INTRODUÇÃO
A Meze Audio é uma fabricante romena de fones de ouvido – algo que não se vê todo dia. A marca é um projeto do designer Antonio Meze, que começou com uma estratégia bem interessante: os primeiros produtos da marca eram fones OEM, ou seja, modelos já existentes, provenientes de fabricantes chinesas que levavam a marca Meze. Essa é uma estratégia bastante inteligente, porque permite um teste de mercado, com menor necessidade de capital de investimento e reduz os riscos inerentes ao desenvolvimento de um produto próprio.
Após alguns anos, Antonio pôde desenvolver o que é a sua visão de um fone, com o belíssimo Meze 99 Classics. Trata-se de um circunaural feito para uso portátil, que imediatamente foi motivo de encantamento na comunidade entusiasta por conta da beleza, do acabamento e da qualidade de som.
O que tenho para avaliação é o 99 Neo – uma versão com estética mais urbana e acessível do 99 Classics, que troca as conchas de madeira por plástico. Ele custa 250 dólares diretamente com a marca.
ASPECTOS FÍSICOS
Em termos físicos, o 99 Neo é espetacular.
Em primeiro lugar, há o primor no acabamento e na construção. Ele é um fone todo feito com parafusos, o que significa que a manutibilidade é simples – em um mundo onde cada vez mais os produtos são feitos de forma que o conserto é inviável ou impossível, para que você precise comprar outro ao ter algum problema, essa abordagem da Meze é refrescante. Inclusive, no próprio canal do YouTube da marca, há vídeos ensinando como trocar até mesmo o alto-falante! Peças como essa não estão listadas à venda no site da fabricante, mas acredito que, entrando em contato, seja possível adquirir esses componentes.
A qualidade do acabamento também é excepcional. O 99 Neo pode ter trocado a madeira do irmão mais velho por plástico, mas a meu ver o resultado está muito longe de “barato” ou “simples”. O plástico é de altíssima qualidade e tem um aspecto surpreendentemente sofisticado. O arco é feito de metal, e a peça que conecta o arco à alça de apoio para a cabeça é um destaque à parte. O cabo também é bem impressionante, com parte de seu comprimento com revestimento de tecido e tanto conectores quanto controle remoto em metal. Só gostaria que esse controle remoto também tivesse botões de volume – ele conta apenas com play/pause.
O conforto também é digno dos mais enfáticos elogios. Esse é, sem dúvida alguma, um dos fones mais confortáveis que já tive o prazer de testar. Contudo, aqui, observo que o isolamento poderia ser um pouco melhor. Mas sei que isso se dá porque a marca optou por priorizar o conforto – é uma escolha.
O que não me agrada tanto é o fato de ele ser bastante grande. Apesar de ser feito para o uso portátil, o 99 Neo é um pouco maior do que eu gostaria e, na cabeça, tem um formato mais ovalado. Não fica tão rente quanto o BeoPlay H6, por exemplo. Mais uma vez, estamos falando de uma escolha feita tendo o conforto como foco, mas o resultado é um fone que eu não me sentiria confortável em usar na rua.
Na caixa – que é muito bonita, aliás – há uma case rígida para transporte, de nylon, com uma pequena bolsinha que contém um adaptador P2-P10 e outro para uso em aeronaves mais antigas.
O SOM
Talvez vocês tenham visto o vídeo do teste cego que fiz com o Felipe Becker, do canal BeTech. Lá, quando ouvi o 99 Classics, lembro de não ter gostado porque achei que ele tinha graves em excesso – e não eram os sub-graves, dos quais gosto, e sim médio-graves, que embolam um pouco a apresentação.
No entanto, sei que impressões rápidas como essa podem não refletir as opiniões finais acerca de um produto quando temos mais tempo com ele. Por isso, quando o Carlos Seara, um hobbista, entrou em contato com a Meze para pedir unidades de avaliação, não hesitei em aceitar. Além disso, optando pelo 99 Neo, há a possibilidade de a sonoridade ser um pouco diferente.
Quando o fone chegou, fui ouvir a música So They Say, da Rukhsana Merrise. Lembro que estava com o meu pai na hora, e nossa reação foi de total encantamento.
O que ocorre é o seguinte: o 99 Neo é absurdamente sedoso e musical. Me lembra muito o que tinha com meu antigo Stax SR-007, misturado com um Hifiman HE500 e um Audio-Technica W3000ANV. Evidentemente, não estou falando de um fone que esteja no nível deles, que são muito mais caros, mas a questão é que é absolutamente impressionante o quanto o 99 Neo é um fone gostoso de ouvir.
Os médios são naturais, orgânicos, líquidos e simplesmente deliciosos. Não é o fone mais transparente que já ouvi – se esse for seu objetivo, existem opções mais indicadas –, mas se o que você busca é puro encantamento, é difícil bater o 99 Neo por esse preço. Ele parece te abraçar.
Inclusive, em termos de naturalidade nos médios, ele é consideravelmente superior ao BeoPlay H6, que é meu portátil de escolha. Após ouvir o Meze, o Bang & Olufsen soa estranho. Qualquer gravação de vocais femininos é assustadoramente envolvente, e os agudos, para completar, soam como um adicional espetacular aos médios.
É aquele brilho sutil que traz muita delicadeza a naturalidade. Eles talvez sejam sim um pouco para trás no espectro, porém, mais uma vez, a palavra chave é musicalidade e encantamento. E os agudos estão, justamente, para os meus ouvidos, no ponto.
De certa forma, é como se eu não quisesse perder tempo falando de tecnicalidades, porque o objetivo não é esse.
Mas, quando chegamos nos graves… a coisa fica um pouco complicada. Eles são bem fortes, a ponto de me incomodar. E o problema é que o incremento parece estar nos médio-graves, na região responsável pela sensação de impacto. Então as batidas soam fortes e físicas, e embolam a apresentação. Acabam assumindo a linha de frente, algo que não deveria acontecer. Alguns gêneros até ficam aceitáveis com isso, mas, infelizmente, são exceções à regra.
Se não fosse possível equalizar, sinceramente, este seria um dealbreaker para mim. Eu não conseguiria conviver com graves assim. E não é que seja como um V-Moda M-100, que é um monstro nos graves… é difícil explicar. É como se fosse a pancada que imcomoda.
A boa notícia é que um equalizador consegue resolver rapidamente esse problema, sem maiores prejuízos à apresentação. Basta retirar algumas frequências nos médio-graves e incrementar um pouco os sub-graves e pronto: fica o que encanta, sai o que incomoda. Tudo se resolve.
CONCLUSÕES
Estamos falando de um fone lindo, absurdamente bem acabado, muito bem construído, espetacularmente confortável e detentor de alguns dos médios e agudos mais musicais que já tive a oportunidade de ouvir no mundo dos fones.
Os graves chegam muito perto de estragar tudo. Mas você coloca um equalizador e provavelmente irá proferir uma série de palavrões ao ouvir a Night Drive da Ari Lennox.
É sublime.
Meze 99 Neo – US$250,00
- Circunaural dinâmico fechado
- Sensibilidade (1 mW): 103dB SPL/mW
- Impedância (1kHz): 26Ω
- Resposta de Frequências: 15Hz-25kHz
Equipamentos Associados:
PC personalizado, Benchmark DAC1 PRE, Samsung Galaxy S9+