INTRODUÇÃO
A americana Grado é certamente uma das marcas mais famosas e tradicionais no mercado dos fones de ouvido. De modo geral, possuem uma sonoridade muito particular, grande divisora de opiniões, mas amplamente vista como fantástica para rock. Por causa de suas características singulares, a marca atrai uma legião de fãs. Por isso, sempre tive uma enorme curiosidade a respeito do tão famoso som Grado. Matei a curiosidade com um SR80i, considerado um excelente custo benefício e uma ótima introdução à marca.
ASPECTOS FÍSICOS
A característica familiar e tradicional da marca já é evidente através da caixa. Ela é em formato de pizza, com o design gráfico antiquado, e traz somente o necessário: o fone, um adaptador P2 – P10 e o certificado de garantia.
O housing é todo feito de plástico, e é preso no headband por duas peças de metal. O headband em si também é uma tira de metal, mas coberta com uma peça de couro. Não é um fone tão desconfortável quanto já vi pessoas dizerem, mas em compensação, depois de um tempo, o headband começa a incomodar, apesar de o fone não ser pesado.
O cabo é longo, grosso, e parece muito resistente, mas inviabiliza o uso portátil, que seria possível não fosse pelo cabo. No entanto, por não precisar de amplificação, é uma excelente opção para viagens para aqueles que por alguma razão não gostam de IEMs.
O visual é diferente, parece um fone de operador de rádio da década de 30. É feio, mas tem personalidade.
O SOM
O primeiro contato com um fone já apresenta o que é, na minha opinião, sua característica mais importante, que é o primeiro pré-requisito para ser um bom equipamento: o equilíbrio tonal.
Esse aspecto é o mais evidente na “voz” de um fone, e por isso é um fator determinante em sua performance em diferentes estilos musicais. Por exemplo, um fone mais puxado nos graves pode ser excelente para música eletrônica, mas consideravelmente impróprio para música clássica ou jazz.
O equilíbrio tonal é justamente um dos pontos fortes do SR80i.
Provavelmente, de todos os fones que já ouvi, esse é um dos melhores “all-rounders”. Não está perto de ser perfeito em nenhum estilo, mas em compensação não faz feio em nenhum. O equilíbrio tonal do SR-80i é bem julgado, e acho que a maior parte dos defeitos estão em outros aspectos. A quantidade de cada faixa de frequências é, na minha opinião, ótima.
Inclusive, nesse quesito o Grado soa consideravelmente parecido com o AKG K1000. Obviamente o austríaco é muito superior, mas em questão de equilíbrio de frequências, os dois andam juntos. A assinatura sonora é muito parecida – equilibrada, com uma leve acentuação nos médios.
Em geral, é um fone com uma puxada mais agressiva, tem os médios pra frente e apresenta bastante impacto – é, como dizem, um som “in your face”.
No entanto, apesar de ser um full-size, ele não apresenta o arejamento, espacialidade, palco sonoro e recorte de fones de preço semelhante. Nesse aspecto, apesar de ainda ser melhor do que IEMs, ele não traz essas vantagens que fones grandes possuem em relação aos primos mais diminutos.
Por ser aberto, o arejamento existe e não é dos piores, mas ainda sim não chega perto de outros concorrentes. Em minha opinião, essa característica não necessariamente o torna um fone pior; apenas diferente. Um colega audiófilo (grande Tulio!) colocou essa característica de uma forma que não tenho como expressar melhor: “sabe quando você vai a um show de rock? O que você prefere, ficar lá atrás ou na grade, ouvindo a música com todo o impacto que ela tem, com o som bem na sua cara?”.
É exatamente isso que o Grado proporciona: excelente impacto e vigor, com um ótimo equilíbrio tonal, porém em detrimento de arejamento e espacialidade. Para as pessoas (ou os estilos musicais) que não fazem questão dessas características, o SR80i não vai decepcionar.
Os agudos do SR-80i em alguns momentos são satisfatórios e em outros um pouco recuados. São um pouquinho ríspidos e têm alguma granulação, mas nada que incomode muito. De modo geral, gostaria que ele tivesse um pouco mais de brilho nos agudos mais altos, que na maioria das músicas, particularmente em rock, soam um pouco encobertos pelos médios. Além disso, a integração dos médios até os agudos não é a melhor que já vi. Uma outra questão é que eles têm um roll-off considerável. Acho que são o ponto fraco do fone, já que soam inconsistentes. É melhor do que quase não ter agudos (caso do SE530), mas não são os melhores que já ouvi. Em gravações bem feitas, essa inconsistência se faz muito evidente.
Os médios do Grado são ótimos. São eles que caracterizam o som desse fone. São um pouco puxados pra frente, e têm uma boa definição e transparência. Considero o SR80i consideravelmente quente, e essas características o tornam excelente pra rock. Guitarras distorcidas são renderizadas muito bem!
Ao mesmo tempo, para os meus ouvidos, os médios são consideravelmente coloridos. O caminho desde os médios-médios até os médio-agudos e agudos não soa linear. É difícil de explicar, mas é como se ele apresentasse algum tipo de compressão natural, não como muitos fones que têm a faixa entre os médios e médio-agudos recuados e então soam comprimidos, mas de um jeito diferente. Existem alguns picos e vales que eu não sei identificar (nem sei se é isso mesmo, mas é o que parece pra mim), mas parece que estão lá. Mas também, não estamos falando de um fone de referência, então é de se esperar.
Um outro defeito é que ele tem um pico perto de onde fica o som da baqueta batendo na borda da caixa da bateria (acho que é perto do C6 do piano), e isso pode incomodar em algumas músicas.
De qualquer maneira, apesar desses problemas, os médios (inclusive a coloração) fazem parte da personalidade – forte – dele, e no final das contas essa faixa de frequência soa no mínimo interessante.
Em questão de quantidade, os graves são praticamente na medida. Têm uma definição ótima, mas não são exemplo em textura e parecem meio gordos as vezes. Mas, em compensação, têm um impacto bem satisfatório e uma boa extensão. Nessa faixa de frequência, o SR-80i se sai muito bem.
CONCLUSÕES
Como já foi dito, a Grado apresenta uma sonoridade muito diferente da concorrência. Por isso, divide opiniões como poucos.
No entanto, minha experiência com o SR80i me mostrou um fone muito equilibrado, que não faz feio em nenhum gênero musical. Apesar de pecar em características como arejamento e palco, suas virtudes certamente o tornam uma excelente opção pelo preço.
Já tive a oportunidade de ouvir um HF2 e a impressão que tive foi a de que era a sonoridade de seu primo mais simples levada ao extremo, e então a conclusão à qual pude chegar é que os Grados mais simples dessa linha são excelentes all-rounders por causa do equilíbrio tonal bem julgado e, comparado ao dos mais caros, mais relaxado. Porém, quando subimos a escada na marca, essa sonoridade típica vai ficando cada vez mais forte e evidente, fazendo com que eles fiquem cada vez mais perto do ideal para se ouvir rock mas, ao mesmo tempo, cada vez mais longe do ideal para outros estilos.
Também já pude ouvir um GS1000 e a história era diferente. Esse é um fone que parecia ainda ter as características “in-your-face” dos irmãos mais simples mas, ao mesmo tempo, adicionando espacialidade, arejamento, palco sonoro e recorte.
No final das contas, apesar dos defeitos, o segundo Grado mais simples da linha Prestige é um excelente fone, e sinto que não me deixa na mão em nenhum gênero musical. De modo geral é equilibrado e tem um som que nos estilos certos pode soar incisivo e forte e em outros relativamente doce e gostoso de se ouvir.
Além disso, leva a vantagem de, ao contrário dos modelos mais caros, não precisar de amplificação, o que permite o uso portátil.
Pelo preço, não tenho dúvidas de que é certamente um dos melhores fones que já tive a oportunidade de ouvir.
Ficha Técnica:
Grado SR80i – US$ 99,00/R$ 310,00
- Driver dinâmico único
- Sensibilidade (1mW): 98 dB SPL/mW
- Impedância: 32
- Resposta de Frequências: 20Hz – 20kHz
Equipamentos Associados:
iPod Classic, iMac, Cambridge Audio DacMagic, Cambridge Audio 340A SE, Little Dot MKIII.