INTRODUÇÃO
Com a revolução causada pelo iPod e com o crescimento de um mercado que demanda música de qualidade portátil, surgiu um novo mercado: o de equipamentos de áudio high-end portáteis.
Tudo começou com alguns pequenos amplificadores, como o Headroom Micro e CMOY, para depois vermos por aí DACs portáteis de alto nível e, hoje, temos alguns DAPs (digital audio players – players de áudio digital) completos com componentes de primeira e grandes pretensões.
Pode-se dizer que o primeiro deles foi o HiFiMAN HM-801, um lançamento audacioso, mas que causou um grande furor no mercado. A linha foi ampliada com os HM-601 e HM-602, e outras marcas também se aventuraram na empreitada: a Colorfly com o C4 – esteticamente incrível, mas nunca fez tanto sucesso – e, mais recentemente, a iBasso, conhecida fabricante de amplificadores e DACs portáteis, com seu DX100.
Nessa avaliação, vou comparar o HM-801 com o DX100.
ASPECTOS FÍSICOS
O HiFiMAN é um tanto estranho. Primeiramente, é enorme, e está muito mais próximo de um tocador de fita cassete do que de um mp3 player. Inclusive, já me perguntaram algumas vezes se era um. Se ele tivesse sido lançado há 15 anos isso não seria problema, mas hoje, se até um iPod Classic é considerado grandinho, o HM-801 pode ser considerado inconveniente. É incômodo colocá-lo no bolso, por exemplo. Mas, ainda assim, é menor do que alguns combos que audiófilos usam, com um player, um DAC e um amplificador.
O DX100 segue a mesma norma, tem basicamente as mesmas dimensões, sendo um pouquinho mais alto e fino. Mas é também mais atraente – tem linhas mais elaboradas que o aspecto “tijolo” do HiFiMAN – e um pouco mais leve. Além disso, ao invés da pequena telinha do HM-801 e seus cinco botões folheados a ouro na parte frontal, tem uma grande tela touchscreen. Um é muito mais moderno, enquanto o outro é mais clássico.
Em qualidade de construção, acredito que os dois se equiparem. O HiFiMAN é principalmente de metal com uma pintura num azul muito escuro, enquanto o DX100 é todo preto, mas utiliza diferentes materiais em sua construção: metal na carcaça e, na cobertura de trás, plástico com o que parece alumínio escovado.
Os dois parecem muito resistentes, mas a pintura do HM-801 já mostrou que não aguenta muita surra. Na parte traseira, onde existe uma abertura para a troca do amplificador interno, ao redor dos parafusos, a pintura já desistiu. Ali, as letras com a instrução “GanQi Bay” também deram adeus.
As embalagens são bem incrementadas. A do HiFiMAN é maior, coberta em courino e o interior é bem arranjado. Ele inclui o manual, carregador, cabo USB, uma chave de fenda e, no caso dessa unidade, três módulos de amplificação: dois para fones full-size (não sei a diferença entre eles), e um para IEMs, chamado GAME, um adicional de 169 dólares.
O DX100 vem numa embalagem igualmente elaborada, mas um pouco menor. Não acompanha manual, e vem apenas com um carregador, cabo USB, e um muito bem vindo adaptador coaxial para mini-coaxial – muito útil para usar o DX100 como transporte, conectado a um DAC externo.
FUNCIONALIDADE
– Compatibilidade de Arquivos
Ambos, obviamente, são capazes de tocar arquivos de alta resolução nos formatos mais comuns: FLAC, APE e CUE, WAVE e AIFF, além de OGG e MP3. No entanto, apenas o iBasso é capaz de tocar ALAC, AAC e WMA.
O iBasso DX100 é capaz de tocar arquivos de até 24 bits – 192kHz, enquanto o HM-801 pára nos 24/96kHz. Para mim isso não faz a menor diferença, já que estou perfeitamente satisfeito com o bom e velho 16/44.1kHz.
– Sistema
Aqui os dois começam as divergências. Primeiramente, o HiFiMAN, apesar de permitir a instalação do RockBox, vem com um sistema primitivo que não faz nada além do necessário. O layout dos botões também é um tanto confuso, mas não achei difícil me acostumar. Não existem muitas opções, o sistema dele é algo como o daqueles players genéricos antigos. Sendo sincero, não ligo muito para isso – desde que toque minhas músicas. Ah, e um detalhe: o equalizador é muito ruim e degrada o som consideravelmente. Então, quem está acostumado a equalizar o fone… é melhor desistir.
Já o DX100 larga muito na frente nesse quesito. Ele usa o sistema operacional Android, que apesar de complexo para quem não está acostumado, permite que o iBasso torne-se mais do que um DAP comum: através da conexão WiFi, o usuário pode checar e-mails, usar a internet, instalar jogos, e tudo mais. Um detalhe importante é o fato de a marca ter feito alterações no sistema para uma melhor reprodução do áudio, por isso não é recomendado que se faça updates do sistema – o que faria com que essas modificações fossem perdidas.
Além disso, a iBasso customizou o sistema de modo que o player é a página principal, mas a organização ficou um tanto confusa, e até agora não consegui descobrir como faço para que o player toque o conteúdo de uma pasta linearmente. Fora isso, a experiência é muito satisfatória e a tela touchscreen capacitiva, apesar de não ter uma resolução espetacular, tem boas respostas ao tato e trabalha geralmente muito bem. Ele permite diversas configurações, como por exemplo ligar ou desligar o upsampling, adicionar filtros SRC, criar playlists, e mais. É uma experiência mais completa – mas se isso é necessário ou não, somente o usuário final poderá responder.
– Memória
Quanto à memória, o HiFiMAN não é nada espetacular. Temos 8Gb de memória interna, e um slot de cartão SD, que em teoria suporta até 32Gb mas já li que o cartão de 128Gb, da Lexxar, funciona com o HM-801. Então, se você estiver disposto a levar cartões extras, tem basicamente uma memória infinita!
O iBasso novamente leva vantagem. Tem 64Gb de memória interna e também um slot para cartões, mas são microSD. Portanto, ele tem muito mais memória interna, mas a possibilidade de expansão é mais limitada, devido ao formato de cartão utilizado.
– Versatilidade e outros usos
Nesse quesito, os dois são novamente diferentes. Os dois podem ser usados de outras maneiras – não só como DAPs. O HiFiMAN pode ser usado como um DAC e amplificador externo, recebendo dados por USB ou por coaxial – ou então apenas como DAC, usando sua saída de linha, que pode ser conectada a um amplificador.
É muito conveniente. Por exemplo, no meu caso, uso um Meier Audio Eartube como amplificador de meus full-sizes, mas ele tem potência excessiva para os IEMs, então o ruído de fundo é muito presente e o controle de volume é difícil. Portanto, o HM-801 pode ser conectado via USB ou coaxial no meu transporte (no caso, um computador) e usado como DAC e amplificador. Com o módulo de amplificação GAME, para IEMs, o resultado é excelente. E o melhor de tudo é que, se eu usar o módulo de amplificação normal, o HiFiMAN surpreendentemente tem potência suficiente para tocar com autoridade praticamente todos os full-sizes que já ouvi até hoje, incluindo os exigentes como o Sennheiser HD800.
Ou seja, tenho aqui um único equipamento capaz de substituir meu set inteiro, e mesmo que ele não se equipare à qualidade de um Eartube com um DacMagic, não podemos nos esquecer que o preço desse conjunto é muito mais alto. Poderíamos compará-lo, talvez, a por exemplo um Schiit Bifrost com um Schiit Lyr, e apesar de eu imaginar que o resultado com os Schiit seja melhor, novamente esbarramos na questão da versatilidade: o HiFiMAN é menor, ocupa menos espaço, pode ser usado tanto com fones muito sensíveis quanto com famintos, pode ser levado para qualquer lugar e ainda por cima usado como player portátil. Eu não o vejo somente como um DAP. O vejo como um DAC e amplificador que, por acaso, é capaz de tocar música sozinho e funciona com uma bateria. Ter um sistema inteiro que cabe no bolso e que pode ser ligado em qualquer computador, como por exemplo no trabalho, para mim é fenomenal.
No entanto, duas ressalvas: primeiramente, é de certa forma decepcionante que ele não tenha uma entrada para plugs P10 – coisa que o iBasso tem –, o que me força a usar um adaptador em fones que só tenham esse plug. O problema aí é que a maior parte dos adaptadores é uma peça só, e acaba forçando o jack do player devido ao peso. O ideal é que se use um adaptador como o da Grado, que tem uma saída P2, um pouco de fio e a entrada P10 em outra peça. É tanto uma extensão quanto um adaptador. Outro problema é a bateria, que dura apenas 7 horas – mas também, com tanta potência, não dá para esperar muito mais do que isso.
Já o iBasso não pode ser usado como DAC externo. Ou seja, não é possível fornecer a ele dados que não venham de sua memória interna ou do cartão microSD. Em compensação, ao contrário do HM-801, ele pode servir de transporte, ou seja, fornece dados digitais que podem ser enviados a um DAC externo, através de uma saída ótica (!) ou coaxial. O DX100 também pode servir de fonte, se ligado a um amplificador externo através da saída line out. A diferença para o HiFiMAN é que as músicas não podem sair de um meio externo – elas têm que vir do iBasso; no HM-801, elas podem vir de um outro transporte, como computador ou CD player.
Então, aqui é uma questão de prioridades. Caso você tenha interesse em ter um transporte portátil, que possa ser ligado num DAC externo, o iBasso é a opção. No entanto, se seu interesse é ter um aparelho que possa ser ligado em qualquer transporte e servir de DAC e amp, é o HiFiMAN. O problema é que vejo muito mais uso com o HM-801, e imagino que a maioria das pessoas vai concordar comigo. Por mais que a possibilidade de carregar no bolso um poderoso transporte seja atraente, acho muito mais útil carregar um conjunto amp + DAC que pode ser ligado a qualquer computador e é capaz de empurrar os full-sizes mais cascudos.
Uma vantagem no iBasso é a existência de saídas P10 e P2, o que é realmente interessante, e permite que qualquer fone seja conectado sem a necessidade de adaptadores. Outra questão é que ele possui controle de ganho – baixo, médio e alto –, novamente para se adequar a qualquer fone. Para isso, o HiFiMAN “precisa” trocar seu amplificador interno. Quanto à bateria, a duração é basicamente a mesma: 7 horas.
O SOM
– Como players
Vou começar essa seção deixando uma coisa clara: nunca levei tanta fé nesses players high-end, porque realmente acho que as pessoas exageram demais com esses equipamentos quando falamos do uso com in-ears, o que parece ser a maioria dos casos. Usando um JH13Pro por exemplo, a diferença não é grande entre um HM-801 e um iPod Classic. Ela existe, claro, mas na minha opinião, a grande vantagem desses players high-end está na performance com full-sizes e na versatilidade.
Fico de certa forma incomodado quando leio sobre pessoas com IEMs universais de 500 dólares comprando esses DAPs de quase 1000… isso para mim não faz sentido, já que esse resultado é consideravelmente inferior ao proporcionado por, digamos, um Sansa Clip ou iPod e um bom fone custom, como o JH13Pro. Definitivamente não há comparação. Mas, com um full-size, a história muda, como vocês vão ver ao longo dessa avaliação.
Dito isso, vou seguir para a análise dos players. Ela será feita tanto com os IEMs JH13Pro e Sony EX1000 quanto com os full-sizes Grado HP1000 e AKG K1000 (sim, acredite). Com os in-ears, usarei o iBasso com o ganho mínimo e o HiFiMAN com o módulo de amplificação GAME. Com os full-sizes, o DX100 terá seu ganho colocado no máximo e o HM-801 usará o módulo próprio para essa categoria de fones.
Os dois players, de início, assim como praticamente todos os players portáteis que já pude ouvir, têm uma sonoridade correta; com o JH13Pro, nada parece diferente do bom e velho iPod. É um bom som, mas nada que eu nunca tenha ouvido desse in-ear antes. Absolutamente nada salta aos ouvidos como uma novidade. É necessária uma audição um pouco mais atenta para que se note alguma diferença. Mas elas existem.
Comparado ao iPod, o equilíbrio tonal do HiFiMAN é ligeiramente diferente – o HM-801 é um pouco mais focado nos médios, apesar de apresentar um pouco mais de atividade nos agudos. A região média tem consideravelmente mais definição e transparência. O iPod, em comparação, me parece mais congestionado e com graves que parecem invadir os médios, algo que não acontece com o HiFiMAN. Definitivamente não é uma diferença gritante, mas ela está lá, e fica clara quando ouço My Sacrifice da banda americana Creed ou O Que Sobrou do Céu d’O Rappa.
O iBasso é mais próximo do iPod – os médios deixam a linha de frente, e o que se nota é um incremento na região dos graves e médios graves, que de certa forma acabam mascarando um pouco os médios e agudos. O HM-801 parece ter mais definição e transparência, mas em compensação tem um som mais magro, e perde em autoridade e envolvência para o DX100, que é mais quente, cheio e convidativo. No entanto, comparando ambos ao aparelho da Apple, o aumento da espacialidade é considerável. O som é mais tridimensional, e parece preencher um espaço maior, que apresenta um palco mais definido e arejado – o iPod é mais chapado. Essa comparação me lembra a diferença entre o DAC do Burson Audio HA-160D com o do EMM Labs Meitner CDSA que fiz há algum tempo (no post Impressões de um Micro-Meet), mas aqui, temos também diferenças no equilíbrio tonal dos aparelhos.
Ao trocar para o EX1000, é curioso notar que a situação muda um pouco, e por alguma razão o DX100 parece apresentar mais agudos, o que no caso desse fone, não é uma adição bem vinda. Não sei por que isso acontece, visto que com o JH13Pro o HiFiMAN é que apresenta mais atividade nessa região. Arrisco dizer que essa anomalia é proveniente de alguma questão de impedância. Novamente, o HiFiMAN é notavelmente mais focado nos médios, enquanto o iBasso tem um pouco mais de força na região dos médio graves, que são em compensação um pouco menos definidos.
No entanto, comparando os dois ao iPod, temos, além de uma menor espacialidade como já foi dito, menos autoridade – eles têm mais vigor e mais vontade, enquanto o iPod parece perder fôlego, com um som menos cheio, que parece mostrar um vale um pouco maior entre os graves e os médios: essa região é mais “preenchida” nos dois DAPs high-end. A faixa O Que Sobrou do Céu evidencia isso de uma forma interessante: temos, entre outros instrumentos, o baixo, depois um teclado e então a voz. No iPod, os graves do baixo são cheios, e o teclado parece estar um pouco escondido entre ele e a voz. Já no DX100 e no HM-801, esse teclado é mais presente, e preenche esse espaço entre o contrabaixo e o vocalista Falcão.
A música Dub In Ya Mind [Insatiable Mix], do Afterlife, também revela essa diferença, mas aqui, o HiFiMAN e o iBasso têm suas diferenças novamente claramente evidentes: o baixo no DX100 é muito mais gordo, volumoso e envolvente, e os médios são recuados. O problema é que isso evidencia o pico nos médio-agudos do Sony, o que não é bom. O HM-801, em contrapartida, tem menos força nas regiões mais baixas, o que nesse caso não é bom, mas também apresenta os médios muito mais definidos e evidentes, e então o pico nos médio-agudos é bem menos evidente. É uma apresentação menos agressiva dos médios para cima, mas mais agressiva dos médios para baixo, porque não há a “maciez” proporcionada pelos graves, o que acontece com o DX100.
Agora, entrando nos full-sizes. Aqui, o mais importante é avaliar a capacidade de lidar com cargas difíceis, já que, na minha opinião, esse é o maior diferencial com relação a players mais simples. Ligando o Grado HP1000 no iPod Classic, vemos que capacidade de empurrar o fone com competência ele tem – porém somente com o volume no máximo ou muito perto dele. O DX100, com o ganho alto, alcança o mesmo nível de pressão sonora com o volume antes da metade. O mesmo vale para o HM-801.
É curioso perceber que, com esse fone, as diferenças entre os dois players diminuem, o que me leva a crer que ele é menos transparente com os equipamentos associados do que o JH13Pro e o EX1000. No entanto, o teste é interessante para verificar a diferença entre o equilíbrio tonal dos players – principalmente na região média, já que o Grado é mais “feliz” nessa área. Confirmando os resultados anteriores, temos uma apresentação mais suave no iBasso, mas a diferença é muito mais sutil do que com os in-ears. O DX100 também continua com uma sonoridade mais cheia, e tem graves um pouco mais gordos e fartos.
Quanto aos agudos, a situação é parecida com a do JH13Pro: temos um pouco mais de agudos no iBasso, mas é novamente uma diferença muito pequena, aparente apenas em faixas que evidenciam muito as regiões mais altas – como por exemplo a In a Mellow Tone do quarteto de jazz Sugar Hill. Uma leve ressalva é o fato de esse aparelho ter mostrado uma leve sibilância na Dub In Ya Mind [Insatiable Mix] com o Grado, algo que não aconteceu com o seu concorrente. Porém esse é um caso pontual, e não ouvi esse fenômeno em nenhuma outra ocasião com esse fone e player.
Por último, usar o AKG K1000 para avaliar esses players é praticamente uma brincadeira, simplesmente para ver como eles se comportam no limite – afinal, trata-se do fone dinâmico mais “difícil” de tocar já fabricado. Consequentemente, para chegar a um bom nível de volume, os dois players têm que trabalhar em seus volumes máximos, ou muito próximos disso. Porém, eles conseguem chegar a um volume muito agradável para mim. Não sou uma pessoa que escuta muito alto, mas também não acho que escute baixo.
Obviamente, com o iPod o K1000 é realmente baixo, mas trocando para o HiFiMAN, a coisa muda, e vemos que ele consegue tocar o AKG com autoridade surpreendente: os graves têm excelente compostura, com ótimo impacto e peso. Os médios também são renderizados com excelência, e o mesmo vale para os agudos. É uma apresentação completa que, se não chega ao nível de refinamento do meu set de mesa – o palco é menor, a separação instrumental pior, assim como o arejamento, os agudos são menos presentes e extensos, os médios menos doces e os graves têm menos vigor –, ainda assim é muito impressionante para um pequeno aparelho como esse.
No entanto, ao colocar I’m Not a Hero, da fantástica trilha sonora de Batman – O Cavaleiro das Trevas de Hans Zimmer no volume máximo, pude ver que estava pedindo demais do HM-801: ele apresentou uma leve distorção do lado esquerdo, assim como um ruído de fundo um pouco notável.
Já no DX100, isso não aconteceu. Em seu volume máximo ele tem mais autoridade que o HM-801, chegando a um volume mais alto, com graves mais fortes e controlados, e não apresentou nenhuma distorção e nenhum ruído de fundo considerável.
Fora isso, com o AKG K1000, as diferenças entre as vozes dos players continuaram ali: HM-801 mais centrado nos médios, e DX100 com graves e agudos mais proeminentes. A diferença ficou mais clara que com o Grado; talvez tão clara quanto quando usei os in-ears. Com esse fone, a apresentação do iBasso é muito mais agradável, já que, como disse na avaliação do AKG, meu maior problema com ele são os médios exageradamente proeminentes e duros. Por isso, os médios relativamente recuados e graves fartos do DX100 caem excepcionalmente bem com esse fone. Mas essa é não é uma questão de superioridade, e sim de pura sinergia.
– Como fontes passivas, usando o line-out e o amplificador Meier Audio Eartube
Aqui, o objetivo é avaliar a performance do DAC dos dois players, já que os amplificadores são tirados da equação. Primeiramente, temos uma diferença entre os dois: no HM-801, a saída de linha é fixa, e o controle só pode ser feito pelo amplificador. Já no DX100 a saída é variável, e pode-se controlar o volume também pelo player.
Pude comprovar, usando o Meier Eartube como amplificador, que a diferença entre os players vem principalmente do DAC. Inclusive, com o Grado HP1000, a diferença é realmente grande entre os dois – é curioso que ela não tenha sido tão grande usando os players sozinhos –, porque o HiFiMAN tem médios realmente evidentes, e com esse fone o DX100 proporciona um resultado muito mais equilibrado. Os médios são mais recuados, os graves têm melhor textura e são mais definidos (perdendo um pouco da gordura) e os agudos são ligeiramente mais presentes.
A maior diferença, porém – que está me levando a crer que o DAC do iBasso é superior – é o fato de que o som me parece muito mais limpo e o equilíbrio tonal muito mais correto. Existe algo a respeito dos médios e agudos que é mais “certo” no iBasso, e não é simplesmente a presença. Eles soam mais lineares e literalmente mais limpos, transparentes e definidos. O HM-801, em contrapartida, é mais distorcido, sujo e congestionado.
Não é tão simples dizer que é certamente melhor porque acredito que a característica mais importante de um componente é o equilíbrio tonal, e então é perfeitamente possível que algum equipamento – com curva de frequência acentuada em V, por exemplo – se dê melhor com o HiFiMAN. Mas, sendo puramente frio e objetivo, o DAC do iBasso, concordando com o que o fabricante diz, é sim definitivamente e claramente superior. Temos graves com mais textura e impacto, médios muito mais neutros e lineares, agudos mais extensos, claros, definidos e com ótimo corpo. O palco sonoro também me parece mais amplo, com maior arejamento, recorte e precisão no posicionamento dos instrumentos. No AKG K1000, isso é evidente.
Apesar de os resultados com os fones na análise dos players sozinhos não ter sido tão clara, aqui é: com qualquer um dos fones que estou usando nessa avaliação – AKG K1000, Grado HP1000, JHAudio JH13Pro e Sony EX1000 –, a superioridade do DAC do iBasso é muito clara. Ele é bem melhor. Nesse aspecto, está muito à frente de seu competidor, o que me deixa triste, já que ele não pode ser usado somente como DAC, ao contrário do HiFiMAN – e essa função é muito importante para mim… é uma pena que a marca não tenha incluído essa função.
Outra conclusão que pude tirar é que o que faz com que a situação se equipare quando os dois são comparados puramente como players é a amplificação – que não deve ser tão boa no iBasso, em alguns casos mascarando as proezas do seu DAC, mas é ótima no caso do HiFiMAN.
Também comparei os dois ao DacMagic, e o DX100 não deveu quase nada a ele: só apresentou um pouco menos de força nos graves, mas fora isso, o resultado é muito parecido. Já o HiFiMAN, com os fones que tenho disponíveis, apresentou uma performance menos satisfatória. As diferenças entre seu DAC e o do iBasso em grande parte se repetem.
– Como DAC (HiFiMAN HM-801)
Como visto na seção anterior, o DAC do HiFiMAN me parece inferior ao do iBasso, porém, ele apresenta a possibilidade de ser usado somente como DAC, utilizando um transporte interno, o que infelizmente não é possível no DX100. Para o meu uso, essa é uma clara vantagem, e sua performance nessa área é muito respeitável. No trabalho e por vezes em casa, uso o HM-801 ligado diretamente ao computador com os IEMs.
– Como transporte (iBasso DX100)
Aqui, o iBasso cumpre seu trabalho. Nunca gastei muito tempo analisando a diferença entre transportes porque acho que, caso elas existam, são risíveis. Então sei que o DX100 exerce bem seu papel de transporte, podendo ser ligado a um DAC externo tanto pela saída coaxial quanto pela ótica. O resultado com o DacMagic e Meier Eartube, como é de se esperar, foi muito bom, e não me pareceu diferente de quando uso o iMac como transporte para o DAC.
CONCLUSÕES
É difícil concluir um review com tantos aspectos… mas vou tentar.
Eu não levava muita fé nos players high-end porque não achava que as diferenças eram significativas, pelo menos usando in-ears. De certa forma, confirmei isso, apesar de ter sim ouvido diferenças claras entre eles. Nesse caso a diferença para um iPod definitivamente ão é justificável pela diferença de preço, a menos que o usuário deseje tirar a última gota de seu IEM custom. No entanto, conforme fui subindo o nível e usando fones mais exigentes, enxerguei a verdadeira causa para eles existirem. Eles continuam andando muito depois de players comuns desistirem. É impressionante ver players portáteis empurrando um fone como o AKG K1000, e com competência.
As diferenças sonoras entre eles usados como players são evidentes mas acho que o fator decisivo é a sinergia: o HM-801 é mais centrado nos médios, tem mais definição, enquanto o DX100 é mais velado mas tem mais força e vigor.
Já em termos de usabilidade, o iBasso ganha de lavada: seu sistema operacional é muito mais completo (e complexo, vale dizer) e permite muito mais controle sobre o que acontece com o player.
O DX100 também leva vantagem quando usado como transporte, já que seu DAC se mostrou muito superior nos meus testes com os fones que tenho disponíveis. No entanto, isso também me leva a crer que a amplificação do iBasso é que o “rebaixa” ao nível do HM-801, já que quando usados como players, nenhum consegue uma vitória definitiva. Portanto, o HiFiMAN parece ter uma amplificação mais correta. Porém, como pude ver com o AKG K1000, o iBasso tem mais força e compostura no limite – seu competidor começou a perder fôlego com o AKG no volume máximo, com uma faixa difícil.
Com relação a outros usos, o usuário deve decidir o que prioriza: um aparelho capaz de servir como transporte para um DAC externo, ou um que pode ser usado como DAC e amplificador de um transporte externo. Ambos servem de fontes passivas.
Já sobre aspectos físicos, não há ganhador: os dois são bem construídos, e apesar de achar o iBasso mais atraente, com seu visual mais moderno, a classe do HiFiMAN pode ser igualmente ou mais atraente para o usuário final.
Continuo achando, no entanto, que esse investimento não faz sentido para o uso apenas como player portátil de IEMs. Nesse caso, o custo extra não compensa. Mas, para empurrar full-sizes dos mais difíceis e para cumprir o papel de outros equipamentos, eles abrem possibilidades que há poucos anos atrás eram inimagináveis. Temos aqui dois equipamentos que realmente chegam ao nível de componentes de desktop, mas que podem ser levados no bolso.
FICHA TÉCNICA
HiFiMAN HM-801 (fora de produção; custava aproximadamente US$800,00, mais US$169 pelo módulo GAME para IEMs, e foi substituído pelo HiFiMAN HM-901)
- DAC Chip: Philips TDA1543 in Non-Oversampling (NOS) configuration
- LPF Op-amp: OP275, OPA2604
- Headphone Amplifier Op-amp: OPA2107
- Frequency Response: 20-20K Hz
- Distortion: 0.09%
- S/N Ratio: 92 dB
- Stereo crosstalk: 74 dB (Lineout)
- Headphone Amplifier Output level: 1.1v at 32 Ohm; 2.2v at 150 Ohm
- Max Output: 30mw at 32 Ohm; 26mw at 150 Ohm
- Size: 62mm x 103mm x26.5mm
- Weight: About 200g
- Memory: 8GB (onboard) + SDHC slot
- Battery Life: 7 to 8 Hrs
- I/O: Headphone Output; Line Output; USB Data Exchange; USB DAC Input
Selectable High / Low Gain
iBasso DX100 – US$ 830,00
- Android2.3 OS With Custom Audio Player Software
- Support up to 24Bit/192kHz Bit for Bit Decoding
- ES9018 32Bit DAC Chip
- 3.75″ Capacitive Touch Screen
- Up to 24Bit/192 Optical/Mini Coaxial Output
- 3.5mm Headphone Output, 6.3mm Headphone Output, and Line Out
- 64G Onboard Flash
- Support up to 32G External MicroSD
- 3-Setting Gain Switch
- SRC Function
- Slow Roll-off/ Sharp Roll-off Digital Filter
- Support Wifi, Bluetooth
- Power Source: Built-in 2000mAh 8.4V Li-polymer Battery pack or external power supply
- Frequency Response: 20Hz-20KHz +0.1/-0.25dB
- Signal to Noise Ratio:-116dB
- Crosstalk: 1KHz0dB > -100dB, 20KHz odB = -82dB
- THD+N: 0.002%
- Gain and Output Power: 0dB=2V rms (125mW/32ohm)
+3dB = 2.8V rms (245mW/32ohm)
+8.5dB = 5.0V rms (83mW/300ohm) - Battery Life: 72Hours (stand-by) or 7Hours (play music)
- Recommended Headphone Impedance: 8~600Ω
- Dimension: 71.8W x 118L x 27.5H (mm)
- Weight: 265g
EQUIPAMENTOS ASSOCIADOS
- Fones: AKG K1000, Grado HP1000, JHAudio JH13Pro, Sony EX1000
- Amplificador: Meier Audio Eartube
- Transporte: iMac
- DAC: DacMagic