Jaybird Freedom

INTRODUÇÃO

Audiófilos, podem espernear à vontade: fones sem fio vieram para ficar.

De fato, na maioria dos casos, fones desse tipo trazem essa conveniência a um custo, porque a qualidade de som pode deixar a desejar – principalmente quando comparada a concorrentes tradicionais. No entanto, a quantidade de equipamentos livres de fios que andam impressionando não é pouca: Parrot Zik e o Jaybird Bluebuds X me vêm imediatamente à cabeça.

Já pude avaliar os Bluebuds originais, e fiquei bastante impressionado porque, para os meus ouvidos, eles não eram excelentes para in-ears sem fio. Eles eram excelentes e ponto, conseguindo competir em pé de igualdade com a vasta maioria dos intra-auriculares em sua faixa de preço.

Desde então, a marca já lançou duas atualizações dos Bluebuds X originais (X2 e X3) e, mais recentemente, um outro modelo complementar na linha: o Freedom. O objetivo deste, ao que parece, é ser menor – a parte dos fones em si dos Bluebuds X originais era um pouco grande, e podia ser um pouquinho inconveniente. O Freedom é consideravelmente menor e traz um design basicamente idêntico ao do antigo Klipsch X10 (que, à época, era o menor fone do mercado), porém sem fio.

Seu preço de tabela é um pouco maior do que o do atual X3 – US$150.

 

ASPECTOS FÍSICOS E FUNCIONALIDADES

O fone em si é certamente um dos menores que já vi na vida. Isso foi possível porque, ao contrário dos Bluebuds, o Freedom usa uma armadura balanceada. Então ele é realmente minúsculo. O acabamento é muito bom, com o fone feito por uma mistura de metal e plástico.

Um lado é ligado ao outro por um cabo e, do lado direito, há o módulo bluetooth, que contém o microfone e os controles. É ali que também fica a bateria, ao contrário do que ocorria nos Bluebuds – neles, ela ficava nos próprios fones. Isso tem a vantagem de permitir que as earpieces sejam do tamanho que são, mas faz com que o módulo seja maior e mais pesado. Apesar de o encaixe com o Freedom ser bom, me incomodou ter um módulo realmente grande pendurado e, consequentemente, fazendo peso, de apenas um lado.

A melhor forma de corrigir esse problema é usando as duas pecinhas inclusas para prender e encurtar o cabo e fazer com que o fone fique “apertado” atrás da cabeça. Foi assim que, especialmente com as ponteiras Comply, inclusas no pacote, consegui o melhor nível de conforto – mas, ainda assim, o módulo faz peso para um lado só e incomoda um pouco. Inclusive, o Freedom vem não só com várias ponteiras mas também com um jogo de wings, que são pecinhas feitas para se encaixarem na concha cimba da orelha. Eu, particularmente, achei que, com as Comply, o encaixe já é bem seguro, então acabei deixando as wings de lado – até porque, após algum tempo usando o fone, elas me incomodam. Mas esse é um fone feito para atletas, então essa pode ser uma adição conveniente. É por essa vocação, também, que ele é à prova de suor.

O carregamento é feito pelo módulo, mas pelas fotos você vai ver que não há entrada USB. O que ocorre é que ele vem com um uma peça extra que se encaixa no módulo, e ela é que tem a entrada microUSB. Além disso, ela também possui uma bateria extra – a do próprio fone tem autonomia de aproximadamente 4 horas, e essa, externa, te dará mais 4 horas de uso. Não acho que seja confortável usar o fone com essa bateria externa conectada, mas é possível usá-lo dessa maneira se necessário.

Uma das coisas mais interessantes do Freedom é que ele vem com um aplicativo, chamado MySound. Ele permite que você veja o nível de bateria do fone e, crucialmente, que equalize a resposta do Freedom com um equalizador paramétrico. Assim como no Parrot Zik que já avaliei, é possível encontrar uma série de pré-definições feitas não só por outros usuários, mas também por celebridades. As alterações que você fizer são gravadas no fone, então se ele for ligado a qualquer outro smartphone futuramente, que não tenha o aplicativo, sua equalização se manterá.

 

O SOM

Quando vi o Freedom, tinha certeza de que ele era um fone baseado em armaduras balanceadas. Mas, ao ouví-lo, essa certeza desapareceu – sua sonoridade não é o que eu espero de um fone desse tipo, principalmente pelos graves.

Armaduras balanceadas, exceto quando usadas em conjuntos, costumam ter deficiências nos extremos. Como já expliquei no Guia MTH, o que ocorre é que elas funcionam numa faixa de frequência relativamente curta, então se um fone usa uma única BA, ela tem que ser focada na região média – e tanto os extremo inferior quanto o superior ficam um pouco em segundo plano.

Porém, com o Freedom configurado pelo MySound como neutro, ou seja, com todas as equalizações desligadas, os graves já são consideravelmente presentes – passam do que chamaria de neutros. Eles são bastante cheios e melodiosos, e têm muita presença e autoridade. E, felizmente, não há nenhuma interferência significativa nos médios e nos agudos. Minha interpretação é que o “inalterado” do MySound na realidade já conta com algum tipo de equalização própria para compensar as eventuais falhas da única BA do Freedom – o que é perfeitamente comum em fones bluetooth, para o horror dos audiófilos mais puristas. Esse tipo de extensão seria impossível numa única armadura, não fosse algum tipo de manipulação do sinal.

Por exemplo, na espetacular blisters do serpentwithfeet, os graves subterrâneos aparecem com toda a pompa e circunstância. Não há o peso massivo que encontro no DN-2000, mas há mais presença nessa região do que no Focal Elear e no HiFiMAN HE560, por exemplo. É um desempenho que me agrada muito e que, como é “incrementado” porém não exagerado, parece se encaixar em qualquer gênero musical sem maiores dificuldades. Há bastante melodiosidade, peso, e uma dose satisfatória de texturização e detalhamento. A Feel, da ABRA, também deixa evidentes essas qualidades.

Nos médios, particularmente na transição para os agudos, encontro algumas características que me deixam dividido. Com alguns gêneros, como por exemplo no agradabilíssimo jazz de Cécile McLorin Salvant, o resultado é basicamente irrepreensível para um fone desse tipo e faixa de preço. Ouço uma apresentação muito balanceada – apesar dos graves mais fortes –, com boa espacialidade, excelente precisão no posicionamento dos instrumentos, uma ótima apresentação do corpo deles, e um bom timbre em todas as regiões, principalmente na voz e nos pratos de bateria. Sinceramente, aqui, não tenho absolutamente nada do que reclamar. É simplesmente uma sonoridade gostosa e cativante de se ouvir. O Freedom não interfere em toda a sedução que a voz de Cécile projeta.

Porém, quando troco para alguma coisa mais forte, como A Nightmare to Remember, do Dream Theater, a história muda. Em músicas com muita atividade numa ampla faixa de frequências, como hard rock ou metal, o Freedom mostra que há um pico um pouco desagradável nos médio agudos. O resultado é bastante “gritante”, e o ataque do bumbo do Portnoy, em particular, chega a incomodar – sei que parece estranho falar que esse defeito aparece no bumbo, mas vejam que em mixagens que priorizam esse kick mais seco, há uma parte significativa de seu som localizada mais para os médio-agudos. A voz de LaBrie também não me parece natural.

De qualquer maneira, essa característica não aparece sempre e, no final das contas, o Freedom é um “fone digital” e o equalizador do aplicativo MySound permite que tudo isso seja corrigido. Bastou reduzir um pouco a energia por volta de 4 ou 5kHz que o problema foi sanado. Dessa maneira, consigo ter um excelente desempenho tanto com rock mais pesado quanto com jazz.

E mais: quer ainda mais graves? Feito. Quer mais brilho nos agudos? Sem problemas. Como já disse, sei bem que muitos audiófilos torcem o nariz para esse tipo de coisa, mas sinceramente, eu não poderia discordar mais. O que importa no final das contas é se o som fica bom para mim ou não, e o JayBird me dá ferramentas para que eu chegue mais perto disso. Ele não é e nem pretende ser um fone de referência, que busca a neutralidade absoluta, então faz muito sentido abraçar totalmente a causa e deixá-lo do seu jeito. É muito bom poder fazer diversos ajustes em sua sonoridade sem se precupar em forçar ou danificar os falantes – o Freedom foi desenvolvido para isso.

Evidentemente, você não vai conseguir torná-lo um DN-2000 ou um Xtreme ONE – há um limite para o que você vai conseguir fazer com a equalização –, mas é fácil deixar sua tonalidade ao menos mais próxima do que você busca. E, hoje em dia, esse é o tipo de flexibilidade, conveniência e avanço que realmente aprecio.

 

CONCLUSÕES

O Jaybird Freedom, assim como os BlueBuds originais, mostra ser não somente um bom in-ear bluetooth. É um bom fone, e ponto final – principalmente dentro de sua faixa de preço.

Evidentemente, existem opções em faixas de preço parecidas que também são ótimas, principalmente em qualidade de som – como o Dunu Titan 5, por exemplo. Mas não conheço nenhuma que apresente as muitas qualidades do Freedom: pequeno, sem fio, prático e com um aplicativo que permite que você o equalize sem medo de ser feliz, para que seja fácil chegar à sonoridade que você quer.

Mais uma vez, a Jaybird transcende o objetivo de ser uma marca de fones de esporte, e oferece um produto que fico feliz a recomendar àqueles que querem, simplesmente, um ótimo in-ear em sua faixa de preço.

 

Jaybird Freedom – US$149,00

  • Driver de armadura balanceada único
  • Profundidade de bits: 16-bit
  • Codecs: AAC, SBC, Modified SBC
  • Versão Bluetooth: 4.1
  • Tempo de bateria: 4h fone, 4h clip de carregamento
  • Sensibilidade (1 mW): não relevante
  • Impedância (1kHz): não relevante
  • Resposta de Frequências: 20Hz-20kHz

 

Equipamentos Associados:

Samsung Galaxy S7 Edge, MacBook Pro

21 Comments
1