Sobre Avaliações

Se você está lendo esse blog, é porque provavelmente se interessa pelas avaliações que escrevo. No entanto, existem muitas questões que permeiam essas avaliações, e considero importante que tenhamos consciência delas para que saibamos extrair o que realmente importa dessas tantas palavras. No início desse texto vou falar algumas coisas mais conceituais, mas depois prometo que parto para coisas mais práticas.

O objetivo desses textos é claro: tentar traduzir em palavras minhas percepções auditivas. Já aí temos um problema, que se encontra na palavra percepções. Ou seja, o que ouço, assim como qualquer outra coisa que chegue aos meus sentidos, está sujeito às minhas falhas, virtudes e preconceitos. Nada é passivamente absorvido: nosso cérebro, naturalmente, interpreta as informações que a eles chegam. Logo, uma avaliação deve ser encarada como uma opinião, e nunca, sob nenhuma hipótese, como uma verdade absoluta.  Ela não contém a realidade. Contém o que o avaliador encontrou nessa realidade. Acredito em alguns preceitos nesse hobby, e essas crenças, apesar de virem majoritariamente de experiências em primeira mão, podem ser consideradas “erradas” para outras pessoas.

Por exemplo, acho que as diferenças entre DACs diferentes e amplificadores diferentes descritas por muitos audiófilos é grosseiramente superestimada. É lógico que eles fazem sim diferenças que podem ser consideráveis; no entanto, não é nada comparado às diferenças que fones fazem. É claro, digo isso se estivermos comparando equipamentos minimamente bons, e respeitando as demandas do fone – ou seja, também não adianta querer usar um HD800 com um iPod. Nessas circunstâncias, acredito veementemente que muito do que ouvimos por aí é puro exagero.

Quero deixar claro, no entanto, que tenho total consciência de que pequenas diferenças podem transformar experiências. O problema é que aí a coisa fica muito subjetiva – a diferença objetiva é pequena, mas a subjetiva pode ser considerável. Mas, por ser subjetiva, pode ser grande para mim e pequena para você.

Estou dizendo isso porque essa minha crença, apesar de ter vindo de várias experiências, é pessoal, e acaba atingindo minhas avaliações. O que escrevo está refém desses pensamentos (posso dizer que a diferença entre dois amplificadores é muito pequena, enquanto algum audiófilo ao meu ver “exagerado” diria que são enormes; de acordo com ele, eu posso ter ouvidos duros), com os quais você pode concordar ou discordar. Mas isso também não é dizer que não há valor no que escrevo.

Tento sempre falar sobre as diferenças objetivas entre equipamentos nas avaliações, através de comparações, sinestesias ou exemplos concretos, quando possível. E, delas, tiro conclusões mais subjetivas: minha opinião a respeito do fone. Porém, certamente você vai achar descrições  concretas sobre características – por exemplo, se um fone tem graves mais fortes em relação a outro, agudos com decaimento mais acentuado, maior presença nos médios, palco sonoro grande ou compacto, e por aí vai. Mas, ainda nesses casos, há um problema: cada vez mais me convenço que escutamos as coisas de modo diferente. Por exemplo, uma vez postei num fórum que considero o equilíbrio tonal do Grado HP1000 parecido com o do AKG K1000 (será o número?). Um forista me disse que, para ele, em termos de equilíbrio tonal os fones são totais opostos. Isso para mim não poderia ser mais longe da verdade. Um Denon D5000 sim, seria um bom exemplo de oposto.

E, veja, não estou falando de algo subjetivo, mas de algo que pode ser medido através de um gráfico de resposta de frequência. Mesmo que eu use os dois fones nos mais diversos equipamentos, que acentuam ou atenuam determinadas características, eles ainda assim soam, para mim, parecidos. Existem alguns exemplos mais claros disso. Um deles foi quando ouvi de duas pessoas que o Shure SE535 tem bons agudos, e com mais presença que o Westone UM3X. Para mim, ele é realmente deficiente nessa área, com um roll-off muito considerável – visível, aliás, nos seus gráficos. No entanto, nos médio-agudos e início dos agudos, ele é sim presente, mais do que o Westone. Porém, ao subir o registro, ele decai e o UM3X se mantém. A conclusão à qual cheguei é simples: essas pessoas têm mais idade que eu e já possuem perda auditiva no extremo superior – devem, possivelmente, ouvir até 16kHz ou algo próximo. Eu, com meus 23 anos, escuto até 21kHz. Portanto, elas podem não estar ouvindo o brilho proporcionado pelo Westone – apenas o incremento nos médio-agudos do Shure –, levando-as a crer que o SE535 tem mais agudos. Esse seria um exemplo do que é a máxima audiófila “everyone hears differently” (todos nós ouvimos diferentemente).

O meu grande objetivo com esse blog é construir um repositório de avaliações provenientes de apenas uma pessoa. É possível, lendo-as, entender um pouco da minha caminhada por esse mundo (por exemplo, no do K701, digo que é o primeiro full-size que escutei, e faço uma comparação do palco dele com o de IEMs) e, nas entrelinhas, perceber meus gostos, minhas preferências, meus objetivos e minhas evoluções. De certa forma, é possível me conhecer no que diz respeito aos meus pensamentos nesse hobby. Podem ter certeza que sou sempre extremamente honesto no que escrevo: o que está ali, é o que acho. Isso não significa que eu não mude de ideia, mas como vocês podem ver em algumas avaliações, quando mudo, digo.

Portanto, me “conhecendo”, sabendo o que busco, o que considero ideal ou não – o que é possível através das avaliações –, é mais fácil ter um entendimento maior acerca do que escrevo e, consequentemente, extrair mais efetivamente as informações objetivas sobre os equipamentos que avalio. Infelizmente, no Brasil, praticamente não temos acesso a bons equipamentos de áudio, e acabamos tendo que confiar nas avaliações. E esse é o objetivo desse blog – a razão pela qual escrevo bastante, faço artigos, avalio álbuns… –, transmitir para o leitor o que ouço de um equipamento, deixando claras algumas questões pessoais. Só assim, acredito, o leitor poderá entender completamente o que escrevo e ter uma tradução mais realista das palavras para os sons.