Sony MDR-Z1000

INTRODUÇÃO

a400a1fd_PIA0001003005Aqueles que acompanham minhas avaliações já devem saber que costumo gostar de headphones destinados à monitoração. Eles são desenvolvidos para ambientes profissionais e, por isso, devem atender a alguns requisitos. Geralmente eles podem não arrancar suspiros dos audiófilos, mas em compensação é raro encontrar algum modelo com falhas muito significativas.

A Sony produz, há algum tempo, alguns clássicos da monitoração, como o 7506 e o V700, para DJs. Há poucos anos, foram lançados dois novos topo de linha desse segmento da marca: o 7520 e o Z1000. Visualmente são modelos quase idênticos, mas ao que parece existem diferenças em termos de som. Ambos são destinados ao uso em estúdio, e não consegui encontrar informações sobre o motivo pelo qual eles são fones diferentes.

Há algum tempo atrás puder ouvir um Z1000 e gostei do que ouvi. Agora, tenho aqui, graças ao meu amigo Hugo, um par para avaliação.

 

ASPECTOS FÍSICOS

Na minha opinião, com esse modelo, a Sony conseguiu uma excelente mistura entre uma estética utilitária e elegante. Ele é bem minimalista, mas a robustez e a escolha de materiais deixam claro que se trata de um modelo voltado ao mercado profissional.

IMG_6621Os copos e o arco são de metal, e há bastante acolchoamento nos pads e no arco. O revestimento é de um courino que parece ser emborrachado. A sensação ao toque é agradável e o fone, por ser leve e por não exercer pressão lateral significativa, é muito confortável. As únicas peças de plástico são a peça que prende os copos ao arco e a extremidade do arco, com as inscrições de L e R.

O isolamento é muito bom, e não há qualquer vazamento de som mesmo a volumes mais elevados – o que é altamente desejável num ambiente de estúdio. O cabo (emborrachado) é removível com um sistema de rosca, o que confere segurança na conexão.

Em termos de acessórios, não temos muito: apenas uma bolsa de courino para transporte e, acredito, um adaptador P2-P10.

 

O SOM

Minha primeira impressão é de familiaridade. Estamos definitivamente diante de um monitor. Já cheguei a falar antes sobre isso, mas é como se esse tipo de fone tivesse uma personalidade geralmente parecida, e o Sony não é exceção. Mas, ao olhar mais a fundo, suas virtudes e seus defeitos começam a aparecer.

IMG_6617Os graves são um ponto complicado: eles vão um pouco além do que eu consideraria neutro, mas não extrapolam o aceitável e têm bom impacto. O problema é que ouço uma certa carência de definição e firmeza. Ouví-lo lado a lado com o Sennheiser HD 25-1 II deixa essa característica muito evidente: na versão de So Nice da Diana Krall, o contrabaixo e o bumbo não são particularmente claros. Isso me lembra, inclusive, o Beyerdynamic DT1350 que já pude ouvir. Em algumas situações, parece que esses instrumentos se perdem no mix. O Sennheiser deixa os dois instrumentos consideravelmente mais definidos, embora também muito mais secos.

Mas isso não acontece sempre, e em muitas gravações – principalmente as mais modernas e comprimidas – tem-se apenas o que eu classificaria um desempenho um pouco mais “romântico” nas baixas frequências, por assim dizer. É possível que essa seja, justamente, uma forma de deixar essas gravações mais toleráveis. Isso pode ser muito bom num fone destinado ao consumidor comum, mas acho curioso que isso aconteça num voltado ao mercado profissional.

De toda forma, considero o Z1000 um fone particularmente caloroso, e acredito que isso se deve, ao menos até certo ponto, a essa característica nos graves. Não é o que considero ideal em muitos casos, mas há um apelo na forma como o Sony apresenta essa região. Me lembra o B&W P5: não é apurado, mas pode ser bem agradável. Além disso, em termos de extensão, definitivamente não tenho do que reclamar.

Nos médios, em alguns aspectos, a situação permanece um pouco difícil. A questão é que ouço uma coloração forte de fones fechados, que resulta em alguns picos nessa região. Não são picos que incomodam muito, e certamente algo com o qual o ouvinte se acostuma, mas sem dúvida alguma o resultado não me parece exatamente natural – principalmente quando comparado ao HD 25-1 II. É como se estivéssemos falando com as mãos em volta da boca, para “aumentar o volume” quando vamos gritar, entendem? Felizmente, no entanto, isso só é mais notável em gravações com bastante atividade numa extensa faixa de frequência, como rock ou música eletrônica.

IMG_6611Ao tocar gêneros mais calmos, essa característica do Sony torna-se menos evidente e o resultado é uma apresentação muito relaxada e agradável que me lembra, de certa forma, o monitor intra-auricular EX1000 – o que para mim é um baita elogio. Jazz é particularmente encantador no Z1000. É uma apresentação romântica e eufônica, mas sem prejudicar fortemente o detalhamento, que é bom. A região média ainda não é o que eu consideraria natural, mas em compensação é definitivamente menos seca e energética do que no portátil da Sennheiser.

Outra vantagem que ouço nesse monitor é uma espacialidade algo incomum num fone fechado. A maioria dos fechados portáteis (acho que dá para chamar esse fone de portátil) que conheço vão desde a claustrofobia de um V-Moda M-80 até a relativa espacialidade de um Logitech UE6000 ou do próprio HD 25-1 II, por exemplo. O Sony, no entanto, vai além, e é capaz de projetar uma imagem tridimensional com competência notável. Ainda não é comparável a um fone aberto ou a um dos headphones fechados de referência, como Audio-Technica W3000ANV, Denon D5000/7000 e, imagino, Fostex TH900 e Sony R-10. Mas, sem dúvida alguma, ele está muito próximo do Audio-Technica A700X que já pude ouvir e que é especialmente interessante nesse quesito.

Há um espaço definido para cada instrumento, com bom arejamento e posicionamento com precisão notável. O mais interessante, porém, é a profundidade aparente do palco sonoro – a forma como parecem existir camadas distintas para a frente do ouvinte –, mesmo sem uma projeção mais expansiva para as laterais. Aqui o Z1000 se destaca, com ótimos resultados principalmente para música clássica, apesar de suas colorações. Nesse gênero, não acho que elas sejam especialmente notáveis.

IMG_6620Nos agudos, a personalidade mais relaxada do Sony se mantém e, ao contrário de no intra-auricular EX1000, há uma apresentação muito doce e contida. Não há o roll-off severo do B&W P5, mas ainda assim acho que os dois são bem semelhantes nessa região. Pratos de bateria são presentes, apresentam ótimo timbre (o que mais uma vez não é comum em fones desse tipo) e boa extensão, mas são sem dúvida alguma mais suaves e eufônicos. Com jazz, especificamente, o resultado é ótimo. Apesar de nesse gênero eu gostar de um pouco mais de definição nos graves, mesmo que em detrimento do romantismo, acho que o desempenho do fone nos agudos o torna excelente para esse gênero.

 

CONCLUSÕES

Tenho coisas muito positivas a dizer sobre o Sony Z1000: ele me lembra muito o B&W P5, por apresentar uma personalidade muito musical e eufônica, apesar de tecnicamente não ser exatamente uma referência: os graves não são tão definidos quanto eu gostaria, os médios me parecem coloridos e os agudos, ainda que encantadores, não são um exemplo de neutralidade. É algo curioso visto que se trata de um fone profissional (tem até um adesivo que diz “for Studio Use”), mas de toda forma, gosto muito do resultado em diversas situações.

Talvez não seja meu favorito em sua categoria (o HD 25-1 II ainda me parece mais natural, apesar de ser mais energético e de não chegar perto da musicalidade do Sony), mas sem dúvida alguma é um fone muito interessante nos momentos certos, e que me trouxe belíssimas audições – com a ajuda, inclusive, de seus excelentes predicados físicos, dos quais não tenho qualquer reclamação.

IMG_6626Meu maior receio é o fato de ele estar posicionado numa faixa de preço (ou acima) infestada não só de excelentes portáteis que andam dominando o mercado – B&W P7, KEF M500, Sennheiser Momentum e NAD Viso HP50 são alguns exemplos –, mas também de verdadeiros clássicos da audiofilia, como Sennheiser HD600 e AKG K702. Acho que o Sony tem suas chances com os portáteis mas, na minha opinião, ele certamente não compete com o Sennheiser ou com o AKG. No entanto, ele possui a vantagem de não exigir praticamente nada em termos de amplificação e fonte e de ser fechado.

O que posso dizer é que aqueles que estiverem buscando uma personalidade eufônica, inofensiva e relaxada num fone fechado podem (e devem) adicionar o Z1000 à sua lista de possibilidades. Ele possui boas chances de agradar.

 

Sony MDR-Z1000 – US$440,00

  • Driver dinâmico único
  • Impedância (1kHz): 24 ohms
  • Sensibilidade (1kHz): 108 dB/1mW
  • Resposta de Frequências: 5Hz – 80kHz

 

Equipamentos Associados:

Portáteis: iPod Classic, Sony NW-ZX1

Mesa: iMac, Abrahamsen V6.0, HeadAmp GS-X

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