INTRODUÇÃO
Recentemente pude avaliar alguns fones sem fio: Sennheiser RS120 e Parrots Zik e Zik 2.0. Ao contrário do que esperava, gostei de todos eles, e acho que o fato de o fone ser sem fio pode sim valer a pena. Por mais que eu goste de qualidade de som, a conveniência trazida pela ausência de fios é muito interessante.
E se conveniência for a prioridade número um, há opções ainda mais extremas: os intra-auriculares sem fio. Quer dizer: não são totalmente sem fio porque um lado é ligado ao outro, mas não há conexão física com o smartphone ou mp3 player e basta colocar o fio para trás da cabeça que rapidamente esquecemos que estamos com algo nos ouvidos.
Tenho, para avaliação, dois fones desse tipo: o Jarv NMotion, de 100 dólares, e o Jaybird BlueBuds X, de quase 170. Ambos são intra-auriculares sem fio e as duas fabricantes são focadas em acessórios para o uso com smartphones em esportes. A Jaybird, inclusive, oferece garantia vitalícia contra suor em seus fones de ouvido.
ASPECTOS FÍSICOS
Aqueles que leram minha avaliação dos Parrots talvez se lembrem que expliquei os motivos pelos quais fones Bluetooth geralmente não são uma boa ideia – afinal, onde idealmente só deveria haver um alto-falante é necessário embutir um receptor Bluetooth, um DAC, um amplificador e uma bateria: muita coisa para pouco espaço. E isso quando estava falando de um headphone como os Zik – num intra-auricular a ideia de ter algo sem fio é ainda mais absurda.
Por isso, apesar de os dois IEMs testados aqui estarem longe de serem os menores que já vi, acho chocante que seja possível que algo desse tamanho seja livre de fios.
O Jaybird parece colocar sua eletrônica no fones em si, que são um pouco longos e ficam um pouco mais para fora dos ouvidos do que eu gostaria (correndo é possível ouvir barulho de vento), enquanto no Jarv ela parece estar dividida entre os fones, que são bem altos, e o controle do cabo, que é consideravelmente maior que no Jaybird. Neste o conector micro-USB para carregamento fica debaixo de um pequeno flap no fone direito, enquanto naquele o cabo USB é conectado ao controle do cabo. Em ambos é possível aumentar ou diminuir o volume, avançar ou retroceder a faixa, dar play e pause e ainda atender ou recusar chamadas.
Em termos de conforto gostei dos dois, que não trouxeram dificuldades em termos de encaixe e fornecem um bom isolamento. Minhas maiores reclamações ficam por conta da altura do NMotion, que acaba fazendo pressão na parte de baixo de minhas orelhas, e da pecinha de borracha do BlueBuds X feita para assegurar um bom encaixe nos ouvidos, que acaba incomodando depois de um tempo. Esteticamente os dois são mais chamativos do que eu gostaria, mas acho que estão em sintonia com o público alvo.
Um detalhe que gosto no NMotion, porém, é o fato de ele contar com dois tipos diferentes de travas para os ouvidos: duas semelhantes às do Jaybird e a outra um earloop, que me agrada bastante. As duas podem ser usadas em conjunto. Com relação ao Jaybird, gosto de duas peças de plástico inclusas feitas para que o cabo tenha um tamanho ajustável. Elas não são incrivelmente intuitivas, mas o manual dá conta de explicar como elas funcionam. No final das contas, esse fone acaba sendo mais conveniente e discreto.
O BlueBuds X acompanha um cabo USB – microUSB para carregamento, três pares de ponteiras de borracha, três pares da trava de borracha para os ouvidos, as duas pequenas pecinhas que servem para encurtar o cabo se necessário e, por fim, uma caixinha rígida para transporte. Ela não é a mais discreta e nem a mais bem construída que já vi, mas cumpre seu papel relativamente bem. O fechamento é feito por um ímã e não parece dos mais seguros, mas a deixei na mochila algumas vezes e em nenhum momento ela abriu.
Já o NMotion não conta com uma apresentação particularmente excitante – sua caixinha é minúscula, ao contrário da do BlueBuds X, que é grande e funciona como um display para o fone –, mas os acessórios são semelhantes: três pares de ponteiras, três pares de travas para os ouvidos, um cabo USB – microUSB e uma bolsa para transporte, que é apenas um saquinho de tecido e não oferece muita proteção ao fone.
O SOM
Jaybird BlueBuds X
A primeira coisa que pensei ouvindo o BlueBuds X foi sobre o quanto o mundo dos intra-auriculares avançou desde que entrei no hobby. Como já cheguei a comentar algumas vezes, naquela época todos os universais que eu ouvia apresentavam problemas que eu considerava bastante significativos. O Shure SE530 era excessivamente focado nos médios, o Sennheiser IE8 tinha graves demais, o Westone UM3X me parecia muito nebuloso, o Sony EX1000 tinha agudos demais, e o JVC FX700 tinha uma sonoridade em V terrível.
E aqui estou eu, ouvindo um IEM Bluetooth de 160 dólares e tendo dificuldades de chamá-lo de qualquer coisa abaixo de excelente. Estou seriamente impressionado com ele, e gostando muito do que estou ouvindo. Sua sonoridade é energética na medida certa, mantendo níveis mais do que aceitáveis de naturalidade e equilíbrio.
Veja, não estou falando de um fone perfeito. Ele ainda apresenta defeitos, e certamente não chega ao nível de fones muito mais sofisticados, mas sua apresentação é muito natural e divertida em termos de equilíbrio tonal – que é justamente o que mais valorizo.
Os graves têm bastante peso e ótima extensão, indo além do que eu chamaria de neutro, mas como tenho visto em vários fones recentemente, não é algo que interfere nas outras regiões do espectro. Eles são muito bem apresentados, com uma personalidade cheia e autoritária, e com boa texturização e detalhamento – características que não estão no nível do Fidue A83 ou, principalmente, do JH Audio Roxanne, mas estão bem à frente do HiFiMAN RE-400.
O resultado é ótimo com qualquer gênero musical. Em nenhum momento senti falta ou excesso de graves – indo desde música clássica até eletrônica e rock. Sempre gostei da forma como o BlueBuds X me mostrou os graves. Eles não são neutros, mas estão com gosto na faixa que me traz o que considero um incremento muito bem acertado para que o resultado seja musical porém não exageradamente pesado.
Minha única reclamação se deve a algo estranho que ouvi em algumas raras ocasiões: na Dreaming of the Crash, por exemplo, da trilha sonora de Interestelar, a grande oscilação dos diafragmas é perfeitamente audível, e essa oscilação parece afetar as outras frequências. O órgão acaba ficando intermitente, como se a vibração dos falantes por causa dos graves literalmente interferisse no resto do espectro. É um efeito estranho, que nunca vi antes e que só aparece em raríssimos casos nesse fone, mas de qualquer forma não é algo bom.
Já os médios me parecem ligeiramente recuados em relação aos graves e agudos, mas não é um recuo agressivo – essa região ainda mostra muita competência. Ela apresenta uma personalidade um pouco mais energética, não sendo tão orgânica e suave quanto a do JH Audio Roxanne ou a do HiFiMAN RE-400. O melhor adjetivo que a descreve talvez seja viva, e mais uma vez gosto muito do que ouço independente do gênero musical. Há a quantidade certa de presença e brilho em vozes e guitarras, por exemplo.
Comparando com o Fidue A83, vejo que o BlueBuds X é tonalmente mais aberto mas menos transparente e refinado e não há uma espacialidade tão desenvolvida. Porém, acho que em termos de equilíbrio tonal eles estão próximos – apesar das personalidades diferentes –, e em muitos casos acabo preferindo o IEM Bluetooth, mesmo comparado a um in-ear híbrido de 300 dólares.
Nos agudos é que alguns problemas maiores aparecem. Eu, pessoalmente, gosto muito da forma como o Jaybird apresenta as altas frequências – com ótima presença e extensão –, mas acho que alguns podem considerá-la um pouquinho mais alegre do que o necessário. É aqui, inclusive, que acredito encontrar as maiores dificuldades de todos os fones sem fio que já escutei. Aos meus ouvidos, os agudos nesses fones não são tão refinados e definidos – me parece que os pratos acabam se embolando um pouco. No entanto, não é nada particularmente evidente ou que prejudique significativamente o excelente desempenho do BlueBuds X.
Essa faixa de frequência é justamente um dos aspectos que mais gosto dele, apesar da (relativa) falta de definição, porque é ela que parece ser responsável por grande parte da personalidade mais energética do Jaybird.
Jarv NMotion
O NMotion custa menos da metade do preço do BlueBuds X, e por isso essa não é bem uma comparação justa nem na teoria e nem na prática. De fato, não há como não notar a superioridade do fone mais caro aqui. A questão crítica, no entanto, é que o Jaybird é competente independente de ser sem fio, então também não acho exatamente justo comparar o Jarv apenas a fones desse tipo. E, quando comparado a outros fones com fio igualmente baratos ele continua não se saindo muito bem.
Todo o equilíbrio que o Jaybird apresenta, o NMotion tenta jogar pela janela. Bom, talvez eu esteja exagerando, mas a questão é que o Jarv apresenta uma quantidade de graves que considero desproporcional. É um clássico bass monster, e apesar de não gostar dessa característica – as baixas frequências se sobrepõem às outras com gosto –, sei que algumas pessoas buscam justamente isso em suas músicas.
Em alguns casos com música eletrônica ou rock, o Jarv acaba sendo interessante porque é sim divertido, com graves com muito peso e se não são um exemplo de detalhamento, a texturização é boa. Mas basta ouvir o Radio Music Society da Esperanza Spalding para ver o contrabaixo ter muito mais presença do que o que seria considerado equilibrado. O resto da música parece se perder.
E o problema não fica só nos graves: os médio-agudos também possuem um pico que me incomodam. Ele não aparece em todas as músicas, mas quando se faz presente, o resultado é um pouco desagradável. Há bastante sibilância, e bem alta. A frase “And who decides / When it’s time for us to close our eyes and say goodnight” de Nick Urb em My Sweet Mind chega a doer os ouvidos. Além disso, não parece haver tanta extensão ou brilho em outras regiões dos agudos.
É uma pena, porque os médios são competentes. Eles soam relativamente naturais e lineares, só que são fortemente prejudicados pelos graves e pelo grande pico nos médio-agudos que chamam tanta atenção.
Consequentemente, não consigo gostar do NMotion, devido às fortes colorações em seu equilíbrio tonal. Em alguns casos o resultado funciona e é divertido – particularmente algumas músicas eletrônicas –, mas no geral trata-se de um fone fortemente desequilibrado ao ponto de, devido ao enorme pico nos médio-agudos e à sibilância, chega a incomodar.
CONCLUSÕES
O Jaybird BlueBuds X me surpreendeu muito positivamente. Afinal, é um prático IEM Bluetooth cuja assinatura sonora foi além do que eu esperava de um fone desse tipo. Sua personalidade é extremamente viva e energética, mas sem perder o equilíbrio. Ele pode não apresentar o nível de refinamento, transparência e espacialidade de intra-auriculares mais sofisticados, mas seu equilíbrio tonal é fantástico e, em minha opinião, desbanca vários dos universais mais antigos que já ouvi – Shure SE530, Sennheiser IE8, Westone UM3X e Sony EX1000.
Já o Jarv NMotion infelizmente não se saiu tão bem, mesmo considerando seu preço muito inferior, e peca por uma resposta exagerada nos graves e médio-graves, que acabam assumindo a linha de frente na apresentação e obscurecendo outras regiões do espectro – exceto o fortíssimo pico nos agudos que causa muita sibilância e incomoda bastante.
No entanto, acredito que essa personalidade pode agradar a várias pessoas. Afinal, não podemos nos esquecer que o primeiro Beats Studio fez tanto sucesso justamente por isso. Portanto, para atletas que queiram algo excitante para motivá-los numa corrida, por exemplo, podem preferir a dose extra de diversão que o NMotion proporciona em relação ao BlueBuds X.
Mas, para os que querem uma sonoridade equilibrada e divertida, recomendo fortemente o Jaybird BlueBuds X não só como um intra-auricular Bluetooth, mas simplesmente como um fone de ouvido que, por acaso, não tem fios.
Jaybird BlueBuds X – R$899,00/US$129,00
- Driver dinâmico único
- Resposta de Frequências: 20Hz – 20kHz
- Conectividade: BT 2.1+EDR, Handsfree 1.6, Headset 1.1, A2DP 1.2, AVCRP 1.4
- Duração da bateria: 8 horas
Jarv NMotion Sport – R$289,00/US$39,00
- Driver dinâmico único
- Resposta de Frequências: não divulgada
- Conectividade: BT 4.0 A2DP
- Duração da bateria: 5 horas
Equipamentos Associados:
Sony Xperia Z2