INTRODUÇÃO
A FiiO é uma fabricante chinesa que marcou sua presença no mercado audiófilo fabricando amplificadores e DACs portáteis de baixo custo. Foi dela, inclusive, o meu primeiro amplificador: um E5 que usava com meu antigo Shure SE530.
Desde então, a marca evoluiu exponencialmente. Lançou diversos equipamentos, de níveis mais altos, mas sempre trazendo como foco uma boa relação custo-benefício.
Um dos equipamentos mais populares da marca foi o E17K Alpen, que era um pequeno conjunto de amplificador e DAC que não custava muito, era extremamente versátil e, de quebra, tinha um visual bem atraente – mas que lembrava muito um player portátil. Lembro, inclusive, que esse era o desejo de muitos hobbistas na época: “ah, se ele fosse um player…”
Até que, em 2013, a FiiO lançou o X3, seu primeiro player portátil. Foi justamente em uma época em que o mercado audiófilo via o ressurgimento dos players portáteis, por conta de lançamentos sofisticados, como o HiFiMAN HM-801, iBasso DX100 e posteriormente os tocadores da coreana Astell&Kern. O X3 entrou no segmento de players que visavam esse mesmo público audiófilo, mas mirava nos que não dispunham de 800 dólares ou mais para investir em um mp3 player.
Nos anos seguintes, muita coisa aconteceu: a fabricante lançou um modelo mais barato, o X1, e um mais caro, o X5, assim como suas próximas gerações. Mas o maior salto foi visto com a introdução do X7. É o topo de linha da marca, e um aparelho que busca trazer todo o desempenho e as funcionalidades de players muito mais caros, rodando Android, com módulos de amplificação destacáveis e uma ficha técnica bem impressionante. Ele já está em sua segunda geração, que custa US$670 e é a que tenho para avaliação.
ASPECTOS FÍSICOS
A caixa já causa ótimas impressões e é bem completa: além do player, há duas capas de proteção (uma de plástico flexível e outra de couro sintético), uma ferramenta para abrir as duas gavetas para cartões micros, uma chave Torx para substituir os módulos de amplificação, um cabo adaptador coaxial-TRRS e um cabo micro-USB para carregamento.
Fisicamente, o X7 é bem construído e transmite segurança e solidez: ele é todo feito de alumínio, e os botões possuem cliques táteis e gratificantes. Porém, em termos de acabamento, não há tanto esmero quanto em tocadores de marcas como Astell&Kern. O tratamento do alumínio ainda é um pouco cru, e os cantos são um pouco vivos demais. Porém, para sua faixa de preço, é excelente.
Na frente há a tela, e do lado esquerdo botões de play/pause, avançar e retroceder faixas e o botão giratório de volume. Em cima, uma saída 3,5mm que pode atuar como saída de linha, coaxial ou ótica. Já do lado direito encontramos as duas gavetas para cartões de memória e, embaixo, o módulo de amplificação. O que vem incluso com o X7 MKII por padrão é o AM3, que conta com uma saída TRS comum, de 3,5mm, e uma balanceada, de 2,5mm.
O processo de troca do módulo é bem simples: basta desaparafusar os dois parafusos Torx nas laterais, com a ferramenta inclusa, puxar para baixo e inserir outro.
SOFTWARE
O primeiro aspecto interessante do X7 é que, como comentei, ele roda Android. Durante muito tempo, fui adepto de um velho iPod Classic para ouvir minhas músicas, porque gostava de sua simplicidade. Afinal, tudo o que eu queria era ouvir minhas músicas de forma fácil e conveniente, com qualidade.
Contudo, acabei me rendendo aos aplicativos de streaming e hoje em dia não consigo mais olhar para trás. Essa é uma das coisas que me afastou dos players portáteis e fez com que me sentisse melhor atendido por meus smartphones para ouvir música. Os (ao menos para os meus ouvidos) pequenos benefícios sonoros dos aparelhos dedicados simplesmente não são suficientes para vencer o enorme ganho em conveniência proporcionado por um aplicativo que me dá acesso a basicamente todas as músicas já gravadas presente em um equipamento que já está comigo o tempo inteiro. Ele também conta, diferentemente de diversos mp3 players, com bluetooth – que é 4.1 e suporta aptX, o que permite a transmissão de áudio lossless com fones compatíveis.
O FiiO X7 MKII, por utilizar o Android como sistema operacional, faz com que essa questão seja amenizada. Afinal, é possível instalar Spotify, Tidal ou qualquer outro aplicativo de streaming. É claro que você vai precisar do Wi-Fi, já que ele não é um celular, mas os 64Gb de memória interna e espaço para dois cartões microSD de 256Gb cada fazem com que não falte espaço para sua coleção de músicas.
Só vale lembrar que o Android utilizado é o 5.1.1, que já é bastante antigo, mas cumpre bem seu papel. E ele conta com diversas modificações específicas para o uso com áudio. Por exemplo, há o modo Pure Music, que deixa o sistema bem mais básico e faz com que ele só leia arquivos locais; seleção de filtros do DAC; e seleção de funções como modo da saída superior e ganho via software.
Agora, o desempenho não é tão bom. Ele é um pouco lento, e não apresenta a fluidez de smartphones atuais. Engasgadas são frequentes.
Já a bateria é boa para um aparelho deste tipo, e dura em torno de 8 horas.
O X7 MKII suporta arquivos PCM até 384kHz/32bits e DSD256, mas atuando como DAC externo, só PCM 192/24.
O SOM
Sempre gosto de fazer uma ressalva quando avalio DACs, amplificadores e outros equipamentos do tipo porque, a meu ver, atualmente, a melhora de desempenho em relação a um smartphone topo de linha, como por exemplo um Galaxy S9+ (o que utilizo atualmente) é marginal.
Para os meus ouvidos, o X7 apresenta, sim, uma qualidade de som superior – mas é definitivamente algo que demanda atenção para ser notado. Você não vai sair de um celular e ficar chocado com o que ouve do X7. Porém, com um pouco mais de tempo e atenção, é possível apreciar os pequenos incrementos no que ele traz.
Sua sonoridade é mais cheia e musical, com graves ligeiramente mais presentes e, principalmente, uma espacialidade mais desenvolvida e tridimensional. A excelente Baltimore, na versão de Lianne La Havas, mostra uma voz com uma posição central mais definida, e uma instrumentação de certa forma mais preenchida e musical, se isso fizer sentido.
É uma personalidade também mais convidativa do que a que tenho com o Colorfly C10 que, em comparação, é mais magro, frio e analítico. Dependendo do fone, é até possível que o C10 traga uma assinatura mais apropriada, como o que ocorre com o Meze 99 Neo – um fone com uma pegada muito cheia e espessa. Porém, para o meu gosto, esses são casos mais raros.
Na maior parte das situações, acho que o X7 apresenta uma sonoridade que considero ideal, atingindo um excelente meio termo entre transparência e detalhamento e corpo e musicalidade.
O desempenho com bluetooth também é ótimo – ouço com frequência o NuForce BE Lite 3, e o uso com o X7 é muito prazeroso. Não tive nenhum problema de conexão ou algo do tipo, tampouco achei que o desempenho estava sendo limitado pela conexão sem fio. Evidentemente não estamos falando de um fone sem fio topo del inha, mas o Lite 3 possui uma qualidade bastante respeitável e o pareamento com o FiiO foi sempre muito eficaz.
Em termos de potência, posso falar apenas do X7 com o módulo incluso, AM3, que é para uso geral. Neste cenário, o consideraria apenas saudável. Ele é muito pouco mais potente que o S9+, então para fones de ouvido mais exigentes, ele pode ficar devendo. O fone mais difícil de tocar que tenho à minha disposição hoje é o AKG K240 MKII, que não é particularmente exigente, e mesmo ele já chega próximo ao limite do X7 com o módulo AM3. Por isso, se seu objetivo é empurrar fones mais difíceis, é fundamental que outro módulo seja adquirido.
Atuando apenas como DAC e amplificador, o X7 MKII é igualmente competente, sendo mais cheio e autoritário que o xDuoo XD-05 que testei recentemente. Mas, como dito na avaliação dele, o FiiO ainda perde para o Benchmark DAC1, que traz um incremento significativo em transparência, espacialidade e tridimensionalidade. Porém, é claro, não estamos falando de uma comparação justa, e no final das contas acho que o X7 pode atuar como um sistema completo para os que quiserem ter ele e apenas ele.
CONCLUSÕES
Bem… não vou mentir. Players portáteis são sempre itens difíceis para eu avaliar. Primeiramente, preciso colocar as minhas impressões em proporção – preciso deixar claro, principalmente para quem estiver começando, que as diferenças em relação a bons smartphones e notebooks não é tão significativa, então se o que eles buscam é principalmente a melhor qualidade de som pelo preço, seu suado dinheiro seria melhor investido em um upgrade de fone.
Os US$670 cobrados pelo X7 MKII são mais do que justos pelo que ele entrega, mas como já disse, não há tanta diferença assim para um bom celular. Só que esses mesmos US$670 podem comprar uma melhoria colossal quando falamos de fones de ouvido.
Ao mesmo tempo, preciso fazer uma avaliação que seja igualmente informativa para os que já tem mais experiência no hobby e já sabem a magnitude da influência que players como esse podem trazer. Para essas pessoas, tenho que falar sobre o que ouvi de maneira clara e precisa. O problema aí é que, para o meu uso pessoal, minhas preferências e minha realidade financeira, a aplicabilidade de aparelhos como esse é muito limitada. E não é fácil separar os dois lados.
Há um livro para fotógrafos cujo título se tornou um jargão no mundo da fotografia: “a melhor câmera é a que está com você”. Para mim, a questão é semelhante. Eu já tenho, comigo, um smartphone, que me entrega uma excelente qualidade de som para meu uso – facilmente, para os meus ouvidos, 95% do que o que o FiiO me traz. Se eu tivesse US$670 para fazer um upgrade, certamente não seria aí. Preferiria pegar um fone complementar, ou então melhorar meu ótimo sistema de mesa de casa.
Porém, sei que existem pessoas que viajam muito, que já têm um excelente fone portátil topo de linha. Elas podem querer extrair, desses fones, a última gota de desempenho. Assim, o X7 MKII faz sentido. Também há pessoas que utilizam fones mais exigentes em suas jornadas, então o FiiO pode ser uma boa opção. Ele também é interessante para os que precisam de um coringa que pode atuar, por exemplo, como um conjunto de DAC e amplificador no escritório, DAC em um sistema doméstico e player portátil no trajeto. Sob essa ótica, este player pode ser fenomenal.
Só que esses não são o meu caso…
No entanto, se forem o seu, posso afirmar que o X7 é muito competente em termos de qualidade de som e traz uma sonoridade cheia, musical, refinada e transparente aliada a um sistema operacional completo e versatilidade pra dar e vender.
Equipamentos Associados:
- Headphones: AKG N90Q, Meze 99 Neo, BeoPlay H6, Xiaomi Headphones, Superlux HD662EVO, Superlux HD681EVO
- Earphones: AudioDream AD8, KZ AS10, KZ ZS10, Huawei AM13
- Amplificadores e DACs: Benchmark DAC1 PRE, xDuoo XD-05