INTRODUÇÃO
Fones de ouvido, geralmente, podem ser divididos em duas grandes categorias: grandes e pequenos. É possível encontrar modelos não só num meio termo mas também nas extremidades (às vezes muito extremas). Mas uma regra geral é que os grandes são capazes de uma qualidade de som muito melhor do que os menores. Ou seja, quem quer qualidade sem compromisso, deve ir atrás de um bom full-size. Logicamente diversos outros fatores entram na jogada, como conveniência e portabilidade, além do custo, mas o habitual é que um bom circunaural ou supra-aural tem uma performance objetiva bem maior do que a de IEMs na mesma faixa de preço. Digo subjetiva porque é perfeitamente aceitável que alguém prefira um in-ear, mas falando em nome de uma maioria, não há comparação.
Logo após o ainda recente crescimento do setor dos fones de ouvido realmente high end (sobre o qual falei no review do AKG K701), onde se encaixam Sennheiser HD800, Beyerdynamic T1 e Grado PS1000, um novo jogador entrou em campo para disputar espaço, causando um grande alvoroço no head-fi e desafiando a lei do “maior é melhor”: o JH Audio JH13 Pro.
Monitores custom não são novidade; a americana Ultimate Ears foi uma das primeiras empresas a oferecê-los, mas eles eram focados no uso por músicos profissionais como retorno de palco, visto que o molde customizado permitia um alto grau de isolamento – fundamental para que o volume do retorno fosse mais baixo, e portanto mais seguro para o uso sem danos tão fortes à audição.
O mercado cresceu substancialmente, e outras companhias rapidamente passaram a oferecer alternativas. O resumo da história é que, com o surgimento e crescimento exponencial da venda de players portáteis como o iPod, audiófilos foram em busca das melhores formas de escutar músicas fora de casa, e os IEMs são a escolha mais conveniente. No topo do pinheiro dos intra-auriculares se encontram os monitores custom.
Apesar de já existirem há algum tempo, parece que os custom IEMs só foram massificados após a venda da Ultimate Ears para a Logitech, que possibilitou que seu criador, Jerry Harvey, criasse a JH Audio e sua obra prima, o JH13 Pro. Ele causou uma explosão no head-fi que, surpreendentemente, o colocou no nível dos full-size topo de linha. É um intra-auricular moldado para o ouvinte, e possui seis drivers de armadura balanceada por ouvido: dois para graves, dois para médios e dois para agudos. Dois drivers reproduzindo o mesmo som significa que cada um deles terá que fazer metade do trabalho para um dado volume, se comparados a apenas um driver reproduzindo esse mesmo som. O resultado é uma maior capacidade de trabalhar a volumes mais elevados, com um nível de compressão muito menor.
ASPECTOS FÍSICOS
Ao contrário de intra-auriculares universais, para usar um JH13 Pro, é necessário fazer um molde do canal auditivo, que pode ser feito num audiologista. O fone é confeccionado a partir desse molde, o que permite um grau muito mais alto de isolamento a um maior espaço para alocar os drivers dentro de cada fone. Em teoria, o conforto também é muito maior.
Ele é feito de acrílico e pode ser confeccionado ao gosto do cliente, que escolhe a cor e um artwork que pode ser colocado na faceplate (a parte visível do fone quando ele está colocado).
Escolhi pelo fone transparente com a custom fibre art de artwork (o da primeira foto). Ele é bem acabado, mas não é o melhor que já vi – já vi de perto um UM Miracle que tinha uma acabamento melhor. Por exemplo, existem dois pequenos “relevos” em dois lugares, provavelmente pedaços que não foram completamente lixados. Também tive o azar de não obter um fit perfeito, provavelmente porque o molde foi feito com mais pressão do que deveria. Portanto, em breve pretendo mandá-lo novamente à JH Audio para corrigir o problema. Do jeito que está, causa um grande desconforto após algum tempo de uso.
Os acessórios são escassos. O IEM acompanha uma caixinha de acrílico à prova d’água e de choque, uma bolsinha de algum material parecido com veludo e um removedor de cera, além do manual (que aliás é escrito de um jeito bem humorístico e descontraído). O cabo é de boa qualidade, parece resistente e é bem leve, transmitindo pouca microfonia. Em compensação, escolhi pelo cabo transparente, que após pouco tempo começa a esverdear, o que é um problema conhecido desse cabo mas que não tem solução. É apenas estético, mas pode incomodar alguns.
O SOM
Vou começar sendo bem sincero: primeiro de tudo, na primeira vez que coloquei o JH13 Pro para tocar no meu iPod, definitivamente não me impressionei. Encontrei um ótimo equilíbrio tonal e pronto. Não havia nenhuma qualidade sendo jogada na minha cara, querendo chamar atenção – foi até meio decepcionante. Os graves tinham bastante presença, mais do que eu estava acostumado, os médios eram claros e neutros e os agudos tinham uma presença e extensão muito evidentes.
Segundo, nunca achei tão difícil escrever uma avaliação. O que acontece é que na maioria dos fones de ouvido, é possível encontrar uma voz própria que se impõe em todas as músicas. Podem ser menos evidentes em alguns e mais em outros, mas ela está lá, e então o que eles reproduzem está muito condicionado ao fone.
No JH13 Pro, no entanto, frequentemente me vejo notando alguma característica em alguma música, por exemplo, achando que ele tem graves um pouco excessivos. Mas aí, quando ouço outra coisa, os graves simplesmente sumiram. Em outros momentos, fico querendo mais calor. Só que coloco Kiss From a Rose do Seal e todo o calor do mundo está lá.
O que acontece, acho, é que nesse IEM, o que entra, sai. Logicamente não é de forma absoluta e passiva, mas nunca ouvi dependência de gravação e fonte dessa forma. É sem dúvida alguma o meio de reprodução mais passivo que já encontrei, e essa frase está vindo de uma pessoa que ouve quase diariamente um par de Jamo R907 (procurem no Google e verão o que é) e que já ouviu obras de arte como Morel Fat Lady, Wilson Audio Puppy e Klipsch Palladium P39F. Não estou dizendo que o fone não impõe suas características porque isso é impossível, mas ele está mais perto disso do que qualquer coisa que eu já tenha ouvido.
Acho que esse é um daqueles fones que não te impressiona de primeira, mas com o tempo vai revelando suas verdadeiras qualidades, que não são tão evidentes numa primeira audição. Mas isso muda.
O JH13 Pro é simplesmente fenomenal.
Primeiro de tudo, o equilíbrio tonal é provavelmente o que considero ideal. Não se esqueça que, na minha opinião, o essa característica é uma das mais importantes num fone, visto que é o que caracteriza a voz do fone. Os graves têm peso, impacto e definição – características que não costumam andar juntas –, os médios são calorosos, transparentes e presentes, e os agudos têm a melhor apresentação que já ouvi num fone de ouvido. Não são perfeitos, como você vai ver mais adiante, mas em questão de presença, estão no ponto.
Algo que costuma ser como uma regra geral em IEMs é a questão dos graves em fones de armadura balanceada e dinâmicos. Geralmente, estes são caracterizados pelo impacto e presença, enquanto aqueles por uma certa linearidade, textura e definição. Não sei bem como, mas o JH13 Pro tem os dois. Não sou uma pessoa que se importa tanto com impacto, mas ao mesmo tempo isso não significa que ele não é importante. Peso, textura e definição são invejáveis. O K701 ainda era minha referência em graves, mas o JH13 Pro tomou seu posto. O AKG tem graves mais secos, mas o IEM tem tanta definição e textura quanto ele, mas adiciona uma certa gordura, por assim dizer, um pouco de romance e liquidez. Músicas eletrônicas também se beneficiam, e muito, dessa resposta nas baixas frequências, assim como rock. Mas vou entrar em mais detalhes quanto a isso mais pra frente.
Os médios também são um ponto forte do JH13 Pro. Apesar de achar que em alguns casos poderiam ser postos um pouco mais à frente, vejo isso mais como uma preferência minha do que um defeito do fone, que parece ter os médios no lugar certo, não só em questão de quantidade, mas também de qualidade. Parecem estar exatamente no centro do debate calor vs. transparência. Por essa razão, em alguns momentos acho que um tiquinho a mais de transparência cairia bem, apesar de o detalhamento ser excelente.
Não obstante, os médios do IEM não são nada menos que sensacionais. No Piano Concerto n.2 de Rachmaninoff com o solista Lang Lang, encontrei a melhor apresentação de um piano que já vi num fone de ouvido. A gravação é excelente, e aliada ao timbre extremamente correto do JH13 Pro, o piano parece fazer jus à sua classificação de instrumento percussivo. O ataque às cordas é incrivelmente evidente, mas sem perder a delicadeza e melodia que o caracteriza. Vozes não ficam atrás. Tanto vocais femininos quanto masculinos apresentam um grau de naturalidade e realismo de cair o queixo.
Nos agudos, a coisa complica. Como disse anteriormente, a apresentação é uma das melhores que já ouvi porque a presença está no ponto, a extensão é excelente e eles são incrivelmente lineares. No entanto, apresentam três problemas: granulação muito evidente, sibilância e, para mim o pior, o timbre parece estar errado. Tanto a granulação excessiva quando a sibilância não me incomodam muito, mas obviamente não são características prazerosas. O timbre, no entanto, poderia ser bem melhor.
O que acontece é que pratos de bateria soam finos e têm muito menos corpo do que deveriam ter. É como se algo que deveria soar como “shwaaaah”, soasse como “shwiiiih”. Parece tosco, mas é uma boa forma de expressar o que ouço. Ainda sim não é um problema muito sério, mas para os meus ouvidos, está lá. É interessante perceber que nunca ouvi nenhuma reclamação a respeito disso, o que me leva a crer que, por ser um custom, existem pequenas diferenças decorrentes do posicionamento dos drivers e comprimento do canal. Muitos usuários não reportam sibilância e nunca li nada sobre o problema do timbre. É possível que o meu seja um caso isolado.
Fora esses problemas, não tenho do que reclamar – muito pelo contrário. Essa presença “spot-on” dos agudos resulta numa claridade e transparência muito grande. A sensação que tenho, após ouvir outros IEMs por algum tempo e depois passar para o JH13 Pro é a de ter retirado um véu da música. É uma sensação parecida, apesar de muito menos significativa, com a de ouvir um Stax estando acostumado a fones dinâmicos.
Agora que pude (tentar) descrever como o IEM se comporta com relação às diferentes faixas de frequência, posso passar para outras características, que na minha opinião, são fundamentais para separar o JH13 Pro do resto dos fones.
Primeiro de tudo, como já disse antes, existe a questão de ele ser muito dependente da fonte. Esse é o caso com relação à sonoridade geral do fone, mas é especialmente evidente no que diz respeito ao “tamanho” do som gerado por ele. Em todos os fones que já pude ouvir (talvez exceto o AKG K1000), existe uma certa consistência no tamanho – e dinâmica – do som que eles apresentam. Mesmo que estejam tocando algo pequeno e delicado, de alguma forma já existem evidências de até onde esse tamanho pode chegar. É como se o ambiente projetado tivesse um tamanho fixo. Em alguns casos essa característica é muito forte, como por exemplo no K701, que toca qualquer coisa numa caverna, ou no SE530, que toca sempre numa parede.
No JH13 Pro, no entanto, não é bem assim. É comum, por exemplo, em algumas músicas de rock, se assustar quando a introdução com apenas uma guitarrinha limpa se torna uma verdadeira parede de guitarras de um tamanho descomunal. O mesmo ocorre em peças orquestrais. Isso, aliás, me trás a uma outra questão, que é o desempenho espetacular do IEM em rock. É chocante o impacto e ataque que fones desse tamanho conseguem gerar. Ouvindo Creed e Smashing Pumpkins, por exemplo, não consigo fazer o sorriso do meu rosto desaparecer. É, sem dúvida alguma, a performance para rock mais convincente que já tive o prazer de escutar. A palavra é essa, ataque. É como levar um soco nos ouvidos, o que é uma contradição quando comparamos essa capacidade à delicadeza e suavidade das quais ele é capaz em coisas não agressivas. Novamente voltamos à passividade sobre a fonte.
Ainda com relação a esse tamanho, existe uma capacidade impressionante desse IEM, que é a de escalar o som a volumes ensurdecedores sem níveis perceptíveis de compressão. O que acontece normalmente, tanto com fones e caixas de som quanto com amplificadores, é que, em volumes muito elevados (ou perto do máximo nos amplificadores), o som começa a comprimir. Isso é percebido da seguinte forma: num volume baixo, os instrumentos possuem um tamanho pequeno e ocupam um lugar pequeno no espaço. Num volume mais elevado, eles aumentam de tamanho e o espaço relativo entre os instrumentos também aumenta. Porém, chegando a determinados volumes, parece que os instrumentos e esse espaço páram de aumentar, e o que acontece é que o volume fica mais alto mas o som (e o espaço percebido) começam a comprimir de forma acentuada.
No JH13 Pro isso não acontece, devido à existência dos drivers duplos para cada faixa de frequência. Isso significa, como já disse na introdução, que o fone é capaz de trabalhar a volumes elevadíssimos sem qualquer compressão – o efeito é chamado de “increased headroom”, ou “teto elevado”. Na teoria é uma coisa, mas na prática é outra. Eu sabia dessa capacidade, mas não achei que fosse ser uma coisa audível. Eu estava enganado. Em volumes um pouco mais felizes, essa qualidade é bem notável – e fantástica.
Essa questão do tamanho parece estar diretamente relacionada a duas outras. Uma delas é a independência das faixas de frequência. A passividade do JH13 Pro frequentemente se mostra na capacidade de praticamente isolar a reprodução das faixas. Por exemplo, em algumas músicas a sensação é a de que os drivers de graves estão desligados. É comum estar ouvindo alguma coisa praticamente sem graves e, de repente, quando eles surgem, se perguntar “de onde diabos veio isso??”
Uma outra qualidade é a do palco sonoro. Li alguns relatos que diziam que o palco desse IEM era melhor do que a de monstros como Sennheiser HD800 e AKG K701. Nunca ouvi um HD800, mas posso falar pelo K701. Essa afirmação é e não é verdade. Em termos objetivos, ou seja, o tamanho do espaço projetado e a precisão no “pin-point” dos intrumentos é sim maior no JH13 Pro. Ele é capaz de gerar um ambiente inteiramente dependente da gravação dentro da cabeça, com uma especificidade surreal na renderização dos instrumentos em seus respectivos lugares, recorte e arejamento. Em compensação, esse efeito, apesar de melhor e muito mais fielmente reproduzido, é muito menos evidente e convincente no IEM, que, ao contrário dos full-sizes, não é capaz de retirar essa imagem da cabeça. Portanto, não é tão simples escolher entre a performance de um e a de outro. Dito isso, não preciso nem falar sobre a separação instrumental – não imagino como poderia ser melhor.
O detalhamento também é impressionante. Se estiver gravado, pode ter certeza que você vai ouvir. Portanto, não adianta querer um desses para ouvir mp3s a 128kbps. A compressão torna-se muito evidente.
CONCLUSÃO
Esse custom IEM desafia noções pré-estabelecidas em áudio. Notaram que fiz poucas referências a estilos musicais? Pois é. Não existe estilo musical no qual ele não se sinta perfeitamente em casa. Como disse, rock é um no qual ele se destaca, mas não ouvi nada em que ele não se saísse incrivelmente bem. É o meio de reprodução mais passivo e neutro que já tive o prazer de ouvir.
Se você, leitor, puder comprar um JH13 Pro, por favor, faça esse favor a si mesmo. É impossível não ficar satisfeito.
Ficha Técnica
JH Audio JH13 Pro – US$ 1099,00
- 6 drivers de armadura balanceada: dois para graves, dois para médios e dois para agudos
- Sensibilidade (1 mW): 119 dB SPL/V
- Impedância (1kHz): 28
- Resposta de Frequências: 10Hz – 20kHz
Equipamentos Associados:
iPod Classic, iMac, Cambridge Audio DacMagic, Little Dot MKIII