INTRODUÇÃO
Donald North é um engenheiro formado pela Caltech com um currículo que não se vê todo dia: possui passagens pela Boston Acoustics, Aurasound e Harman Multimedia, tendo trabalhado no desenvolvimento de equipamentos de áudio de diversas categorias.
Porém, antes de um engenheiro, North é um hobbista apaixonado. Em sua história, disponível no site da marca, vê-se que a DNA, marca que criou, nasceu de sua busca pessoal pelo melhor som possível, que começou quando ouviu um amplificador SET pela primeira vez. No início, ele importava equipamentos europeus, mas com o tempo, passou a desenhar seus próprios equipamentos. O primeiro amplificador lançado por North foi o Sonett, seguido pelo Stratus – feito para fones mais difíceis, como o AKG K1000. É o que tenho aqui para avaliação, graças a um grande amigo entusiasta, Felipe Stanquevisch.
ASPECTOS FÍSICOS E TÉCNICOS
O DNA Stratus é um amplificador com aparência curiosa. Me lembra um pouco aquelas geladeiras vintage coloridas! É azul e chama bastante atenção. Durante todo o tempo que ele esteve em minha estante, todos os que passaram por aqui perguntaram a respeito. É consideravelmente grande e pesado (longe de conveniente), mas gosto muito de sua aparência: trata-se de uma beleza excêntrica – não há nenhuma firula ou sofisticação, apenas válvulas, um transformador, parafusos à mostra e chapas dobradas –, que me encanta bastante.
Em termos de funcionalidades, é muito simples. Há duas entradas RCA na traseira, que podem ser escolhidas por meio de um seletor ao lado. Já na parte da frente, há três saídas para fones que podem ser usadas simultaneamente: uma TRS, uma balanceada de 4 pinos e um par de balanceadas de 3 pinos. Há também o botão de volume, um seletor de ganho (que afeta apenas a saída single-ended, que pode ter o ganho diminuído em 6dB, para fones mais sensíveis) e um seletor de impedância de saída – no ganho normal, pode ter 8 ohms ou 120 ohms, e no ganho baixo pode ter 3 ohms ou 115 ohms. As saídas balanceadas sempre possuem 8 ohms de impedância e a potência é sempre a mesma, não importando a conexão: 1,8W em 50 ohms e 900mW em 100 ohms.
Logo, vê-se que se trata de um amplificador muito potente – o que é de se esperar de algo inspirado pelo AKG K1000 – mas que aparentemente não é tão versátil assim. Afinal, mesmo com o ganho e a impedância de saída na opção mais baixa, esta última ainda é de 3 ohms, que não é das mais baixas. Para efeito de comparação, no HeadAmp GS-X essa especificação é menor que míseros 0,5 ohms. Entretanto, vale lembrar que amplificadores valvulados tradicionalmente não oferecem a mesma versatilidade que os estado sólido. É um preço a se pagar.
Por falar em valvulados, o Stratus é um SET (single-ended triode) que usa como base um par de 2A3Bs em conjunto com uma retificadora 5UG4 e uma driver 6N1P. Apesar de haver saídas balanceadas, devido a sua topologia esse amplificador não é balanceado de fato. Quase todo o circuito é ponto-a-ponto.
O SOM
Ainda me lembro da primeira vez que ouvi o DNA Stratus do Felipe. Foi num encontro em São Paulo, e o ouvi com o seu antigo W3000ANV. Tendo em vista o que lia sobre esse amplificador, achava que o resultado seria uma eufonia um pouco extrema – mas não foi isso que ouvi. Muito pelo contrário: nunca tinha ouvido o Audio-Technica tocar daquela maneira. Era assustadoramente eufônico, mas não de forma alguma o resultado era exagerado.
Mas aquelas condições estavam muito longe do ideal para julgar um equipamento – quanto mais um amplificador, que em geral influi apenas em sutilezas (desculpem-me, audiófilos). Apenas esse tempo que passei com ele em casa permitiu que eu de fato o conhecesse.
Se eu pudesse resumir o DNA Stratus em uma palavra, seria orgânico. Na página do amplificador, Donald North diz que se encantou com a apresentação lifelike das válvulas 2A3 – e é exatamente assim que eu descreveria o que ouço desse amplificador. Ele é, simplesmente, natural e verdadeiro. É como a vida real. As músicas são tangíveis, palpáveis, e ganham uma camada a mais de organicidade quando o comparo diretamente a meu HeadAmp GS-X.
É muito difícil tangibilizar a diferença e transformá-la em palavras, mas é como se o Stratus fosse um pouco mais romântico, mas nos detalhes. Não sinto que estou perdendo detalhamento, transparência ou autoridade, mas em comparação, o GS-X é mais apressado, direto e, de certa forma, deselegante, se isso fizer sentido. Não mede suas palavras. O DNA pensa antes de falar. É mais doce, mais musical, mais encantador.
Vejam, ainda estou falando de diferenças objetivamente pequenas. A expectativa era que o Stratus e o GS-X fossem diametralmente opostos, mas o que vi não foi bem isso… inclusive, meu Sennheiser HD600 permite que eu ouça um amplificador em cada ouvido (por breves períodos, para não causar problemas às válvulas do DNA), e ouço muito mais semelhanças do que diferenças. Tanto que não sinto estar perdendo os maiores benefícios sonoros do HeadAmp aqui, mas tenho uma apresentação ligeiramente diferente. Mas é uma mudança que em diversos momentos é extremamente bem vinda.
Onde mais sinto essa personalidade diferente é, curiosamente, no HD600. Esse já é um fone que considero extremamente neutro, e me parece que o Stratus só potencializa essa característica. Mais uma vez, ele me soa orgânico. Não se torna outro fone, longe disso, mas vou ser sincero: se torna melhor. Não que essa seja a impressão que tenho com esse fone geralmente, mas a impressão que me dá é que, aqui, o Sennheiser está menos preocupado em mostrar suas proezas técnicas, e só quer tocar música da forma mais real possível.
Já no HD800, mais uma vez ouço uma apresentação mais natural e suave – os agudos, em particular, me parecem ligeiramente mais calmos. Em compensação, aqui acho que o GS-X me dá um pouco mais de autoridade e um palco um pouco mais desenvolvido. A Como Ves, do álbum Rainha dos Raios, da Alice Caymmi, mostra essa diferença: ao mesmo tempo em que os pratos de bateria me incomodam um pouco mais no GS-X, nele o bumbo da bateria é apresentado com um pouco mais de segurança.
Já com o Grado HP1000, a situação muda um pouco: como é um fone mais fechado, com presença mais tímida nos agudos, acho que a apresentação mais firme e direta do GS-X acaba ficando mais interessante. Acho que a leve escuridão a mais proporcionada pelo Stratus acaba soando exagerada com o fone americano.
E em termos de potência, o DNA também é bem impressionante: de fato, tem potência mais do que suficiente para o faminto AKG K1000. Com esse fone, aliás, novamente acho que o HeadAmp tem mais vigor nas baixas frequências, mas gosto da forma como o Stratus consegue amaciar ligeiramente os médios desse fone lendário.
Tive uma grande surpresa quando fui testá-lo com meu Xtreme Ears Xtreme ONE. Gosto muito de usar intra-auriculares para avaliar amplificadores porque, provavelmente devido ao alto isolamento e detalhamento, os mais sofisticados costumam funcionar como uma lente de aumento no sistema. E, aqui, não foi diferente. Ao mesmo tempo, sei que são condições com as quais o dono de um Stratus dificilmente irá se deparar. Ele até tem as diferentes opções de ganho, mas acredito que, ao contrário do que ocorre com o HeadAmp, esse amplificador não foi desenvolvido tendo em mente esse tipo de fone. De qualquer maneira, nunca deixo de testar amplificadores com in-ears, e o DNA não iria mudar isso.
Curiosamente, com o ONE, observei diferenças muito mais evidentes entre os dois amplificadores. O Stratus soou consideravelmente mais fechado que o GS-X, que possui um incremento bastante significativo nas altas frequências. Saindo dele para o DNA, a sensação que tenho é de que um véu foi colocado sob a música. Isso pode ser bom ou ruim, dependendo do fone. Mas foi no mínimo inusitado constatar que esse foi o único fone com que pude verificar uma diferença dessa magnitude. Com todos os outros, os dois amplificadores eram sensivelmente diferentes – com o ONE, eram completamente distintos.
Isso pode ter acontecido tanto pelo fato de o Xtreme Ears ser um in-ear, que facilita esse tipo de comparação, como também por ele ser baseado em armaduras balanceadas e ter uma curva de impedância distinta, que interage de maneira diferente com a (relativamente alta) impedância de saída do amplificador. Sinceramente, não sei dizer.
De qualquer forma, especificamente com o ONE, sinto que estou ouvindo muito mais com o GS-X – há mais ar, mais detalhes, mais transparência. Aqui, não há competição. Entretanto, devo lembrar que há a questão da sinergia. Se eu tivesse ouvindo um outro in-ear que também traz essa mesma diferença entre os dois amplificadores mas apresenta outra sonoridade (algo como um Sennheiser IE800, um Etymotic HF5 ou os customs da Xtreme Ears), posso preferir o Stratus.
Também me surpreendi com a versatilidade do valvulado. Não esperava, mas não há nenhum ruído de fundo com o ONE, e tenho um controle de volume muito semelhante ao que tenho com o GS-X. Então ele se mostrou tão capaz, ao menos em termos de volume – já que aquilo que ouvi com o ONE pode ter sido um “problema” de impedâncias –, com intra-auriculares quanto com headphones.
CONCLUSÕES
Confirmei o que pude constatar quando ouvi o DNA Stratus naquele evento: ele é, pura e simplesmente, um dos melhores amplificadores que já pude escutar.
É muito importante deixar claro que a escolha de um amplificador, ao menos em minha opinião, deve ser feita em função dos fones que se pretende usar – o fone é responsável pela maior parte do que se ouve, e a sinergia é quem dá a palavra final.
E a questão do Stratus é que ele se mostrou um amplificador do mais alto nível, com uma personalidade um pouco diferente do meu GS-X – e, em vários casos, que prefiro. Principalmente com o Sennheiser HD600, o fone que mais ouço em minha coleção, sinto uma maior organicidade e naturalidade. E isso simplesmente me cativou. É uma apresentação que contrasta com a velocidade do HeadAmp mas, curiosamente, não sinto que estou perdendo em transparência ou detalhamento.
Como com qualquer amplificador, é necessário ter em mente o que se busca e com o que ele será usado. Mas o que posso garantir é que se o DNA Stratus se encaixar em seu sistema – o que não é difícil, dada a sua versatilidade inesperada –, você certamente será surpreendido.
DNA Stratus – US$2.700,00
- Classe A SET
- Saídas TRS 1/4″, XLR 3 pinos e XLR 4 pinos
- Duas entradas RCA
- Potência máxima: 1.8W em 50 ohms, 900mW em 100 ohms
- Impedância das saídas XLR: 8 ohms
- Impedância da saída TRS: 3 (em -6dB, Low) /8 (em 0dB, Low)/115 (em -6dB, IEC)/120 (em 0dB, IEC) ohms
- Inclui as válvulas Winged “C” (SED) 5U4G, Sovtek 6N1P e Shuguang 2A3B de fábrica
Equipamentos Associados:
- Fones: Sennheisers HD600 & HD800, Grado HP1000, Audio-Technica W3000ANV, Xtreme Ears Xtreme ONE, BeoPlay H6
- Fontes: Yulong D18 & D100
- Transporte: Mac Pro