos mais transparentes e extensos que já ouvi mas, novamente, é uma apresentação das altas frequências totalmente coerente não só com a proposta do fone, mas também com o restante do espectro. Pratos de bateria têm seu espaço na apresentação e, em termos de tonalidade, são otimamente posicionados e apresentados. Não estão nem à frente nem atrás do restante do espectro. Eles simplesmente fazem sentido.
MR3
Passando para o MR3, fica evidente que os dois pertencem a uma mesma família. Eles são muito parecidos, e claramente seguem uma mesma filosofia. No entanto, existem algumas diferenças evidentes.
A impressão que tenho é que a Pai Audio colocou um falante de médios entre os dois de graves e agudos do MR2 – o MR3 possui uma quantidade consideravelmente maior de frequências médias, o que em minha opinião prejudicou um pouco o equilíbrio tonal. O resultado, ao menos para os meus ouvidos, passou um pouco do ponto. Os ótimos graves e agudos continuam lá, mas os médios assumem a linha de frente com vontade, e por isso o resultado pode se tornar fatigante em alguns casos.
Gravações com muita atividade numa extensa faixa de frequência, como rock por exemplo, ou gêneros que requerem uma maior atividade nos graves e agudos, como música eletrônica, rap ou hip-hop acabam se tornando um pouco desequilibradas. Para esses casos, para os meus ouvidos, o MR2 é melhor e mais neutro.
Existem, no entanto, benefícios. O primeiro deles é que a espacialidade, a definição e a separação instrumental melhorou. No MR3, a sensação é de que posso ouvir mais, e de que tudo é mais definido – principalmente na transição dos graves aos médios. Em algumas situações, essa transição não era tão clara no MR2, e havia a sensação de que ela estava um pouco embolada, mas nada que não fosse esperado num fone desse tipo e faixa de preço. Com o MR3, o problema é resolvido – mas a um custo.
Além disso, apesar de em relação ao resto do espectro os médios me parecerem um pouco desproporcionais, eles são de extrema qualidade. E, para gêneros que se apoiam fortemente numa boa apresentação de vozes, o resultado pode ser espetacular. Elas são extremamente bem apresentadas, principalmente em gravações mais calmas. A voz de Emma Louise no Lido Remix da Two Bodies do Flight Facilities é um exemplo: ela é forte, corporal e orgânica. A de Melanie de Biasio, no álbum No Deal, é outro.
Nessas situações, apesar de continuar achando que o MR3 não possui o equilíbrio tonal mais linear do mundo, gosto muito da forma como ele apresenta o espectro. Esses destaque às vozes pode ser muitíssimo interessante.
Nos graves e agudos, posso repetir o que disse com relação ao MR2: são muito bem apresentados e tonalmente bem equilibrados, mas aqui estão atrás dos médios.
CONCLUSÕES
Minhas suspeitas se confirmaram: ambos os fones da Pai Audio são equipamentos simples no melhor sentido da palavra – oferecem um belo desempenho pelo preço. São atraentes, confortáveis, aparentemente resistentes e ainda contam com um cabo removível. Mas eu gostaria de ver mais acessórios no pacote – um par de ponteiras de espuma e um adaptador P2-P10 não faria mal a ninguém.
Curiosamente, o mais sofisticado, o MR3, não é um primor em neutralidade, e abre mão do equilíbrio em prol de uma sonoridade fortemente centrada nos médios. Não é um foco tão agressivo quanto o que lembro ter ouvido no Fidue A83, mas ainda assim é o suficiente para criar uma apresentação que pode, em muitos casos, ser fatigante.
No entanto, os médios propriamente ditos são de altíssima qualidade, e por isso estilos que possuam vozes como foco principal podem se beneficiar dessa característica. Consequentemente, aqueles que buscarem ouvir estilos assim ou, ainda, cantores que buscam um fone para monitoração de palco têm no MR3 uma bela opção. Só é bom ter em mente que ele não vai ser um coringa que vai se entender com qualquer coisa, como seu irmão menor.
Já o MR2 é excelente em virtualmente qualquer situação. É muito parecido com o Xtreme ONE – e quem acompanha o site sabe que esse in-ear é, para mim, quase como se fosse uma versão intra-auricular do Sennheiser HD600. Mas é um pouquinho mais escuro e menos aberto, sendo portanto como um “sabor” ligeiramente diferente de uma mesma sonoridade. Mas custa menos e possui o cabo removível, o que para muitos, inclusive para mim, é um grande benefício.
Trata-se sem sombra de dúvidas de um intra-auricular extremamente equilibrado que se dá bem com qualquer gênero, e apresenta uma sonoridade muito competente pelo preço. Esse, se você quer gastar por volta de R$800 e busca um in-ear voltado à neutralidade, é altamente recomendado.
Pai Audio MR2 – R$799,00
- IEM com 2 armaduras balanceadas em 2 vias
- Sensibilidade (1 mW): 110 dB SPL/mW
- Impedância (1kHz): 16 Ω
- Resposta de Frequências: 20Hz-20kHz
Pai Audio MR3 – R$1.099,00
- IEM com 3 armaduras balanceadas em 3 vias
- Sensibilidade (1 mW): 120 dB SPL/mW
- Impedância (1kHz): 32 Ω
- Resposta de Frequências: 20Hz-20kHz
Equipamentos Associados:
Portátil: iPod Classic, Sony Xperia Z3, Sony Xperia Z5, Oppo HA-2
Mesa: Mac Pro, Yulong D100, HeadAmp GS-X