INTRODUÇÃO
Como já mencionei em algumas avaliações, o mercado de áudio portátil cresceu muito nos últimos anos. A busca pelo alto desempenho com soluções transportáveis está em alta, e para isso existem inúmeras soluções. Além dos hoje comuns DAPs high-end, como os da HiFiMAN, da Astell&Kern e iBasso por exemplo, é possível montar sistemas modulares, assim como os de mesa. Ou seja: transporte, fonte e amplificação separados.
Acredito que, aqui, não existem respostas certas. Não há como prever o que será do agrado do usuário: algum DAP high-end, um sistema modular, e cada componente desse sistema. Tudo depende do fone que será usado, do gosto do usuário, do que ele busca, do quanto está disposto a pagar…
Um dos componentes cruciais dos sistemas modulares é o amplificador. Nesse texto, farei um comparativo entre cinco amplificadores portáteis: ALO Audio The National, Meier Audio Corda 2Move, FiiO Mont Blanc E12A, HeadAmp Pico Slim e Headstage Arrow 4G.
FONTES E METODOLOGIA
Nesse comparativo, usarei duas fontes. A primeira delas é um tocador portátil, que é o tipo de aparelho mais frequentemente pareado a amplificadores como os testados. E o que tenho usado atualmente é o FiiO X5.
Como fonte, através do Line Out, ele se mostrou excelente, significativamente melhor que o iPod Classic. É mais refinado, transparente e traz uma apresentação espacial mais competente. É semelhante ao Yulong D100 e ao meu antigo Abrahamsen V6.0, o que significa que ele traz uma personalidade natural, orgânica e levemente quente.
Também usarei o Yulong D100, meu conversor atual. Com ele, inclusive, consegui montar um esquema para testes muito interessante: coloquei um splitter em sua saída RCA para que eu possa alimentar dois amplificadores ao mesmo tempo. Como tenho dois cabos iguais tanto para o JH Audio Roxanne quanto para os Sennheisers HD600 e HD650, com esses fones vou poder ouvir um amplificador em cada ouvido. Isso é algo que gosto de fazer, porque me mostra de maneira mais imediata, clara e evidente as diferenças entre cada amplificador, ao menos em termos de tonalidade.
Evidentemente, porém, a maior parte do comparativo será feito da maneira tradicional, ou seja, ouvindo um amplificador após o outro. Com o splitter RCA isso também fica mais fácil.
HEADAMP PICO SLIM
– Aspectos Físicos e Funcionalidades
Como o HeadAmp é meu e o que conheço melhor, vou começar por ele. O Slim é um dos quatro aparelhos portáteis da linha pico produzidos pela conceituadíssima marca americana de amplificadores. Há o pico Portable Amp (um amplificador), o pico USB DAC/Amp (DAC e amplificador), o pico Power Portable Amp (amplificador projetado para fones mais exigentes), o pico Upsampling USB DAC (apenas um DAC) e por último o Slim Portable Amp, aqui avaliado, um amplificador desenhado especificamente para IEMs ou fones de baixa impedância que não exigem muita potência. Ele custa 400 dólares e pode ser encomendado em diversas cores à própria HeadAmp.
Fisicamente, ele parece uma pequena jóia. Fotos não o fazem justiça: ele é minúsculo e incrivelmente bem acabado, seguindo o padrão extraordinário do Justin. O corpo de alumínio é extensivamente polido e parece um espelho, e todas as inscrições são gravadas a laser, então não irão falhar – ao contrário do que já aconteceu com o ALO The National. Certa vez li que o fornecedor dos gabinetes da HeadAmp disse que o Justin era de longe seu cliente mais exigente, e com o Pico Slim em mãos isso não me surpreende.
Em termos de funcionalidades, o Pico é simples e efetivo: uma entrada, uma saída, um micro USB para carregamento, botão de ligar e desligar e o botão de volume. Um ponto negativo, porém, fica por conta do controle de volume digital de 255 passos, que só parece atuar a partir da metade – antes disso é quase silencioso, o que reduz a faixa que pode ser usada. Gostaria de poder usar todo o seu alcance para tornar o ajuste fino mais preciso. Uma outra reclamação pode parecer estranha, mas o considero pequeno demais, e por vezes não é tão fácil acoplá-lo a um player portátil porque o posicionamento dos elásticos de borracha pode não ser fácil.
A duração da bateria é a maior desse grupo, chegando a assustadoras 60 horas. Desde que o comprei, no final de Janeiro, ele só foi carregado uma vez, e só por segurança, porque a bateria ainda não havia acabado.
Em termos de acessórios, não há muito: apenas um carregador e uma conveniente capinha de couro legítimo com o logotipo da marca e do modelo – muito útil para manter a boa aparência desse amplificador. Ele merece.
– O Som
O pico Slim não é para todos. Além de ser caro e pouco potente, sua assinatura sonora parece seguir uma vertente não tão comum em amplificadores portáteis. Seu objetivo não é trazer mais autoridade, peso ou calor: é ser transparente e refinado.
A sensação que tenho com ele na cadeia é muito parecida com aquela que tenho usando o GS-X da mesma fabricante, ou seja, wire-with-gain. E isso é exatamente o que eu buscava para parear com meu JH Audio Roxanne. Como disse em sua avaliação, esse intra-auricular é espetacularmente orgânico, mas sua sonoridade grande e maçuda acaba fazendo com que, em algumas situações, eu sinta falta de algo mais para o centro entre o quente e o analítico. O que o Slim parece fazer é justamente isso. É como se ele limpasse o resultado e deixasse apenas aquilo que é necessário – ele não quer seduzir, quer revelar, e então, ao invés de adicionar, retira. Essa é a sensação.
Uma das minhas reclamações com relação ao Roxanne é que sua sonoridade é muito grande e maçuda, o que em diversas situações é algo bom mas em outras nem tanto. Meu antigo JH13 Pro, por exemplo, é um fone que podia soar magro e pequeno ou grande e autoritário, dependendo da música. Já com o Roxanne, parece haver uma única sonoridade.
O que o Slim faz é trazê-lo mais perto de um meio termo, mantendo sua organicidade e naturalidade. Usando o X5 como fonte, comparando-o ao iPod Classic, o que ganho é definição nos graves mas, principalmente, transparência nos médios, que me parecem mais secos e rápidos, e maior extensão nos agudos, que também têm mais presença e são mais articulados e definidos. Gosto muito das altas frequências do Roxanne, e o pico Slim parece potencializar o que elas têm de bom. Os harmônicos mais agudos das vozes e as pequenas sutilezas das consoantes, como o tocar dos lábios, merecem destaque pelo misto de definição e de delicadeza.
Vejo que encontrei, no amplificador da HeadAmp, uma sinergia fantástica com o IEM que uso. Mas não é isso que sempre acontece. Estou com um Fidue A83 em avaliação, e esse fone apresenta agudos mais presentes, com um pico ligeiramente acentuado em algum lugar. Com ele, o Slim não é uma opção tão apropriada. Ele acaba destacando a coloração nos médios que ouço nesse fone, e sua presença mais firme dos agudos também não é tão bem vinda. A personalidade mais melódica do Arrow, por exemplo, com agudos um pouco mais doces e convidativos, e o mesmo ocorre com o The National. Neste último, em particular, o incremento dos médio-graves parece deixar a apresentação mais redonda, e tanto os médios quanto os agudos são ainda mais eufônicos e melodiosos. O mesmo ocorre com o Audio-Technica W3000ANV – o slim me parece mais revelador e transparente do que eu gostaria com esses fones, que se beneficiam da personalidade mais musical tanto do The National quanto do Arrow.
Em termos de potência, o Slim também fica atrás de todos os outros amplificadores testados aqui. Isso não é uma surpresa, visto que se trata de um amplificador desenhado especificamente para intra-auriculares, mas é uma característica que deve ser destacada. Com o Sennheiser HD600 ainda consigo um desempenho muito respeitável, com bastante transparência e pegada, mas para isso preciso chegar próximo ao limite de volume do amplificador. Todos os outros têm mais folga para empurrar esse fone – até mesmo o FiiO E12A, que em teoria também possui os intra-auriculares como prioridade.
Já com o HD800, vejo que passo um pouco do limite do que ele é capaz de oferecer. Os graves até têm boa presença, mas os agudos ficam estridentes demais e têm um pouco de distorção – sinais claros de que o fone está sub-amplificado.
ALO AUDIO THE NATIONAL
– Aspectos Físicos e Funcionalidades
A ALO Audio é uma fabricante relativamente nova, mas que tem atraído muita atenção no mundo dos fones de ouvido por ter trazido uma linha interessante de amplificadores portáteis – até mesmo um valvulado (apesar de eu considerar essa ideia bem estúpida) – e, mais recentemente, o Studio Six, um valvulado monstruoso de quase 4 mil dólares. O The National, que tenho aqui, era o mais simples da linha e foi recentemente substituído pelo The National +. Ele custava 300 dólares.
Em termos de funcionalidades, ele é dos mais simples desse comparativo, assim como o HeadAmp. Na parte de trás há apenas a entrada para o carregador 12V (seria bom ver o mais universal mini ou micro USB) e, na frente, além do botão de volume e do de ligar e desligar – com um atraente LED laranja – apenas um seletor de ganho com duas opções e uma entrada e uma saída, ambos com um P2 fêmea.
O The National é o mais volumoso e pesado de todos os amplificadores testados. O Corda 2Move é um pouquinho mais gordo e o E12A mais longo, mas no geral ele é o que mais ocupa espaço. Tendo em mãos os outros amplificadores aqui testados, com capacidades comparáveis vale dizer, faz com que eu me pergunte se isso é necessário. Ele pode ser portátil, mas definitivamente não é um amplificador muito conveniente. Junto com qualquer DAP, ele forma um volume maior do que o que estou disposto a carregar por aí. Sua bateria dura aproximadamente 15 horas, ou seja, não é ruim mas também não é das melhores.
Em termos de acabamento, existem pontos positivos e negativos. Ele é bastante sólido e robusto, sendo inteiramente construído em metal – exceto pelo botão de volume – e os encaixes são muito precisos, mas as inscrições são apenas pintadas e, pelo que vejo nessa unidade, não são difíceis de se desgastarem. O Headstage e o HeadAmp são bem mais bem resolvidos nesse aspecto porque as inscrições são gravadas a laser, então não há esse risco. O próprio Corda 2Move, que tem muito mais idade e está bem mais surrado em termos gerais, tem suas inscrições intactas.
– O Som
Escolhi o ALO para vir em seguida do HeadAmp porque esses dois são, para os meus ouvidos, os que apresentam as maiores diferenças entre os amplificadores testados. Enquanto o objetivo do Slim é claramente ser o mais transparente e fiel possível, o do The National parece ser trazer uma apresentação menos neutra, porém mais musical.
Em primeiro lugar, há uma presença maior de médio-graves, o que no Roxanne não é bem o que procuro, já que a apresentação parece se tornar um pouco mais embaralhada e menos definida. Porém, com outros fones o resultado pode ser mais agradável – por exemplo, como já dito, com o Fidue A83 ou com o Audio-Technica W3000ANV. No entanto, é relativamente perceptível que há um peso a mais numa região específica das baixas frequências, e por consequência a impressão que se tem é que há mais impacto mas não há tanta extensão – afinal, os sub-graves não tem a mesma força que os médio-graves. É uma resposta menos linear.
Outra diferença significativa em relação não só ao pico mas também aos outros amplificadores desse teste é a maior espacialidade que o The National apresenta. O pico, em especial, não é um amplificador particularmente espacial, e por isso ao compará-lo diretamente ao ALO fica claro que este último traz uma dose extra de ambiência. Vozes parecem ter um lugar um pouco mais à frente do resto dos instrumentos – não é uma diferença gritante, mas é bem audível. O espaço apresentado é mais amplo, apesar de em termos de transparência e micro-detalhamento o Slim ainda ser superior.
O Arrow está mais próximo do The National, sendo também mais eufônico, com agudos em especial mais doces que o Slim. O FiiO e o 2Move, no entanto, parecem seguir uma linha mais próxima da do Slim.
Em termos de potência, o The National é, junto com o Arrow, o mais capaz. Ele é um amplificador muito forte, que consegue lidar com facilidade com todos os fones que tenho. O único que faz o The National pedir clemência é o HiFiMAN HE-6 que tenho aqui para avaliação – mas isso não é surpresa, visto que o fone é conhecido por ser um desafio mesmo para a vasta maioria dos amplificadores de mesa do mercado. Sennheisers HD800, HD600 e Grado HP1000 não são uma dificuldade para o ALO, e ele consegue empurrar o JH Audio Roxanne e o Fidue A83 igualmente bem – apesar de, com esses dois, apresentar um suave ruído de fundo, coisa que nenhum dos outros tem.
FiiO Mont Blanc E12A
– Aspectos Físicos e Funcionalidades
Apesar de ser o amplificador mais sofisticado produzido pela FiiO atualmente, o E12A Mont Blanc é o mais barato entre todos os amplificadores testados – e olhando para ele fica difícil entender por quê. Ele é comprido e largo, mas é relativamente baixo e, em minha opinião, muito atraente. O corpo me parece ser inteiramente de metal escovado, e o resultado é bastante elegante e ainda relativamente conveniente. É o tipo de equipamento que, ao menos fisicamente, deixa bem claro os motivos pelos quais a FiiO é vista como uma marca campeã na relação custo-benefício.
No painel frontal encontramos o botão de volume (que também serve para ligar e desligar o aparelho), um seletor de ganho com duas opções e uma entrada e uma saída P2. Inclusive, o botão de volume era uma das minhas reclamações no E12 original, porque era duro demais – no E12A isso parece ter sido corrigido. Do lado esquerdo encontramos uma entrada micro-USB para carregamento e um botão de Bass Boost. Na parte superior há dois discretos LEDs para indicar que ele está ligado e que a bateria está baixa.
Por falar em bateria, a duração da do E12A é de aproximadamente 20 horas, o que não é fantástico mas está longe de ruim. Fisicamente e em termos de funcionalidades, coloco o E12A próximo ao topo dessa lista.
– O Som
O FiiO E12A é o mais barato entre os amplificadores desse teste, mas isso não significa que devamos esperar diferenças gritantes entre eles. Na realidade, tudo o que estou descrevendo aqui, dentro do panorama completo, são sutilezas.
E é nessas sutilezas que o E12A apresenta pontos positivos e negativos. Em termos de tonalidade, ele é o que está mais próximo do HeadAmp pico Slim. Mas acho que ao invés de eu classificá-lo como um equipamento preocupado com transparência e clareza, diria que seu objetivo é energia. A questão é que, ao mesmo tempo em que os agudos são presentes, como no pico Slim, há um pouco menos de finesse nessa região, por assim dizer. Eles são um pouco menos articulados e mais agressivos de certa forma.
Nos médios é uma situação parecida; apesar de ele ser um amplificador evidentemente transparente, isso parece ser feito de uma forma um pouco mais “rude”. O Slim faz isso de forma mais elegante. O Arrow parece estar num nível semelhante em termos de detalhamento, mas é mais arredondado e refinado.
Veja, no entanto, que estou falando de diferenças muito pequenas, e essas características, apesar de soarem um pouco negativas, são risíveis e nem de perto se aproximam do que a diferença de preço entre esses amplificadores pode indicar. O E12A ainda é um equipamento muito competente. É preciso muita atenção para notar as diferenças entre o FiiO e o Slim, que tonalmente é o amplificador que mais se aproxima dele. Se eu fosse resumir o E12A em poucas palavras, diria que é uma versão ligeiramente menos refinada do pico Slim, e ele provavelmente seria minha escolha para o JH Audio Roxanne caso eu quisesse algo mais barato que o HeadAmp.
O botão de Bass Boost funciona bem, e traz um incremento significativo nos médio-graves. É nessa região que ele parece atuar, ao invés de nos sub-graves, ou seja, há mais impacto e as baixas frequências são mais redondas, mas não há um ganho expressivo em autoridade. De toda forma, é uma funcionalidade interessante e que traz bons resultados com fones que pedem um pouco mais de força nessa região.
Em termos de potência, não se engane: apesar de ser vendido como uma versão para in-ears do E12, ele ainda é muito forte. Com o ganho alto, ele não fica longe do The National e do Arrow, tendo total capacidade para empurrar tanto os Sennheisers HD800 e HD600 e o Grado HP1000.
HEADSTAGE ARROW 4G
– Aspectos Físicos e Funcionalidades
O Headstage Arrow foi, em seu lançamento, o amplificador mais compacto disponível no mercado. Inclusive, após o pico Slim, ele é o mais compacto entre os amplificadores testados aqui. É o formato que mais me agrada, porque ao contrário do HeadAmp, ele é compacto o suficiente para ser facilmente transportado mas não tanto a ponto de se tornar difícil acoplá-lo a algum tocador.
Com o FiiO X5, o sistema não é pequeno (acho que ainda não o suficiente para ser colocado no bolso), mas o considero conveniente. Inclusive, acho que é possível usar o Stacking Kit da própria FiiO para o X5 com ele. O único acessório incluso é um cabo P2-P2.
Mesmo sendo um dos menores, o Arrow é o mais repleto de funcionalidades. Na parte da frente há duas saídas P2 para fones, a entrada P2 e o potenciômetro analógico de volume da ALPS. Na de trás, além de uma entrada micro-USB e de uma P2 para carregamento, há quatro controles, todos com três posições: ganho (2dB, 9dB, 18dB), boost de graves, boost de agudos e crossfeed (que é um vazamento intencional entre os canais que atenua a separação estéreo extrema dos fones de ouvido, criando uma imagem um pouco mais confortável e centralizada). Um detalhe interessante é que não há botão para ligar e desligar. O Arrow liga automaticamente quando detecta um sinal de entrada, e desliga quando não há sinal por 90 segundos.
A duração da bateria é muito boa, mas variável por uma curiosa razão: há o que a marca chama de adaptação automática de potência. A voltagem de 4V de bateria é ampliada para até 12V para conseguir fornecer uma saída livre de distorções, de acordo com as necessidades do fone. Consequentemente, ele consegue ser extremamente potente quando necessário mantendo uma excelente duração da bateria. Em 12V a bateria dura 30 horas, e sem ganho de voltagem pode chegar a 80 horas. O Arrow é evidentemente o mais avançado entre todos os amplificadores testados aqui.
– O Som
Quando eu estava à procura de um amplificador portátil para meu sistema portátil, um grande amigo entusiasta me recomendou fortemente o Arrow, e agora entendo o porquê. Assim como o pico Slim, ele impressiona pelo tamanho e pela sonoridade, mas tem o benefício da potência extra e das diversas opções de alterações em sua sonoridade.
Sem nenhuma delas ativada, o Arrow é mais próximo do The National no sentido de ser mais eufônico, mas ele faz isso de uma forma mais equilibrada. Me parece que enquanto o ALO possui algumas colorações mais evidentes no equilíbrio tonal, o Arrow atinge o mesmo nível de eufonia e musicalidade por meio de algumas características específicas de algumas faixas de frequência enquanto mantém muita linearidade e naturalidade.
É uma diferença sutil, mas além dos agudos mais comedidos, os médios do Headstage são ligeiramente mais sedosos e calorosos do que os do pico Slim e do FiiO E12A. Assim como no caso do The National, não é bem o que procuro com o JH Audio Roxanne, mas com o Fidue A83 gosto muito do resultado.
No entanto, nos graves, a coisa se inverte um pouco. O Arrow parece trazer um pouco menos de vontade que o Slim e o E12A, que apresentam mais vigor e impacto. Acho que esse caso é ainda mais uma questão de preferência. O The National vai apresentar mais força ainda, mas com um certo foco nos médio-graves.
Mas é aqui que chegamos num grande trunfo do Arrow: suas diversas opções de configuração. Seu painel traseiro possui, além do controle de ganho, três níveis de ajuste dos graves, agudos, e de crossfeed. Gosto muito dessa funcionalidade, já que posso deixar a sonoridade do amplificador mais próximo do que quero com determinada música ou fone.
Os incrementos são feitos em regiões muito bem julgadas. Nos graves, há um ganho que atua tanto nos sub-graves quanto nas partes mais baixas dos médio-graves. É o suficiente para trazer mais impacto e autoridade, apesar de, no nível mais alto, eu achar que os médios acabam embolando um pouco, principalmente em músicas com guitarras e baixos mais presentes. Em músicas eletrônicas, porém, isso não acontece e o resultado é apenas mais energia e peso.
Já nos agudos, o ganho parece estar justamente na área do brilho. Não é um incremento que vai fazer com que o Headstage soe como o pico Slim ou o 2Move, mas ele traz justamente a sensação de um brilho a mais, principalmente em vozes e pratos de bateria. Como isso ocorre numa região específica, o timbre dos agudos pode ser um pouco prejudicado, e por isso acho que é algo mais interessante para o uso quando se quer mais energia e empolgação, como em música eletrônica.
O crossfeed é uma função que muitos acabam ignorando, porque de fato é algo extremamente sutil. A explicação para ele é a seguinte: a posição dos fones de ouvido são muito artificiais em relação a fontes reais de sons, e por isso há uma separação estéreo extrema, algo que não costuma acontecer no mundo real. O que o crossfeed faz é permitir um leve vazamento entre os dois canais, ou seja, um pouco do esquerdo vai para o direito e vice-versa. O resultado é que é formada uma imagem mais “central” da música, o que em teoria é responsável, ao longo do tempo, por uma audição um pouco mais confortável apesar de haver uma ligeira atenuação das baixas frequências.
A sensação é que ao ligar o efeito, há uma leve convergência dos sons para o centro, mas é um efeito muito, muito discreto, mesmo na segunda posição. Só ouço por que a troca entre as posições é imediata; se eu tivesse que tirar o fone de ouvido por poucos segundos e trocar a posição, certamente não ouviria diferença. Mas, de acordo com muitos, é algo que diminui a fadiga auditiva.
MEIER AUDIO CORDA 2MOVE
– Aspectos Físicos e Funcionalidades
O Meier Audio Corda 2Move é o mais antigo desse grupo, tendo sido introduzido em 2008 como uma revisão do Corda Move original, adotando um DAC melhor – o 2Move é o único desse grupo que possui um conversor digital-analógico, podendo ser conectado a um computador diretamente por USB. O chip usado é o Burr-Brown PCM2702. Ele custava, quando era produzido, aproximadamente 250 dólares.
Já tive um amplificador da Meier (construído em conjunto com a também germânica Audiovalve), o Corda Eartube, e ele era muito impressionante fisicamente. Infelizmente, porém, não posso dizer o mesmo a respeito do 2Move, que deixa sua idade bem evidente comparado aos outros amplificadores aqui testados. Não é que ele seja mal construído, mas o Corda certamente não tem o acabamento primoroso dos outros – especialmente do pico Slim e do FiiO. Além disso, após o The National, é o mais alto.
Na parte da frente há o botão de volume (que também funciona como o de ligar e desligar), uma entrada, uma saída e o botão de crossfeed. Atrás, há a entrada micro-USB para o uso como DAC, uma entrada para fontes padrão 12V e um botão giratório – de funcionamento rudimentar – para abrir a parte de trás do aparelho. O fato de ela poder ser aberta dá uma dica sobre o que seria a maior diferença do 2Move para os outros equipamentos desse comparativo: ele não possui uma bateria interna recarregável, e apesar de quando usado como DAC via USB a alimentação vir do computador, como amplificador ele funciona com uma bateria de 9V.
Não gosto muito disso, principalmente porque a duração dessa bateria é boa mas não é espetacular – tanto o pico Slim quanto o Arrow conseguem funcionar por mais tempo. E quando a bateria deles acaba, basta recarregá-la. No Meier, é preciso gastar 10 reais com uma nova. Obviamente é possível usar uma bateria recarregável, mas não sei qual seria o tempo de duração de uma desse tipo.
Nessa unidade do 2Move, parece que há uma folga entre a bateria e os terminais de contato, e por isso precisei colocar um papel dobrado entre ela e a tampa para conseguir a pressão necessária para o amplificador funcionar. Parece que a idade não fez muito bem a ele. Pelo menos, daqui a 10 anos imagino que a bateria interna dos outros amplificadores estará degradada, e é bem mais difícil substituí-la – exceto no pico Slim, que possui garantia vitalícia inclusive para esse item.
– O Som
Como expliquei na parte de Fontes e Metodologia, um dos métodos que gosto de usar em comparativos desse tipo é colocar uma coisa em cada ouvido. Ao mesmo tempo em que as diferenças ficam mais evidentes, fazer esse tipo de comparação é mais difícil do que parece, porque não é tão fácil apontar onde exatamente estão as diferenças.
Em primeiro lugar há a sensação de que algo está estranho, mas geralmente parece que há algo errado em termos de fase. Além disso, não é fácil equalizar o volume dos dois amplificadores, porque para isso é necessário ter uma referência – só que como existem variações em termos de equilíbrio tonal, a equalização é relativa. Por exemplo, equalizar pelos graves pode trazer variações de agudos, mas acertar pelos agudos pode fazer com que os graves não estejam iguais. O método que me pareceu mais adequado foi tentar centralizar a voz.
Enfim, o resumo é que fazer essa comparação é muito útil mas não é fácil. Quando fui comparar o 2Move ao pico Slim, porém, não tive qualquer dificuldade, porque os dois estão, para os meus ouvidos, muito próximos de indistinguíveis. O pico Slim parece trazer uma quantidade ínfima a mais de impacto nos graves, mas é algo que realmente precisa de atenção para ser percebido. Ouvindo os dois ao mesmo tempo, um em cada ouvido, não me traz qualquer sensação de que algo está errado, coisa que acontece na comparação entre todos os amplificadores aqui testados em qualquer combinação que seja. Em várias ocasiões, esqueci que estava ouvindo assim e achei que estivesse ouvindo um amplificador só.
Isso significa que o Meier, assim como o Slim, parece trazer uma personalidade igualmente reveladora, transparente e refinada. Não há a eufonia do The National ou a tranquilidade do Arrow, o que, assim como no caso do HeadAmp, pode trazer resultados fantásticos com alguns fones porém nem tanto com outros.
Se a qualidade de som está fora da jogada por ser para todos os efeitos igual, existem vantagens e desvantagens em cada amplificador: o Pico tem a seu favor o tamanho e o acabamento, mas o Meier sai na frente quando consideramos o fato de que ele também é um DAC, a potência, a existência do crossfeed e, principalmente, o preço – ele custava, quando ainda era produzido, 250 dólares. Seus sucessores, os Corda PCSTEP e QUICKSTEP custam, respectivamente 240 e 330 dólares. Pelo que parece, esses dois são menores e mais bem acabados que o 2Move, além de apresentarem algumas outras vantagens como o controle de ganho. Depois de ouvir o 2Move, não espero nada além das melhores coisas desses amplificadores.
O crossfeed, no entanto, não é tão impressionante. Ele é ainda mais sutil do que o do Headstage Arrow, o que para mim faz com que ele seja basicamente inútil.
Felizmente, esse não é o caso de seu DAC interno. Ele não é absolutamente incrível, e evidentemente não está no nível do Yulong D100 ou do FiiO X5, perdendo em aspectos como extensão nos agudos, transparência e autoridade, mas ainda assim é um desempenho extremamente competente e prazeroso. Ele é sem dúvida alguma uma excelente solução tudo-em-um.
Em termos de potência, o Corda 2Move se encontra num meio termo. Ao mesmo tempo em que ele é mais potente que o pico Slim, conseguindo lidar com fones como o HD600, ele não tem a mesma força do The National ou do Arrow.
CONCLUSÕES
Esse foi um dos testes que mais gostei de fazer para o site. Encontrei equipamentos distintos em diversos aspectos, mas todos capazes de trazer algo à mesa em diferentes situações. As diferenças em termos de qualidade de som são muito pequenas, mas encontrei personalidades diferentes e muito interessantes. Aqui, não há um ganhador em especial – há o que é mais apropriado para alguma necessidade.
O pico Slim vai continuar sendo meu amplificador, porque alia um tamanho minúsculo a um acabamento espetacular e apresenta exatamente a sonoridade que eu buscava para o pareamento com o JH Audio Roxanne. Além disso, sua bateria cuja duração alcança as 60 horas é impressionante e garante que o tempo o ouvindo irá superar em muito o tempo que ele ficará ligado à tomada. E, para completar, a unidade que tenho possui garantia vitalícia. No entanto, é um equipamento caro e que apresenta uma sonoridade que não é para todos, além de ser pouco potente, destinado primariamente a intra-auriculares.
O ALO The National de certa forma é o oposto, já que é muito grande e bastante potente, conseguindo lidar com maestria com headphones mais famintos. Por isso, é mais indicados para aqueles que não ligam tanto para o tamanho e querem algo com potência de sobra – mas as duas opções de ganho fazem com que ele possa lidar igualmente bem com intra-auriculares sensíveis. Por fim, sua sonoridade apesar de menos transparente e refinada é mais melódica e, principalmente, muito espacial. Porém, a duração da bateria não é tão impressionante e muitos vão ver no tamanho dele um grande problema.
Já o Headstage Arrow impressiona e mais parece um feito da engenharia audiófila. Apesar de ser muito fino, consegue ser tão potente quanto o ALO e sua bateria pode durar até mais que a do pico Slim. As três opções de ganho e as várias opções de alteração de sua sonoridade, com controles de graves, agudos e crossfeed garantem que há um pouco para todos nesse diminuto amplificador. Em termos de sonoridade, o Arrow é muito natural – nem tão colorido quanto o ALO e nem tão impiedosamente revelador como o Slim.
O FiiO E12A é o mais barato do grupo, mas em termos físicos definitivamente não parece. É um amplificador muito bonito e bem acabado, e apesar de ser mais longo que o The National, a espessura relativamente pequena faz com que ele ainda possa ser relativamente conveniente. Sua sonoridade é como uma versão ligeiramente menos refinada da do pico Slim e do Meier Corda 2Move, mas de forma alguma é uma diferença proporcional à de preço. É sutil, e quando consideramos as duas opções de ganho, a existência do Bass Boost e a potência extremamente saudável, temos no E12A uma opção fantástica pelo preço.
Por fim, o Meier Corda 2Move pode ser o mais antigo, e certamente não é o mais bonito e muito menos o mais bem acabado, mas quando o ouvimos a história muda. Ele é tão competente quanto o pico Slim, sendo igualmente transparente, linear, neutro e refinado. Para os meus ouvidos, é a definição de wire-with-gain. E ao contrário do Slim, é bastante potente e, quando ainda era vendido, o preço era consideravelmente menor. Os pontos negativos, além do acabamento mais simplista, ficam por conta da bateria, que é uma de 9V comum, e do tamanho pouco conveniente. Mas se teve uma coisa que o Corda 2Move fez, foi me deixar muito curioso para ouvir os amplificadores mais novos de Jan Meier.
Como eu disse, todos têm algo a oferecer. Escolher a oferta mais interessante cabe somente a você.
- ALO Audio The National – US$299,00 (substituído pelo The National+)
- Headstage Arrow – US$399,00
- FiiO Mont Blanc E12A – US$159,00
- HeadAmp Pico Slim – US$399,00
- Meier Audio Corda 2Move – US$250 (substituído pelo Corda PCSTEP)
Equipamentos Associados:
Fones: Audio-Technica ATH-M50 e ATH-W3000ANV, Fidue A83, Grado HP1000, HiFiMAN HE-6, JH Audio Roxanne, Sennheisers HD449, HD600, HD650 e HD800
Fontes: Yulong D100, FiiO X5, iPod Classic
Transportes: Mac Pro