INTRODUÇÃO
Obs: Há uma nova versão, o Zeppelin Air, totalmente renovada e compatível com o Apple AirPlay. Essa avaliação trata da versão antiga, o Zeppelin comum.
Como eu já escrevi em outro texto, o iPod causou uma verdadeira revolução no mercado da música pessoal. Esteve entre os primeiros tocadores de MP3, mas foi o que realmente levou a categoria ao sucesso, rapidamente dominando o mercado. Por isso, muitos produtos, nas mais diversas categorias, foram desenvolvidos especificamente para o uso com o iPod: desde capinhas até fones de alta qualidade e os docks. Para quem não sabe, docks são, basicamente, sistemas de som que usam um iPod como mídia. Ou seja, ao invés de se usar um CD, coloca-se um iPod, geralmente num conector específico, e ele serve de transporte. A grande vantagem disso é a capacidade (um iPod Classic pode levar milhares de CDs) e a versatilidade, já que o iPod já é, sozinho, um sistema de som completo.
Por isso, rapidamente vimos no mercado diversos docks, em diferentes faixas de preço, mas poucos dispostos a competir com um bom sistema estéreo comum. Aproveitando esse buraco no mercado, empresas como a Bowers & Wilkins, conceituadíssima fabricante britânica de caixas de som (famosas por prover a sonorização dos estúdios Abbey Road) começaram suas tentativas. O Zeppelin, objeto dessa avaliação, foi um dos primeiros docks com pretensões mais audiófilas, lançado em 2008. À época, um sistema de som caro baseado num iPod ainda era de certa forma ridículo, e o Zeppelin foi um dos primeiros a mostrar que a ideia fazia algum sentido.
ASPECTOS FÍSICOS
Uma foto deveria bastar. Mesmo que alguém não ache o Zeppelin bonito, não há como negar que o design minimalista é no mínimo interessantíssimo, e a qualidade do acabamento surpreende.
Visto de frente, o nome que alude ao famoso dirigível – Zeppelin – faz sentido. Temos apenas um suporte para o iPod, de plástico com acabamento em metal cromado, que faz o tocado flutuar à frente do aparelho. Atrás desse suporte, há uma divisão de metal, que separa os dois lados do aparelho, contendo os botões de ligar e volume. O volume, aliás, pode ser controlado tanto ali quanto diretamente pelo iPod e também por um controle remoto – que segue as linhas do Zeppelin, e tem botões de volume, play/pause, ligar e desligar, avançar ou retroceder de faixa, e seleção de input.
Ele possui dois woofers para médios, um outro woofer (maior) para os graves e dois tweeters para os agudos. Aliás, o posicionamento dos drivers é interessante: os tweeters encontram-se na extremidade do aparelho – uma tentativa de desafiar a forma compacta e criar uma experiência mais espacial e imersiva.
Atrás, temos uma grande face de metal cromado que apresenta, além dos dutos de saída de graves, uma entrada auxiliar, USB (para que o Zeppelin e seu DAC interno – sim, ele tem um – possam ser usados com um computador), coaxial e saída S-Video para fazer o output de vídeo para uma TV.
Voltando à estética, como estudante de design com grandes aspirações minimalistas, sou um dos que acha o Zeppelin uma verdadeira obra de arte. Apesar de ser um dock mais futurista, ele se dá bem com qualquer ambiente, seja dialogando com ele, numa estante moderna ou em contraste, numa sala mais rústica ou clássica. E o que torna isso possível é sua extrema elegância. O acabamento é incrível, e transmite a sensação de muita solidez e robustez.
USABILIDADE
O Zeppelin é realmente simples. Não possui nenhuma tela, e tem poucas entradas e saídas. É feito para se colocar o iPod e tocar música. De toda forma, a adição das entradas auxiliar e USB são interessantes. Obtive bons resultados com ambas, mas nunca tive a oportunidade de testar a saída de vídeo.
Realmente não há muito o que falar: o Zeppelin é totalmente plug&play. Simples e eficaz.
O SOM
O grande problema de um dock é a própria natureza de um aparelho desse tipo: geralmente, não há como compará-lo sonicamente a um bom sistema estéreo com um amplificador e duas caixas. Se o dock for barato, não há problema, já que o custo vai ser inferior ao 2.0 – mas se não for, como é o caso do Zeppelin, chegamos à questão do custo x benefício em termos de qualidade sonora. Nessa avaliação, vamos ver como o Zeppelin se sai. Tenho, no quarto, um sistema estéreo de custo semelhante, e algumas comparações vão ser pertinentes.
A primeira impressão com o Zeppelin é boa: temos uma sonoridade consideravelmente cheia e com autoridade considerável, o que não é de se esperar de um aparelho desse tamanho – ele é grande, mas não é enorme. Porém, de imediato, há um grande problema. Ele simplesmente não consegue criar a espacialidade de um sistema estéreo. O som é concêntrico. Um sistema de caixas consegue uma projeção maior, criando um ambiente mais amplo. Aqui, no Zeppelin, o som vem de um lugar só. E devo confessar que isso me incomoda profundamente. Mas sei que é uma característica de um produto desse tipo, e não há como exigir muito mais do que é oferecido aqui de um dock.
Isso é uma pena, porque em termos das características sonoras que fogem à espacialidade, temos uma ótima performance. A começar pelos graves. Confesso que praticamente não ouço o Zeppelin, porque ele fica na sala de estar e é usado em raras ocasiões. Mas, recentemente, o emprestei para uma amiga para servir de caixa de som em seu aniversário, e fiquei realmente chocado com o que ouvi de graves naquele ambiente. A sala era grande, algo em torno de 50/60 m2, e com um formato irregular, e as batidas do Zeppelin iam longe – e com muita compostura.
Os graves têm bom impacto, são secos e presentes. Porém, em algumas ocasiões, acho que uma pitada a mais de graves seria bom, e eles não são a última palavra em definição e textura. Há uma carência daquela última gota de definição que temos de um bom par de caixas – há um pouco de gordura e soltura nos graves. Mas, novamente, esbarramos no mesmo problema: dá para exigir muito mais do que isso de um aparelho desse tipo?
Os médios são a melhor parte do Zeppelin. Eles têm aquele calor típico da B&W (como o fone P5, que já avaliei), o que aqui é bem vindo, principalmente em músicas mais calmas. Vozes apresentam um realismo muito satisfatório, mas o foco não é esse – é a doçura com que ele as apresenta. Fall In, da Esperanza Spalding, é uma excelente forma de demonstrar essa capacidade. O Zeppelin deixa a fidelidade um pouco de lado para se dedicar a uma belíssima eufonia. Calor e envolvência – essas são as palavras. Midnight in Harlem, da Tedeschi Trucks Band, também evidencia essa habilidade.
No entanto, essa eufonia pode não ser interessante para alguns, porque em certas ocasiões, é possível dizer que os médio-graves acabam “borrando” um pouco os médios. Há alguma invasão, o que aumenta essa sensação de calor, mas pode incomodar – é isso que tanto me incomoda nas caixas da B&W em geral, mas o problema é que, num sistema estéreo de alto nível, quero fidelidade e precisão. Num dock como esse, ou num fone de ouvido, como o P5, posso me indulgir a um grau um pouco maior de eufonia em detrimento de secura e neutralidade.
Os agudos são também muito bons. Assim como no P5 – durante essa avaliação estou começando a achar que ele é a versão fone de ouvido do Zeppelin –, os agudos são contidos, e falta um pouco de extensão, o que compõe um caráter muito doce e confortável. São realmente gentis e com um excelente timbre. Podem ser contidos demais em algumas situações, mas é um preço a se pagar por esse conforto auditivo e doçura.
Quanto à espacialidade, voltamos ao grande problema do Zeppelin: ele simplesmente não consegue competir com um sistema estéreo de preço semelhante. O palco sonoro é limitadíssimo, e se ele consegue apresentar alguma espacialidade, ela não chega perto da envolvência criada por um par de caixas. Tem alguma profundidade, mas praticamente nada de horizontalidade.
CONCLUSÕES
Meus sentimentos em relação à B&W Zeppelin são mistos. A grande questão é que todas as vantagens que descrevi são simplesmente melhores num bom sistema de caixas – situação em que muitos dos defeitos também desaparecem. No meu quarto, por exemplo, possuo um par de Dali Lektor 2, aliado a um integrado JVC A-S5. O preço é muito semelhante ao do Zeppelin. Uso um DacMagic como fonte, mas mesmo ligando o iPod diretamente no integrado, tenho um resultado consideravelmente melhor do que o que o B&W me proporciona.
O concentrismo do som é o maior obstáculo, e acaba ofuscando qualidades muito boas no Zeppelin. Estilos mais calmos são os menos prejudicados, já que há uma “massa” menor de som, o que acaba mascarando esse concentrismo. Nesses casos, a performance desse dock é excelente. No entanto, em rock e música eletrônica, estilos mais energéticos, o som pode acabar virando uma massa meio bagunçada. Não é problema se for para sonorizar um ambiente sem maiores pretensões, mas para audições atentas, pode ser um problema.
Se conseguirmos passar adiante desses defeitos, encontramos belíssimas vantagens, como o calor e envolvência dos médios e a doçura dos agudos. O problema é que, ao colocar uma mesma música no meu sistema de caixas, encontro uma melhora em todos os aspectos.
Talvez eu esteja sendo injusto, porque a proposta do Zeppelin é diferente. Ele é um compromisso: ganha-se (muito) em estilo e conveniência, mas perde-se em capacidade sonora. Por mais que eu descreva as diversas proezas desse dock, vou sempre ser obrigado a dizer: “mas se você quiser qualidade pura de som, é melhor pegar um simples par de caixas aliado a um simples integrado”. Esse B&W simplesmente não consegue fazer com que eu desligue o aspirante a audiófilo dentro de mim e ignore que o consumidor pode ter uma performance sonora melhor por um preço equivalente. Para o consumidor comum, que considera qualidade de som um aspecto secundário, isso não é um problema. Mas não sou um consumidor comum, e imagino que boa parte dos leitores desse blog também não seja. Somos melômanos e audiófilos e, para nós, normalmente a qualidade de som está em primeiro lugar.
De toda forma, levando em consideração esse compromisso, posso sim dizer que o B&W Zeppelin é um aparelho muito capaz. É extremamente elegante, se dá bem em qualquer ambiente e tem muitas proezas em qualidade sonora. Porém, o grande problema é que tenho que me limitar a recomendá-lo para quem não abre mão da estética e da conveniência, ou para quem quer algo decorativo para servir de som ambiente – sua verdadeira vocação. Apesar de ele ter uma qualidade de som muito boa, ela fica aquém da que é oferecida por um bom sistema de caixas.
Se o objetivo é ter um único sistema de som, primário, e a qualidade de som pelo preço for a prioridade, simplesmente não tenho como recomendar o Zeppelin. Se não for, vá em frente, porque ele é excelente. Só não se esqueça que ele é excelente para um dock.
B&W Zeppelin – R$1.700 – R$2.300
Resposta de frequências: 51Hz – 22.000Hz
Alto-falantes
1 x woofer de 5”
2 x midrange de 3,5”
2 x tweeter de 1” com domo de metal
Potência de amplificação
1 x 50W (woofer)
2 x 25W (midrange/tweeter)
Alimentação: 100V – 240V
Consumo na potência especif.: 20W
Consumo em standby: 3,7W
Entradas
Conector iPod de 30 pinos
Mini-tomada analógica de 3,5mm/digital óptica
USB 2.0 (atualizações de software)
Saídas
S-Vídeo (mini DIN)
Vídeo composto (RCA)
Dimensões: 173 x 640 x 208 mm
Peso Líquido: 7,5kg