INTRODUÇÃO
A impressão que tenho é que todo dia fico sabendo de uma nova marca de IEMs. E os que acompanham o site – e minhas recomendações – já sabem que estou um pouco por fora desse mundo. Mas o que vejo, principalmente pela minha referência na área, o ljokerl, do The Headphone List, é que as marcas mais tradicionais cada vez mais perdem espaço para entrantes que oferecem alta qualidade de som a um preço mais atraente. E uma dessas entrantes é a Dunu.
No papel, parece só mais uma fabricante chinesa de intra-auriculares, com direito a um site incrivelmente tosco, repleto de erros de ortografia e gramática, uma embalagem que não sabe se é em chinês ou inglês – e quando é em inglês é bem duvidosa – e coisas desse tipo. Mas basta ler as avaliações dos fones da marca para ver que ela é coisa séria.
O modelo que tenho para avaliação é o DN-2000, o atual topo da linha, que custa 250 dólares. É um intra-auricular híbrido de três vias, com um falante dinâmico para graves e um par de armaduras balanceadas, sendo uma para médios e outra para agudos. Em minha experiência, é bem difícil que essa seja uma receita para o sucesso: integrar diferentes tipos de alto-falantes não é uma tarefa fácil.
ASPECTOS FÍSICOS
Apesar das idiossincrasias chinesas, a embalagem é luxuosa e o fone vem muito bem apresentado, com uma quantidade realmente impressionante de acessórios: são 10 pares de ponteiras (de 4 tipos, sendo alguns deles projetados para exercer influência específica na sonoridade do fone); um conjunto de espaçadores para as ponteiras, de diferentes tamanhos; três tipos de acessórios para melhorar o encaixe do fone nos ouvidos; um adaptador P2-P10; um adaptador para aviões; um clip para camisa; e, por último, uma caixa rígida de metal para transporte, que é ótima mas poderia ser um pouco menor. O único IEM comparável que conheço, em termos de acessórios, é o Shure SE846, que custa quatro vezes mais.
Fisicamente, o fone em si é basicamente um cilindro de metal. É bem construído, mas um pouco pesado e não é o in-ear mais ergonômico que já vi – felizmente, porém, os diversos acessórios permitem que encontrar um bom encaixe não seja uma tarefa impossível. Pessoalmente, achei que usá-lo com o cabo por cima da orelha me proporcionou os melhores resultados, e ele acabou sendo extremamente confortável – não tanto quanto os melhores in-ears que já usei, mas dá para esquecer que estou com ele.
Um detalhe que gostei bastante é o divisor Y, que também é de metal e possui a peça deslizante totalmente integrada – demorei um tempo para perceber que ela existia. É um pequeno detalhe muito bem pensado. E o cabo em si é de boa qualidade e possui o tamanho ideal. No entanto, é uma pena que ele não seja removível. Num fone desse preço, é um problema que merece atenção.
O SOM
Vou resumir numa única expressão minha reação à sonoridade do DN-2000: estou absolutamente encantado. Esse é, sem sobra de dúvidas, um dos melhores intra-auriculares que já pude ouvir. É um dos raros em que não tenho a menor vontade de avaliá-lo, e sim de simplesmente ouvir música. Sua sonoridade, resumidamente, é natural, orgânica e cheia, porém extremamente espacial. Ele superou, por uma gigantesca margem, minhas melhores expectativas.
Vamos começar pelos graves: eles são um pouco elevados, mas é uma elevação espetacularmente bem feita porque se concentra nos sub-graves e não causa absolutamente nenhum mal. Muito pelo contrário – o que ela faz é adicionar peso e autoridade à apresentação. São graves líquidos, definidos, gordos e com excelente textura. E, para completar, como me disse o dono do fone (grande Athos), eles lembram os graves de um planar magnético porque possuem uma extensão quase infinita. Na For You, da Violet Skies, há alguns trechos em que até o JH Audio Roxanne já desistiu (!), mas o DN-2000 está lá, firme e forte, tremendo o chão.
Veja, não são graves exagerados, longe disso. Considero a apresentação do DUNU equilibrada. É que os graves têm muito peso e força, mas de alguma forma não há qualquer interferência no restante do espectro. Eles possuem um lugar totalmente reservado para eles. Audiófilos, corram para as colinas: nessa região, na vasta maioria dos casos, prefiro o DN-2000 ao Roxanne.
E só não digo que é em todos os casos porque há um pequeno detalhe que pode até ser visto como um defeito no Roxanne, mas é algo que em alguns casos vem para o bem: no DUNU, a impressão que tenho é que existem os sub-graves ocupando um espaço específico, e depois os médios ocupando um outro espaço. A transição dos graves até os médios me parece linear. Já no Roxanne, há aquela característica que citei em sua avaliação: boa parte de seu peso na realidade não está nos graves, e sim nos médios. Há uma boa quantidade de médio-graves nesse fone, o que dá uma sensação de bastante “massa” à sua apresentação. O ar e o respiro a mais que tenho com o DN-2000 estão me agradando muito, inclusive porque dão mais destaque aos fantásticos sub-graves que ele apresenta – entretanto, especificamente com rock, os médio-graves do JH Audio acabam sendo muito interessantes. O som é uma “porrada”, e o DUNU, em contrapartida, nesses casos me soa mais magro.
Porém, basicamente em qualquer outra situação, prefiro o DN-2000 porque tenho todo o peso de belos sub-graves provenientes de um falante dinâmico com extensão virtualmente infinita e uma apresentação bastante espacial.
A transição para os médios num fone híbrido pode ser um problema mas, como já indiquei, felizmente aqui esse não é o caso – longe disso. A apresentação é extremamente coerente, e não há qualquer indicativo de problemas de integração. Os engenheiros da DUNU fizeram um belíssimo trabalho: o falante dinâmico parece estar ali só para complementar as duas BAs de médios e agudos, e fazer aquilo que elas não são capazes de fazer.
Os médios em si são deliciosamente suaves e orgânicos, e em termos de personalidade me lembram um pouco o Roxanne. Ao passo em que eles são relativamente frontais – mais do que no Roxanne, pelo menos – e bastante detalhados, a prioridade me parece ser apresentar uma região doce e sedosa, mas muito natural. Não tenho muito o que falar aqui. É um desempenho fantástico nessa região que não deixa absolutamente nada a desejar. Os médios são capazes de apresentar tanto a doçura de vozes como a de Billie Marten quanto a agressividade das guitarras de Steven Wilson em Blackest Eyes do Porcupine Tree com equivalente desenvoltura.
Inclusive, é uma personalidade que eu não esperaria encontrar num fone que possui uma única armadura balanceada destinada aos médios. Geralmente, fones desse tipo apresentam uma sonoridade mais granulada, mas isso não ocorre com o DUNU. A melhor palavra que descreve seus médios é “sedosos”. Para mim, isso é surpreendente e muito positivo. Tem-se o melhor dos dois mundos: a frontalidade e neutralidade das BAs com a doçura e suavidade dos dinâmicos, ainda que aqui eu esteja falando exclusivamente (acredito) do que está saindo de uma única armadura balanceada.
Outra característica exemplar no DN-2000 – e uma que ele faz melhor do que qualquer intra-auricular universal que já ouvi, e possivelmente do que qualquer custom – é apresentar espacialidade. Especialmente com as ponteiras certas, consigo uma excelente capacidade de imagem, que se obviamente não consegue retirar os sons da minha cabeça, chega perto disso. Ele cria uma ambiência bastante desenvolvida e expansiva, com ótima precisão no posicionamento dos instrumentos. A relação de espaço entre os graves e os médios, novamente, é o que mais me impressiona.
Nos agudos, o bom trabalho continua. Essa região é muito coerente e bem integrada aos médios, porém acho que, pelo menos em relação ao Roxanne, falta um pouco de “polimento”, por assim dizer. O custom da JH Audio é mais refinado e elegante – o DN-2000, em algumas raras ocasiões, sibila e me parece um pouquinho agressivo. No geral, entretanto, as altas regiões apresentam ótimas qualidades, com ótimo timbre e detalhamento, e boa extensão. E, crucialmente, não costumam chamar atenção para si – característica que valorizo muito. Parecem fazer apenas um ótimo trabalho de complementação ao espectro, ajudando a compor o excelente equilíbrio tonal que ouço no DUNU.
CONCLUSÕES
Vou alterar ligeiramente uma constatação que fiz anteriormente: estou diante do melhor intra-auricular universal que já ouvi. Veja, não é que ele seja perfeito… tenho medo de ser muito categórico em situações como essa e estar refletindo apenas o que é uma opinião totalmente pessoal acerca de uma sonoridade que, por acaso, está em perfeita sintonia com o que eu valorizo num fone de ouvido. Talvez o DN-2000 seja um desses casos, mas o ponto é que em poucas situações me vi sentindo falta de alguma coisa. O trabalho de um avaliador é ser direto e objetivo, mas temo que aqui não vou conseguir.
O que menos fiz durante esse tempo que passei com ele foi de fato parar para analisar o fone – só ouvi música. E praticamente deixei de lado meus outros fones, por falta de vontade. Queria mesmo é ouvir como o DUNU apresentava minhas músicas. E o que ouço com ele são graves deliciosos, cheios, de tremer o chão, com extensão infinita, médios sedosos e sedutores, uma espacialidade totalmente inesperada num intra-auricular e agudos coerentes, limpos e extensos. Simplesmente não canso de ouvir música com ele. Ele é absurdamente prazeroso e sua apresentação é incrivelmente encantadora.
Se eu tivesse um esquema de pontuação aqui no site, seria muito rígido. Levaria em conta diversos aspectos, e para um fone ganhar 5 estrelas ele teria que ser realmente excepcional. Pouquíssimos conseguiriam essa façanha – Sennheiser HD600 e Orpheus, JH Audio JH13Pro, Grado HP1000 e RS1i e Stax SR-007 são exemplos de fones que teriam essa pontuação. Sennheiser HD800, Audez’e LCD-2, HiFiMAN HE-6 e outros do tipo ficariam de fora.
O DUNU DN-2000 ganharia as 5 estrelas. Ele simplesmente faz música.
DUNU DN-2000 – US$259,00
- IEM híbrido de 3 vias: falante dinâmico para graves, uma BA para médios e uma BA para agudos
- Sensibilidade (1 mW): 102 dB SPL/mW
- Impedância (1kHz): 16 Ω
- Resposta de Frequências: 10Hz-30kHz
Equipamentos Associados:
Portátil: iPod Classic, Sony Xperia Z3, Oppo HA-2
Mesa: Mac Pro, Yulong D100, HeadAmp GS-X