Impressões Audeze LCD-3 2016, LCD-2 2015 e LCD-2 2012

Introdução

Audeze LCD-3 2016

Antes de mais nada, gostaria de agradecer ao Bruno, que me emprestou o LCD-3, e depois virou uma troca, e que acabou permitindo chegar nessas impressões. Obrigado Bruno, tu és gente boa demais, dentre outros tantos camaradas que já fiz amizade.

“Mas antes”, para explicar melhor (mas simplificadamente), a tecnologia dos planares magnéticos: ela agrega a forma de organização dos eletrostáticos com princípios de funcionamento dos dinâmicos. O sistema é composto de faixas de imãs que criam um campo magnético isodinâmico e filamentos em forma de serpentina, ultrafinos, condutores elétricos. Quando o sinal de áudio é gerado, ele passa por esses filamentos, cria um campo magnético que interage com o campo dos imãs e dessa forma, movimenta o filme para frente e para trás, como os dinâmicos, deslocando o ar. No final das contas, os planar-magnéticos oferecem uma resposta mais transparente e com muito mais corpo do que a dos dinâmicos. Mas ainda perde em transparência para os eletrostáticos e, de acordo com várias pessoas, não é tão espacial quanto os melhores dinâmicos.

E a Audez’e, junto com a Hifiman, por volta dos anos 2000, contribuíram para resgatar a existência dessa tecnologia, popular nas décadas de 70 e 80 – Fostex, MB Quart e Yamaha. Está ultima, em 76, cunha o termo mercadológico “ortodinamico”, não exatamente adequado, porém, popular ainda hoje. Se por um lado, algumas marcas não reuniram legiões de fãs com a tecnologia, esta em si mobilizou um grande número de entusiastas nos fones de ouvido.

 

Fisicamente falando dele…

Preciso dedicar umas palavras para discorrer sobre a fisicalidade desse cara. Em todas as linhas de produtos dela, mas em especial na série LCD, verifica-se zelo por uma apresentação caprichosa, funcional e/ou com certo luxo, sobretudo nos primeiros LCD-2, que vinham em caixas de madeira envernizadas e internamente em tecidos nobres para acomodar o fone. A quantidade de acessórios e informações sobre o produto sempre foram satisfatórias e é possível obter, inclusive, os gráficos de resposta do fone. Os manuais são bem acabados e assinados pelo CEO da marca, além de vir, geralmente, com os cabos P10, adaptador P2 e o XLR 4 pinos. Acompanha, ainda, um produto especial para se passar nos cups de madeira, possibilitando assim maior duração da mesma. A construção do fone em si sempre foi boa e hoje ficou ainda melhor, valorizando o clássico uso da madeira nos cups, com conectores mini XLR, bem acabados por plugues que sinalizam o encaixe perfeito. São cuidados essenciais de uma marca que vende seus produtos a preços (bem) altos.

LCD-3

Por outro lado, todos os LCD’s que ouvi, e ouvi – o LCD-2 2012 (sem fazor); LCD-2 2015 (fazor com as clássicas vegan pads) e este LCD-3 2016, em couro macio, tive grande desconforto. É certo que o mais antigo é mais desconfortável, mas o mais novo perdia para a versão de 2015 com as clássicas pads vegan. Todos eles exercem pressão lateral considerável, mas as pads vegan foram as que absorveram melhor essa pressão e, por serem anguladas, para melhorar a sensação de palco sonoro, não foi fácil encontrar posição que pudesse ouvir música sem ter que me manter parado obrigatoriamente. Fora que todos os LCD são pesados e esse peso é mal distribuído (ao menos para mim), o que a cada 30 minutos seguidos de audição, exigia que eu fizesse alguns ajustes e modificasse o ponto de apoio na cabeça, já dolorido. Sei que isso pode ser algo diferente para outros hobbystas, mas fora o Grado PS1000, a série LCD conseguiu superar, fácil, o HE-500 e até o HE-6, fone especialíssimo, mas bastante desconfortável.

LCD-3 e acessórios

Por último, a marca está constantemente atualizando seus produtos, em especial os carros chefes, mas isso é uma faca de dois gumes. Imagine você ter um produto topo de linha (o que indica ser o melhor que a marca pode fazer, com muito tempo de pesquisa e desenvolvimento) em 2017 e já em 2018 ele já apresentar alterações. É bem verdade que a empresa costuma ser muito atenciosa com os clientes, do que li de relatos, mas para nós brasileiros, as coisas são bem mais complicadas. Ainda assim, mesmo com toda a atenção da marca, não vejo fones como produtos tão “voláteis” como smartphones, ainda mais os que são destinados ao uso fixo. Deveria existir, ao menos para mim, padrões para as atualizações, tanto das tecnologias, como da periodicidade para elas, pois muitas delas são apenas cosméticas e isso deprecia o produto do cliente. Quantas versões 2 e 3 existiram até aquelas que encontramos hoje no site da marca?

 

E o som?

A maior importância nisso tudo é a música e como ela é apresentada. Foi importante verificar, até certo modo, como a Audeze se movimentou na linha LCD. É diferente ouvir os LCD-2 2012, 2015, já com a tecnologia Fazor, e a versão 3 com os drivers de 2016. Todos eles são fones eufônicos e quentes, da apresentação que busca agradar o ouvinte, “trabalhando” em cima da mix de modo a deixá-la sempre, ou sempre que possível, bem apresentada. Isso não quer dizer que não exista nenhuma transparência, pois a versão 3 consegue apresentar muitos detalhes na gravação, mas, no entanto, restritos àqueles que (mais) importam.

Os graves na versão sem a tecnologia Fazor são pancadas bastante fortes. Não esqueço o que senti ao ouvir “Man Funk” (feat. Leron Thomas) – Single, pedrada pesada e maravilhosa: estava na pista, com o corpo que parecia vibrar ao ouvir os graves pesados desse groove nada menos que sensacional. A hora que transferia para as versões 2015 e depois 2016, os graves estavam mais contidos e corretos, de um ponto de vista. Para esse tipo de som, junto de momentos em que se está nessa… vibe; o que quero é essa versão. E sempre achei o Hifiman HE-500, para graves, a melhor coisa do meu mundo pequeno. Ele continua muito especial, e daqui não sai por ter justamente essa pegada autoritária – mas há certas músicas, em certos momentos, em que é a paulada do LCD-2 2012 (pré-fazor) que se quer. As versões mais recentes tocam mais à semelhança do HE-500, mas o LCD-3 avança no refinamento geral da apresentação das frequências e no equilíbrio tonal. Portanto, os graves, em todas as versões que pude ouvir, me pareceram ir além da neutralidade.

Isso não é ruim. Inclusive, é uma proposta muito bem aceita. O excesso da versão 2012, me cansa em audições prolongadas, e isso se soma com o desconforto físico. Porém, ouvir o álbum “Legend of the Black Shawarma”, da banda Infected Mushroom, é incrível e no LCD-3, ainda com o reforço no peso dos graves, acaba combinando com a temática. Gostoso é ouvir os médios e altos de toda a apresentação deste álbum, da voz rasgada dos vocalistas a todos os brilhos contidos no som deste trance psicodélico. É diversão com doce; nada cru ou direto.

Audeze LCD-2 2015 Leather-free

Os médios da Audez’e me marcaram muito desde a primeira vez que ouvi, e se tornaram uma das referências por serem muito bons, ainda que dentro de uma proposta específica. E eles se mantém bons em todas as versões que ouvi aqui, mas é no LCD-3 que encontrei excelência e grande refinamento, incrível tonalidade, textura impressionante e fluidez. Passam docemente, conectando você e a música de forma muito gostosa nessa região. Eles preenchem a apresentação de modo que é difícil não achar bom, salvo se a preferência for por algo cru, direto e/ou analítico, já que o som de casa, para todas as frequências, como disse, são apresentadas de forma a ficarem bonitas e te encantar. Pianos, guitarras e vozes são um deleite em todas as versões, mas elas vão se refinando e aproximam-se do natural na versão maior e mais refinada. Entendo por natural o som que combina a realidade da mixagem, da gravação, com a maior aproximação possível entre o ouvinte e a banda, ou seja, um certo poder de te transportar para algo real. Capacidade de te colocar, digamos, frente a frente com o artista e/ou instrumento. A melhor compreensão que tive desse conceito, por enquanto, foi quando ouvi o Focal Utopia.

As versões 2015 e 2016 já apresentam melhor equilíbrio tonal, mas dos que já pude ouvir, a 2016 avança, pois corrige claramente a posição e a apresentação dos agudos – um ponto fraco, para mim, das versões 2012 e, em menor proporção, 2015. Sou daqueles que gosta de ver, até com certa crueza, sem muitos filtros, uma apresentação com brilho e de bons médios-altos e altos, como aquele maravilhoso violino, vívido e rasgado nos seus ouvidos. Embora o LCD-3 ainda não seja exatamente direto e clínico, como prefiro, eles estão bem apresentado e da forma que é própria do som da casa: tendem ao natural e com ótima definição; sibilância inexistente. É uma apresentação que preza pela beleza e delicadeza nas colocações dos agudos e que vai agradar de modo geral, com o olhar menos clínico.

Uma coisa que me agradou muito no LCD-3, sobretudo porque foram poucos os planares em que consegui perceber isso (e é bastante superior ao Focal Clear) é palco, espacialidade e arejamento. Para boas gravações e binaurais, sobretudo, é algo bastante impressionante. Não é um Sennheiser HD800 e nem um Hifiman Edition X, mas para algumas músicas, do que me lembro, há maior precisão na exata posição do que está nela. Gostei muito.

Após uns 25 dias com o LCD-3, percebo que ele merece o status que tem dentro da filosofia de som proposta pela marca. É um grande fone para se sentar, relaxar e ouvir de forma divertida – ao menos um álbum completo, se o desconforto for uma questão. Seus irmãos “menores” também demonstram porque a marca faz sucesso: a apresentação é para agradar o grande público, mostrando na música o que mais importa, de forma delicada e refinada, ainda que perca refinamento nos agudos quando se olha os médios, sobretudo, e até os graves, este com bastante peso. Ainda assim, todos eles se prestam a ser bons all rounders; e o LCD-3, com maestria e excelência. Leva-se, ainda, um produto com muita qualidade construtiva e um design que é extremamente acertado e bem aceito.

Me parece que não havia como não dar certo, mesmo tendo muita coisa para melhorar.

E quem cantou:

  • “Man Funk” (feat. Leron Thomas) – single
  • Infected Mushroom – “Legend of the Black Shawarma” (Álbum)
  • Aesop Rock – “The Impossible Kid” (Álbum)
  • King Crimson – Lark’s Tongues in Aspic (Álbum)
  • King Crimson – Starless and Bible Black (Faixa)
  • Supertramp – “Crime of the Century” (Álbum)
  • Gorillaz – “Plastic Beach” (Álbum)
  • Fleetwood Mac – Rumors (Álbum)
  • The Prodigy – “The Day is My Enemy” (Álbum)
  • Michael Jackson – “Thriller” (Álbum)
  • Aesop Rock – Fishtales (música)
  • Big Grams – Run for Your Life (música)
  • Funkadelic – “Maggot Brain” (música)

 

E quem tocou e empurrou: 

  • Fostex HP-A8 (DAC);
  • iFi micro iDSD BL (DAC);
  • Burson Soloist SL (sinergia fina);
  • Burson Soloist (sinergia fina)
  • Violectric V281 (excelentíssimo pareamento)
  • Hifiman EF5 (bom)
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