Álbuns de Destaque: Opeth – Pale Communion

Já tive muitas fases no que diz respeito ao gosto por diversos estilos musicais, e hoje em dia, ao contrário do que acontecia há alguns anos, praticamente não ouço músicas mais pesadas. Passo meu tempo ouvindo gêneros acústicos, músicas alternativas da cena nacional (Rubel, Mahmundi, Cícero, Baleia…) e algumas outras coisas que não sei bem definir. Mas uma banda que sempre tive na mais alta estima é o grupo sueco Opeth, liderado por Mikael Åkerfeldt.

Acho que se fosse para eu definir um motivo, seria a capacidade da banda de sempre me surpreender. Ela é categorizada como de heavy metal progressivo, mas com fortíssimas influências do death metal (com direito a guturais) – é o tipo da música que, pelo menos até os últimos 3 álbuns, assusta a maioria das pessoas. Só que por baixo de toda essa agressividade, de alguma forma, há muita melodia, sensibilidade e poesia, além de arranjos dignos de bons álbuns de jazz e progressões e quebras e variações dinâmicas típicas de sinfonias. Com alguma frequência, o grupo deixa esse lado assumir a linha de frente, e somos agraciados com belíssimos dedilhados de violão e uma voz surpreendentemente comovente.

A dupla de álbuns Deliverance e Damnation são prova disso. Já deixei vários amigos totalmente incrédulos ao mostrar Wreath seguida de Hope Leaves, deixando claro que se trata da mesma banda – mesmo vocalista, mesmo compositor, mesmo tudo. É a coisa mais agressiva do mundo seguida da mais emotiva do mundo. E não é emotiva no sentido de propositalmente melosa – tudo soa muito sincero. A sensação que tenho é de que cada nota é honesta, pensada e possui um propósito. Não há a masturbação musical que se vê em muitas outras bandas do gênero (caham, Dream Theater), e o pesado não o é simplesmente para ser pesado. Parece que é a forma que Åkerfeldt sinceramente achou que seria a mais apropriada para passar uma determinada mensagem. Eu mesmo ainda fico encantado com a habilidade da banda de soar como inúmeras coisas completamente diferentes mas ainda assim com uma identidade inegavelmente própria. Não consigo ouvir o espetacular solo de guitarra de Hours of Wealth ou a voz de Åkerfeldt Isolation Years sem pensar “não é possível”. São melodias dignas de envergonhar muitas sinfonias.

Recentemente, porém, a banda tem explorado um caminho um pouco diferente, mas que ainda assim é inegavelmente Opeth. Os três álbuns mais recentes – em ordem, Heritage, Pale Communion e Sorceress – enveredam com força para o rock progressivo da década de 70, mas trazendo a esse saudosismo tudo aquilo que torna a banda tão especial. E o resultado é absolutamente incrível. Os dois últimos são meus álbuns favoritos dessa nova fase, e talvez os prefira até ao Ghost Reveries e ao Watershed.

Aqui, vou falar sobre o Pale Communion que é um álbum mais condensado, e começa com a fantástica Eternal Rains Will Come, uma de minhas favoritas. A faixa já entra com bastante peso, dando destaque ao órgão Hammond e ao Mellotron, mas logo toda a instrumentação abre espaço para um belíssimo piano aliado a um solo de guitarra – com o Åkerfeldt mostrando toda a sua sensibilidade. Cusp of Eternity é mais “porrada”, e Moon Above, Sun Below me deixa dividido. Não gosto muito do início e nem do refrão, mas o meio da música é uma obra prima – do dedilhado do violão com um lindíssimo solo de guitarra e a voz do músico em sua versão mais melodiosa até o puro rock dos 3:40. Elysian Woes parece trazer de volta o álbum Damnation, e também é das minhas preferidas do álbum. Já River é uma praticamente uma balada, com um clima feliz totalmente inesperado da banda – mas, evidentemente, não termina na mesma nota. Voice of Treason não é minha preferida mas mostra, em 5:55, um dos pontos mais altos das proezas vocais do músico.

E Faith In Others… é sem dúvida alguma minha preferida do CD, e possivelmente da história da banda. É uma música de extrema sensibilidade, com melodias tocantes, harmonias irrepreensíveis, uma letra lindíssima e um belo trabalho vocal por Åkerfeldt.

O álbum Pale Communion, em minha opinião, é um dos melhores exemplos do que a banda Opeth é capaz. Não é para todos – apesar de ele ser bem mais palatável do que lançamentos anteriores, ainda acho que o trabalho dos suecos não é de fácil digestão. O que é inegável para mim, porém, é a capacidade deles de sempre surpreender e trazer elementos novos e inesperados, ao mesmo tempo em que estão firmes em suas raízes. E Pale Communion é prova disso.

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