Durante uma viagem recente, tive a oportunidade de testar vários fones, e vou compartilhar meus achados aqui, divididos em duas partes – porque são muitos fones (até agora foram 38!) e porque ainda estou viajando, então ainda dá tempo de ouvir outras coisas! É uma série de “micro-avaliações”, que devem ser encaradas como breves impressões preliminares obtidas majoritariamente por audições curtas. Por isso, nada aqui deve ser encarado como definitivo! No entanto, isso não significa que o que é dito não tem seu valor. São impressões que podem nortear escolhas num primeiro momento. Aqui vão os relatos:
Sennheiser HDVD800 – US$ 1.999,95
Tive a oportunidade de ouvir o novo amplificador e DAC da Sennheiser, o HDVD800, com os fones topo de linha da marca. O amplificador era ligado a um CD player Marantz pela entrada RCA, então o DAC não estava sendo utilizado.
Sinceramente, foi a primeira vez que ouvi um HD800 e gostei. Não sei se com o HeadAmp GS-X isso se repetiria, mas o que ouvi me agradou bastante. Os graves finalmente apareceram! Tinham bastante impacto, mas pouco corpo, então o que ouvi melhorou em relação ao que já conhecia, mas não resolveu totalmente o problema. E, em algumas situações, os médio-graves sangravam um pouco nos médios. Entretanto, tenho quase certeza de que isso se deve à fonte, à gravação ou à amplificação. Certamente não vem do HD800.
Tive a mesma impressão com o HD700, mas ouvindo os dois lado a lado, deu pra ver que o HD800 é de fato muito superior. Ele aparenta preencher um espaço que parece começar entre 3ª parte superior dos médios até os médio agudos do HD700. Então os médios têm mais presença e mais corpo, enquanto no 700 são mais distantes e, por isso, o pico nos agudos fica muito mais evidente. O resultado ficou bem menos natural.
Em compensação, uma coisa que me incomodou é que o amplificador parecia um pouco leve e não tão impressionante fisicamente quanto o preço de 2 mil dólares deveria indicar.
Skullcandy Aviator – US$ 149,00
O fone pessoalmente é muito bonito (era o preto), se um pouco chamativo, e bem construído, aparentemente robusto.
Em termos de sonoridade é bem interessante, contando com uma apresentação energética mas balanceada. É evidentemente colorido, com um incremento tanto nos graves quanto numa região dos agudos, mas sem perder uma personalidade mais balanceada. É uma coloração muito diferente da dos Beats, por exemplo, já que contém alterações mas sem cruzar um limite aceitável.
Skullcandy Mix Master – US$ 299,99
Não gostei muito… também parece bem construído, e apesar de ser feito primariamente de plástico é um pouco pesado. Mas é confortável e o isolamento é bom.
Sonicamente é muito inferior ao Aviator em minha opinião, porque tem graves excessivos, médios aceitáveis mas agudos inexistentes. Essa personalidade é justificável pelo fato de o fone ser destinado à monitoração para DJs, e por isso é necessário compensar os graves do ambiente e ter agudos mais comedidos para que seja possível trabalhar em volumes muito elevados com algum conforto. Mas, para ouvir música, o Aviator me pareceu sem dúvida alguma a melhor opção, independente do preço consideravelmente menor.
Skullcandy Hesh 2 – US$ 49,99
É mais simples, claramente inferior ao Aviator e ao Mix Master, embora ainda assim competente. É feito quase totalmente de plástico, mas aparenta ser bem construído.
Sonicamente é mais colorido, apresentando mais peso nos graves do que eu gostaria. Os médios são tranquilos, apesar de congestionados, e os agudos são fracos – o Hesh 2 tem uma personalidade mais escura. De toda forma, é um fone barato que não tem como foco o balanceamento e a neutralidade. Por isso, não me agradou muito.
Bose Quiet Comfort 15 – US$ 299,95
Ainda é o fone com o melhor circuito ativo de cancelamento de ruídos do mercado. Ele é consideravelmente efetivo com frequências mais baixas, que parecem ser completamente cortadas. Isso é muitíssimo bem-vindo num avião, trem ou ônibus, por exemplo. O problema é que esse circuito cria uma estranha sensação de pressão que me incomoda bastante. Fora isso, é um fone fisicamente confortável.
A sonoridade é interessante, mas decididamente colorida. Na minha opinião, é o estereótipo do que chamo uma sonoridade “Hi-Fi”: colorida mas competente, feita para agradar a todos com um equilíbrio tonal levemente incrementado em graves e agudos, sem maiores preocupações com palco sonoro, transparência ou detalhamento. Dentro desses objetivos, é uma excelente opção
Sennheiser Momentum – US$ 349,95
Bem interessante. Fisicamente é muito bem resolvido: bonito, confortável e com ótimo isolamento.
Apresenta o típico boost nos graves de fones dessa categoria, o que me incomoda se eu estiver num ambiente silencioso e não precisar dessa compensação. No entanto, ela é bem vinda em lugares barulhentos porque sobrepõe o ruído ambiente e assim o fone é capaz de entregar uma bela performance em situações impróprias. Médios e agudos neutros, relaxados e delicados – típico house-sound da Sennheiser.
Harman Kardon Classic – US$ 199,95
Fisicamente diferente, muito bonito mas um pouco estranho. É bem construído e confortável, mas os cups são muito pesados e, por isso, parece que a durabilidade pode acabar não sendo das melhores – afinal, o estresse no headband será significativo. Aliás, o headband não possui ajuste de altura e já ficou bem justo em mim, que não tenho uma cabeça grande.
Sonoramente, mantém os graves incrementados dos concorrentes, mas os médios são recuados e congestionados. Não possui, na minha opinião, a competência, dos melhores portáteis concorrentes.
Sony MDR-1R – US$ 199,00
Certamente um dos fones mais bonitos entre os que testei – com aquele cool-factor high-tech japonês – e também um dos mais bem construídos. É feito primariamente de metal e o couro do headband e dos pads parece ser de altíssima qualidade. É também muito confortável.
Em termos de sonoridade, é um fone balanceado, relativamente neutro, mas com uma característica anasalada um pouco forte. Em minha curta audição, simplesmente não chamou atenção e não encantou. Isso pode ser encarado como um defeito ou uma qualidade… precisaria de uma audição mais detalhada para formar uma opinião mais consistente. Porém, vale dizer que ouvi ao lado do Skullcandy Aviator, altamente energético, o que pode ter influenciado minha opinião a seu respeito já que, nessa comparação, o contraste é muito evidente.
Monster Inspiration Titanium US$ 299,95
Faz parte da primeira linha da Monster após a separação da marca Beats, e por isso representa um marco importantíssimo na história da empresa. Agora, não há mais a ditadura da Beats, e a Monster passou a ter mais liberdade em suas criações. O objetivo com o Inspiration, aparentemente, era fazer um topo de linha que agradasse tanto a audiófilos quanto a consumidores comuns.
Acredito que em grande parte o objetivo foi atingido. Gostei do que ouvi, apesar do boost forte nos graves – mais uma vez justificável diante do objetivo de ser um portátil. É, na minha opinião, muito superior aos Beats.
Fisicamente é bem impressionante. Além de bonito, me parece excepcionalmente bem construído, apresentando majoritariamente couro e metal. Consequentemente é pesado, mas confortável e com um ótimo isolamento de ruídos externos.
Monster Diamond Tears – US$ 299,95
Sim… coloquei isso nos ouvidos.
Faz parte da mesma linha do Inspiration, mas claramente com um target diferente – o consumidor que quer estilo (apesar de duvidoso, convenhamos) em primeiro lugar. Fisicamente é estranhíssimo, mas traz apelo ao público jovem feminino. É bem construído e confortável, apesar de um pouco pesado. Devido às protuberâncias laterais, não traz muita segurança no fit e parece que pode cair com movimentos mais bruscos. Sonoramente, não encantou. Forte ênfase nos graves com médios e agudos abaixo do esperado pelo preço.
SMS Street – US$ 299,95
Concorrente dos Beats, feito em conjunto com o rapper 50 Cent.
Terrível. O comum quando ouvimos fones com médios recuados é sentir que eles estão para trás, mais baixos em termos de volume. No SMS, há uma estranhíssima sensação de que os médios estão sendo comprimidos horizontalmente pelos graves e agudos, que parecem estar tentando roubar seu lugar. Nunca ouvi nada parecido, mas é como se ele apresentasse apenas uma faixa muito curta das frequências médias.
Fisicamente também desapontou. Me pareceu mal construído, pouco sólido, com plásticos que rangiam com alguns movimentos.
Sennheiser HD429 – US$ 77,00
Ouvi logo depois de testar os Monster Diamond Tears e Inspiration e Beats Mixr e Executive. Foi como ar fresco! Apesar de ter gostado do Inspiration, é um fone colorido, e o Sennheiser, diante de todos os outros, mesmo custando uma fração do preço, pareceu simplesmente colocar tudo no lugar – mesmo com alguns pequenos defeitos (justificáveis em sua categoria). Muito mais balanceado, com uma apresentação doce, correta e coesa. Bom equilíbrio tonal.
Fisicamente, porém, é muito simples e a diferença diante dos outros é enorme. Há apenas plástico numa construção exageradamente simples e aparentemente barata. Entretanto, é confortável.
Sony MDR-V55 – US$ 69,99
Também ouvi junto ao Sennheiser, e não encantou.
Não é que seja ruim, só não é tão bom quanto o HD449. Apesar de estar num patamar de preço muito semelhante, tem uma sonoridade que aparenta ser de um fone menos sofisticado: grande coloração nos médios, graves presentes mas sem muitas competências e agudos medíocres.
Fisicamente, porém, apresenta os mesmos problemas do alemão. Não vejo qualquer motivo para escolher o V55 frente ao HD449.
Monster Beats by Dr. Dre Pro – US$ 399,95
Melhor do que imaginava, mas ainda não gosto, principalmente quando considero o preço. Fisicamente ele é bonito, excepcionalmente bem construído, com bastante metal e couro, e confortável, com ótimo isolamento. Só é um pouco pesado.
O som é muito puxado para os graves, obviamente, e há uma estranha distância nos médios, não sei descrever. Não é que eles estejam para trás. É como se houvesse um efeito de reverberação colocado para surprir falta de palco e transparência. É bem estranho. Se fosse um fone de 100 ou 150 dólares acho que consideraria uma boa compra, mas por 400… não.
De qualquer forma, há um detalhe nele que achei fantástico: há duas entradas para o cabo, uma em cada lado, mas só uma delas (detectada automaticamente quando o sinal entra) é a entrada. A outra passa a ser uma saída onde outros fones podem ser plugados, para que outra pessoa possa ouvir junto com você. Na minha opinião é uma ideia muito legal.
Monster Beats by Dr. Dre Studio – US$ 229,90
Estúdio? Que estúdio? Me pergunto como é que isso conseguiu vender tanto. Fisicamente é aquele festival de plástico, com algum estilo, mas nada impressionante.
Em termos de som, tudo é totalmente encoberto, os médio-graves são fortemente exagerados e ficam em cima de tudo, há apenas uma alusão à região média, que está a uma vasta distância de todo o resto do espectro, e para completar há apenas um vestígio dos agudos, que parecem um triângulo a distância. Absolutamente sofrível, é uma sonoridade totalmente nebulosa que parece mostrar apenas 20% da música. Bem diferente do “ouça o que o artista quis” que a marca promove.
Beats by Dr. Dre Mixr – US$ 249,00
Não esperava muito dos Beats pós Monster e… bem, não encontrei muito. O fone é realmente bonito, muito bem construído, feito com bons materiais, e confortável. Ainda é um pouco chamativo, mas o progresso em termos de qualidade de construção e acabamento com relação à era Monster é bem evidente.
Porém, a qualidade de som está muito aquém do preço. Os graves são exagerados, como é de se esperar, e os médios são distantes e possuem um desagradável efeito de eco, de alguma forma. Os agudos, para piorar, são uma bagunça, sem qualquer resquício de definição.
Beats by Dr. Dre Executive – US$ 299,95
Não é muito diferente do Mixr. A qualidade de construção é superior, e ele usa majoritariamente metal e couro. É notavelmente mais discreto que os outros modelos da linha, e fica evidente que o público alvo não são mais os jovens, mas sim usuários mais velhos que geralmente teriam que recorrer a marcas como B&W ou Bose. É um fone esteticamente mais maduro que os outros da linha, e na minha opinião muito bonito.
Entretanto, os problemas na qualidade de som são basicamente os mesmos do Mixr: graves exacerbados, médios medíocres (dá até para fazer um trocadilho), sem qualquer capacidade de resolução ou transparência, e agudos muito mal apresentados.
Urbanears Plattan – US$ 49,99
São quase tão onipresentes quanto os Beats, mas sem o apelo mais chamativo. São fones simples, casuais e bonitos, que já fazem sucesso há um bom tempo. Possuem bastante estilo na minha opinião, mas o que interessa é saber se sonicamente os elogios se mantém.
Não achei ruim pelo preço, e no equilíbrio tonal a relação entre os médios e os agudos é boa, mas os graves são excessivos. Como resultado a apresentação é pesada e congestionada.
Motörheadphone Iron Fist e Motorizer – US$ 99,00 e US$ 129,00
Não esperava muito, mas me surpreendi – achei excelente! Esteticamente me rendeu boas risadas (é um tanto ridículo, faz o estilo motoqueiro heavy-metal americano) apesar de ser bem construído e bem robusto. Ele realmente parece ser feito de aço.
Mas encontrei um excelente equilíbrio tonal, com graves mais fortes mas sem encobrir outras faixas de frequência, excelentes médios e bons agudos, mas que sibilavam um pouco. Fora isso, aprovado. É uma assinatura bem energética, que me lembra um pouco os fones da Grado, de fato excelente para rock.
O Motorizer é parecido com o Iron Fist, tanto fisicamente quanto sonicamente. Mas achei que o Motorizer tinha uma quantidade ligeiramente menor de graves, o que é bom, e médios talvez um pouco ocos, o que não é. Também gostei muito. Não levava fé na marca, mas fui positivamente surpreendido.
Sennheiser HD202 – US$ 35,00
Outro excelente fone budget da Sennheiser.
Assim como o HD449 é muito simples fisicamente, mas o som compensa pelo preço. A característica anasalada é muito forte, mas há bons médios, graves fortes e presentes, com bom impacto, mas os agudos são um pouco recuados. Nada que não seja esperado para um fone tão barato.
É muito barato e a assinatura balanceada é rara nessa faixa de preço e muito bem vinda.