Muitos sabem o quanto a minha opinião sobre os Grados mudou nos últimos tempos, e hoje sou um fã assumido da marca. Considero o HP1000 uma forma absolutamente brilhante de chegar à alma da música em sua realidade nua e crua.
E na história da Grado, existe um detalhe interessante. Após Joseph Grado ter passado o controle da marca para seu sobrinho, John Grado – já falei um pouco sobre isso na avaliação do HP1000 –, foi introduzida uma nova série de fones, a Prestige, em 1991 – dois anos depois do lançamento do primeiro fone e um ano depois da nomeação do novo presidente.
Aparentemente, com o surgimento do CD, a marca estava ameaçada pelo fato de produzir apenas cartuchos de toca-discos. Esse foi um dos motivos pelo qual Joseph desenvolveu o HP1000, mas a realidade era que seria muito difícil se sustentar apenas com um modelo de referência.
Por isso a linha Prestige foi lançada, com os modelos SR100, SR200 e SR300. E é aí que entra o detalhe: alguns desses modelos vieram com os alto-falantes Black Star do HP1000. Não consegui descobrir se foi porque o John queria usar as partes sobressalentes da produção do HP1000, se foi uma “pegadinha”, ou até mesmo um erro de produção. A versão mais convincente que já li foi que houve um problema com os diafragmas dos três modelos, e como havia a necessidade de continuar a produção, os Black Star foram usados.
O resultado é que existe um número desconhecido de SR100s, SR200s e SR300s em circulação com o fantástico alto-falante que é, certamente, responsável por ao menos 90% do som de um dos melhores fones de ouvido já fabricados. O preço costuma variar bastante, mas parece que eles costumam sair por entre US$ 700 e US$ 900 no mercado.
Um bom amigo audiófilo, Felipe Stanquevisch, há algum tempo tinha conseguido um desses SR200, e sempre falou muito bem dele. Mas como nunca fui particularmente interessado na Grado, não ligava muito. Porém, há um mês, um bom tempo após eu ter adquirido o HP1000 e me convertido, numa conversa, o Felipe ofereceu me enviar o fone para que eu fizesse essa comparação. Obviamente não hesitei, apesar de esperar que fosse encontrar apenas uma diferença marginal de qualidade de som.
Fisicamente, os dois são muito diferentes. O SR200 mantém a estética e os materiais ainda usados na linha Prestige atual – com exceção do SR325i –, ou seja, muito plástico, courino no headband e metal nas barras que prendem os cups a ele. Uma diferença para os Grados atuais é que o headband, fora a tira de courino, ao invés de couro, é o mesmo do HP1000, o que não é uma coisa boa. Ele é rígido, e não flexível como nos modelos atuais. Neles, há uma pressão permanente, e ele se ajusta automaticamente à cabeça do usuário se expandindo. Nesses dois fones, o ajuste é feito torcendo a peça. Isso não é um problema sério quando o fone é seu, mas está me trazendo dificuldades – está ajustado para o Felipe, que aparentemente tem a cabeça mais larga que a minha.
Devido à idade, as barras também não estão sendo seguras pela peça de plástico, e a cup esquerda fica caindo. Sempre achei o sistema de parafuso do HP1000 desnecessário já que o sistema dos Grados atuais já é competente, mas agora estou vendo um motivo: com o tempo, a resistência vai diminuindo, o que não acontece com o parafuso.
Fisicamente não há como negar que o HP1000 é mais interessante, já que é todo de metal, tem a construção de um tanque e couro genuíno no headband. A desvantagem é que ele é bem mais pesado, e o SR200, apesar de ainda não ser o que chamaria de confortável, é bem mais tranquilo que o HP1000, que nesse quesito é triste. Ah, e um detalhe: o Felipe colocou os ótimos pads originais do HP1000 em seu fone, o que certamente o faz soar melhor.
Outro detalhe que diferencia a construção dos dois é a maneira com a qual o alto-falante é preso ao cup: no HP1000 ele é seguro por seis parafusos, enquanto no SR200 ele é colado. Prefiro a solução do antigo, já que torna a manutenção muito mais fácil. Não me arriscaria a tirar o Black Star do SR200. O cabo também é diferente: o HP1000 usou diversos cabos durante sua produção, mas o mais conhecido e preferido costuma ser o Joseph Grado Signature Ultra-Wide Bandwith Reference Cable, que não está presente no SR200, que aparentemente usa os cabos comuns da marca – que também foram usados no HP1000 em algum momento, diga-se de passagem.
Sonicamente, esperava encontrar basicamente o mesmo fone – afinal, em teoria, é o mesmo alto falante, e por mais que o cabo e o cup sejam diferentes, isso dificilmente traria diferenças muito grandes. Quando coloquei o SR200 no ouvido, porém, tomei um susto. Era como se eu estivesse ouvindo um fone totalmente diferente – que, em vários aspectos, era consideravelmente melhor que o meu HP1000.
A primeira diferença era a transparência e a claridade. Esse SR200 é muito mais transparente que o HP1000. Os agudos possuem mais presença e maior extensão, e toda a apresentação é mais leve. Os graves e médio-graves são também mais recuados, o que me passa mais limpeza na sonoridade – os médio-graves do HP1000, comparativamente, borram a apresentação –, mas em compensação há uma evidente falta de presença em comparação ao irmão mais velho.
Essa diferença de transparência e clareza traz resultados espetaculares para alguns estilos, como jazz, gêneros acústicos ou música clássica. A impressão é que há, literalmente, mais resolução, detalhamento e clareza. É uma apresentação decididamente mais analítica, mas veja que isso não é algo negativo – muito pelo contrário. A sensação de estar ouvindo a música de maneira mais detalhista é, em muitos casos, muito positiva.
Principalmente pelo que acontece com os agudos. Sinceramente, acho que tenho tido sorte ultimamente por estar podendo ouvir fones que trazem uma desenvoltura espetacular nessa área: Ultrasone Edition 8, Sony SA5000 (acreditem) e, agora, esse SR200. Muitos sabem que o HP1000 está entre o grupo dos que me trazem os melhores agudos, mas esse SR200 levou isso a uma nova categoria. Lembram que disse, na avaliação do HP1000, que gostaria que os pratos de bateria estivessem um pouco mais à frente? É exatamente isso que o SR200 faz, enquanto ainda proporciona uma extensão um pouco maior. E o resultado é simplesmente impressionante. Há uma boa chance de eu estar ouvindo, com ele, a renderização mais realista de pratos que já pude ouvir.
O problema é que essas capacidades vêm a um custo. O SR200 tem uma quantidade muito menor de graves, que também têm muito menos impacto. Isso não é problema para muitos gêneros, mas para outros, acho que falta bastante corpo. O resultado para rock, por exemplo, por vezes é comprometido. Ele perde um pouco da visceralidade que o HP1000 apresenta. Ao passo que, nele, os pratos de bateria têm mais vida, o bumbo tem muito menos. O resultado com o Esperanza, da Esperanza Spalding é excelente, e prefiro o SR200, já que há mais transparência e a música me parece mais real.
No entanto, trocando para o Celebration Day do Led Zeppelin, não tenho problemas em trocar a dose extra de resolução e clareza por vigor e vontade. Aliás, aqui, os agudos mais recuados do HP1000 também ajudam a criar uma apresentação mais vigorosa. Isso também acontece com outras gravações de jazz, que pedem uma aprestação mais intimista – e, nesses casos, o calor a mais do HP1000 é muito bem vindo. Ele tem mais graves e essa característica, aliada ao recuo dos agudos, traz uma personalidade mais analógica. Não há como negar que o SR200 é mais frio.
Onde os dois se encontram, porém, é nos médios. Apesar de o HP1000 estar mais para o calor e o SR200 para a transparência, os dois mostram uma região média absolutamente deliciosa, que me lembra constantemente a razão de eu ser apaixonado pelos Grados. É agressivo, é cru, é direto e é simplesmente sensacional.
Encontrei aqui, ao contrário do que imaginava, dois fones muito diferentes, mas que se encontram no meio do caminho. É como no comparativo dos Grados que fiz (HP1000, RS1i e PS500): são três interpretações diferentes de um mesmo som. Aqui acontece a mesma coisa, mas são duas versões do som do HP1000, que é a base dos outros.
Sendo sincero, tenho dificuldades em escolher entre os dois fones. Acredito que o ideal esteja num meio termo entre os dois. O SR200 tem uma apresentação muito mais transparente, com maior capacidade de resolução, e médios e agudos irrepreensíveis. O único problema dele é que faltam graves, então em vários momentos gostaria de um pouco mais de corpo nessa região – o que o tornaria, acredito, o melhor fone em existência para música ao vivo ou gêneros acústicos. Já o HP1000 traz essa quantidade a mais de graves, mas com uma transparência menor e agudos um pouco mais comedidos.
O ideal – que inconveniente! – seria ter os dois. É definitivamente algo que eu adoraria poder realizar. Enquanto não posso, me mantenho na admiração pela marca que só cresce a cada vez que me surpreendo com ela.
Equipamentos Associados:
iMac, Abrahamsen V6.0, Cambridge Audio DacMagic, HeadAmp GS-X