INTRODUÇÃO
Ganhei meu primeiro fone de qualidade quando tinha 15 anos. Eu já apreciava um mínimo de qualidade de som, mas não tinha os ouvidos educados e não fazia ideia do que era um bom som. Esse fone foi o Bang & Olufsen A8, objeto dessa avaliação.
Depois de um tempo com ele, fui ficando cada vez mais insatisfeito com a resposta praticamente inexistente de graves, o que me levou a comprar um Bose IEM (pois é…). Fiquei um bom tempo perfeitamente feliz com ele, até o momento em que comecei a procurar outras coisas e percebi que o som era sofrível! Era um subwoofer no ouvido, sem qualquer resquício de transparência, definição e correção de timbre. Veio um Sony barato, um Denon C551 e, finalmente, quando quis pegar mais pesado, o Shure SE530, meu primeiro fone mais sério.
Eu amava o SE530. Era fantástico! Se encaixava como uma luva nas minhas expectativas. Porém, após um tempo, quis tentar algo diferente e peguei o Sennheiser IE8, que tomou o lugar do Shure e me fez perceber suas grandes falhas. Foi aí que decidi testar um bom full-size e comprei o AKG K701, que mudou muitos conceitos para mim. Era minha referência.
O grande ponto da história é que nossas preferências mudam, só com testes e experiência com diferentes interpretações é possível definir o que procuramos e o que consideramos ideal. Pois bem. Nesse caminho, o A8 ficou esquecido. Para mim, era só um earbud decente, mas nada que merecesse muita atenção. Após muito tempo com o K701, no entanto, abri minha gaveta e quando vi o B&O esquecido lá dentro resolvi testar para relembrar como ele era. Que surpresa!
ASPECTOS FÍSICOS
O earbud é certamente um dos fones mais bem construídos e elegantes que já vi. A maior parte dele é feita de metal, com algumas partes em plástico e outras em borracha. São ajustáveis em três locais, portanto um fit confortável é garantido. É muito fácil esquecer que eles estão nos meus ouvidos! Uma ressalva é que, sem as espuminhas incluídas no pacote, eles podem machucar um pouco a parte interna das orelhas. Portanto, o ideal é sacrificar um pouco a parte estética e usá-las. Inclusive, os graves também saem ganhando.
O pacote é compacto e vem apenas com uma capinha de couro para transporte, manual, adaptador P2 – P10, adaptador para avião e cabo extensor. O cabo, aliás, é uma verdadeira incógnita: é ridiculamente leve e fino, mas não consigo entender como é possível que seja tão resistente! Por muito tempo não cuidei tão bem do fone, e o cabo extensor, durante uma época, era usado quase diariamente e sofreu muito abuso – cadeira passando por cima, nós, terminações puxadas, e tudo mais. E está aqui, firme e forte. Bang & Olufsen, não sei como vocês fizeram isso, mas meus parabéns!
O SOM
Como disse na introdução, fiquei muito surpreso ao ouvir novamente o A8 após tanto tempo. A tonalidade é parecida com a do K701 – são diferentes, obviamente, mas seguem uma mesma filosofia.
O equilíbrio tonal é muito bom: é surpreendentemente linear para um fone nessa faixa de preço. Como é de se esperar, os graves têm pouca presença e impacto mas definitivamente estão ali (ao contrário de muitos earbuds) e, dentro da proposta do A8, são suficientes para mim. Os médios não parecem ter picos ou vales muito significativos e têm boa definição e os agudos têm boa presença e um decaimento muito suave nos extremos.
Arejamento e relaxamento são as palavras chave. A apresentação é incrivelmente leve e descompromissada, e encanta com peças acústicas, mas não faz feio em outros estilos. Isso não significa que ele toque tudo com maestria, mas ao mesmo tempo, é um bom all-rounder e, apesar de ser claro que ele brilha com alguns estilos, não me pego restringindo o que ouço por causa de suas deficiências. Até mesmo músicas eletrônicas que pedem graves são escutáveis. Quero deixar claro, no entanto, que quem está atrás de um fone para ouvir músicas com muita atividade nas frequências mais baixas vai se decepcionar. O B&O até toca, e para sua categoria não faz feio, mas não é o que ele faz de melhor.
Os agudos são bons, têm uma presença doce e tonalidade realmente excelente. A extensão, no entanto, não é das melhores, e a impressão é que falta um pouco de brilho. Muitos usuários, porém, podem considerar essa característica uma vantagem, já que ela amplia a sensação de leveza que o A8 proporciona e o torna um fone praticamente incapaz de causar fadiga auditiva. Ele também não parece apresentar sibilância, salvo em algumas gravações já muito sibilantes, mas mesmo nesses casos, o efeito é brando. Essa faixa de frequência também é muito bem integrada ao resto do espectro, e parece ser uma progressão lógica da área dos médios, e não é nem de perto tão agressiva quanto no K701. Quanto à tonalidade, por mais incrível que pareça, aos meus ouvidos é mais correta do que a do JH13Pro.
A região média é excelente. É infinitamente mais linear do que o esperado para um fone dessa categoria e faixa de preço, têm boa definição e a presença, em relação aos agudos, é extremamente bem julgada. Também parece estar num ideal meio termo entre um calor musical e uma frieza analítica. A minha única ressalva é que a separação instrumental é deficiente e músicas muito complexas soam confusas e embaralhadas. Essa característica, aliás, contrasta com o fato de o A8 ser capaz de isolar os vocais em qualquer música e dar a eles uma atenção especial. Não obstante, em muitos gêneros mais pesados a performance é apenas satisfatória. A transparência e a textura também parecem sofrer um pouco, mas novamente, não está nem um pouco aquém do que é esperado de um fone nessa faixa de preço, e fora isso, o detalhamento é muito bom.
Já os graves, como dito anteriormente, são presentes, mas é natural que muitos não apreciem a resposta mais tímida nessa faixa de frequência. Não é que não sejam reproduzidos – eles são, como fica evidente quando pressionamos o fone contra os ouvidos –, mas boa parte deles se perde no caminho, já que esse não é um intra-auricular. Como o A8 é um fone que mantenho por outras razões, essa característica não me incomoda, e em diversos casos, considero com uma presença bem satisfatória. O impacto também não é dos melhores.
No entanto, querer graves num A8 é, na minha opinião, fugir da sua proposta e querer algo que só prejudicaria o que ele faz de melhor: soar correto e despreocupado. Músicas acústicas como Sufjan Stevens, Bert Jansch e Joanna Newsom soam incríveis, com uma delicadeza e leveza invejáveis. Peço desculpas pela repetição descarada da palavra leveza, mas é o que melhor descreve a apresentação do A8. É muito difícil explicar, mas é como se ele fizesse as coisas do seu jeito (muito natural, diga-se de passagem) e não tentasse impressionar ou disfarçar seus defeitos, e é exatamente esse descompromisso e essa leveza de caráter que encantam.
CONCLUSÕES
O Bang & Olufsen A8 não é um fone que faz tudo direito, mas isso não é esperado num fone nessa faixa de preço. Não consigo pensar em absolutamente nada de custo semelhante, ou até mesmo um pouco mais alto, que chegue perto de sua capacidade de reprodução de peças acústica.
Porém, devo esclarecer uma coisa. Tenho a impressão de que IEMs, em última instância, são capazes de descrever uma imagem muito maior da música, e mesmo apresentando diversos defeitos com relação à fidelidade de reprodução comparados ao A8, acabam soando mais impressionantes, principalmente a ouvintes menos experientes. O B&O, em contraste, parece mais correto do que boa parte dos fones que já ouvi, de todas as faixas de preço, mas o pequeno tamanho da música apresentada por ele faz com que essas qualidades não sejam tão evidentes. No entanto, acho que isso se aplica a earbuds em geral, já que quando ouvi um Yuin PK1 tive exatamente a mesma impressão. É fantástico, mas o que o torna fantástico não é tão claro.
É como se IEMs mostrassem muito mais sobre as suas qualidades e os seus defeitos, e os bons earbuds, apesar de apresentarem mais qualidades e menos defeitos, não são tão diretos na apresentação dos seus pontos positivos, e então eles são menos percebidos que os dos IEMs, e assim acabam podendo ter um valor menor. Pode parecer estranho e paradoxal, mas acho que para realmente apreciar um bom earbud, um pouco mais de experiência é necessário.
No entanto, devo dizer que o que mais me impressiona no A8 é sua capacidade incrível de me fazer esquecer do equipamento e me concentrar na música. Não sou daqueles audiófilos que ouve o equipamento tanto quanto à música – podem ter certeza que posso me perder numa boa audição em qualquer equipamento que for, seja ele um sistema estéreo high-end ou um radinho de pilha. Valorizo um bom meio de reprodução, como vocês podem perceber, mas, ao contrário de muita gente, para mim isso não chega nem perto de ser fundamental para a apreciação de uma boa música. Em compensação, tudo o que já ouvi até hoje está constantemente me mostrando o que faz de bom e o que não faz; alguns equipamentos até chegam a ponto de praticamente não apresentarem defeitos para mim – como o JH13Pro –, mas não obstante, eles estão sempre sendo claros e chamando a atenção para o que fazem bem.
O B&O A8, no entanto, foge à regra e, diferentemente de qualquer coisa que eu já tenha ouvido até hoje, parece simplesmente me dizer “esqueça tudo, não quero te impressionar, relaxe e escute essa música”! E ele consegue fazer com que eu obedeça.
Um dos maiores elogios que eu posso dar a esse earbud é o fato de, após ter em mãos o JH13Pro e o K1000, ter decidido vender o resto dos meus equipamentos (sendo justo, para comprar outra coisa, mas só vendi o que não me faz falta), incluindo AKG K701, Shure SE530, Sennheiser IE8, UE Super.fi 5vi e Grado SR80i. O único que ficou foi o A8.
A grande questão é que tanto o JH13Pro e o K1000 são melhores do que tudo o que eu tinha mesmo no que eles faziam de melhor. O honesto B&O, no entanto, é a exceção. O que ele faz de melhor eu nunca vi em nenhum outro lugar até hoje.
Ficha Técnica
Bang & Olufsen A8 – R$ 490,00
- Driver dinâmico único
- Sensibilidade (1 mW): 104 dB SPL/V
- Impedância (1kHz): 19
- Resposta de Frequências: 50Hz – 20kHz
Equipamentos Associados:
iPod Classic, iMac, Cambridge Audio DacMagic, Little Dot MKIII