Índice da Série Passei 3 Anos da Minha Vida Desenvolvendo um Fone
- Capítulo I: Introdução
- Capítulo II: Minha Entrada na Audiofilia
- Capítulo III: O Primeiro Fone Que Criei
- Capítulo IV: O Surgimento da Kuba
Capítulo V: Os Primeiros Desenhos
Com a empresa em pé, começamos as pesquisas para desenvolver nosso primeiro produto. Essa é uma das fases que mais gosto: há muito estudo, e conversamos com muitas pessoas, para que consigamos identificar oportunidades no mercado.
O que vimos é que o mercado brasileiro é bastante virgem e fechado. Explico: no exterior, marcas como a Beats conseguiram fazer com que jovens vissem fones de ouvido como objetos de desejo, que merecem o investimento. Foi por isso que, de 2011 até 2013, o mercado de headphones premium dobrou de tamanho.
Entretanto, esse movimento não chegou ao Brasil – ao menos não com a mesma intensidade. Acreditamos que isso acontece, principalmente, porque fones mais sofisticados acabam sendo caríssimos por aqui (o Beats Solo original, que era uma bela porcaria, custava quase R$1.000 no lançamento). Porém, mais do que isso, porque não parece haver interesse das grandes marcas em realmente estar no mercado brasileiro. As poucas marcas que estão presentes aqui não fazem nenhum tipo de comunicação com o público. Não há um bom trabalho de marca. Elas simplesmente estão em prateleiras das lojas só. E essa não é uma maneira eficiente de vender produtos.
Por isso, nosso objetivo era criar um fone com estilo (mas voltado para um público diferente do da Beats), qualidade e a um preço mais acessível – por volta dos R$500. Mas, crucialmente, queríamos ser uma marca diferente: presente, comunicativa, criativa, próxima.
Nossas primeiras ideias eram bem variadas. Depois, acabamos chegando a um desenho que quisemos investigar mais. Era de um fone bastante “clean” e elegante que teria um botão giratório de volume como destaque nas conchas. Fizemos uma série de variações desse modelo, com diferentes cores e estilos – alguns mais clássicos e outros mais modernos –, e também dois tamanhos: um on-ear e outro over-ear. Como são muitas imagens, ao invés de coloca-las incorporadas no post, vou fazer uma galeria ao final para que vocês possam acompanhar toda essa evolução em fotos.
Quando começamos a entrar em contato com possíveis fornecedores de peças e fazer de fato os desenhos mais detalhados deste modelo com o botão de volume, prevendo seu funcionamento, vimos que uma série de soluções eram consideravelmente complexas – arco retrátil, conchas com movimento em dois eixos, o potenciômetro de volume… por mais que eu ainda goste bastante deste modelo, vejo que seria loucura tê-lo como uma primeira tentativa de fazer um headphone. Não só isso: o preço seria, certamente, muito elevado, saindo do nosso objetivo inicial.
Por isso, voltamos às pranchas e desenhamos um segundo modelo, cujo objetivo era simplificar ao máximo tanto os materiais quanto as soluções de movimentos e funcionamento. Em outras palavras, queríamos algo realmente minimalista em termos de projeto.
De um arco retrátil, partimos para um fixo, de metal, com trilhos por onde as conchas se movimentariam. E de conchas com dois eixos de rotação, partimos para uma com um único ponto de fixação no arco, mas com uma base redonda atuando como eixo em 360o. Usei basicamente o mesmo design das conchas do meu projeto final, e gostamos bastante do resultado. Aqui, também testamos diversas possibilidades de materiais e cores. Era fácil fazer estes testes porque tudo era desenhado via modelagem 3D e renderizado com o software KeyShot. Com ele, é muito fácil fazer versões com materiais diversos.
Foi em uma dessas sessões de testes que quis ver como o fone seria se o arco, ao invés de aço mola, fosse de madeira. Nessa época, também estávamos começando a criar os primeiros protótipos, e como estávamos com dificuldades de encontrar algum fornecedor de aço mola capaz de fabricar um arco como queríamos, resolvemos manter o de madeira – afinal, em meu projeto final, eu havia aprendido a laminar. Consequentemente, era uma tecnologia que eu já dominava e por isso seria muito mais fácil prototipar – e nós sabíamos que iria levar algum tempo até que chegássemos ao desenho ideal da peça.
A partir da definição desse desenho, por um bom tempo nosso trabalho se dividia basicamente em quatro frentes: o acerto do projeto, ou seja, torna-lo cada vez mais realista e próximo do que seria um modelo pronto para fabricação em massa, o que envolve muitos desenhos e protótipos, com inúmeras iterações; o desenvolvimento da eletrônica, isto é, a busca por componentes adequados, o que envolve principalmente o trabalho de desenvolvimento da acústica; e, por último, a criação da marca.
Por hoje, é só! No próximo capítulo, vou falar mais detalhadamente sobre cada uma dessas frentes.