Oppo PM-1

Introdução

Estava ansioso por falar dessa marca, a Oppo. Talvez você não saiba o tamanho que ela tem, ao menos no apreço audiófilo, e confesso que demorei a saber. Fico feliz por escrever sobre ela, uma empresa chinesa e consagrada no mundo do áudio e vídeo, com foco na cinefilia, mas também nas telecomunicações, onde a marca tem força. Estamos falando de uma gigante, portanto, e de clássicos conceituados como os blu-ray 105, 203 e 205; o DAC e network streamer Sonica; e os amplificadores de mesa e portátil, HA-1 e HA-2, respectivamente.

No entanto, falarei de fone e do exemplar que foi o carro chefe da empresa: o Oppo PM-1. Primeiro preciso dizer obrigado ao Jorge, daqui de São Paulo, que gentilmente me cedeu o fone. Obrigado. E antes de falar dele, propriamente, deixe-me falar brevemente do mentor da obra, Igor Levtsky, o ucraniano responsável por trazer a Oppo para o mundo dos fones planares magnéticos, desde o portátil e de entrada, o PM-3, passando pelo PM-2, até chegar neste topo de linha. Ele conseguiu, em 2014, após longa data de experiencia no assunto, inserir drivers planares sensíveis e de alta eficiência, o que permitiu para esses modelos serem fáceis de tocar em qualquer player. Desde celulares até setups de mesa, tira-se bons resultados. E Igor Levtsky, um apaixonado por música, fez do projeto do PM-1 – goste ou não da assinatura – a tradução, a seu modo de entender, de como um fone deve reproduzir música: conexão emocional e envolvimento musical. Isso está muito bem relatado em algumas entrevistas com ele, quando da entrada da Oppo no mercado de fones e que rapidamente caiu nas graças do público. Vale a pena conferir mais e com calma.

 

Aspectos Físicos

Os três exemplares da marca, o PM-3, fechado e portátil; PM-2 e PM-1, abertos e de mesa, dispõem de design minimalista e muito sólido, que acabam por transmitir qualidade e robustez, tanto para o fone como para os acessórios de modo geral. O PM-1 vem em uma caixa de madeira escura muito bonita e de acabamento esmerado. O cabo TRS 6.3mm, embora longo, é leve, maleável e de excelente qualidade e acabamento. A terminação nos cups é em 2.5mm, como os Hifiman atuais. Ele vinha, também, com uma case de transporte muito útil e um cabo extra de 1,5m, mais fino e leve, portanto, prático.

Ainda que o conector de 2.5mm nos cups transpareça menos confiança, a Oppo fez um excelente trabalho em recobrir as extremidades com um acabamento emborrachado de qualidade, que transmite maior sensação de durabilidade e resistência. É no detalhe que a marca se destaca e onde entendemos seu prestígio.

As pads são removíveis e a dos modelos dos primeiros lotes eram de couro de cordeiro perfurados, acompanhadas de outras pads em veludo. Logo após a Oppo passou a enviar/disponibilizar outras pads de couro, denominadas “Alternate”, que vinham com menos furos na parte interna e conferiam uma sonoridade mais brilhante ao fone. O couro da headband também segue a linha das pads originais.

A haste de ajuste de altura do head é em aço-inoxidável muito bem-acabado e com ajustes precisos. Os drivers são envolvidos num aro em alumínio, que permite giros sem rangidos de até 180º, facilitando a acomodação suave sobre as superfícies. Isso tudo poderia transparecer que o fone seria pesado, porém, para a época e seus concorrentes, somente o HD800 conseguia ser mais confortável com seus 330 g e ergonomia tão boa quanto. O LCD-2 e o HE-500, com mais de 500 g cada um, não conseguem superá-lo em conforto (peso e ergonomia), afinal, são 395 g muito bem distribuídos na cabeça. E é confortável ouvir música aqui. O clamping está sob medida, não apertando demais, mas não deixando o fone solto, parecendo que ao menor dos movimentos vai cair. E as pads não esquentam demais. Foram inúmeras as vezes que fiquei horas ouvindo música com ele e poderia ir mais longe, não fosse o sono. Ele está, fácil, entre os fones mais confortáveis que já usei – HE-1000v2, D7000, HD650 e Clear.

 

E o som?

Vou abrir essa sessão dizendo que boa parte dele é capaz de ser reproduzido já no LG V30, iFi xDSD ou Fiio M11. Sua alta sensibilidade (102 dB/mW) e baixa impedância (32 Ohms), propiciam isso na prática. Embora ame meu nada sensível HE-6, é prazeroso ter a liberdade de espetar o fone em (quase) qualquer device e sair ouvindo. E para este caso, ouvindo um som bom, que cativa tanto quanto sua construção física.

Definitivamente não é um fone neutro, já que há um reforço significativo nos graves; um recuo na região dos agudos e médios bastante centrais, enfatizados no espectro musical. Isso lhe confere uma sonoridade indulgente com as mídias, o que é muito bom, afinal, não é porque passei a escrever sobre, que deixei de ouvir e amar Gal Costa, Red Hot Chilli Peppers, Cássia Eller, Raul Seixas, Nirvana, Tim Maia e Milton Nascimento, por exemplo, que têm trabalhos primorosos, mas, por outro lado, não tão bem gravados. Eles continuam a tocar minha alma, cada um a seu modo, e no PM-1 consigo estabelecer essa conexão, pois ouço o que importa. A música toca como se estivesse preenchendo o espaço de forma muito envolvente.

Os graves soam com muito peso e impacto e se não são altamente texturizados, como no HE-1000v2 e Clear, têm boa extensão, como era de se esperar de um planar magnético. Nas músicas que trabalham intensamente na faixa dos graves e subgraves, ele acompanha bem os sons que descem mais fundo. O “soco” musical que ele proporciona para músicas eletrônicas, lounge, hip hop, funk, soam deliciosos. É uma apresentação que se assemelha aos Audeze, em especial à série LCD-2 antes da tecnologia Fazor, mas com uma proporção mais equilibrada de graves, embora me pareça menos refinada. É feita para proporcionar uma musicalidade envolvente, sedutora; abundante, em bom sentido.

Nessa assinatura que a Oppo se propõe com o PM-1, ela rompe o estereótipo dos fones abertos e de graves menos encorpados; e ele consegue mostrar que abertos podem ser viscerais nessa região, sem deixarem de ter qualidade.

No entanto, mesmo tecendo os elogios na região das baixas, é na região dos médios que fico encantado com essa apresentação, que soa exuberante e intimista. Os médios têm corpo e textura mais aprimorados que a região dos graves. Ouvir vocais nele é prazeroso demais – Mayra Andrade, no álbum Studio 105 ou Khadja Nin em “Sina mali, sina deni (Free)”; assim como é prazerosa a experiencia de ouvir rock nele – Jeff Buckley, na música “Grace”, ou Adam Ben Ezra, no álbum Pin Drop.

Me peguei, várias vezes, apenas ouvindo quão competente esse fone é em renderizar instrumentos com maior presença nessa região. Não há muito o que dizer a não ser elogiar, pois os médios passam cheios, tocando em seus ouvidos numa medida exata e em oposição ao Denon D7000, com seu leve recuo, ainda que goste muito dele. Esses são os médios que gostaria de ter no Denon. Ele acerta demais nessa região.

Porém, o D7000 tem os agudos que gostaria de ouvir no PM-1, já que eram vendidos em faixas relativamente próximas de preço e os graves deles estão em sintonia, na linha da musicalidade. Por um lado, o Oppo não apresenta a mordida que algumas músicas parecem pedir, e ele chega a ser demasiadamente sem brilho em algumas ocasiões. O decay dos agudos vem cedo demais. Está claro que a marca optou por um caminho seguro para agradar um publico que prefere um som mais relaxado. A transição dos médios para a região mais alta deles, é boa, mas logo após vem esse decaimento. E isso impacta na dinâmica dessa região, tornando-a mais escura.

Quando ouço Pink Panther Theme, na versão do Henri Mancini, embora ainda existam os ataques nessa região, mais fortes em fones como o HE-1000v2 e HD800s, aqui ficam macios e fáceis de se ouvir, mas acabo tendo a sensação que falta presença e que a música não é para ser exatamente assim tão macia. E continuo sentindo falta ao ouvir o álbum Hudson, do Jack DeJohnette, Larry Grenadier, John Medeski & John Scofield.

Pode ser que essa apresentação mais escura e o certo relaxamento nessa região estejam intimamente ligados às pads, e que escolhendo a “alternate”, isso se resolva. Fato é que para o que ouvi, a apresentação é, em muitos momentos, apagada e que me fez sentir falta justamente do caráter passional do fone para a região dos médios – sobretudo – mas também para os graves. Ao ouvir Miles Davis e sua fabulosa performance no trompete, embora fique confortável em muitas ocasiões, peço um pouco mais de alma.

Essa apresentação acaba por fazer dele um fone menos transparente, mas que pode ser, também, o que se deseja em certos momentos, pois você fica com os detalhes que mais importam da música, não se expondo às falhas da master. E talvez a soma entre o recuo nos agudos e a menor transparência, proporcione ao Oppo PM-1 um som menos espacial, portanto, mais intimista, e que para algumas músicas, principalmente música clássica, falte o requinte de alguns outros fones. Não lhe falta, porém, imagem e foco satisfatórios, mas que estão em um espaço menor.

E é interessante que o amplificador DNA Stellaris traz benefícios justamente nesse aspecto, espacialidade, uma característica típica de valvulados, mas que é mais notável para este amplificador.

Conclusão

Confesso ter ficado surpreso com o som do PM-1, mesmo tendo visitado muitos fones superiores. O que me impressiona nele é a capacidade de fazer o necessário para te fazer esquecer de analisar a música, seja no todo ou nos detalhes, permitindo com isso um mergulho musical, que muitas vezes esquecemos de fazê-lo.

Ele consegue entregar um som complemente inofensivo, digamos assim, mas intimista e envolvente. Cheio e exuberante. Talvez se tivesse um pouco mais de presença na região dos agudos, mantendo esse sentido de uma audição relaxada, eu o consideraria o fone mais capaz dos que tenho hoje comigo no quesito “sumir” entre o ouvinte e a reprodução musical. Você coloca-o na cabeça e esquece.

E para além do que é mais importante, o som, a Oppo entregava conforto e qualidade construtiva, em uma apresentação luxuosa, dignos de um topo de linha de marca. E tudo por um preço alinhado com a concorrência da época – Audeze LCD-2 e 3; Hifiman HE-500; Sennheiser HD800 e AKG K812. Nenhum desses, porém, toca tão bem exigindo tão pouco para fazer um bom trabalho como o PM-1. Excelente, só posso dizer.

 

Outros que cantaram

  • Red Hot Chili Peppers – The Uplift Mofo Party Plan – (16/44);
  • Primus – Sailing the Seas of Cheese – (24/96);
  • Sun Ra – Jazz In Silhouette – (16/44);
  • Nils Lofgren – Acoustic Live (16/44);
  • Olivier Latry – Bach to the future (24/96);
  • Kamasi Washington – Heaven and Earth – (16/44);
  • Mastodon – Crack the Skye – (16/44);
  • Death – The Sound of Perserverance – Reissue – (Spotify);
  • Overkill – The Grinding Wheel (24/96);
  • Pink Floyd – The Dark Side Of The Moon – (16/44);
  • Arne Domnérus – Jazz at the Pawnshop: 30th Anniversary (Tidal);
  • Jonas Nordwall – Widor – (24/88);
  • Guts – Hip Hop After All – (mp3 320kbps);
  • Angélica Duarte – Odara – (Tidal);
  • Badi Assad – Verde – (Tidal);
  • Imelda May – Love Tattoo – (Tidal);
  • Zamajobe – Ndawo Yami – “Ye Wena Sani” – (Tidal);
  • Luedji Luna – Um Corpo no Mundo – “Banho de Folhas” – (Spotify);
  • Julian Bream – The Essential Julian Bream – (24/44) e J.S. Bach – (16/44);
  • Macaco Bong – Deixa Quieto (Tidal);
  • Duda Beat – Sinto muito (Tidal).

Equipamentos que passaram

  • LG V30 e UAPP;
  • Fiio M11 (DAP);
  • iFi xDSD (DAC e amp);

PC Windows com Audirvana Plus, Roon e Foobar;

  • Chord Qutest (DAC);
  • Violectric V281 (amp SS);
  • Cayin iDAC-6 (DAC);
  • DNA Stellaris (amp TOTL valvulado).
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