INTRODUÇÃO
Aqueles que leram minha avaliação do DUNU DN-2000 sabem o quanto aquele fone me encantou. É um dos melhores in-ears que já pude ouvir, e provavelmente o que vou adquirir para tomar o lugar do meu antigo JH Audio Roxanne – que foi embora por motivos financeiros.
Mas não é só do DN-2000 que vive a DUNU. A marca oferece diversos intra-auriculares, que abrangem uma extensa faixa de preços. A linha mais completa é a TITAN, que vai desde o TITAN1es, de 55 dólares, até o TITAN5, de 140. Tenho aqui ambos os modelos para avaliação, além do intermediário TITAN1, de 95. Todos são intra-auriculares dinâmicos.
ASPECTOS FÍSICOS
Os três modelos trazem em comum, além da estética (que me lembra muito alguns antigos modelos da Sony, como o EX90LP), a boa qualidade de construção. Tanto o TITAN5 quanto o TITAN1 são quase inteiramente construídos em metal injetado – as maiores diferenças são que o 5 têm o cabo removível, por meio de um conector MMCX, e o 1 tem, em cada lado do corpo, um anel vermelho e um azul para indicar o lado. O cabo também é diferente: no 5 ele é todo emborrachado, enquanto no 1 ele é revestido de tecido abaixo do divisor Y. Já o 1es é mais simples, com o corpo de plástico, porém com uma peça metalizada por cima – que pode, aliás, vir em três cores. Em suma, os três são muito bem feitos, mas há uma progressão clara conforme se sobe a escada.
Nos acessórios, a história se repete: enquanto o 1es conta com uma típica caixinha de nylon rígido, 6 pares de ponteiras (incluindo três Spinfit), um earloop e um clipe de camisa, os irmãos mais velhos são mais elaborados. As caixinhas para transporte são de plástico e mais sofisticadas, e há também um adaptador P2-P10. Um detalhe é que o 1 não conta com earloops, mas o 5 traz de volta esse acessório, porém no estilo daquele dos in-ears da Bose.
Em termos de conforto, todos me agradam bastante. Eles são feitos para serem usados com o cabo para baixo, mas ao contrário do que ocorre com muitos outros fones desse tipo, não sinto qualquer sensação de insegurança – mesmo com o TITAN5, que é bem pesado. Ao menos para mim, os earloops se mostraram desnecessários. Além disso, por mais que eles não tenham sido desenvolvidos para isso, é possível utilizá-los com o cabo para cima sem maiores dificuldades.
A única questão que merece atenção é que, em todos eles, o isolamento acústico é mediano. Algo como um Xtreme Ears Xtreme ONE, um Westone ou um Etymotic, por exemplo, protege de ruídos externos consideravelmente mais. Isso provavelmente se deve ao encaixe mais raso dos DUNU. Sinceramente, não é algo que me incomoda, visto que quem sai ganhando é o conforto. É, simplesmente, uma outra abordagem.
O SOM
Como tenho aqui três modelos, vou tentar fazer uma avaliação um pouco mais concisa do que o normal. Vou começar pelo mais simples.
TITAN1es
O TITAN1es é um fone dinâmico, porém, felizmente, não cai em muitas das armadilhas tradicionais de fones que utilizam essa tecnologia. O que frequentemente ouço em fones dinâmicos mais baratos é uma sonoridade que parece estar “sob pressão”. É muito difícil explicar, mas é uma sensação bastante desagradável e muito pouco natural. É como se os médios estivessem sendo pressionados de certa forma. O 1es, ao contrário disso, possui médios relativamente para a frente. Essa é uma característica que me agrada e que vai contra o que se espera de um fone de seu tipo e faixa de preço.
Em suma, é um intra-auricular com uma sonoridade bastante aberta e detalhada, mas sem perder força e autoridade.
Antes de tudo, os graves: esses fazem jus ao falante dinâmico. São presentes, cheios e autoritários. Passam um pouquinho da linha da neutralidade, mas sem qualquer interferência em outras regiões do espectro – algo muito bonito de se ver num intra-auricular de meros 55 dólares. Em termos de personalidade, são bem melodiosos, o que significa que não priorizam o detalhamento extremo. Mas são como gosto: acho que graves gordos, que batem forte, na maioria dos casos são mais interessantes do que graves mais secos e definidos.
Nos médios, tenho algumas críticas. Gosto do fato de eles serem mais para a frente, mas há um pico, próximo aos médio-agudos, que é um pouco exagerado e pode incomodar. Ele faz com que o 1es tenha uma apresentação bastante forward. Em muitas situações – por exemplo, com gêneros acústicos –, isso não é problema. Mas existem inúmeros casos em que essa característica é muito evidente, e pode incomodar. Por exemplo, na Fences, da Isabel, as palmas são muito altas, e na Drone Bomb Me, da AHNONI, há sibilância considerável.
No entanto, não é um problema sério e é importante lembrar que estamos falando de um intra-auricular de 55 dólares. Nada totalmente inesperado. Caracterizaria os médios como competentes, principalmente tendo em vista o alto nível de detalhamento e transparência que eles proporcionam para um fone desse preço.
Já os agudos mantém essa característica, e são relativamente pronunciados, principalmente nas regiões mais baixas. Novamente, é uma faca de dois gumes: ao passo em que eles ajudam a proporcionar uma sonoridade consideravelmente detalhada e aberta – e, no caso de muitas músicas mais calmas, delicada –, em outras o resultado pode ser um pouco agressivo e fatigante. Curiosamente, porém, a extensão não é incrível.
Como disse anteriormente, o TITAN1es consegue aliar força e assertividade a abertura e transparência, e esse é um truque difícil de ser feito. A questão é que, aqui, isso vem a um custo. Entretanto, mais uma vez, devemos lembrar que estamos falando de um fone simples e que, num caso como esse, sempre haverá comprometimentos. É uma questão de escolha.
O que posso dizer é que, comparado a muitos outros fones de sua faixa de preço, o 1es é excepcional e vai muito além do que sua faixa de preço sugere – principalmente em gêneros musicais que não acentuam essa agressividade que seus médio-agudos e agudos podem apresentar, como músicas acústicas ou alguns sub-gêneros de música eletrônica.
TITAN1
E felizmente, ao passarmos para o TITAN1, o que temos é justamente um refinamento dessa mesma sonoridade, em que os problemas encontrados no 1es são atenuados. A sonoridade em geral é a mesma (o que é bom), mas parte da agressividade que encontrava nos agudos e médio-agudos desaparece, e o que resta é uma sonoridade bem mais refinada e equilibrada.
Mas o problema não é 100% solucionado, e acho que os médio-agudos e agudos ainda poderiam ser mais tranquilos. Na Icon Love, do grupo On and On, por exemplo, parece haver muita atividade nas altas frequências, e mais uma vez, não é o que considero ideal. No entanto, ao contrário do que ocorre no 1es, é um incremento na região aguda como um todo, que apresenta maior extensão. É como se não houvesse picos localizados: toda a região alta é incrementada. Por isso, assim como no 1es, em diversos gêneros o resultado pode ser fatigante, mas de forma um pouco diferente. Também há, em alguns casos, sibilância.
Já os graves também ganham uma pitada a mais de energia. Ainda não os considero exagerados, mas batem com força. O resultado, consequentemente, é um fone com uma sonoridade que pende mais para a clássica resposta em V – mas, apesar de eu geralmente detestar esse tipo de sonoridade, aqui não é algo que me desagrada muito. De alguma forma, ainda considero o TITAN1 um fone bastante agradável e competente. É basicamente um 1es mais refinado.
TITAN5
Mas, quando chegamos ao TITAN5, é que entendemos o motivo da existência da linha TITAN. “Agora, sim” é o que penso quando salto para o 5 após ouvir o 1es e o 1. Aqui, todos os problemas são de fato solucionados e as proezas potencializadas. Esse fone é realmente fantástico.
Assim como no caso do TITAN1, é um intra-auricular que tende um pouco para uma sonoridade mais em V, mas sem perder o equilíbrio geral. Mais do que seus irmãos mais simples, ele consegue aliar de forma magistral uma sonoridade aberta e transparente a muita pegada e autoridade. E, aqui, toda a agressividade nas regiões altas some. Ele é o que consegue realizar o truque que o TITAN1es e o TITAN1 ensaiam fazer.
Vamos falar dos graves: eles são ainda mais fortes, e entram um pouquinho no que considero “fortes demais”, mas é um incremento principalmente nos sub-graves, que não interfere nos médios. Além disso, em termos de personalidade, eles continuam seguindo uma linha mais melodiosa e eufônica. São graves “subterrâneos”, com muita autoridade, ótimo detalhamento, e bastante pegada, apesar de ainda serem ligeiramente mais soltos.
É o tipo de fone que agrada meu lado basshead, mas tenho que admitir… são graves espetaculares. Qualquer coisa que dependa de desenvoltura nessa região vai ser extremamente bem tratada. E, pra completar, assim como no DN2000, de que tanto gostei, a extensão é bem impressionante.
Nos médios, as boas notícias continuam. Eles são mais lineares do que no TITAN1 e principalmente do que no TITAN1es, e me parecem muito naturais. Em gêneros que dependem quase que exclusivamente da região média, não há do que reclamar. Só acho que, em algumas raras ocasiões, eles ainda podem ser ligeiramente recuados.
Em geral, porém, só tenho coisas excelentes a dizer. A progressão aos agudos é exemplar, e as regiões altas aqui também são dignas de elogios – tanto em termos de presença quanto de extensão. Minhas únicas críticas são com relação a uma leve falta de corpo e de definição nos agudos. Mas, vejam, isso é relativo. São as poucas situações em que me lembro de que estamos falando de um fone de 150 dólares. Pequenas críticas que só são feitas porque todo o resto é muito, mas muito bom.
A apresentação de espacialidade também é incrível, o detalhamento é ótimo e me encanta a forma como o TITAN5 consegue também ser um fone muito delicado em momentos em que isso é necessário, ao mesmo tempo em que ele é extremamente autoritário. Soul e R&B são, em minha opinião, os gêneros que mais se beneficiam dessa habilidade. Por exemplo, na Unstoppable da Lianne La Havas, na Angel Eyes do grupo Submotion Orchestra, na Big Boy da Charlotte Cardin e na I Don’t Need Another Lover da Billie Black esse IEM consegue renderizar de forma extremamente delicada as lindas vozes das três cantoras (inclusive, a Lianne La Havas tem uma das vozes mais bonitas que conheço) enquanto as batidas têm muita força e presença. Para completar, há um belo retrato da ambiência das performances, ainda que ela seja simulada.
Existe muito pouco que o TITAN5 não faz excepcionalmente bem. Assim como o que ocorreu com o DN2000, estou seriamente impressionado com que ouço desse IEM.
CONCLUSÕES
O TITAN1es e o TITAN1 são ótimos fones, especialmente em suas faixas de preço. Ambos são fones com uma sonoridade aberta e arejada, porém sem ser leve e não autoritária. Sinceramente, são presença obrigatória na lista de quem estiver buscando IEMs próximos dos 55 ou dos 95 dólares – só não os recomendo para aqueles que buscam uma personalidade mais fechada.
A questão, porém, é que não consigo dar tanta atenção a eles frente ao titã (perdoem-me o trocadilho) que é o TITAN5. Ele pode muito bem ser o melhor intra-auricular dinâmico que já ouvi. A melhor forma de descrevê-lo é com três palavras que geralmente são opostas, mas aqui, de alguma forma, se juntam de maneira incrível: aberto/autoritário/delicado. Ele é tudo isso.
Os grafismos, o slogan “delicate, unique & utmost” e os erros de inglês na embalagem podem render algumas risadas. Mas a DUNU definitivamente não está para brincadeira.
DUNU TITAN1es – US$55,00
- Driver dinâmico único
- Sensibilidade (1 mW): 102 dB SPL/V RMS
- Impedância (1kHz): 16Ω
- Resposta de Frequências: 20Hz-20kHz
DUNU TITAN1 – US$94,95
- Driver dinâmico único
- Sensibilidade (1 mW): 90 dB SPL/V RMS
- Impedância (1kHz): 16Ω
- Resposta de Frequências: 20Hz-30kHz
DUNU TITAN5 – US$139,00
- Driver dinâmico único
- Sensibilidade (1 mW): 108 dB SPL/V RMS
- Impedância (1kHz): 32Ω
- Resposta de Frequências: 10Hz-40kHz
Equipamentos Associados:
Portátil: Sony Xperia Z5, Oppo HA-2
Mesa: Mac Pro, Yulong D100, Yulong Sabre D18, HeadAmp GS-X