Oppo HA-1

INTRODUÇÃO

O Oppo HA-1 fez, junto com os planar-magnéticos PM-1, PM-2 e PM-3 e o amplificador portátil HA-2, parte da investida da fabricante coreana no mundo dos fones de ouvido.

E que investida… os fones da Oppo são muito bem vistos na comunidade audiófila, e o HA-1 rapidamente se tornou uma referência em sua faixa de preço. Ao que tudo indica, não é à toa: além de apresentar um belíssimo desempenho sonoro, é raro encontrar um aparelho tão versátil.

De certa forma, esse é o lado positivo de ter fabricantes mais tradicionais entrando no mercado de fones. Não é o caso do HA-1, mas se por um lado, em geral, o preço desses equipamentos costuma subir – como já comentei aqui –, essas grandes fabricantes têm mais recursos para fazer equipamentos  que acabam sendo, em muitos casos, mais completos do que os que encontramos de marcas boutique como HeadAmp, RSA, Woo Audio, etc. Frequentemente temos o excelente desempenho, mas também encontramos funcionalidade, versatilidade e bom acabamento.

 

ASPECTOS FÍSICOS E FUNCIONALIDADES

E por falar em funcionalidades, vamos ao melhor que o HA-1 tem a oferecer: quem leu minha avaliação do HA-2 viu que fiquei impressionado com o quão versátil ele era. Bem, o HA-1 segue a mesma filosofia.

Ele parece ter sido concebido para funcionar como o cérebro de um sistema, e realiza diversas funções. Crucialmente, essas funções podem ser exercidas em conjunto ou separadamente. E essa, a meu ver, é sua grande vantagem.

Explico: o HA-1 é um DAC assíncrono, com chip Sabre ESS32, que suporta até 384kHz e DSD256, um amplificador de fones totalmente balanceado e um pré-amplificador para um sistema de caixas de som.

Só que ao contrário de muitos outros equipamentos que também exercem essas funções, no Oppo elas podem ser isoladas. Ou seja: você pode comprar um HA-1 para ser todo o seu sistema de fones. Mas se futuramente quiser adicionar um amplificador valvulado ao seu set, pode fazer isso e continuar tendo o HA-1 atuando apenas como DAC. Ou se quiser ver do que um DAC mais sofisticado é capaz, basta ligá-lo às entradas analógicas do Oppo que ele será apenas um amplificador de fones. O mesmo vale para sua função de pré-amplificação. Ela é independente, então você pode usar o HA-1, alimentado por um DAC externo, empurrando caixas ativas ou um power.

Quer mais? Ele é totalmente balanceado, então apresenta entradas e saídas (tanto de fones quanto pre-out) balanceadas, há todas as entradas digitais comumente usadas (coaxial, USB, ótica e AES/EBU), conexão bluetooth (!), com aptX, que permite a transmissão com maior qualidade, então é possível conectá-lo ao seu computador sem fio ou ainda ao seu smartphone – mas se você tiver um iDevice, ainda pode usar a entrada USB frontal –, e ele ainda por cima vem com um controle remoto (de metal, aliás) que controla praticamente todas as funções do equipamento, inclusive ligar e desligar. E, pasme, ainda permite que você avance, retroceda, dê play e pause as faixas do seu computador quando eles estiverem conectados via USB (!!!) ou do seu smartphone com conexão bluetooth. Nunca vi algo parecido.

Minha única ressalva é quanto às saídas para fones. É bom ter duas opções, mas considero esse o mínimo num equipamento balanceado e gostaria muito de poder usá-las simultaneamente, ainda que tivesse potências diferentes saindo de cada uma delas. Seja para avaliar um fone ou para ouvir com mais alguma outra pessoa, é interessante poder ligar dois fones ao mesmo tempo, e eu apreciava muito essa função em meu antigo GS-X (nele, era possível ligar 3 fones concomitantemente). No HA-1, se um fone é conectado à saída TRS, alguns relés são ativados e a saída XLR de 4 pinos é imediatamente silenciada. Imagino que isso seja feito para proteção dos fones, mas ainda assim, não deixa de ser um pequeno inconveniente para mim.

Aliás, todas as operações no HA-1 parecem ser comandadas internamente por relés. Ao trocar de fonte ou colocar no mudo, ouve-se os cliques internos dos relés sendo ativados. Isso transmite uma sensação de sofisticação e segurança.

Por falar em segurança: uma das coisas mais legais que já vi num amplificador é o que acontece quando você passa do ganho baixo para o ganho alto no Oppo: alguns relés são ativados e o botão de volume, que é motorizado, automaticamente é reduzido até quase o mínimo! Nunca vi um mecanismo de proteção como esse – e achei incrivelmente legal ver essa operação acontecendo.

Em relação à construção, só tenho elogios. O aparelho é muito bonito, podendo ser preto ou prata, e é todo feito de metal. Todas as partes com as quais você entrará em contato no HA-1 são feitas desse material, então o resultado é um equipamento bastante luxuoso. E ele é bastante conveniente também – não é tão pequeno quanto um Benchmark DAC2 ou um Grace m920, mas em compensação está muito longe de um brutamontes como o GS-X ou da maior parte dos Audio-gd, por exemplo. Acredito que a vasta maioria das pessoas não teria dificuldades de encaixá-lo em suas estantes.

Mas é necessário um cuidado especial com a ventilação. O HA-1 opera em classe A, o que é até normal em aparelhos dessa categoria, mas nunca vi nada que esquenta tanto. A parte superior do painel frontal fica quente o suficiente para que eu não consiga manter a mão ali por mais de 3 segundos.

 

O SOM

Infelizmente, não tenho mais o sistema sofisticado que tinha, e por isso não é mais possível ouvir o HA-1 com suas funções separadas. Quer dizer, não tenho mais o GS-X (ou qualquer outro amplificador puro, na realidade) para ligar ao Oppo e compará-lo ao meu Yulong D100, ambos apenas como DAC. Por isso, nessa avaliação, testarei o HA-1 apenas como uma solução integrada, ou seja, como um tudo-em-um.

As avaliações do Oppo indicam – como seu chip Sabre dá a entender – que se trata de um equipamento com uma sonoridade linear e transparente. E é justamente o que encontrei.

Sua personalidade é muito clara e refinada, e me lembra muito a do meu antigo sistema, composto pelo Yulong D100 atuando apenas como DAC que alimentava o HeadAmp GS-X. A prioridade parece ser velocidade e transparência, mas sei deixar de lado a pegada e a autoridade. É exatamente o que se espera de um amplificador estado sólido dos bons.

Com o Xtreme Ears Xtreme ONE, comparando-o ao Yulong D100, vê-se que ele possui uma sonoridade que apresenta não só uma maior transparência e detalhamento, com maior atividade nas altas frequências, como também um incremento bem interessante nos graves. O D100 parece consideravelmente sem vida comparado ao HA-1, e acredito que isso se deve não só à seção de conversão digital-analógica, mas também à amplificação.

Na Islander, da Robyn Sherwell, é notável que os tambores apresentam mais peso e força no aparelho coreano. Em compensação, a pegada mais relaxada do D100 tem seus encantos, apesar de ser visível que o HA-1 é consideravelmente mais capaz. Com o ONE por exemplo, a atividade a mais nos agudos acaba trazendo à tona as características sonoras das armaduras balanceadas desse fone, com agudos que não soam muito naturais. E isso não ocorre no Yulong. Isso mostra o quanto a sinergia é fundamental na composição de um sistema.

Com o Dunu DN2000, essas características continuam visíveis, mas ao contrário do que ocorre com o ONE, a atividade a mais nos agudos do HA-1 não torna a tonalidade do fone não natural. Mas pode sim, em alguns casos, incomodar. Por exemplo, na Love Somebody – Field Kit Remix, acho que os agudos passam um pouco do ponto. Entretanto, é possível notar que nele há mais refinamento, transparência e espacialidade. O Yulong, em comparação, é mais contido, e se perde em transparência, autoridade e refinamento, ganha em musicalidade.

Ao passar para o Focal Elear, a história fica um pouco diferente, e o D100 assume a retaguarda. Além de o HA-1 apresentar maior segurança na forma como apresenta os graves, que têm mais força e presença, há mais espacialidade e uma apresentação em geral mais desenvolvida. A atividade a mais nos agudos passa a não ser mais vista como um potencial problema, e sim como algo que traz mais vida e competência à sonoridade final. Aqui, em especial, o Yulong soa sem vida e desanimado. É mais “xoxo” e um pouco menos definido.

E, vejam, estou me referindo à saída single-ended do HA-1. Na balanceada, há uma distância ainda maior entre os dois, ainda que continue não sendo uma diferença dramática. O que mais noto nesse caso é uma ampliação significativa da espacialidade apresentada pelo Elear. Ele continua não sendo um exemplo nesse aspecto – não é nada comparado a um Sennheiser HD800 –, mas ainda assim, o Oppo é capaz de fazê-lo apresentar um espaço muito bem desenvolvido e recortado, com instrumentos e vozes mais tridimensionais, com um “corpo” mais evidente. Em comparação, o Yulong é mais compacto e bem menos definido. Os graves também saem ganhando, com mais impacto e precisão.

Com o HiFiMAN HE560, a distância entre os dois continua aumentando. Apesar dos baixos 45Ω de impedância, não se engane: os parcos 90dB de sensibilidade desse fone garantem que ele não é nada fácil de ser empurrado. É evidente que ele começa a sair da zona de conforto do D100, que começa a mostrar uma sonoridade ainda mais compactada e sem vida – clássico sinal de que se está chegando perto do limite do amplificador. Também há uma distorção consideravelmente mais visível.

Por meio da saída TRS, também é necessário chegar próximo do limite de volume no HA-1, mas percebe-se que ainda há fôlego. É como se no Yulong, o volume máximo fosse atingido em 70% do botão de volume, e além disso houvesse um ganho adicional artificial. No Oppo, é real. Mesmo com o botão em 3:00 horas, ouve-se todas as proezas desse tudo-em-um a todo vapor, e conectar o planar à saída XLR só deixa as coisas melhores. Há um teto mais alto, e percebe-se que seu desempenho é notavelmente superior ao do D100. Não é o amplificador mais potente que já ouvi – não sei se ele daria conta de um HiFiMAN HE-6 por exemplo, ou um AKG K1000 –, mas certamente está no grupo dos mais fortes.

E com as duas opções de ganho, é também muito versátil. Ouvi meus in-ears sem qualquer ruído de fundo ou chiado, e com um controle do volume bastante satisfatório.

 

CONCLUSÕES

Aqueles que leram minha avaliação do Oppo HA-2 talvez se lembrem que, no final, disse que ele era “uma belíssima solução” de áudio. Com o HA-1, sinto exatamente a mesma coisa. Minha impressão é de que estou diante de um equipamento que coloca o hobby firmemente no século XXI.

Afinal, ele une a versatilidade e a conveniência das suas diversas conexões e funcionalidades (inclusive bluetooth) ao seu tamanho compacto e a uma altíssima qualidade de som. Há todos os predicados para que ele seja o cérebro de um sistema extremamente competente. Uma solucão final. E o melhor: se em algum momento, por qualquer motivo, você quiser fazer algum upgrade ou testar algo diferente, não é necessário descartar o HA-1 porque todas as suas funções são independentes.

E em termos sonoros, o Oppo é igualmente competente. Sei que estou comparando de memória, mas sinceramente: no mundo real, ouvindo música da forma como ouço, sem procurar agulhas em palheiros, tenho total certeza de que não ouviria diferenças entre o HA-1 e meu GS-X. Suas tonalidades são muito semelhantes, e as diferenças entre eles certamente não são tão significativas quanto a diferença de preço pode fazer você acreditar.

Minha intenção, ao fazer as mudanças recentes em meu sistema, era comprar um HA-1. Infelizmente alguns acontecimentos recentes fizeram com que isso não fosse possível, mas agora, tendo passado um tempo com ele aqui, tive mais certeza de que ele é a solução ideal para mim – e para muita gente. Assim que puder, vou comprar um HA-1 para ser meu sistema. Não posso fazer um elogio maior que esse.

 

Oppo HA-1 – US$1.199,00

  • Amplificador de fones Classe A discreto totalmente balanceado
  • DAC balanceado até 384kHz 32 Bits/DSD 256
  • Chip ESS Sabre32
  • Pré-amplificador com bypass para home theatre
  • Entradas digitais: USB, coaxial, ótica, AES/EBU, bluetooth (incl. suporte para aptX)
  • Entradas analógicas: RCA, XLR
  • Saídas analógicas: RCA, XLR
  • Saídas de fones: XLR 4 pinos e TRS 1/4″ (P10)
  • THD+N @1kHz com 50mW: < 0.001% (< -100 dB) via XLR / < 0.0022% (< -93dB) via TRS
  • SNR: > 111 dB
  • Impedância de saída: 0,5Ω (XLR) e 0,7Ω (TRS)
  • Potência: 800mW (XLR) e 200mW (RCA) @ 600Ω / 2000mW (XLR) e 500mW (RCA) @ 32Ω

 

Equipamentos Associados:

  • Fones: Focal Elear, Grado HP1000, HiFiMAN HE560, BeoPlay H6, Audio-Technica ATH-M50X, Superlux HD681, DUNU DN-2000, Xtreme Ears Xtreme ONE
  • Transporte: MacBook Pro, Samsung Galaxy S7 Edge
11 Comments
0