ESCLARECIMENTOS:
A grande maioria dos fones que são cedidos a mim para avaliação são empréstimos temporários, fornecidos por marcas, lojas, importadores ou amigos. Não ganho qualquer compensação por isso, não tenho qualquer afiliação a loja nenhuma e o compromisso é sempre ser o mais sincero possível. Por isso, acho importante frisar que esse caso é diferente: o fone foi cedido pela loja Camelot (revendedora oficial da marca no Brasil) como um presente, e por isso, se tornará um fone permanente em minha coleção para futuras referências.
Agradeço imensamente à Camelot pelo reconhecimento demonstrado por meio desse gesto.
INTRODUÇÃO
Sem fio é uma expressão que dá calafrios em muitos audiófilos. É simples: além de toda a complexidade de um sistema como esse, que exige um transmissor e um receptor específicos, fica a sensação de que boa parte do que se pagou não foi destinada à qualidade de som, e sim a esse sistema – e, como sabemos, essa qualidade de som é justamente a prioridade número um dos audiófilos.
Mas vamos ser sinceros: quem é que não gosta de conveniência? Prezo muito por qualidade de som, mas não são raros os momentos em que eu quero simplesmente ouvir alguma coisa – TV, videogame, música de fundo, o que seja –, não importa muito como. Quero um mínimo de qualidade, mas nesses momentos, o que mais quero mesmo é simplicidade e conveniência. Nesses casos, costumo usar minhas B&W MM-1, que substituíram meu antigo sistema composto por um integrado JVC A-S5 e um par de caixas Dali Lektor 2 justamente por serem (adivinhem!) mais simples e convenientes. Entretanto, não moro sozinho e por isso usar caixas de som por vezes não é a melhor opção.
E é aí que entra o Sennheiser RS120. É um sistema, composto por uma estação de transmissão e recarga e um fone sem fio, chamado HDR120. A marca alemã possui uma série muito completa de fones desse tipo, que vai desde o RS110 II até o RS195. O RS120 é o segundo mais simples da linha, possui um design supra-auricular aberto e usa radio-frequência para a transmissão.
ASPECTOS FÍSICOS
Fisicamente, o HDR120 é simples – é todo feito de plástico – mas bem resolvido. Em primeiro lugar, é um supra-auricular, apesar de bem grande. E como é um fone aberto feito para ser ouvido em casa, o conforto parece ser uma prioridade. Há pouca pressão lateral e o arco possui um formato estranho, mais aberto, mas é uma solução que visa um encaixe mais solto e menos justo, sendo assim mais confortável – característica melhorada pelo farto acolchoamento em sua parte superior.
Um aspecto que não gostei, porém, é o movimento dos cups. A vasta maioria dos fones movimenta essa parte em dois eixos (para os lados e para cima/baixo), para que o fone se molde melhor à cabeça do usuário. No HDR120, há um só movimento, diagonal, o que na minha opinião é um pouco menos eficaz. Apesar disso, o fone é muito confortável, e me vejo passando horas com ele na cabeça vendo TV sem desconforto. Em compensação, não transmite muita segurança – se eu olhar para baixo, ele cai –, mas tendo em vista seu objetivo, isso não é um problema.
As espumas são finas, mas macias. E retirá-las não poderia ser mais simples. Basta girar que elas saem – o que, no lado esquerdo, revela as duas pilhas AA recarregáveis. Também desse lado está localizado o botão de ligar e desligar e, do lado direito, o volume e o tune, para que a frequência de recepção esteja sintonizada à de transmissão, que pode ser selecionada na base. Em termos de usabilidade gosto das funções e da localização dos botões, mas acho que eles exageram um pouco na simplicidade. Não são diferentes do que encontramos em radinhos de pilha.
A base, por sua vez, também é feita de plástico mas apresenta uma solução interessantíssima: a haste de metal não serve somente como base para o fone – é um carregador. Na parte interna do arco do HDR120 há duas tiras de metal, então basta posicioná-lo na base que ele começa a ser carregado. Na frente dela há um LED que indica se ele está sendo carregado e outro de On/Off, que na realidade funciona automaticamente detectando a presença ou não de um sina de entrada.
Ao contrário de alguns dos modelos mais sofisticados da linha, o RS120 funciona apenas com sinais analógicos, então a única entrada é RCA. Eu gostaria que houvesse mais de uma, porque isso significa que posso ligar o fone em apenas uma fonte. Gostaria muito de poder conectá-lo simultaneamente ao computador e à TV, mas para isso seria necessário um switch.
A TRANSMISSÃO SEM FIO
Não sou nem um pouco acostumado a fones sem fio, e confesso que estou adorando essa funcionalidade (estou com um Parrot Zik em avaliação e peguei para mim um Zik 2.0 – comparativo em breve). É muito bom simplesmente poder andar pela casa sem precisar estar fisicamente preso a nada!
Inclusive, em algumas situações fui surpreendido pelo RS120. Meu sistema fica bem ao meu lado na escrivaninha, e como o cabo dos meus fones full-size são longos, eles acabam ficando no chão. A cadeira que uso possui rodas, e por isso sempre que vou me mexer, faço um movimento automático para pegar o cabo em baixo do pescoço e suspendê-lo para que a cadeira não passe por cima dele. Me vi fazendo isso algumas vezes com esse fone, procurando o cabo.
O alcance do RS120 é muito bom. Consigo ir a um ou dois cômodos de distância sem problemas, mas quando vou mais longe, tendo mais paredes no meio, começo a ter algumas pequenas interferências. Mas num único cômodo, mesmo que seja uma sala grande, você não terá problemas. No entanto, o sistema não é perfeito. Sem tocar nada, há um suave mas perceptível ruído de fundo, e em algumas ocasiões, um ou outro chiado. Mas nada que atrapalhe quando estamos ouvindo alguma coisa.
O que não gosto é o que acontece quando estou ouvindo música no computador e ela para. A base desliga automaticamente por não detectar nenhum sinal de entrada, e aí o fone começa a chiar bastante, como um rádio que não está sintonizado a nenhuma estação. Afinal, ele opera por radiofrequência. Tomei um susto com isso algumas vezes. É algo que não vai acontecer com uma TV, já que o sinal não vai parar, mas ouvindo num computador ou algo do tipo, é possível.
O SOM
Minha primeira impressão foi de surpresa. Eu não esperava muito, afinal ser barato e sem fio geralmente não é bem uma receita para o sucesso audiófilo. Mas o que ouço no RS120 é muito bom, independente das limitações. Também tenho um Sennheiser HD449, um fone com fio, da mesma marca, e numa faixa de preço semelhante, e em vários aspectos o HDR120 aguenta a briga.
É uma personalidade diferente – enquanto o HD449 segue a personalidade tradicional da marca, sendo mais velado e musical, o HDR120 é mais aberto e espacial. Ambas as propostas me parecem muito equilibradas e gosto igualmente de ambas – a escolha depende do que busco no momento.
Em termos de graves, o HDR120 é competente e extremamente equilibrado. Não é um monstro, mas não acho que estejam em falta se o que se busca é equilíbrio: essa característica é aquela à qual esse fone mais me remete nessa região. Para gêneros mais divertidos, porém, como música eletrônica, pop e hip-hop, falta um pouco de vontade. No HD449 as baixas frequências estão mais em evidência, tendo mais força e autoridade, mas o sem fio me traz um desempenho muito satisfatório, apesar de alguma carência de definição e de extensão. Oitavas mais baixas perdem presença, mas não é algo que me incomoda muito.
Nos médios, por incrível que pareça, o HDR120 sai na frente. O HD449 é mais musical, mas em relação ao seu irmão sem fio, é evidente o quanto o fato de ele ser fechado traz uma quantidade muito maior de colorações. A impressão que tenho ao passar dele para o HDR120 é que esse último é não só mais arejado, mas também consideravelmente mais natural. Vozes são menos íntimas e doces porém mais verossímeis, e o resultado é uma apresentação dos médios surpreendente para um fone sem fio nessa faixa de preço. Isso se deve em parte ao fato de ele ser aberto, o que pode não ser muito bom – quem estiver do seu lado vai ouvir o que você está ouvindo –, mas felizmente o vazamento nesse fone é um dos menores que já ouvi num aberto.
Em termos de espacialidade é um pouco complicado, porque apesar de o HD449 ser mais fechado e o espaço apresentado ser menor, ele é mais bem definido e recortado, com um melhor posicionamento dos instrumentos. O HDR120 é mais aberto e arejado, mas menos definido.
Uma outra questão que me divide é a dinâmica. Esse sem fio possui uma característica que não sei se é intencional como nos modelos superiores da marca ou se é algo inerente à radiofrequência: ele automaticamente faz uma normalização de volume. Explico: trechos mais altos sofrem redução de volume para ficarem próximos aos mais baixos. Isso é muito positivo para ver TV, já que muitas vezes há grande diferença entre comerciais e programas ou entre trechos diferentes de filmes. Então quando ajustamos o volume para ouvir bem as partes mais baixas, as mais altas ficam altas demais. Com o RS120 isso não acontece, mas em compensação, acho que alguns refrões de músicas acabam perdendo impacto porque são perceptivelmente atenuados.
Já nos agudos, o HDR120 mantém a compostura. Eles são presentes e estão em total consonância com os médios, além de timbristicamente me parecerem corretos. No entanto, acho que falta um pouco de definição e de tridimensionalidade em pratos de bateria, que soam de certa forma um pouco achatados. Está longe de ser um grande defeito, quanto mais quando consideramos que esse é um fone sem fio barato, mas quando o comparo ao HD449 nesse quesito, a superioridade desse último fica evidente.
CONCLUSÕES
O RS120 é um fone excelente. Compará-lo ao HD449 pode ter feito com que a avaliação não tenha parecido incrivelmente positiva, mas devemos nos lembrar de algumas coisas:
Enquanto o HD449 estava ligado a um HeadAmp GS-X, o HDR120 é um fone sem fio que possui um amplificador e um receptor FM internos, e os dois fones custam basicamente mesma coisa. Essa não é uma comparação justa, e fiquei impressionado com o quanto esse fone sem fio manteve a compostura. Não acho que o HD449 seja simplesmente melhor que o HDR120; no final das contas, apesar de achar que ele é mais refinado, são personalidades distintas e adequadas para gêneros e gostos diferentes. Para gêneros acústicos ou música clássica, por exemplo, considero o RS120 muito mais interessante.
Consequentemente, estamos falando de um confortável e conveniente fone sem fio que traz os muitos benefícios desse tipo de tecnologia sem abrir mão de uma ótima e equilibrada qualidade de som. Para ver TV sem poder usar caixas de som, por exemplo, é a melhor solução que conheço.
O RS120 é um daqueles produtos que mostram uma ótima combinação de desempenho honesto, bom preço e conveniência. Desde que ele chegou, me vi usando-o diariamente, independente de o estar avaliando. Não consigo pensar em muitos tipos de sistemas de áudio e/ou vídeo nos quais ele não seria uma adição muito bem-vinda. Altamente recomendado.
Sennheiser RS120 – RS499,00
- Driver dinâmico único
- Sensibilidade (1kHz): 106 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 22Hz – 19,5kHz
- Alcance: até 100m
- Tempo de Operação: Aprox. 20–22 horas
Equipamentos Associados:
Mac Pro, Yulong D100, iMac, TV Samsung LN32A550P3F
Onde Encontrar