INTRODUÇÃO
Muitos audiófilos torcem o nariz para a Bang & Olufsen. Afinal, nos produtos da fabricante dinamarquesa, paga-se tanto pelo design quanto pela qualidade de som. Mas será que isso é tão diferente assim da situação atual do mercado high-end? Em minha opinião, aos poucos, esse segmento foi exatamente pelo mesmo caminho. Porém, ao invés do sóbrio e minimalista design dinamarquês, vemos materiais exóticos, quilos e quilos de metais, madeira ultra-polida… enfim. O fator bling, em minha opinião, definitivamente está em alta. E meu lado designer sempre teve uma queda bem forte pelo design da B&O.
Recentemente, porém, ela lançou uma submarca, a BeoPlay, que é focada em equipamentos voltados para o uso portátil e tem, como público-alvo, pessoas mais jovens que não tem condições de gastar três ou quatro mil libras num par de caixas de som. Mas é um público que atualmente gasta algumas centenas de dólares num fone de ouvido ou numa caixinha de som bluetooth. Hoje, a BeoPlay apresenta uma linha bastante completa de produtos, com caixas bluetooth, earphones, in-ears, in-ears sem fio, circunaurais, supra-aurais, com fio, sem fio, com noise cancelling, sem noise cancelling… e todos têm várias opções de cores. Tem coisa para todos os gostos.
Durante algum tempo, estive buscando por um headphone portátil que me satisfizesse, porque percebi, cada vez mais, que in-ears sempre me incomodam. Testei muitos fones, mas parece que finalmente me encontrei no H6 – apesar de já tê-lo ouvido algumas vezes, demorei para apreciar o que ele faz. Foi o primeiro headphone da linha mais moderna da BeoPlay, e é um circunaural fechado, feito para uso portátil.
Comprei um na cor Grey Hazel numa viagem, mas quando cheguei em casa percebi que havia um leve desequilíbrio entre os canais. Fui à autorizada, em São Paulo, e solicitei a troca. Eles não tinham um da mesma cor, e das disponíveis, fui na The Love Affair Edition, uma edição especial de 90 anos da B&O. Lendo sobre o fone na internet, descobri que, sem nenhum alarde, a BeoPlay lançou uma atualização do H6, a 2nd Generation, que basicamente não apresenta diferenças estéticas mas traz, aparentemente, melhorias sonoras. Como havia gostado muito do fone, achei um à venda e comprei. Entretanto, não tenho coragem de vender o meu antigo, que é muito mais bonito…
Então essa avaliação será de certa forma dupla, o que pode ser útil visto que o H6 de primeira geração continua disponível e a um preço bem atraente (com vontade, é possível encontrá-lo por aproximadamente US$200), enquanto o de segunda geração sai por US$299.
ASPECTOS FÍSICOS
O H6 é um circunaural fechado bem pequeno – é mais compacto que fones como Sennheiser Momentum, Philips Fidelio L2 e outros do tipo, então apresenta uma excelente combinação de portabilidade, conforto e estética. Em minha opinião, pela incrível forma como ele junta esses três fatores, o H6 é um verdadeiro trunfo de design.
Esse é provavelmente um dos fones mais confortáveis que já usei – é muito leve (bem mais do que as aparências indicam), a pressão lateral é a ideal e o toque das almofadas de couro de carneiro genuíno, extremamente macias, é dos melhores. Minha única pequena crítica fica por conta do acolchoamento superior, que poderia ser um pouco mais farto. Não me incomoda, mas já li relatos de pessoas que sentiam desconforto por causa dele.
E como é bastante compacto, ao menos para um circunaural, é um fone que uso na rua sem problema algum. A qualidade de construção também é irrepreensível. Há metal, couro de dois tipos, tecido (aparentemente lona) e plástico da mais alta qualidade. Tudo é muito sólido e preciso. O deslizar do aro de metal para ajuste de altura, particularmente, é de uma suavidade que deixa claro se tratar de um produto muito bem projetado.
Esteticamente, também só tenho elogios. Sei que a beleza está nos olhos de quem vê, mas sou apaixonado pelo H6. Em minha opinião, é daqueles casos em que você passa a apreciá-lo ainda mais com o tempo. Tudo é de muito bom gosto. A única diferença entre o de primeira e o de segunda geração, aliás, é o conector do cabo, que no de primeira geração possui revestimento metálico.
Funcionalmente, há pouco do que falar, mas novamente, percebe-se o projeto de qualidade. As almofadas são removíveis por um sistema de encaixe com travas. Elas possuem uma armação interna de plástico, que se encaixa em trilhos nas conchas. Basta girá-las que elas saem muito facilmente, e recolocá-las não é mais difícil. Além disso há o cabo, que pode ser colocado em ambos os lados – e o lado em que ele não estiver colocado se torna uma entrada para outro fone de ouvido. O único ponto negativo aqui é que a entrada é muito fina, então não é qualquer fone que vai entrar. Por exemplo, por mais bizarro que isso possa parecer, o próprio cabo do de primeira geração não entra no de segunda! Essa foi, em minha opinião, uma pisada de bola meio inacreditável da marca.
Em termos de acessórios, também acho que há menos que o ideal: apenas uma pequena bolsinha de tecido para transporte. Não há sequer um adaptador P2-P10, tampouco um segundo cabo, para Android. O que vem com o fone é para iOS, e se você usar o sistema da Google e quiser um cabo próprio para isso, terá que desembolsar mais 34 Euros.
O SOM
Ambas as gerações do BeoPlay H6 são, para os meus ouvidos, muito macias e eufônicas, porém ao mesmo tempo bastante claras. Em certos aspectos, é uma sonoridade que me lembra um pouco a do DUNU DN-2000 em termos de equilíbrio em tonal – um elogio dos maiores. Os dois parecem ter um mesmo objetivo: tocar música de forma agradável e envolvente, sem ser necessariamente uma referência em neutralidade, mas com uma apresentação natural e inofensiva.
A começar pelos graves: essa era uma das maiores reclamações do público com relação ao H6 de primeira geração, porque muitos acham que ele tem pouca presença nas baixas frequências. Ao mesmo tempo em que discordo, e acho que ele apresenta sim uma boa quantidade de graves – há mais do que no DUNU, no HiFiMAN HE560 e que no Xtreme Ears Xtreme ONE –, não há o tradicional boost nos médio-graves. Há apenas uma quantidade ligeiramente menor do que no M50X, além de menos impacto. Para um fone destinado ao uso portátil, em ambientes barulhentos, e que não apresenta o melhor isolamento do mercado, o resultado pode ser essa impressão de falta de graves. Contudo, em minha opinião, é apenas uma impressão. Em termos objetivos, e analisando seu desempenho em ambientes silenciosos, o H6 é até um fone sensivelmente pesado e bass-heavy. Não é que haja impacto em demasia, ou que os graves propriamente ditos sejam particularmente fortes, mas sim que sua apresentação é “maçuda” e relativamente escura nos graves e nos médios, se isso fizer sentido.
Essa questão, porém, foi incrementada no H6 de segunda geração. Ele possui uma pitada a mais de graves, suficientes para alterar a percepção das baixas frequências que temos com ele em ambientes barulhentos. Está muito longe de uma diferença drástica – se o de primeira geração está um pouquinho abaixo do M50X em quantidade de graves, o de segunda apresenta um nível muito semelhante –, mas é algo que, para mim, faz uma diferença considerável. E para melhor. No entanto, tenho que admitir que, ouvindo os dois, ficaria satisfeito com qualquer um deles.
São graves da melhor qualidade: muito mais melodiosos e cheios do que o que ouço em todos os fones que tenho disponíveis aqui, exceto pelo DN2000, que apresenta uma personalidade muito semelhante nessa região. Ou seja, as batidas têm melodia e decaimento, e não são secas como no M50X ou até mesmo o HE560. Obviamente, podemos entrar numa discussão entre realismo versus agradabilidade, mas o que interessa é que, nesse momento, para os meus ouvidos, tendo a preferir a forma como o BeoPlay me apresenta os graves – particularmente o de segunda geração.
Não há nenhum tipo de interferência em outras frequências, e se a região não é um exemplo em detalhamento e texturização, principalmente quando comparada ao planar da HiFiMAN, certamente não faz feio e está em linha do que espero de um fone desse tipo e preço. Em minha opinião, é consideravelmente mais interessante do que o M50X, por exemplo, apesar de este provavelmente ser superior em termos puramente objetivos.
Nos médios, ambos os BeoPlays mostram uma personalidade muito suave e sedosa. Alguns consideram esse fone algo brilhante, mas não poderia discordar mais – principalmente tendo em vista o quanto seus médios são agradáveis. Vozes, particularmente as femininas, são simplesmente encantadoras. Lembram do Sennheiser Veil do HD650? É o que parece estar presente aqui, só que de uma maneira que considero muito positiva.
Provavelmente não o classificaria como neutro… tanto o HE560 quanto o Xtreme ONE mostram que falta um pouco de corpo e também de presença nos médios mais altos, mas são justamente essas características que fazem com que ele apresente essa personalidade tão suave, que me agrada imensamente e faz com que ele se torne um fone extremamente sedutor e agradável em basicamente qualquer situação. Curiosamente, é uma característica um pouco semelhante ao que ouço no HD800, mas no fone da Sennheiser isso parece muito mais acentuado e o resultado não é doçura, e sim esterilidade – possivelmente por não haver a pitada a mais de graves que o BeoPlay apresenta.
O M50X é o que mais mostra essa característica. Nele, há uma quantidade muito maior de detalhes aparentes, mas eles são jogados sem pudor na cara do ouvinte, de maneira, comparativamente, agressiva. Chega a incomodar colocar ouvir o Audio-Technica logo após o H6 no mesmo volume – é muito menos elegante, por assim dizer. Fica evidente que um é um fone para monitoração, e o outro para ouvir música.
E ao contrário de muitos fones, ao me acostumar com o H6, tudo o que ouço dele me parece extremamente natural. É diferente de algo como um Philips Fidelio L2 ou até mesmo um Sennheiser HD 25-1 II, que sempre têm suas personalidades se fazendo presentes. Sei que os BeoPlays não são uma referência em neutralidade – compará-los ao Xtreme ONE, ao HE560 e ao HD600 deixa isso evidente –, mas ao mesmo tempo ele não desvia tanto desse conceito, e com isso, com o tempo, acaba soando muito natural. Há muito pouca coloração típica de fones fechados nessa região.
Aliás, os médios são uma outra área em que há diferenças entre os H6. O de segunda geração me parece mais linear nessa região, enquanto o de primeira apresenta um pequeno pico em alguma área dos médios, o que causa a impressão de médios mais para a frente. Aqui, mais uma vez, prefiro o que o de segunda geração me mostra, que parece mais natural. Entretanto, friso novamente que não se trata de uma diferença drástica.
Sei que é muito cliché dizer isso, mas os agudos no H6 estão presentes na medida certa. Há mais presença e extensão do que o que ouço no Xtreme ONE, e menos do que no DUNU DN-2000 e que no HiFiMAN HE560. Eles passam a impressão de que que há muita transparência e abertura, mas sinceramente, acho que esse não é bem o caso… os agudos são de fato presentes, porém considero os médios algo velados (de forma positiva, vale lembrar) e há um pequeno vale nos médio-agudos seguido de um pico nos agudos. Nada disso é muito prejudicial à sua apresentação. Mais uma vez, a minha impressão, assim como o que ocorre com o DUNU, é que é uma sonoridade cuidadosamente talhada para que seja prazeirosa.
Contudo, devo observar que há uma diferença significa quando o comparo ao HE560 – nele, os timbres são melhor apresentados porque soam mais lineares, principalmente na transição dos médios para os agudos. Em compensação, o H6 na maioria dos casos é mais prazeiroso.
CONCLUSÕES
Sei que essas coisas mudam… mas acho que nunca estive tão convencido. Para mim, o H6 é o portátil perfeito. É uma mistura sublime de beleza, muito conforto, portabilidade e um excelente desempenho sonoro. E, assim como o que ocorre no caso dos Sennheisers HD600 e HD650, acredito ser um caso em que o todo é ainda maior do que a soma das partes.
Ele pode não ser, objetivamente, um fone particularmente neutro. Os médios são algo velados e há um vale nos médio agudos. Ao mesmo tempo, sua sonoridade é extremamente agradável e inofensiva, mas sem ser demasiadamente eufônica ou romântica. Quando nos acostumamos a ele, o H6 soa natural e se adequa a basicamente qualquer estilo musical. Mais do que isso: assim como o DUNU DN-2000, é um daqueles raros casos em que não tenho nenhuma vontade de analisar sua sonoridade, e sim de só ouvir música.
E é exatamente o que tenho feito. Desde que comprei o H6 – o de primeira geração –, tenho escutado quase que exclusivamente esse fone. E não tenho tido a sensação de estar perdendo muita coisa. Pelo contrário: quase todo o meu sistema foi embora e, por incrível que pareça, o BeoPlay faz com que eu não esteja sentindo tanta falta dele assim.
BeoPlay H6 – de US$239 até US$299
- Driver dinâmico único
- Sensibilidade (1 mW): N.D.
- Impedância (1kHz): N.D.
- Resposta de Frequências: 20Hz-22kHz
Equipamentos Associados:
Portátil: Samsung Galaxy S7 Edge
Mesa: Mac Pro, MacBook Pro, Yulong D100, Yulong Sabre D18, HeadAmp GS-X, Oppo HA-1, DNA Stratus