Observação: este fone foi enviado pela GearBest. Favor ler nota ao final do texto para maiores esclarecimentos.
INTRODUÇÃO
Fones de ouvido são caros. Ponto final. Mesmo que consideremos que são itens de tecnologia, como smartphones ou notebooks, R$500 não é pouco dinheiro, quanto mais no Brasil – onde o poder aquisitivo em geral é baixo. Por isso, nunca foi muito fácil achar bons fones de ouvido realmente baratos. Até pouco tempo atrás, era até possível encontrar opções interessantes sem gastar muito, como alguns Philips por exemplo, mas a verdade é que eles ainda te deixavam distante de um desempenho que eu chamaria de audiófilo. As falhas ainda eram frequentemente bem consideráveis.
Contudo, nos últimos anos, vejo que isso começou a mudar. A Superlux é um exemplo. Estou com vários fones da marca aqui, e ainda fico muito impressionado com o nível de qualidade que eles proporcionam pelo que custam. Já no mundo dos intra-auriculares, confesso que estou um pouco desatualizado. Como já comentei em algumas avaliações, parece que nos últimos 2 ou 3 anos houve uma enxurrada de novas fabricantes chinesas que oferecem alto desempenho por um preço baixo. E minhas experiências com algumas dessas marcas confirmaram essa constatação. A Dunu, com seu Titan 5 e DN2000, deixou isso bem claro para mim. O nível de desempenho proporcionado por eles vem a um custo muito mais baixo se você considerar marcas europeias ou americanas.
Mas eu nunca havia ouvido os fones realmente baratos de novas marcas que parecem, hoje, ser figuras quase onipresentes em fóruns de tecnologia no Brasil. Uma delas é a KZ, sigla para Knowledge Zenith. À primeira vista, ela parece só mais uma dessas marcas que não têm site próprio e anunciam pelo AliExpress com imagens ruins, um inglês engraçadíssimo (“The design of high-force lattice cavity” – WTF?) que beira o incompreensível mas com um estilo de anunciar à la Apple.
Durante um bom tempo, o topo de linha da marca foi o que tenho para avaliação aqui, o KZ ZST. Quanto você acha que custa um intra-auricular híbrido, com uma armadura balanceada para médios e agudos e um falante dinâmico para graves e um cabo removível, com microfone e controle remoto? Não, você errou. Ele custa míseros 10 dólares. Na GearBest, por exemplo, que vende em Reais, ele vai te custar menos de R$40. Consideraria praticamente impossível um fone bom por esse preço – um com essas características, então, já se aproxima de um milagre econômico.
ASPECTOS FÍSICOS
O KZ ZST lembra muito um fone personalizado em seu formato, que é claramente esculpido tendo como referência a concha das orelhas. Mas ele evidentemente é universal, então não encaixa tão bem e acaba ficando um pouco para fora. Entretanto, ele é confortável e é possível conseguir um fit razoável com as ponteiras certas. São incluídos três pares, de tamanhos diferentes. Não são as ponteiras de melhor qualidade do mundo (uma Comply certamente é mais interessante), mas cumprem seu papel. O ZST definitivamente não incomoda, mas tanto o isolamento quanto a segurança do encaixe poderia ser melhor.
O acabamento é honesto. O ZST é inteiramente feito de plástico, com uma impressão na parte externa. É, portanto, bastante leve, mas não tenho a impressão de ele ser muito resistente. A conexão entre o cabo e o fone (que utiliza a tradicional conexão de dois pinos levemente modificada), em particular, não parece que vai durar tantas retiradas e inserções assim. Mas um fone de onze dólares ter cabos removíveis já é um belíssimo bônus, apesar de achar que um cabo novo não vai custar muito menos do que um fone inteiro. A qualidade dele é novamente aceitável, mas ele possui um acabamento emborrachado que faz com que ele enrosque muito facilmente. O controle remoto está bem localizado, e o botão único apresenta um clique seguro e satisfatório.
A embalagem é muito simples, apesar de bem desenhada e conveniente. Mas as inscrições me garantiram boas risadas, com pérolas como “Perseverance origin from love. As audiophile, we commitment to reappear the touching melody to everyone”. Vá entender…
O SOM
Quando coloquei o ZST nos ouvidos, minha reação foi: “não é possível”. Ainda não consigo acreditar que estamos falando de um fone de míseros 11 dólares! Mas vamos por partes.
Se eu tiver que resumir a sonoridade deste KZ em apenas uma palavra, seria “completa”. Ela é bastante cheia, viva e energética. Como veremos, obviamente, não é perfeita. Mas vai muito, muito além do que eu jamais poderia esperar de um fone desse preço.
A começar pelos graves: muito frequentemente, intra-auriculares baratos exageram nas baixas frequências, mas isso não ocorre no ZST. Os graves são sim mais fortes do que eu consideraria neutro, mas em momento algum se sobrepõem às outras faixas de frequência, e na vasta maioria dos casos, gostei do incremento. Eles têm ótimo peso e impacto e são bem melodiosos, como é de se esperar de um falante dinâmico.
Gosto bastante de seu desempenho nessa área, apesar de achar que não há a última gota de definição. São graves mais arredondados, com muita presença, mas sem tanta textura. A extensão também é excelente. Não encontrei nenhuma música que traga graves que o ZST não consegue apresentar. Por exemeplo, ao ouvir meu Spotify no modo aleatório, me impressionei com o início da Search Engine Plot, de Jeff Beal, na trilha sonora de House of Cards. São graves de tremer o chão, e lá estava o KZ firme e forte chacoalhando meus tímpanos.
Também gosto muito dos médios. A posição no espectro é clara – vozes, pianos e guitarras são apresentados de maneira muito satisfatória. No entanto, eles são ligeiramente recuados se comparados aos graves e a um pico nos médio-agudos – este, inclusive, é o maior defeito do KZ ZST. Em alguns casos, é possível perceber um pico um pouco agressivo na transição entre médios e agudos, e isso pode incomodar. Sua sonoridade torna-se um pouco ríspida e agressiva. Mas devo dizer que essa é muito mais uma exceção do que a regra – até mesmo em hard rock e metal, não é um problema tão frequente.
Timbristicamente, acho que tanto os médios quanto os agudos são bastante corretos, apesar de um pouco fechados. É uma sonoridade aberta, presente e detalhada. Os agudos não têm a última gota de extensão e presença, mas é de se esperar num fone baseado em armaduras balanceadas para essa faixa de frequência.
Outro aspecto positivo no ZST é a espacialidade e o “tamanho” do som que ele projeta. É consideravelmente maior do que o Xtreme Ears Xtreme ONE original, por exemplo, e fica surpreendentemente perto do Dunu DN-2000 nesse quesito.
O resultado de tudo isso é um fone que se encaixa bem em basicamente qualquer situação. Ele não possui grandes defeitos, e simplesmente apresenta um excelente desempenho sonoro com a vasta maioria das músicas que você jogar para ele. Graves presentes, médios cheios, agudos timbristicamente corretos, espacialidade, detalhamento… está tudo aqui. A única coisa que de fato me incomoda é sua personalidade mais fatigante mas, ainda assim, essa não é sempre minha percepção. O KS ZST é simplesmente um excelente fone, independente do quanto custa, e ponto final.
CONCLUSÕES
Minha maior questão com o KZ ZST é a seguinte: em momento nenhum, nessa avaliação, “peguei leve” por se tratar de um fone de 10 dólares. O avaliei da mesma maneira que avaliaria um in-ear que custa muito mais. Se os defeitos que encontrei estivessem num fone de 100 dólares, eu acharia justo. Mas eles estão num fone que, nos Estados Unidos, custa o mesmo que um lanche do McDonald’s para duas pessoas.
Não são todos os que vão gostar dele, evidentemente. Existem defeitos, tanto em termos físicos quanto de som. Entretanto, o que mais me impressiona é que, há poucos anos, era necessário gastar mais de 150 dólares para ter um desempenho como esse. Já ouvi diversos fones em faixas de preço como essa que, em minha humilde opinião, estavam, no máximo, no mesmo nível do KZ ZST. Sony EX90LP, Ultimate Ears Super.fi 5vi, JVC FX700, Ortofon e-Q8 e até mesmo Shure SE530. E vários não ofereciam extras como cabo removível e controle remoto e microfone.
O KZ ZST é como o Superlux dos in-ears. Um produto que não consigo classificar como nada menos que chocante. Mais uma vez: não estou dizendo que ele é perfeito, e nem único no mercado – por exemplo, adorei o fone Samsung/AKG que vem com o Galaxy S8, e ele também custa 10 dólares. O que me impressiona é que, hoje, para um grande número de pessoas, um fone de 10 dólares pode já entregar todo o desempenho que elas podem querer.
Então, se por um lado o mercado está entrando numa época em que o preço dos topo-de-linha duplicam o tempo inteiro, por outro nunca foi tão barato comprar um produto com um desempenho nada menos que excelente.
Para mim, assim como o Superlux HD681, o KZ ZST se tornou um marco dos novos tempos.
Link para o produto: https://goo.gl/dUkbRT
- IEM híbrido: uma armadura balanceada para médios/agudos, driver dinâmico para graves
- Sensibilidade (1 mW): 120dB SPL/mW
- Impedância (1kHz): 18Ω
- Resposta de Frequências: 20Hz-20kHz
Equipamentos Associados:
HP Spectre x360 15” 2017, Benchmark DAC1 PRE, Samsung Galaxy S8+
Nota de Esclarecimento: como em muitas outras avaliações, este fone foi enviado por uma loja – neste caso, a GearBest – como cessão permanente. A loja possui um programa de afiliados, que reverte uma parte da receita de vendas proveniente de links desta avaliação para mim, o que em tese pode contribuir para os custos de manutenção deste espaço. Além disso, é essa associação que me permitirá avaliar fones de baixo custo como o KZ ZST. Entretanto, reforço que este continua sendo apenas um hobby para mim e de nenhuma forma isso afetará a imparcialidade das minhas avaliações. O objetivo aqui nunca foi e nunca será a venda, e sim a exposição sincera e honesta de minhas opiniões. Veja este vídeo para saber mais sobre como se dá essa relação com lojas.