INTRODUÇÃO
Comecei no hobby com intra-auriculares porque valorizava muito a conveniência, mas não demorou para que eu resolvesse ceder aos full-sizes. Meu primeiro fone desse tipo foi o AKG K701.
Esse circunaural aberto – e sua versão voltada ao mercado profissional, o K702 – permaneceu como o topo de linha da marca desde sua introdução em 2005 até o lançamento do K812 quase uma década depois, em 2015. Durante esse período, no entanto, foram lançadas algumas outras variantes desse design que se tornou um clássico: a primeira foi o Q701, que é basicamente um K701 com cores inspiradas nos ideais do produtor Quincy Jones. Depois foi a vez do K702 65th Anniversary Edition, um K702 em edição limitada de aniversário com arco e espumas diferentes e um novo esquema de cores. Finalmente, há o K712 Pro, que traz as melhorias no arco e nas espumas do K702 Anniversary Edition num modelo produzido em série, porém com cores também diferentes.
Os preços, sinceramente, são um pouco bizarros. Primeiro porque o de tabela é muito mais alto que o de rua, mas como o que importa é a prática, só vou falar desse último. Era de se esperar que os preços das diferentes versões fossem praticamente os mesmos, mas isso não acontece. O de rua do K701 é 320 dólares, enquanto o do K702 é 340. O Q701 agora é fabricado na China, enquanto os outros são feitos na Áustria, e pode ser obtido por 190 dólares (uma relativa barganha porque o som é igual). Já no K702 65th Anniversary Edition e o K712 Pro, o preço salta para em torno dos 400 dólares – aliás, o preço de tabela é de assustadores 700 dólares!
É um pouco complicado falar sobre as diferenças sonoras entre as versões porque os falantes são exatamente os mesmos – a própria marca disse, ao lançar o Q701, que ele se tratava de um K701 seguindo as preferências estéticas de Quincy Jones. E basta olhar as especificações de todas as variantes para verificar que os números são os mesmos – consequentemente, os falantes também são. Apesar disso, diversos entusiastas clamavam ouvir diferenças significativas entre esse fone e o K701/2. Possíveis explicações são a pequena placa com o Q na parte externa do Q701, que pode trazer consequências sonoras, ou o fato de os K701/2s com os quais os entusiastas já estão acostumados estarem mais usados, e consequentemente com espumas mais conformadas.
Já no K702 A.E. e K712 Pro isso faz mais sentido, porque eles trazem justamente espumas diferentes, que fazem com que o fone se posicione de maneira distinta na cabeça do ouvinte, e isso pode trazer mudanças evidentes.
Enfim. O que tenho certeza é que sempre gostei dessa linha da AKG, e diferentes ou não, estava curioso para ouvir uma dessas novas versões. Graças à gentileza de dois amigos, estou com um K702 A.E. Será uma forma interessante de atualizar a primeira avaliação que fiz de um full-size, a do K701.
ASPECTOS FÍSICOS
O K702 A.E. é basicamente igual a todos os outros dessa linha da AKG, salvo algumas diferenças: a mais óbvia é o esquema de cores. Sei que gosto é pessoal, mas sempre achei o K701 e o K702 bonitos – só que o K702 A.E. e o K712 Pro são sensacionais. O A.E. é quase inteiramente construído em plástico cinza e preto e possui acentos – como um pequeno anel nos cups e a costura da faixa de couro do arco – em azul.
Como ele é baseado no K702 e tem foco maior no mercado profissional, o cabo é removível, usando um conector mini-XLR. Não gosto muito dessa solução por dois motivos: primeiro, é um XLR de 3 pinos, e a conexão entre os dois lados do fone é feita internamente. Por isso, recabeá-lo para balanceado é muito difícil e requer alterações significativas no fone. Segundo, já que é para ser difícil balanceá-lo, por que não simplesmente usar um conector TRS? Seria mais prático. O cabo em si é terminado num P2, com um adaptador para P10 rosqueável. Ótima solução.
Um bom aspecto do K702 A.E. é a faixa de couro do arco. Durante alguns anos, a AKG usou uma faixa que possuía alguns ressaltos, algo que de acordo com muitos hobbistas, não fazia nada a não ser prejudicar o conforto. Nessa versão, essa faixa é lisa. Mas, infelizmente, não é perfeita: ela é um pouco reta e relativamente rígida, então ao invés de distribuir a pressão superior de maneira uniforme em toda a extensão lateral da cabeça, o peso se concentra no centro, e após um tempo começa a incomodar.
Outra alteração bem-vinda é nas espumas laterais, que agora são do tipo memory foam, ou seja, elas se conformam à cabeça do usuário e demoram a voltar. O resultado é um maior conforto num fone que já tem essa característica como ponto alto. Ele é leve e a pressão lateral e a superior também o são. Vale lembrar, porém, que em se tratando de um fone aberto, o isolamento é basicamente inexistente.
O SOM
O AKG K701 e suas variantes faziam parte do trio dos fones high-end mais populares da década de 2000, compedindo com os Sennheisers HD600/HD650 e Beyerdynamic DT880 Premium. Era conhecido como a opção mais analítica e espacial, mas é curioso como isso não é o que estou ouvindo aqui. Não vou entrar no mérito de comparar esse K702 Anniversary Edition às suas outras versões porque não tenho nenhuma delas em mãos, mas a impressão que estou tendo agora não é a que eu tinha com meu antigo K701.
Na realidade, o que estou ouvindo é um fone excepcionalmente musical – inclusive, estou bem surpreso com o quanto o estou achando semelhante ao Sennheiser HD650 que possuo atualmente.
Os graves eram a reclamação mais comum sobre o K701, mas se tem uma coisa da qual não estou sentindo falta, é de presença nessa região. As baixas frequências me parecem estar exatamente onde gosto – peso e autoridade são certos, com ótima extensão. Há um pouco mais de presença do que no HD800, com mais ênfase nos médio-graves, e um pouco menos do que no HD650, que me mostra mais impacto.
O desempenho nessa região é basicamente o que considero ideal para uma vasta gama de gêneros musicais. Ouço excelentes resultados com música clássica, rock, jazz, pop, música eletrônica e tudo mais que eu peça para o K702 tocar. Mas é importante observar que é um fone com alguns anos, e ele não acompanha o nível de transparência e texturização nos graves de opções mais modernas, como o HD800 ou o HiFiMAN HE500. Ainda assim, é um desempenho altamente satisfatório.
A partir dos médios, as maiores diferenças em relação ao HD650 começam a aparecer. No K702 A.E., eles soam um pouco mais distantes, com menos corpo e presença. Mas, curiosamente, me parecem igualmente naturais. São interpretações levelemente diferentes, mas ambas são exemplares, com excelente linearidade e coerência. Estão muito próximos do meu ideal de tonalidade.
Talvez por estar acostumado ao HD800, não estou ouvindo o palco sonoro que tornou o K702 tão aclamado. Ele é sim levemente mais espacial que o HD650, principalmente devido aos médios mais distantes, mas o AKG é muito mais próximo desse último do que do HD800. Há boa precisão no posicionamento dos instrumentos, mas assim como nos graves, não é justo esperar pelos níveis de resolução e transparência do topo de linha da Sennheiser. O K702 A.E. é mais congestionado e menos arejado, com menos precisão no recorte do espaço.
Nos agudos… surpresa! Onde é que foram parar os agudos perfurantes do K702? Certamente não estão aqui. Mais uma vez, estou surpreso com a comparação ao HD650. Por mais incrível que pareça, acho que no Sennheiser os agudos são mais evidentes (?!). Em termos de timbre eles são bem parecidos, mas para os meus ouvidos o HD650 possui um pouco mais de presença em regiões mais baixas, o que gera a impressão de uma sonoridade com um pouco mais de brilho e clareza – no AKG, parece haver um levíssimo foco em regiões um pouco mais altas. Acho que prefiro a apresentação do Sennheiser, mas a interpretação mais musical do AKG é muito bem vinda em diversas situações. Ao trocar para o HD800, me impressiona a quantidade extra de informações na região aguda.
CONCLUSÕES
Minhas constantes comparações ao Sennheiser HD650 não aconteceram sem motivo: estou impressionado com o quanto esses fones soaram semelhantes. Obviamente existem diferenças claras, mas ao contrário do que eu esperava, me parece que a filosofia dos dois é a mesma. Ambos apresentam um desempenho muito musical, e perfeitamente apropriado para qualquer gênero.
O AKG K702 Anniversary Edition se mostrou, em meu sistema, um fone natural. É como o HD650 – nada salta os ouvidos, e a única coisa que se tem é uma apresentação altamente competente e coerente. Acaba sendo uma daquelas avaliações onde me pego um pouco sem o que falar, porque ambos são fones capazes de simplesmente desaparecer e deixar a música ficar.
E essa é justamente a característica que mais procuro num fone de ouvido.
AKG K702 65th Anniversary Edition – fora de produção (MSRP US$649,00; preço de rua US$450,00)
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 62 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 105 dB/V RMS
- Resposta de Frequências: 10Hz – 39,8kHz
Equipamentos Associados:
iMac, Abrahamsen V6.0, HeadAmp GS-X