Unique Melody Merlin

INTRODUÇÃO

Aqueles que leram minha avaliação do JH13Pro sabem que morro de amores por ele. Possivelmente, se eu fosse escolher apenas um fone para levar para uma ilha deserta, seria ele. Não é que seja o melhor fone que já ouvi – o fato é que não há absolutamente nada que ele não faça excepcionalmente bem. É um verdadeiro camaleão, podendo ser incrivelmente doce e melódico numa música e, na próxima, te dar um verdadeiro soco nos ouvidos. Mas não é como o HiFiMAN HE500, sobre o qual falei na minha última avaliação. Enquanto o full-size sempre te deixa consciente de que há muita força por baixo da sua suavidade, o IEM te pega de surpresa.

Fora um pequeno problema nos agudos – aquele sobre o qual frequentemente falo –, e a incapacidade natural de intra-auriculares de tirar os sons da cabeça do ouvinte, na minha opinião o JH13Pro não tem defeitos. Esse fone nunca falha em surpreender.

Tenho aqui, em minhas mãos, a versão de demonstração de um outro custom, o Unique Melody Merlin. A briga vai ser boa. O objetivo aqui não é fazer um comparativo per se, mas sim uma avaliação. Porém, ao redigi-la, vi que referências ao JH13Pro são inevitáveis.

Como disse numa postagem recente, a Unique Melody é uma fabricante de fones customizados chinesa, que recentemente ganhou um representante no Brasil – meu grande amigo Filipe Nogueira (mas não se preocupem que meu compromisso com o leitor é grande, e a palavra jabá não consta no meu dicionário).

Veja que o Merlin não é o topo de linha da marca e, em teoria, ele não foi feito para competir com o JH13. No caso da JH Audio, temos o sistema JH-3A como o flagship, assim como o PP6 no caso da UM. A seguir, há o JH13 e JH16 em conjunto – são sabores diferentes, o 13 é neutro e o 16 feito para ser bass heavy. Já no caso da UM, temos o Miracle competindo com o JH13. A quantidade de alto-falantes é a mesma, seis por ouvido, e a ideia é ter um monitor intra-auricular perfeitamente neutro.

Na linha, o Merlin se situa logo após o Miracle. Porém, assim como no caso do JH16, o objetivo é ter um fone mais divertido, com mais pegada nas frequências mais baixas, mas eles o fazem de maneiras distintas. No JH16, há quatro armaduras balanceadas para os graves, enquanto o Merlin lida com essa faixa de frequências com um alto-falante dinâmico. Consequentemente, ele é consideravelmente mais barato que os modelos de topo da JH Audio – custa US$800,00, versus US$1099,00 para o JH13 e US$1150,00 para o JH16. Portanto, o Merlin, apesar de estar mais indicado para brigar com o JH16, na verdade é consideravelmente mais barato que os dois.

 

ASPECTOS FÍSICOS

Audez’e LCD2 e UM Merlin

E não pense que a economia vem numa qualidade de construção inferior: muito pelo contrário. Já vi um Miracle e fiquei impressionado com o esmero no pacote e no acabamento. Não posso comentar muito sobre o Merlin porque é um demo, portanto só acompanha uma caixinha bem simples para transporte. Porém, na própria peça não há pedaços com pouco lixamento – ao contrário do meu JH13 – e ele possui um discreto logo metalizado da marca, muitíssimo bem colocado e acabado, na faceplate. Bem melhor do que os artworks que costumo ver da JH Audio.

O cabo, em compensação, parece menos bem acabado que o da competidora. Alguns lugares possuem manchas brancas, e a espiral tem algumas falhas. A pintura dele também parece ser menos sofisticada: é mais grossa e menos regular.

 

O SOM

Não há porque fazer mistério: quando coloquei o Merlin, não senti falta de nada. E se gosto do JH13Pro como gosto… bom, tirem suas próprias conclusões.

São muito parecidos. É o terceiro custom que ouço – já ouvi também um JH5 universal, e parece que algumas características se preservam neles; características que, por razões que desconheço, não encontro em intra-auriculares universais. Porém, o Merlin se parece mais com o JH13 do que o JH5.

A primeira impressão é de mais energia, com graves mais encorpados e presentes, e médios e agudos mais para a frente. É como se houvesse mais vigor em todas as faixas de frequência. É sensacional.

A começar pelos graves: alto-falantes dinâmicos costumam ter mais desenvoltura na reprodução dos graves, e essa diferença é notada aqui. Nessa faixa de frequência, com o iPod Classic, o Merlin tem mais atividade que o JH13 (entrando no território do HE500), mas o interessante é que não parece haver qualquer perda de definição. É simplesmente mais do mesmo, mas com uma adição de “gordura” sensacional. São graves gordos, como os do EX1000, e fogem da secura que atinge armaduras balanceadas. Eles têm massa, textura. Sem dúvida alguma passam do ponto da neutralidade, e estão mais contentes em criar uma eufonia intencional, mas é curioso como essa atividade incrementada nos graves não interfere em nada nos médios e agudos.

É muito comum que um boost seja feito em frequências erradas. Muitos fones com graves incrementados cometem o erro de aumentar os médio-graves, que dão uma sensação de maior punch, mas perdem a visceralidade dos sub-graves reais e, frequentemente, o resultado é uma interferência nas outras faixas de frequência. Aqui, encontrei simplesmente o bass boost mais bem executado que já ouvi. Há um claro incremento, mas é muitíssimo bem colocado e só amplia a personalidade divertida do fone.

O que acontece é muito simples: baixo e bateria ganham vida. Simplesmente não há anomalias timbrísticas nos instrumentos, e essa habilidade é parecida com a do Grado HP1000 nos médios – ele consegue trazer especificamente vozes, guitarras e pianos para a frente, como se os tivesse selecionando na banda e colocado um passo à frente. Isso é realizado sem alterar a percepção de um bom equilíbrio tonal e de uma renderização consequentemente realística do timbre dos instrumentos. O Merlin faz exatamente a mesma coisa, mas com os instrumentos mais graves.

Na faixa de abertura White Trash Millionaire, do grupo Black Stone Cherry, ou na What If, do Creed, a porrada nos ouvidos só pode ser descrita como violenta. Todo o vigor que torna (tornava?) o JH13Pro o melhor fone para rock que eu já havia escutado é simplesmente mais forte aqui – não há dúvidas. Porém, uma nota: a diferença é muito evidente quando ligo os dois fones diretamente na saída do iPod. Mas, ao colocar o ALO RX MKIII-B, a diferença diminui. O amplificador injeta uma boa dose de vida no JH13Pro, e aproxima os dois no resultado. Este acaba ganhando muita força nas frequências mais baixas, que ficam mais volumosas que no Merlin, mas com menos punch. Acabo preferindo o resultado do UM com o iPod, e o JH13Pro com o ALO.

De toda forma, essa porrada não é um feito exclusivo dos graves. Os médios também têm um vigor invejável, e são capazes de transmitir muita energia. Eles são um pouco para a frente em relação ao JH13Pro, o que faz guitarras ganharem mais vida. O problema é que eles são também mais abertos, então se aparentam ganhar mais detalhamento, também apresentam maior granulação e uma consequente perda de refinamento. O JH13Pro tem essa região mais contida e mais bem integrada no espectro se a prioridade for uma apresentação mais neutra e de certa forma suave. O Merlin levanta as frequências mais altas nos médios, e tem uma personalidade mais clara e transparente, enquanto o JH13Pro é consideravelmente mais escuro. Essa região mais feliz pode ser muito bem-vinda, trazendo vigor e transparência, mas em algumas músicas de metal não muito bem gravadas (I Remember do Disturbed me vem à cabeça), por exemplo, o resultado pode acabar ficando um pouco desagradável. É muito mais “na cara”, o que pode cansar, principalmente em volumes elevados.

De toda forma, essa energia é viciante. Música eletrônica e rock/metal são os mais beneficiados. Curiosamente, o resultado com jazz também é excelente. Nesse caso, essa personalidade mais agressiva nos médios acaba tomando outro rumo, e dá mais atenção aos vocais, pianos e cordas, e o resultado é interessantíssimo e muito agradável. Acabo não sentindo falta da suavidade do JH13Pro, porque ela é substituída por uma maior dose de transparência e, se perde calor, ganha intimidade.

No entanto, o palco sonoro acaba ficando em desvantagem. Os médios mais distantes do IEM da JH Audio acabam gerando uma maior espacialidade. Veja que nenhum dos dois apresenta o palco de um supra aural, algo que é geralmente impossível para intra-auriculares. Mas, nesse quesito, o Merlin sai em desvantagem. No entanto, essa questão só é um problema quando estamos falando de gêneros mais calmos, e, ainda que eu tenha encontrado virtudes muito evidentes aqui, sei que ele não foi feito para isso. Nos estilos mais energéticos, essa relativa falta de espacialidade pode ser muito bem-vinda.

Nos agudos, os dois fones se aproximam: nas vantagens e nos defeitos. O Merlin parece ter um pouco mais de atividade nessa faixa, mas é um incremento muito suave. Arrisco dizer que ele também tem um pouco mais de corpo nessa região, o que de certa forma ajuda no timbre. Mas de maneira geral, ele ainda é algo estranho (assim como no seu competidor), já que é brilhoso e ainda carece de muito corpo para compor o que chamo de agudos realistas. É aquela onomatopéia que usei no JH13Pro: pratos, que deveriam fazer “chuá” fazem “chuí”. São finos e granulados. Não estraga o fone, longe disso, só não é exatamente como eu gostaria.

Mas veja que, como eu já disse algumas vezes, considero incrivelmente difícil achar um fone que me apresente agudos realistas – não consigo pensar em mais de 4. Portanto, não encare isso como um defeito sério do Merlin. É um defeito, mas um que assola 95% dos fones que já ouvi. E, ainda assim, a situação é melhor que no JH13Pro, que tem pratos de bateria ainda mais finos. O Merlin tem mais corpo nas regiões um pouco mais baixas dos agudos, o que é, na minha opinião, uma adição muito agradável e compõe agudos mais satisfatórios.

 

CONCLUSÕES

O Unique Melody Merlin definitivamente cumpre sua proposta. É um fone extremamente divertido: os graves são espetaculares, os médios agressivos (no melhor dos sentidos) e toda a sensação de energia que ele provê é viciante.

E não para por aí, porque vi que ele também sabe trabalhar com o calmo e com o relaxante. Mas, nesse caso, na minha opinião não há como negar a superioridade do JH13Pro, que é simplesmente mais suave. A questão, porém, é que essa comparação é um injusta. Se eu fosse escolher apenas um fone, escolheria o JH Audio, porque ele está totalmente no meio termo entre o doce e o agressivo, podendo assumir qualquer uma das duas personalidades. O Merlin não foi feito para isso – esse é o papel do Miracle –, foi feito para empolgar, e com os gêneros certos, ele definitivamente consegue superar o JH13Pro.

Não podemos nos esquecer, também, a diferença de US$300 que os separa, e estamos falando de fones que são parecidos. Já tive a oportunidade de ouvir diversos fones nessa minha jornada, e esses dois são o que considero próximos.

Portanto, apesar de no final das contas ficar mais satisfeito com o JH13Pro por suas capacidades camaleônicas, essa é uma questão de preferência por um posicionamento, e seria perfeitamente possível que eu acabasse preferindo o Miracle ao JH. E, ainda assim, ouvir a proeza do Merlin na hora de botar um prédio abaixo com tanto vigor e força é uma experiência da qual eu sentiria falta. Se o JH13Pro está no meio, com energia à esquerda e relaxamento à direita, o Merlin está bem mais para a esquerda.

Talvez o JH13Pro tenha perdido o título de o melhor fone que já ouvi para rock. O UM Merlin é seu irmão que tomou uma injeção de joie de vivre no berço. O evil twin.

 

Especificações Técnicas

Unique Melody Merlin – US$799,00 (+ custo do pré-molde)

  • Intra-auricular customizado híbrido: duas armaduras balanceadas para agudos, duas para médios e diafragma dinâmico único para graves, com saída em dois dutos e com crossover de três vias.
  • Sensibilidade (1 mW): 108 dB SPL/V
  • Impedância (1kHz): 12 ohms
  • Resposta de Frequências: 10 – 19,000 Hz

Equipamentos Associados:

iPod Classic, ALO Audio RX MKIII-B, iMac, Cambridge Audio DacMagic.

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