INTRODUÇÃO
Fiquei impressionado quando viajei e descobri a infinidade de fones de ouvido que têm chegado ao mercado, destinados ao consumidor comum tentando aliar qualidade de som a estilo. A demanda por esse tipo de produto está em alta, e os consumidores não são audiófilos, são pessoas normais que querem justamente isso. Não têm tanta pretensão em termos de qualidade sonora, mas não abrem mão de uma estética elaborada e de conveniência. Por isso, fabricantes mais tradicionais estão começando a desenvolver produtos para esse público-alvo, e a comum estética profissional está ficando para trás.
A germânica Sennheiser foi uma das mais recentes a entrar na briga, com seu portátil Momentum. Já pude ouví-lo e deixei minhas impressões no post com os relatos sobre a viagem, mas agora, graças à Cláudia, uma amiga audiófila, estou com um para ser avaliado propriamente. É um circunaural – apesar de bem pequeno para um fone desse tipo –, portátil e fechado.
ASPECTOS FÍSICOS
O salto de qualidade do apelo visual entre basicamente qualquer modelo da Sennheiser (exceto os mais modernos HD598, HD700 e HD800) e o Momentum é muito evidente. Temos aqui um fone realmente bonito, de um jeito bem minimalista. Ele está disponível em duas cores: marrom e preto. Minha única questão é que o preto tem predicados para atender aqueles que querem algo mais discreto, mas os detalhes vermelhos acabam estragando essa possibilidade. Continuo achando bonito, mas chama atenção.
Os cups têm o tamanho ideal para mim, e conseguem ficar confortavelmente em torno de minhas orelhas. O Momentum é bem confortável. O isolamento não é conseguido por pressão, e sim usando uma forma eficiente. Não há pressão lateral ou superior significativa – ele é bem leve. Pode ser usado por horas a fio sem qualquer tipo de desconforto.
O headband, que é uma simples tira de metal, é revestido de couro de ovelha, material que também reveste os pads. Já os cups são de um plástico com uma textura macia que, aparentemente, é um dos materiais que mais atrai digitais que já vi. Qualquer dedo ali vira uma marca. O ajuste de altura não poderia ser mais simples: os cups deslizam sobre trilhos no headband.
Dois cabos vêm inclusos: um normal, e outro com que traz controles para iDevices numa mutíssimo bem feita seção de metal. Aliás, por falar em bem feito, o cabo tem dois detalhes realmente interessantes e bem pensados: primeiro, ele é removível, mas no fone, não basta simplesmente puxá-lo. Ele precisa possui um encaixe e deve ser girado – previne desconexões acidentais. Do outro lado, temos uma bela solução de plug híbrido: ele é de metal, e possui uma articulação, podendo ser colocado de 180º a 90º. Esse tipo de detalhe é uma preferência pessoal, e nunca vi um fone que oferecesse essa possibilidade. Ambos os cabos aparentam ser de qualidade, mas são finos e certamente não são o cabo mais robusto já feito – no entanto, certamente são mais indicados para o uso portátil.
É inclusa uma caixa para transporte, rígida, revestida com o que parece ser nylon. Ela desempenha um belo papel na proteção do fone, mas apresenta um defeito muito sério: esse é um fone portátil e a caixa é enorme. O Momentum já não é dobrável, e isso agrava o problema consideravelmente, já que ocupa um espaço muito considerável numa mochila ou bolsa. Não cabe na minha, junto com as coisas que tenho que levar sempre comigo. O Logitech UE6000, por exemplo, perde em termos de qualidade do acabamento mas pode ser dobrado e colocado numa bolsa para transporte que tem menos da metade do volume da do Momentum.
O SOM
Como disse no post de impressões, a primeira impressão que tive com o Momentum foi boa: encontrei o tradicional som da casa da Sennheiser – ou seja, uma sonoridade equilibrada, suave mas decididamente escura –, mas com um grande incremento nos graves que não exatamente me agradou.
Foi engraçado perceber que, dessa vez, não achei os graves exagerados. Não são tímidos como no AKG K550, e têm uma certa gordura, mas não é algo que incomoda. Inclusive, nas situações em que pude testar seu desempenho num lugar barulhento, fiquei positivamente impressionado. Nesses ambientes, não há competição com o AKG.
As regiões baixas têm, de fato, excelente presença, peso e definição. Em alguns momentos acho que eles podem ser um pouco soltos, e há alguma ressonância nos cups, mas esse problema não chega perto do que ouço no B&W P5, por exemplo. De modo geral, os graves têm ataque, impacto e definição (talvez numa menor proporção) realmente excelentes para um fone desse tipo nessa faixa de preço.
Os médios são excelentes, e a relação com os graves também é digna de nota. Não parece haver qualquer região incrementada aqui, e o que ouço em vozes e guitarras estão realmente perto do que considero ideal. Isso a Sennheiser sabe fazer muito bem.
O único problema é que ainda consigo ouvir um pouco de coloração dos cups, o que me lembra frequentemente que estou ouvindo um fone fechado. É muito diferente do Momentum On-Ear no entanto, que joga isso na sua cara, mas ainda assim é presente, apesar de sensível.
Em termos de espacialidade, consequentemente, ele ainda sofre um pouco. Não é que seja uma apresentação claustrofóbica como no V-Moda M-80 ou no Audio-Technica ATH-M50, mas também está longe de fones como o AKG K550 e Audio-Technica A700X. Acho que o similar mais próximo é o Logitech UE6000, apesar de ele ser talvez um pouco mais distante e ainda mais relaxado.
Quanto à transparência e ao detalhamento, também não tenho muito do que reclamar. Apesar de esse ser um fone muito escuro, não sinto sinal de véu sobre o som. Esse é um feito e tanto – apesar de ele obviamente mostrar muito menos que um Sony SA5000 ou até mesmo que o concorrente K550, não tenho a sensação de estar perdendo muita coisa.
Quanto aos agudos, fico muito dividido. A questão é que eles são, sinceramente, em termos de timbre e naturalidade, exemplares. Não há qualquer pico, e a região me parece extremamente coesa e fiel na representação de pratos de bateria. O problema, porém, é que eles me parecem colocados muito para trás, o que acaba tornando a sonoridade geral do Momentum um pouco… entediante.
Ele é muito correto e natural, mas essa carência de presença nos agudos faz com que a música perca brilho, perca vida. Nunca pensei que fosse dizer isso, já que sempre me considerei sensível a agudos mais proeminentes, mas talvez eu esteja ouvindo o SA5000 mais do que deveria. Ouvindo o Momentum em casa, essa é a sensação que tenho: falta um pouco de jois de vivre à sua apresentação. E para exemplificar à que me refiro, nem preciso sair da casa – o HD 25-1 II está aí.
Ao mesmo tempo, acho perfeitamente plausível que a Sennheiser tenha feito isso intencionalmente, afinal estamos falando de um portátil que muito possivelmente vai ser exposto a altos volumes. Por isso, talvez sua apresentação seja equalizada justamente para essas situações, e nelas, agudos um pouco recuados fazem sentido. E, de fato, na rua, não tenho do que reclamar. O K550 é praticamente inutilizável em qualquer lugar com algum barulho – o que, acho, fere um pouco sua proposta de fone fechado –, e nessas situações o Momentum sai muito na frente e apresenta uma sonoridade muito apropriada.
CONCLUSÕES
Não me entendam mal: acho o Momentum um fone excelente. Fico dividido simplesmente por estar cada vez mais convencido de que não conseguirei um full-size que se sinta igualmente bem em casa e na rua – exceto, talvez, pelo Ultrasone Edition 8.
Sinto um pouco de falta de vida nesse Sennheiser, principalmente quando penso no HD600, que não está exatamente distante em termos de preço. Mas, ao mesmo tempo, não sei se é justo pensar dessa forma, visto que são propostas completamente diferentes. Independente da situação, o Momentum se mostra um fone excepcionalmente natural e equilibrado, com uma sonoridade inofensiva que não tem nenhum problema em se adequar a virtualmente qualquer estilo musical. Ele aparenta se sentir em casa com, literalmente, qualquer coisa.
Fora de casa, no entanto, suas proezas são mais notáveis, e perco essa sensação de “tédio”, visto que ele apresenta uma personalidade perfeitamente adequada a ambientes barulhentos. Ele continua soando muito natural.
Talvez eu esteja de fato querendo demais. Sendo franco, basta abandonar as exigências para o uso como “fone de referência” que sobra exatamente aquilo para o qual o Momentum foi feito: um portátil excepcional.
Sennheiser Momentum – R$1.799,00
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 18 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 110 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 16Hz – 22kHz
Equipamentos Associados:
Portáteis: iPod Classic
Mesa: iMac, Abrahamsen V6.0, HeadAmp GS-X
Onde Encontrar