ESCLARECIMENTOS
A grande maioria dos fones que são cedidos a mim para avaliação são empréstimos temporários, fornecidos por marcas, lojas, importadores ou amigos. Não ganho qualquer compensação por isso e o compromisso é sempre ser o mais sincero possível. Por isso, acho importante frisar que esse caso é diferente: o fone foi cedido pela loja Camelot (revendedora oficial da marca no Brasil) como um presente, e por isso, se tornará um fone permanente em minha coleção para futuras referências.
Agradeço imensamente à Camelot pelo reconhecimento demonstrado por meio desse gesto.
INTRODUÇÃO
Não é mistério que a Sennheiser está entre os nomes mais famosos para os entusiastas de fones de ouvido, e há bons motivos para isso. Em minha opinião, trata-se de uma das marcas mais consistentes por oferecer uma vasta gama de produtos, de diferentes tipos e faixas de preço, cuja enorme maioria é muito competente.
Há excelentes fones budget, como o CX 300-II e o PX100, o clássico para profissionais HD 25, fones para transmissões televisivas, fones para aviação, os excelentes fones sem fio da linha RS, os clássicos audiófilos HD600 e HD650, o belíssimo headset PC360, o fone tecnicamente mais avançado já feito, o HD800 e, por último, aquele que é considerado por muitos o melhor fone de ouvido já fabricado: o HE90 Orpheus.
Conheço bem a grande maioria dos fones mais renomados da marca, mas há um enorme número de produtos menos conhecidos que ajudam a compor o que é, sem dúvida, uma das linhas mais completas do mercado. Tenho aqui um deles: o HD449.
Os HD4XX formam a linha de fones que fazem o cruzamento entre os portáteis da marca e aqueles voltados para audições caseiras mais comprometidas. Ou seja: são fechados e têm o cabo mais curto, favorecendo o uso portátil, mas são relativamente grandes, o que traz conforto e indica que se sentem igualmente bem em casa. O HD449 é o mais sofisticado deles, custando US$119 na tabela no exterior e R$559 no Brasil.
ASPECTOS FÍSICOS
O HD449, apesar de não ser um circunaural dos maiores, é muito confortável. É extremamente leve, e os copos possuem tamanho suficiente para cobrir totalmente minhas orelhas. Em tamanho, lembra bastante o Ultrasone Edition 8.
Não há muita pressão lateral ou superior e o encaixe é muito bom. Ao contrário do que ocorria com o Ultrasone, consigo um selamento eficiente, resultando em um desempenho correto nos graves, e um isolamento satisfatório de sons externos.
O cabo é simples, mas fino e não traz problemas de conveniência – apesar de, infelizmente, não ser removível. São inclusos no pacote um adaptador P2 para P10, um cabo extenso e um conveniente saco de nylon que, se não protege o fone contra quedas e impactos, torna o transporte mais conveniente.
Definitivamente não tenho do que reclamar em termos de ergonomia conforto – além do fato de ser fácil encontrar um bom ajuste, esse é um fone que pode passar horas em minha cabeça sem qualquer desconforto e, acreditem, conto nos dedos aqueles dos quais posso dizer isso. Sou chato com conforto e sempre sinto algum incômodo. Aqui, nada. Zero.
Em compensação, em termos de acabamento e construção, a situação fica um pouco mais complicada. O fone é todo construído em plástico e não inspira muita confiança – é um plástico de qualidade muito inferior àquele empregado no Audio-Technica M50 por exemplo ou, ou nos Shure na mesma faixa de preço. O pequeno friso metalizado na parte externa dos copos (que aliás possuem a grade só de enfeite, já que o fone é fechado) é na realidade, também de plástico. E o revestimentos das partes macias é daquele tradicional plástico que descasca com alguma facilidade. Sei que esse não é um fone dos mais caros, mas esperava mais.
O SOM
Mas o que realmente importa é o som e, nesse aspecto, trago boas notícias.
A primeira impressão que tenho é a de que definitivamente estamos falando de um Sennheiser. Ouço o bom e velho som da casa – natural, quente, relaxado, calmo e suave. Como os leitores frequentes sabem, tenho um pequeno grupo de fones com sonoridades distintas para momentos diferentes, e hoje em dia, essa sonoridade é a que escolho mais frequentemente, com o HD650 e o Roxanne. Por isso, o que sinto com o HD449 é conforto e familiaridade.
Os graves mostram que esse fone já começa a mirar em territórios dos aspirantes à audiofilia. Ao contrário de muitos outros nessa faixa de preço que desejam conquistar os iniciantes com uma resposta de graves extremamente elevada, o HD449 é muito balanceado. Não faltam graves, mas definitivamente não sobram. É uma resposta limpa e que parece estar em linha com a do HD650 em termos de quantidade. O Audio-Technica parece ter mais sub-graves, enquanto o Amperior tem uma quantidade realmente maior de toda essa faixa de frequência.
Isso significa que aqueles que costumam ouvir gêneros que pedem uma puxada mais forte nessa região, como rap, hip-hop ou música eletrônica, talvez possam preferir outras ofertas nessa faixa de preço. Para o uso portátil, também acho que pode faltar um pouco de presença para compensar sons externos. Mas os que querem uma resposta limpa para ouvir gêneros diversos podem ficar tranquilos – nesse quesito esse Sennheiser é, em última instância, muito natural.
Em termos de extensão ele não é incrível, mas é perfeitamente adequado. As oitavas mais baixas de algumas faixas do Burial já começam a perder fôlego, mas ainda são presentes e audíveis. Quanto à qualidade dos graves, também não tenho do que reclamar. Não é um exemplo absoluto de transparência e texturização, particularmente devido a algumas notas nos médio-graves que não apresentam tanto controle (algo percebido no baixo acústico da Take Three, do Club des Belugas), mas nada que não seja esperado e aceitável nessa faixa de preço.
Nos médios, a palavra naturalidade é a que continua prevalecendo. A personalidade é definitivamente a da casa, priorizando uma apresentação mais escura e relaxada que fornece musicalidade ao invés de tentar partir para algo mais energético ou aberto. O M50 e o Amperior são exemplos de fones cuja sonoridade é bem mais viva e empolgante, através de uma resposta de frequência levemente em V, o que pode ser bem-vindo em alguns casos e não tanto em outros. Acho, porém, que o HD449 está perfeitamente alinhado à sua proposta.
Gosto muito do que ouço com ele aqui, da mesma forma que adoro o HD650. Surpreendentemente, não ouço as típicas colorações de fones fechados com intensidade. Vozes são muito prazerosas e guitarras têm todo o ataque necessário quando isso é o que se quer. Com a Numb do guitarrista Gary Clark Jr., definitivamente não sinto falta da mordida de sua guitarra fantasticamente distorcida. Inclusive, em algumas faixas de rock, o HD449, com sua resposta mais neutra levemente puxada para os médios, parece assumir um pouco da personalidade da Grado.
Como se trata de um fone fechado, não é justo esperar uma especialidade das maiores, mesmo considerando que é um circunaural. De fato, ela não é sua característica mais notável. Não é tão restrito quanto o M50, mas em compensação não é comparável ao HD650.
Já os agudos são relativamente recuados, mas não de forma a tornar a sonoridade excessivamente escura. O HD449 é definitivamente um fone menos aberto e mais musical, e os agudos me parecem condizentes com essa personalidade. São relativamente presentes e têm um bom timbre, mas em alguns casos confesso que gostaria de um pouco mais de definição e brilho. É algo que poderia afetar levemente a naturalidade e a compostura da sonoridade geral do fone, mas em minha opinião seria um adicional bem vindo. O HD650, por exemplo, acrescenta uma pitada a mais de agudos que torna a apresentação muito mais transparente. Mas, lembremos: estamos falando de um fone de pouco mais de 100 dólares, e escolhas têm de ser feitas. O M50 também possui mais atividade nessa região, mas em compensação soa mais energético em parte por causa disso.
Por último, um detalhe que merece atenção: a Sennheiser ainda classifica o HD449 como portátil, mas ele não é dos mais fáceis de serem empurrados: no iPod Classic preciso colocar o volume próximo ao máximo. Tanto o M50 quanto o Amperior são mais fáceis de serem empurrados para chegar a um volume que considero bom.
CONCLUSÕES
Sendo direto: adorei o Sennheiser HD449. Como disse, hoje em minhas audições o que priorizo é o prazer e a musicalidade. Por isso, o HD650 minha escolha mais frequente (não esqueci o W3000ANV, mas é que seu uso é um evento que exige cuidado). O que o HD449 oferece me parece ser, justamente, a sonoridade do HD650 ou do HD600 em miniatura.
Ele não é a melhor escolha para aqueles que desejam dissecar a música em seus mínimos detalhes num amplo espaço, para os que querem pura diversão ou ainda para quem busca um acessório estiloso e luxuoso para colocar no pescoço. É para os que buscam simplesmente ouvir música de maneira natural e relaxada.
Assim como os irmãos maiores, é um daqueles fones que envolve e os defeitos desaparecem. O colocamos e o esquecemos – tanto pela musicalidade quanto pelo conforto físico. Ele vai e a música fica. Para os que buscam essas características, o HD449 ganha minha maior recomendação.
Sennheiser HD449 – R$ 559,00 / US$ 119,00
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 32 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 114 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 16Hz – 24kHz
Equipamentos Associados:
Portátil: iPod Classic, Sony Xperia Z2
Mesa: Mac Pro, Abrahamsen V6.0, HeadAmp GS-X, S.M.S.L. SAD-25
Onde Encontrar