INTRODUÇÃO
NOTA: Desde que essa avaliação foi escrita, foi anunciado um novo topo de linha da marca, o K812 Pro, que mudou o cenário descrito nessa introdução.
A AKG é uma marca que pareceu ter parado no tempo. Até não tanto tempo atrás, fora os fones exóticos como os Stax ou os “lendários” (como Sony R10, AKG K1000, Grado HP1000, Sennheiser HE90 e os Stax), os melhores fones disponíveis no mercado eram, basicamente, o trio Sennheiser HD650/HD600, Beyerdynamic DT880 e AKG K701/K702. Essa realidade perdurou por muito tempo.
Mas a Sennheiser apareceu com o HD800 e HD700, a Beyerdynamic com o T1 e posteriormente toda a linha Tesla, surgiram os planar-magnéticos Audez’e e HiFiMAN, a Stax lançou o SR-009, a Grado o GS1000 e PS1000, a Shure entrou no mercado de headphones com os SRH, os in-ears customizados conquistaram uma enorme fatia do mercado… e a AKG a ver navios.
E o pior: quando resolveu lançar alguma coisa mais significativa, apresentou o K3003i, que deixou toda a comunidade entusiasta sem fazer ideia do que diabos a marca tinha na cabeça quando resolveu lançar um intra-auricular universal de luxo, híbrido, de (pasmem) 1.300 dólares. Esse preço está num território em que só os audiófilos mais sérios se atrevem a entrar, e eles sabem que é possível comprar in-ears customizados topo de linha por menos.
E aí a linha K pegou carona na onda do Dr. Dre e conseguiu o endosso do produtor Quincy Jones, criando o Q701. Posteriormente, também serviu de base para a edição limitada K702 Anniversary Edition e mais recentemente o K712 Pro. São todos basicamente o mesmo fone, apesar de algumas melhorias aqui e ali – pads melhores, um pouco mais de graves… mas, convenhamos, nada que chegasse perto do progresso que separa o Sennheiser HD650 do HD800 ou o Beyerdynamic DT880 do T1.
No entanto, nesse mar de decepções – afinal, estamos falando da gigante austríaca que deu luz ao revolucionário K1000 –, eis que surge um lançamento bem interessante: o K550. Infelizmente, porém, não é o topo de linha que muitos entusiastas esperavam. É um circunaural fechado, de pouco menos de 300 dólares.
ASPECTOS FÍSICOS
Antes de tudo: o K550 é, na minha opinião, um fone excepcionalmente bonito. Apresenta uma personalidade distinta da linha K e Q, e tem uma estética bem mais minimalista, elegante e moderna.
O acabamento e a qualidade de construção também vão além do que se espera nessa faixa de preço. O fone é feito de uma combinação de materiais que trazem, em conjunto, uma grande impressão de sofisticação. O headband é uma simples tira de metal com uma textura escovada, apresentando tanto o logotipo da marca quanto as marcações do ajuste de altura. Esse ajuste é feito simplesmente puxando os cups para baixo, e há passos pré-definidos que são sentidos com um clique sólido e firme. Há uma pequena peça de couro sintético preenchido com uma espuma que poderia ser mais macia. O K550 é um pouco duro na parte superior, e esse é o único ponto que me traz algum desconforto.
Os cups em si são presos ao headband por uma peça de metal e uma outra de um plástico com uma macia e diferente textura emborrachada – textura essa que também compõe boa parte dos cups. Em volta deles, há um anel de metal escuro, e no centro há uma placa também de metal com uma inscrição com o nome do modelo.
Os pads são revestidos de um couro sintético de altíssima qualidade, com o toque mais macio que já vi. No entanto, a parte interna deles é com aquele plástico de baixa qualidade – como no Audio Technica A700X que avaliei recentemente – que um dia vai esfarelar. Aqui o problema é atenuado porque essa parte é oculta, então não vai estar exposta e portanto menos sujeita ao desgaste.
Já o cabo é muito longo, o que não é muito bom para o uso portátil – que não é o pretendido, mas é possível visto que ele já se dá perfeitamente bem com um iPod –, e aparenta ser de boa qualidade. A terminação é num P2 com o adaptador P10 próprio rosqueável. Ótima e bonita solução.
O resultado é um fone de ouvido que exala modernidade e qualidade. O considero realmente impressionante nesse aspecto. Mas há um problema sério: o fit. O K550 é um fone selado, que depende de um bom encaixe para trazer graves. E esse encaixe, ao que tudo indica, é muito difícil de se conseguir. Eu, pessoalmente, nunca tive problemas e para mim ele é muito confortável, mas ao que parece, o fit é um ponto crítico que traz problemas para muitos usuários.
O SOM
A AKG é uma marca conhecida principalmente por seus fones sonicamente abertos, com um enorme palco sonoro – o K1000 é certamente o fone mais aberto já feito e dentro do antigo trio de fones mid-fi (Sennheiser HD600/650, Beyerdynamic DT880 e AKG K701), o maior argumento do K701 era justamente o amplo palco sonoro e a apresentação arejada, com graves mais tímidos.
Achei que o K550, como uma adição fechada à seção superior da linha K, seria muito diferente. Curiosamente, esse não é o caso. Esse fone é surpreendentemente aberto e arejado, e mantém a identidade dos fones mais competentes da AKG.
Algo que me deixou confuso foram os graves: li em diversos lugares que ele é totalmente diferente do K701/702, e conta com muito mais desenvoltura nessa área (o gráfico de resposta de frequência inclusive corrobora essa tese), mas não é o que encontrei… Diria que eles estão basicamente no mesmo nível. Achei que pudesse ser um problema de encaixe, mas não é.
Isso não significa, porém, que os graves sejam ruins. Em termos de presença, os classificaria como presentes, porém mais tímidos do que eu gostaria. Não têm o vigor ou o “preenchimento” de basicamente todos os outros fones que tenho atualmente, com exceção do Sony SA5000. Por isso, imediatamente não é o que eu consideraria adequado para gêneros que exijam presença de graves, como eletrônica, rock ou hip-hop e rap.
Entretanto, em termos de definição e textura, o K550 definitivamente impressiona para um fone fechado. Os graves não apresentam qualquer resquício de gordura ou carência de definição. Aliás, chega até a ser surpreendente que um fone fechado como esse seja mais leve nas regiões mais baixas – mas isso não deixa de ser algo que me incomoda em muitas situações, porque acabo achando que falta corpo e peso na apresentação desse AKG.
O grande atrativo do K550, porém, encontra-se nos médios: existe algo especial na forma como ele mostra essa região. O primeiro detalhe a ser observado é que, assim como nos graves, não existe basicamente nenhum indicativo, em termos de coloração, de que estamos falando de um fone fechado. Não há qualquer traço de compressão ou alteração timbrística. Os médios soam excepcionalmente naturais. O segundo detalhe – e o que mais gosto –, é que existe uma certa maciez nessa área, algo que torna as vozes muito delicadas. É como se algum engenheiro da Sennheiser tivesse sido rapidamente roubado pela AKG para dar um pequeno toque em seu novo fone.
Não é algo que afeta toda a apresentação (esse é definitivamente um AKG), mas está presente nos médios e gosto muito do resultado. A Overgrown, de James Blake, me mostra muito bem essa característica. É como se sua voz fosse muito palpável e macia de alguma forma… eu chamaria de um ligeiro véu, mas não posso fazer isso porque o K550 é um fone muito transparente e com uma capacidade muito alta de recuperar detalhes.
Aliás, essa é outra questão interessante: tenho notado que muitos fones lançados recentemente possuem alto-falantes que de alguma forma soam muito modernos, por conseguir aliar uma resposta de frequência balanceada (sem apelar para agudos integralmente em excesso – mesmo que haja picos localizados), um silêncio de fundo sepulcral e uma altíssima capacidade de resolução e de detalhamento. Exemplos são Sennheiser HD800, HD700, Beyerdynamic T1 e agora o K550.
É muito difícil explicar o que quero dizer, mas de alguma maneira fica claro para mim, ouvindo esses fones, que eles são produtos realmente sofisticados de uma engenharia em constante evolução. A impressão que tenho quando os ouço e comparo aos Grados, aos Sennheisers HD600/650 e HD 25-1 II, ao AKG K1000, ao Beyerdynamic DT880 e até ao K702 (que prefiro ao K550, mas ao mesmo tempo me soa mais ultrapassado) é que eles são e soam, evidentemente, mais modernos. Me parece que eles são os que mostram que há claro desenvolvimento da tecnologia dos alto-falantes dinâmicos. O K550, definitivamente, faz parte desse grupo.
Há um palco sonoro muito desenvolvido e, como disse, um enorme silêncio de fundo aliado a uma enorme capacidade de resolução. Veja, porém, que isso é relativo a sua faixa de preço. Comparado ao HE500, por exemplo, é óbvio que trata-se de um fone inferior. Ele é menos tridimensional e possui um equilíbrio tonal em geral menos refinado e bem resolvido. Mas, aqui, é necessário colocar as coisas em perspectiva: estamos falando de um fone dinâmico, fechado, de menos de 300 dólares. Meu ponto é que seu desempenho parece ir além do comum para fones com essas características, mas não é justo esperar milagres.
A situação do K550, no entanto, começa a desandar um pouco nos agudos. Não tenho do que reclamar dos agudos mais altos em si – há boa extensão e o timbre não é só bom, é excelente. O grande problema está nos médio-agudos: há um pico muito evidente e que em diversas situações me incomoda bastante. Ele é responsável, acredito, pela grande sensação de claridade proporcionada por esse AKG, tendo em vista que se trata de um fone fechado, mas acho que essa claridade vai longe demais num pico um pouco curto. O resultado é que em alguns casos, a apresentação perde uma boa dose de balanceamento e pode se tornar fatigante.
Por exemplo, na Stepping Out e a I Like the Way, do Kaskade, a parte média e aguda da batida eletrônica é posta desproporcionalmente para a frente. Quando coloco o HE500 para ter alguma perspectiva do tamanho do problema, isso se torna muito evidente. Apesar do pico nos agudos do HiFiMAN, sua apresentação é muito mais balanceada, linear e menos agressiva. O AKG soa excessivamente para a frente aqui. O próprio K702 é outro exemplo de um fone muito mais bem resolvido nessa questão. É bem mais relaxado. Esse problema é agravado pela relativa carência de graves, que poderia amenizar a questão com mais peso, tirando a atenção desse ofuscamento.
Isso não é o suficiente para arruinar o K550, que continuo considerando um excelente fone, mas é algo que encaro como um evidente defeito. Talvez seja um preço a se pagar por tanta transparência e abertura num fone fechado desse custo, mas o prejuízo é considerável. Por esse motivo, tenho ressalvas na hora de recomendá-lo.
CONCLUSÕES
O K550 me deixa um pouco dividido. Esse fone faz algumas coisas excepcionalmente bem, e é certamente um dos fechados mais competentes que já pude ouvir. O problema é que, nele, o que compõe essa competência traz aspectos negativos significativos que acabam por torná-lo seletivo com gêneros musicais. Funciona excepcionalmente bem para gêneros como jazz, clássico e acústicos devido à claridade, palco amplo, excelente detalhamento e grande capacidade de resolução, mas não há o peso necessário para estilos mais mainstream e, com bastante frequência, há forte agressividade na região dos médio-agudos, o que pode tornar sua apresentação muito fatigante.
Tecnicamente, o considero um fone que vai muito além de sua faixa de preço – e um grande expoente do avanço dos diafragmas dinâmicos –, e supera boa parte da crescente linha de portáteis (não que o K550 seja exatamente portátil, mas é fechado compete com eles em preço) com estilo, como Sennheiser Momentum, V-Moda M-80, e outras opções que se vê nas Apple Stores da vida. Mas, para ouvir música, a situação complica um pouco. Nos estilos que ele funciona bem, ele oferece uma relação custo-benefício realmente impressionante. Minha grande ressalva é que não são poucos os estilos em que ele não funciona tão bem.
AKG K550 – US$249,95
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 32 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 114 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 12Hz – 28kHz
Equipamentos Associados
Portáteis: iPod Classic
Mesa: iMac, Abrahamsen V6.0, HeadAmp GS-X, Woo Audio WA3