Fidue A83

INTRODUÇÃO

51p+jaOkQ4L._SY355_Como disse recentemente, na avaliação do RHA 750i, não estou muito atualizado no mundo dos intra-auriculares universais. Felizmente, porém, isso está mudando.

Quando parti para os IEMs personalizados, sem olhar para trás, os melhores universais eram de marcas como Shure, Westone, Ultimate Ears e EarSonics. Desde então, surgiu um grande número de concorrentes chinesas que ofereciam desempenho semelhante por um preço menor, como VSonic, DUNU, Astrotec, T-Peos, Brainwavz e, mais recentemente, a Fidue.

O fone que tenho para avaliação aqui é o topo de linha dessa última marca, o A83. Trata-se de um intra-auricular de 279 dólares com arquitetura híbrida, contando com um falante dinâmico para graves e duas armaduras balanceadas para médios e agudos. Portanto, ao mesmo tempo em que não é algo para brigar com IEMs da estirpe do Shure SE846, do Westone W60 ou do Sennheiser IE800, definitivamente não estamos falando de um fone chinês barato.

 

ASPECTOS FÍSICOS

E de fato, ao olhar para o fone, isso fica bem claro. A qualidade de construção é excelente, e o resultado em minha opinião é extremamente atraente.

O corpo em si é construído em plástico (de cores diferentes, para que identificar os lados direito e esquerdo seja mais fácil) e metal usinado, com o logotipo da marca gravado a laser, o que também ocorre no plugue P10 e no divisor Y, ambos construídos com o mesmo material. O cabo é facilmente o melhor que já vi em qualquer intra-auricular porque, além de muito bonito, consegue aliar conforto e alguma leveza a uma aparência muito resistente. Ele é removível, e usa um conector MMCX, assim como o Shure SE846. No entanto, enquanto neste último ele fica livre e gira, algo que me incomoda, no A83 a marca colocou um pequeno pino no conector para que a conexão fique firme numa única posição. Esse tipo de coisa mostra que houve muito cuidado no desenvolvimento do fone.

IMG_7476Em termos de acessórios, o Fidue conta com uma lista saudável. Ele vem numa Ottercase, assim como alguns monitores personalizados, o que significa que há bastante espaço e muita, muita resistência. Também está incluso um jogo de ponteiras, incluindo um par de Complys, um adaptador para sistemas antigos de aviões e um adaptador P2-P10.

Por falar em ponteiras, aqui vamos a um primeiro problema: acho que nunca encontrei um fone cujo encaixe é tão difícil de se conseguir. Sei que isso é totalmente pessoal, mas para mim, colocar o A83 é um verdadeiro pesadelo. Por algum motivo, não importa o que eu faça, o ouvido direito parece sempre sair e com o esquerdo parece que nunca consigo um selamento perfeito. Isso é extremamente frustrante, principalmente porque tenho, para comparação, dois intra-auriculares que são perfeitos nesse aspecto, o HiFiMAN RE400 e o Xtreme Ears Xtreme ONE. Com eles, é colocar e pronto. No Fidue, preciso de vários minutos para conseguir um encaixe minimamente decente – isso quando não desisto no meio do caminho. Até mesmo as Complys, que geralmente são um remédio universal para esse tipo de problema, não o resolvem 100%.

Porém, devo reforçar que essa é uma questão pessoal e depende da interação do fone com os meus ouvidos. O Athos, dono do fone, não encontra qualquer problema com o encaixe usando as Complys.

 

O SOM

A implementação de um sistema híbrido não é fácil. O problema é que um falante dinâmico geralmente já possui a resposta de frequência para cobrir toda a faixa audível e por isso, adicionar duas BAs para cobrir uma seção dessa faixa requer bastante competência para configurar o crossover. Nesse aspecto, o A83 me confunde um pouco. Ao mesmo tempo em que os graves e os agudos me parecem bastante presentes, há um forte pico na região média que vai além do que geralmente gosto – não sei se essa característica é intencional ou se é justamente algum problema nessa implementação.

IMG_7472Outra questão que merece atenção é a impedância muito baixa, de apenas 11 ohms, o que pode trazer problemas na interação com players: se seu equipamento não for de boa qualidade, há alguma chance de o conjunto apresentar ruído de fundo audível. Não tive problemas com a maioria dos equipamentos com os quais testei o A83, mas sei que seu dono passou por dificuldades até achar um player que não apresentasse um piso de ruído audível com o Fidue.

De toda forma, vamos começar pelos graves que são o que mais gosto no Fidue. O falante dinâmico, ao contrário do que eu esperava, não traz uma presença excessiva dos graves, e sim um chão presente porém sem exageros. São graves gordos e melodiosos, e se o detalhamento e a texturização não são os melhores que já ouvi, eles certamente não decepcionam.

É uma presença que julgo ideal para qualquer estilo, em especial para jazz, que se beneficia dessa personalidade mais melódica. Apesar de ele não ser exatamente um primor em impacto, é uma apresentação interessante que traz bastante peso e autoridade.

Já nos médios é que a situação fica um pouco mais complicada – o problema é que ouço um pico acentuado numa determinada região. Existem duas consequências: a primeira é que a região parece se tornar um pouco mais fechada (como se estivéssemos falando com a mão em volta da boca), apesar de após algum tempo nos acostumarmos com essa coloração; e a segunda é que, em algumas situações, o resultado é um pouco fatigante.

Os que acompanham o site sabem que prefiro uma apresentação mais puxada para os médios, como nos Grados, em diversos in-ears de armaduras balanceadas ou até mesmo no Sennheiser HD600. mas acho que o A83 foi um pouco longe demais. Vozes e pianos, por exemplo, por vezes não me parecem muito naturais, e quando aumento o volume para trazer os graves e os agudos mais para a frente, parte dos médios fica com o volume desproporcionalmente alto. É um pouco como o SE530, porém com uma melhor presença nos graves e agudos e um pico mais desproporcional nos médios.

IMG_7474Não é sempre que isso ocorre – gravanções acústicas mais calmas, que já têm o foco na região média, trazem um bom resultado porque não é necessário compensar pelo equilíbrio tonal em V invertido. E, nesses casos, o A83 mostra suas cartas na manga.

Apesar de essa região ser doce, essa proeminência dos médios faz com que ele seja um fone bastante transparente. Quando passo para o Xtreme ONE (que foi revisado desde que o avaliei e se tornou um fone completamente diferente), ao mesmo tempo em que tenho uma apresentação que me parece mais neutra, linear, suave e natural, perco transparência e detalhamento. Outra característica que perco é espacialidade: o A83, um pouco como o JH Audio Roxanne, soa grande, e possui habilidades espaciais expressivas. Ainda não é um headphone circunaural, porém está à frente da maioria dos intra-auriculares que já ouvi.

Os agudos, por sua vez, são muito satisfatórios e, como os graves, estão presentes na medida certa, e apresentam um bom timbre. O único problema é que a transição dos médios para os agudos não me parece muito linear – há um vale nos médio-agudos, o que pode ser corroborado pelo gráfico de resposta de frequência do InnerFidelity. De toda forma, na maior parte dos casos, gosto de como os agudos complementam os médios, apesar de achar que um pouquinho mais de brilho, proporcionado por uma resposta mais linear nas regiões mais altas, poderia ser benéfico.

 

CONCLUSÕES

Quando faço avaliações, procuro pesquisar um pouco a respeito do fone em questão, mas evito ler avaliações para que elas não influenciem minha percepção. Aqui, não foi diferente. No entanto, após redigí-la, fui ler o que diziam sobre o Fidue A83 e me surpreendi: é raro ler críticas a respeito desse fone. O que mais li foram opiniões que o consideram um exemplo de naturalidade.

IMG_7465Veja, não é que eu não o considere um bom fone, é só que, para os meus ouvidos, o intenso foco numa região dos médios faz com que eu não o veja como um fone particularmente equilibrado – e, aliando essa característica aos problemas de encaixe, o resultado são audições não tão relaxadas.

Mas talvez aqui estejamos esbarrando na máxima “todos ouvimos diferente”. O A83 é um fone muito bem construído e que apresenta uma sonoridade interessante nos momentos certos mas que, para mim, de modo geral me parece focada demais numa região dos médios, o que o confere uma sonoridade que simplesmente não consigo considerar natural. Mas, pelo que pude ver em outras avaliações, minha opinião não é muito popular, e o número de avaliadores que pensam justamente o oposto não é pequeno.

Por isso, se para os meus ouvidos ele não pareceu exatamente agradável, me parece que as chances de ele o ser para os seus não são pequenas.

 

Fidue A83 – US$279,00

  • Solução híbrida: um falante dinâmico para graves e duas BAs para médios e agudos.
  • Impedância (1kHz): 11 ohms
  • Sensibilidade (1kHz): 104 dB/1mW
  • Resposta de Frequências: 9Hz – 31kHz

 

Equipamentos Associados:

Portátil: FiiO X5, iPod Classic, iPod Nano 3G, Sony Xperia Z2, HeadAmp Pico Slim, Headstage Arrow, Meier Audio Corda 2MOVE, ALO Audio The National, FiiO E12A

Mesa: Mac Pro, Yulong D100, HeadAmp GS-X

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