INTRODUÇÃO
Quando entrei nesse hobby, percebi que muitas das recomendações feitas para iniciantes eram de in-ears da Audio Technica. Ao que tudo indica, são opções com bom custo benefício e que parecem agradar a maioria. Tenho, aqui, dois intra-auriculares dessa marca para avaliar: o CKM500, de 80 dólares, um IEM na faixa intermediária da linha equilibrada da marca, e o CKS1000, de 250 dólares, o mais sofisticado da linha Solid Bass – que conta com graves mais priorizados. O objetivo aqui não é fazer exatamente um comparativo, e sim avaliar como se comportam os intra-auriculares dessa marca.
ASPECTOS FÍSICOS
O CKM500 é um fone bem construído. É feito de plástico mas o acabamento é bom, e há uma interessante pintura num marrom escuro que proporciona um resultado, na minha opinião, bem atraente. O cabo também parece ser de qualidade, mas é estranhamente dividido. Ele é muito curto, mas há uma extensão que o faz ficar num tamanho mais comum. Pode ser bom para quem usa o fone no bolso da camisa, mas para outras pessoas, é uma fonte de microfonia. Ele vem com uma bolsinha de tecido para transporte básica e funcional, mas que não protege o fone contra choques.
Já o CKS1000 vem com uma caixinha mais sofisticada, em couro, relativamente rígida. Ele também tem conectores um pouco mais elaborados, e o mesmo esquema do cabo dividido. No entanto, é muito grande e possui um design, a meu ver, totalmente desnecessário – primeiro porque é comicamente grande, com várias firulas que não possuem justificativa técnica, e o único resultado é um fone mais pesado, desconfortável e chamativo. Quando o coloco nos ouvidos, grande parte do corpo fica para fora, o que é muito pouco atraente e faz com que ele caia um pouco para baixo e machuque a parte inferior das orelhas.
O SOM
Já avaliei dois full-sizes da japonesa e estou, agora, com mais um a ser avaliado. Gosto muito dos três, e esse é um motivo para apostar que os in-ears vão seguir uma linha parecida. Infelizmente, a questão não se mostrou tão simples.
Os dois in-ears, apesar de estarem em faixas de preço muito diferentes, têm uma mesma sonoridade geral que simplesmente não me agrada – o curioso é notar que é uma linha muito parecida com os intra-auriculares da Sony (exceto, até certo ponto, o EX1000) e o FX700 da JVC: médios relativamente distantes e agudos exagerados e totalmente deturpados.
Em algumas situações, isso não incomoda tanto. Por exemplo, o CKM500 é capaz de proporcionar uma apresentação interessante e agradável em estilos específicos. Jazz por exemplo não sofre tanto, e há certa doçura no que ouço. Os graves têm presença e definição aceitável para essa faixa de preço, e os médios sozinhos parecem bons, com uma boa dose de definição – principalmente se esse é o primeiro fone de qualidade do usuário. Para esses, o nível de detalhes e transparência vai ser bem impressionante.
No entanto, tenho críticas muito veementes ao que ouço aqui, e aqueles que acompanham as minhas avaliações já devem saber o que são: agudos. Estou começando a achar que esse realmente é um problema dos in-ears japoneses. Eles são errados, e de alguma forma muito pequenos, se resumindo a alguns pequenos picos que fazem com que pratos de bateria pareçam basicamente triângulos. Há um vale nos médio agudos também, e a sensação de que apenas uma parte dos agudos é apresentada, e os instrumentos que residem principalmente nessa região acabam soando muito distantes da realidade. Somando a isso os graves um pouco felizes e médios distantes, temos aquilo que tanto me incomoda: uma assinatura sonora em V, e pior, com problemas muito sérios nos agudos.
A questão piora quando coloco algo mais pesado, e o equilíbrio tonal vem à tona em sua integridade e mostra que, infelizmente, não consigo encarar o que ouço aqui como algo natural. É uma coisa difícil de explicar, porque muitos outros fones, até mesmo numa faixa de preço semelhante, mesmo não sendo para mim a definição de neutralidade, apresentam o que me soa infinitamente mais natural – neutralidade e naturalidade são coisas diferentes. Por exemplo, Ultimate Ears UE600, Bose MIE2 e Etymotic Research MC3. Eles têm assinaturas que são coesas e fazem vários estilos soarem completos – por mais que apresentem, talvez, médios mais à frente ou uma carência de extensão nos agudos. Não é que eu esqueça que estou ouvindo fones de ouvido. Mas gosto do que ouço e me “conformo” com aquilo. Isso para mim acaba sendo interpretado como natural.
Não posso dizer isso do CKM500. É um fone que pode sim ser agradável em várias ocasiões, afinal os médios, se vistos sozinhos, têm qualidade, e os graves também são justos nessa faixa de preço, se um pouco fortes e sem extensão. No entanto, os agudos estão sempre me chamando a atenção de uma forma extremamente negativa, e o resultado para mim é muito artificial.
Apesar de custar mais de três vezes o preço, sinto dizer que o CKS1000 é consideravelmente pior, porque ele é mais em V ainda.
Os graves não são dos mais exagerados – o que não esperava, visto que o objetivo é ter exatamente isso – e isso é bom, já que o equilíbrio tonal não é arruinado. No entanto, não considero esses graves de qualidade. Falta definição, e o pico real parece estar nos médio-agudos, o que em algumas situações aumenta o impacto, mas congestiona bastante a apresentação.
A região média, porém, me parece melhor que no CKM500, com um calor interessante e boa definição. Mas é um curto espaço entre graves e agudos bem abaixo da média. Os agudos, aliás, são mais uma vez minha grande crítica: exibem exatamente os mesmos problemas do outro in-ear, com o agravante do pico ser ainda maior, o que causa forte sibilância em muitas ocasiões.
O resultado pode ser apreciado em algumas ocasiões, como música eletrônica ou hip-hop. Mas, mesmo nesses casos, acho o resultado um tanto frio e ainda longe do que eu gostaria. E, em rock ou metal, estilos que podem se beneficiar de um incremento nos graves, a apresentação ainda é comprometida, pelo menos para o meu gosto, pelos agudos.
CONCLUSÕES
Cada vez mais vejo que em áudio estamos, mais do que qualquer coisa, sujeitos ao nosso gosto pessoal. Definitivamente não gostei do que encontrei nos dois in-ears da Audio-Technica, apesar de ter gostado muito dos full-sizes M50, A700X e AD700X. Os três são fones interessantíssimos que estimo muito.
No entanto, infelizmente não posso dizer o mesmo do CKM500 e do CKS1000. Eles estão muito longe do que gosto de ouvir em in-ears, porque apresentam uma assinatura que não é remotamente o que considero natural. Consigo enumerar uma série de in-ears que não acho exatamente incríveis, mas que ainda assim apresentam assinaturas que posso gostar, mesmo com defeitos muito significativos – por exemplo, Shure SE530, Westone UM3X e Sennheiser IE8. Aqui, no entanto, o desgosto é bem grande. A assinatura dos in-ears da Audio-Technica definitivamente não é minha praia.
De toda forma, apesar da diferença de preço, considero o CKM500 um fone muito mais equilibrado na relação entre as frequências, e por isso é o que me parece superior. O CKS1000 me parece a mesma assinatura sonora, que já não gosto, mas levada a um extremo.
Dito isso, é interessante observar que os IEMs da marca possuem uma legião de fãs. E, sendo sincero, não acho exatamente que o CKM500 seja uma opção ruim para um primeiro in-ear de qualidade. A questão é que o que ele oferece (graves e agudos incrementados) é justamente o que o consumidor comum não tem com o fone do celular ou do tocador de mp3, e acredito que, para eles, opções mais equilibradas –como Bose IE2 ou, principalmente, Ultimate Ears UE600 e Etymotic Research MC3 – não vão proporcionar o fator “uau!” que o CKM500 pode, possivelmente, despertar.
Ele não é, como já disse, um fone que acho equilibrado, mas isso se dá por um equilíbrio tonal mais alterado, o que pode justamente ser seu apelo para aqueles que nunca ouviram algo exatamente de qualidade – e que talvez não consigam discernir os agudos errados ou os médios distantes. Entre um Ultimate Ears UE600 e o CKM500, se eu tivesse que apostar em qual encantaria mais um iniciante, provavelmente chutaria o Audio-Technica.
Então, apesar de não ter gostado dele, reconheço que pode ser um primeiro passo interessante para uma pessoa que está entrando na audiofilia, um que pode trazer o encantamento de uma nova descoberta – mesmo que ela se mostre, no futuro, não ser exatamente o que ela pensava.
Ficha Técnica:
Audio Technica ATH-CKM500 – US$74,88
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 16 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 105 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 5Hz – 25kHz
Audio Technica ATH-CKS1000 – US$249,95
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 16 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 106 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 5Hz – 26kHz
Equipamentos Associados:
Portáteis: iPod Classic
Mesa: iMac, MacBook Pro, Abrahamsen V6.0, Emotiva XDA-1, HeadAmp GS-X