INTRODUÇÃO
Aqueles que já têm algum tempo de hobby devem saber que a HiFiMAN foi responsável, junto com a Audez’e, pela ressurreição dos fones planar-magnéticos – populares nas décadas de 70 e 80 mas praticamente em extinção depois disso. Esse tipo de fone apresenta uma tecnologia de alto-falante diferente dos dinâmicos e dos eletrostáticos. De certa forma, é como se usasse a forma de organização destes com os princípios de funcionamento daqueles.
A popularidade dessas marcas no mercado entusiasta já deixa claro que essa tecnologia apresenta diversos benefícios. O primeiro modelo apresentado pela marca foi o HE-5, seguido pelo HE-5LE e, logo em seguida, pelo HE-6. Esse fone permaneceu muito tempo como o topo-de-linha da marca, e os próximos modelos lançados, o HE-500, o HE-400 e o HE-300 eram inferiores em sua hierarquia. Em 2014 a marca revitalizou sua linhagem com o HE-560 e o HE-400i, mas até a recente apresentação do incrível HE-1000, o HE-6 permaneceu como o mais sofisticado fone oferecido pela HiFiMAN.
Trata-se de um circunaural aberto com transdutores planar-magnéticos que custa aproximadamente 1.300 dólares.
ASPECTOS FÍSICOS
O HE-6 é fisicamente idêntico ao HE-500 que já tive e avaliei, porém com acabamento em black piano ao invés do azul escuro do HE-500. Ou seja, apresenta as mesmas vantagens e desvantagens. Apesar de ser um fone relativamente atraente, apesar do visual um pouco óbvio, ele é extremamente pesado (mais de meio quilo) e não é particularmente desenvolvido em termos de ergonomia.
Os ajustes de altura e os sistemas de rotação das conchas não poderia ser mais simples, o arco não possui muito acolchoamento e o formato arredondado das conchas não favorece um encaixe dos melhores à cabeça. Felizmente não há muita pressão lateral, mas esse definitivamente não é um fone dos mais confortáveis. Visivelmente é algo desenvolvido por uma pequena companhia. Os fones mais novos da linha trazem melhorias evidentes, mas o HE-6, por ainda ser dos mais antigos, está longe de ser um exemplo de conforto.
Os cabos são removíveis e aparentam ser de boa qualidade, mas o conector mini-coaxial é revoltante. O problema é que ele é recuado nas conchas, então rosqueá-los ou desrosqueá-los não é uma operação particularmente conveniente. O cabo é terminado num conector balanceado XLR de 4 pinos e está incluso na embalagem um adaptador para um P10. Outros acessórios são um par de almofadas extra, de veludo (as que vêm instaladas no fone são de courino) e um par extra de conectores.
UM MONSTRO PARA EMPURRAR
Diversas vezes, vejo alguns leitores perguntarem sobre fones postando as especificações. A primeira coisa que digo é que na prática, na vasta maioria dos casos, elas não querem dizer absolutamente nada, porque mesmo a sensibilidade e a impedância, que determinam o quanto um fone será fácil ou difícil de ser empurrado, não costumam trazer problemas em fones mais mundanos.
O HE-6, porém, está bem longe de ser mundano. Apesar de sua impedância ser baixa, 50 Ohms, sua sensibilidade é assustadora: apenas 83.5dB. Para efeito de comparação, a sensibilidade do Sennheiser HD598, cuja impedância também é 50 ohms, é de 112dB. Ou seja: mais de 20 dB de diferença. Essa é a diferença entre o nível de ruído de uma rua movimentada e o de uma discoteca, a 1 metro dos alto-falantes.
Consequentemente, junto com o AKG K1000, o HE-6 é o fone mais difícil de ser empurrado já feito. São poucos os amplificadores dedicados de fones de ouvido que são capazes de fornecer a potência de saída e a oscilação de tensão necessários para esse monstro. Assim como o AKG, muitos usuários chegaram à conclusão de que o HiFiMAN traz resultados muito melhores quando ligado diretamente aos terminais de saída de amplificadores destinados a caixas de som, que possuem a autoridade necessária para ter controle total sobre os diafragmas do HE-6 bem longe de seu limite.
Meu HeadAmp GS-X possui a força necessária para empurrar esse planar – com o ganho alto, em gravações normais, ouço com o botão de volume entre 12 e 3 horas, mas em algumas gravações mais quietas de música clássica, chego próximo ao limite de volume do amplificador. Em algumas situações, a um volume um pouco acima do que geralmente ouço o sistema já apresentou distorções. Ou seja, ele dá conta da tarefa, mas com o HE-6 não há muita reserva de potência. Adoraria ter um adaptador para ligá-lo ao integrado Marantz PM-11S2 do sistema da sala, mas infelizmente não tenho.
O SOM
Minha primeira impressão com o HiFiMAN HE-6 é a de um fone relativamente neutro, porém tipicamente planar-magnético. Todos os fones com essa tecnologia que já pude ouvir apresentam uma característica em comum: um assombroso desempenho nos graves, que se traduz numa sonoridade extremamente forte e autoritária. Fones dinâmicos geralmente mostram, em seus gráficos de resposta de frequência, uma linha mais curvada nos graves, com um decaimento notável nas oitavas mais baixas – mesmo aqueles considerados monstros de graves. Já os eletrostáticos geralmente não costumam apresentar esse decaimento, mas em compensação possuem uma sonoridade mais leve e etérea.
Os ortodinâmicos, no entanto, têm nessa região sua maior proeza. Basta observar o gráfico de resposta de frequência de um HiFiMAN HE-500 ou de um Audez’e LCD2: dos 10Hz aos 1.000Hz, é basicamente uma linha reta. No HiFiMAN HE-6, a situação não é diferente. É muito difícil descrever a sensação de ouvir um fone como esse… a sensação é a de que o som é uma verdadeira massa, com força e peso reais. Não é que os graves sejam exagerados (longe disso), é que há uma presença física que não aparece em fones com outros tipos de transdutores – com exceção, talvez, do Sennheiser HE90. É um impacto visceral, e não é tanto uma questão de ouvir os graves, e sim de senti-los.
Ouvir o HE-6 traz a sensação de que a maioria dos outros fones apresenta mais ou menos graves do que o necessário, e há incrementos em algumas regiões (como nos médio-graves) para compensar a carência de presença em outras (sub-graves). O que ouço aqui soa como seu gráfico indica: uma linha reta. Nenhuma seção dos graves se sobressai – a massa e o peso dos graves parecem estar sempre presentes mas sempre em total consonância com o resto do espectro e nunca chamando mais atenção para si do que o ideal.
É uma personalidade muito diferente da que tenho com meus outros fones, que me soam relativamente anêmicos em comparação, ao menos em determinadas regiões dos graves. Por exemplo, tanto o Sennheiser HD600 quanto o Xtreme Ears Xtreme ONE, fones que considero excepcionalmente neutros, apresentam uma quantidade de graves em geral semelhante à do HiFiMAN, mas neste último há uma presença extra de sub-graves que dá essa maior sensação de massa e peso nas baixas frequências. Há impacto, autoridade, detalhamento e texturização exemplares.
Nos médios, o HE-6 continua mostrando uma personalidade bastante natural. Toda a região me parece linear ao longo de sua extensão, apesar de parecer haver uma levíssima coloração – é como se colocássemos as mãos ao redor da boca ao falarmos. É uma sensação muito sutil, mas tanto o Sennheiser HD600 quanto o HD800 me parecem um pouquinho mais naturais nessa região numa comparação direta. No entanto, este último me parece mais suavizado e distante nos médios. O HE-6 de certa forma me parece mais natural, apesar de mais agressivo.
Tonalmente ele está mais próximo do HD600, com médios que por vezes me parecem um pouco mais destacados, característica da qual gosto muito. No entanto, numa comparação direta, fica evidente o quanto o HE-6 é assustadoramente melhor em todos os outros quesitos. Em primeiro lugar há um enorme incremento em transparência. Ele me parece comparável ao HD800, apesar de com uma “voz” muito diferente, e o HD600 acaba mostrando que é um fone de quase 20 anos de idade. A diferença de poder de resolução entre os dois não é nada sutil.
Sou fã número um do HD600 devido a sua incrível naturalidade, mas não há como negar que o HE-6 apresenta uma personalidade tão orgânica e natural quanto, porém a sensação de que é possível enxergar mais na gravação é evidente. Ouvindo a Little Numbers (Acoustic Version) do duo Boy, é impressionante o quanto ele parece ter mais vida, e com o quanto é possível ouvir mais. Tudo fica mais claro e definido – o violão se parece mais com um violão, a voz se parece mais como uma voz e por aí vai. Em termos de detalhamento, não há comparação.
Em termos de espacialidade, o HE-6 é muito satisfatório. Ele pode não oferecer a apresentação fortemente tridimensional do HD800, mas definitivamente não decepciona e consegue oferecer um palco bem desenvolvido com uma ótima precisão no posicionamento dos instrumentos. Entre os fones de minha coleção, ele só fica atrás do topo de linha da Sennheiser.
Nos agudos, o HiFiMAN parece dividir um pouco as opiniões. A questão é que eles têm uma presença marcante no espectro, mas em minha opinião geralmente não a um nível desproporcional. Essa, aliás, talvez seja a maior diferença entre ele e meu antigo (e adorado) HE-500: enquanto nele havia um pico definido nos agudos, no HE-6 parece que toda a região está presente, um pouco como no HD800. E, assim como neste último, acho que em algumas situações os agudos parecem ser um pouco mais fortes e agressivos do que o desejado. Mas, felizmente, são casos raros, e ao contrário do Sennheiser, esse HiFiMAN me parece perfeitamente adequado a qualquer gênero musical – a agressividade nos agudos não aparece em gêneros específicos, e sim em algumas gravações.
Com relação ao timbre dos agudos, não tenho do que reclamar. Ao contrário de alguns outros hobbistas, acho que a região dos agudos do HE-6 é muito bem resolvida, o que é particularmente difícil num planar-magnético.
CONCLUSÕES
Fones diferentes oferecem coisas diferentes. Quando chegamos a equipamentos da estirpe do HiFiMAN HE-6 a escolha não é fácil, e assim como em faixas faixas de preço inferiores, seu gosto pessoal é que deve definir para onde irá seu investimento. A questão é que, aqui, as proezas por vezes são de tirar o fôlego, e tomar uma decisão pode ser muito difícil.
Enquanto o HD800 é um fone para aqueles que buscam uma personalidade espacial, leve e arejada, o HE-6 deve agradar aqueles que querem um all-rounder extremamente capaz em qualquer gênero musical, que encanta por sua apresentação que consegue ser extremamente autoritária ao mesmo tempo em que é transparente, orgânica e natural.
Ele pode ser assustadoramente difícil de empurrar, mas tenham certeza de que o esforço é mais do que recompensado. A presença física de sua sonoridade é fenomenal. Assim como no HE-500, há muita massa, força e corpo, algo que não encontro em fones dinâmicos e na vasta maioria dos eletrostáticos. Sob alguns aspectos, ele é um dos fones que mais me lembra um bom sistema de caixas de som, porque há um peso que sentimos tanto quanto ouvimos. Mas isso não significa que essa é a única coisa que ele oferece: toda essa autoridade vem acompanhada de muito refinamento e, quando necessário, delicadeza. Ele é sempre forte e, crucialmente, vivo.
O HE-6 merece ter permanecido muitos anos como o topo de linha da HiFiMAN, e faz jus à fama. Ele é, certamente, um dos melhores fones que já tive o prazer de ouvir.
HiFiMAN HE-6 – US$1.299,00
- Driver planar-magnético único
- Impedância (1kHz): 50 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 83 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 8Hz – 65kHz
Equipamentos Associados:
Mac Pro, Yulong D100, HeadAmp GS-X