INTRODUÇÃO
Os que acompanham o site há mais tempo talvez se lembrem de um comparativo que fiz, nos primórdios do MIND THE HEADPHONE, entre meu antigo Meier Audio Corda Eartube e o protótipo de um amplificador nacional, chamado Secret. Desde então, meu sistema passou por muitas modificações até chegar a seu formato atual e, nesse meio tempo, o Clonus Secret finalmente chegou à sua versão final.
Diversos aperfeiçoamentos foram feitos ao projeto, o que certamente melhorou seu desempenho. Entretanto, por mais competente que seja o Eartube, agora a briga é com um cachorro bem maior: o HeadAmp GS-X, considerado por muitos como um dos melhores amplificadores de fones estado-sólidos já fabricados.
ASPECTOS FÍSICOS
Fisicamente, houve progresso evidente. Esse amplificador ainda parece optar por uma filosofia mais simplista, mas cresceu, está mais maduro, mais atraente e muito mais bem construído. A maior diferença está no painel frontal, que agora é de madeira, e no controle de tonalidade à direita do painel com controle de graves, agudos e um switch para fazer um bypass nesse controle.
Ao centro fica o botão de volume e logo à esquerda a única saída P10 para fones de ouvido e o switch para ligar e desligar o aparelho. Atrás, há apenas um par de entradas e um de saídas RCA – para o uso como pré-amplificador.
A qualidade de construção é boa, porém não excelente. Os painéis de metal ainda possuem uma estética e uma sensação ao toque típicos de equipamentos menos sofisticados – e dá a ele um ar visivelmente artesanal. Em minha opinião não é um problema sério, mas que deve ser frisado porque, para outros, pode muito bem ser. É uma qualidade de construção que fica aquém da que vejo na maior parte dos equipamentos produzidos em massa, mas melhorar não seria difícil: bastaria optar por painéis um pouco melhores que minha percepção sobre o Secret mudaria completamente.
E já que estou falando de coisas que me desagradam, outros pequenos detalhes são o fato de o LED de controle de tonalidade e de on/off serem de cores diferentes (verde e vermelho) e o fato de os controles de tonalidade não apresentarem um centro tátil. Sei que se eu quiser neutralidade basta desligar o controle, mas se eu quiser mexer apenas no de graves ou no de agudos e deixar o outro na posição neutra, isso deve ser feito de maneira aproximada já que não é possível saber onde é o centro exato.
ASPECTOS TÉCNICOS E FUNCIONALIDADES
O Secret é um amplificador de fones e pré-amplificador estado-sólido single-ended que opera em classe A, mas em relação ao protótipo que testei anteriormente, foram feitas diversas melhorias. Em primeiro lugar, foi adicionada uma fonte regulada e superdimensionada, com retificação de onda completa, reguladores de tensão e um transformador toroidal superdimensionado; houve a adição do controle de tonalidade já mencionado; o controle de volume foi ajustado, sendo agora apropriado também para intra-auriculares mais sensíveis, apesar de não haver controle de ganho; e, por último, foi implementado um softstart para eliminar ruídos e transientes ao ligar e desligar o aparelho.
Em termos de funções, não há muito. Ele é simples no bom sentido – é ligar a fonte, o fone e pronto. No entanto, confesso que, para o meu uso, algumas coisas seriam bem-vindas. Gostaria, por exemplo, de mais uma saída de fones, algo muito útil em minhas comparações, e também de uma saída balanceada, o que seria interessante num amplificador estado-sólido desse calibre. E por mais que o controle de volume logarítmico me dê bons resultados, o sistema de três ganhos do HeadAmp GS-X me parece ainda mais competente.
O SOM
Minha opinião com relação ao GS-X não poderia ser melhor: para mim, ele parece definir a palavra “amplificador”, ou seja, é um equipamento que simplesmente amplifica o sinal sem tirar nem pôr. Sei que esse é um clichê no mundo da audiofilia, mas parece que com o HeadAmp isso é um consenso. É muito difícil avaliar um aparelho como esse – o que você vai dizer? Não existem características sonoras para comentar. O que sai dele é o que é.
Com a maioria dos outros amplificadores a situação é mais fácil – por exemplo, a saída de fones do Yulong D100 na maioria dos casos é mais escura, menos tridimensional e apresenta menor definição. Já num DNA Stratus, há uma apresentação infinitamente mais eufônica e romântica. Contudo, em minha opinião, se eu tiver que definir quem está certo, é o GS-X.
Fiz toda essa introdução porque, para mim, a situação com o Secret, quando comparado ao GS-X em single-ended, é realmente semelhante. Entrando em minúcias, existem diferenças entre os dois e o GS-X ainda sai um pouco na frente, mas o que vou falar a partir daqui são diferenças muito pequenas e que só conseguirei descrever dessa forma porque estou ouvindo um amplificador em cada ouvido com gravações em mono (uso o JH Audio Roxanne e o Sennheiser HD600, ambos com dois cabos, cada um ligado a um amplificador).
A primeira diferença é que o GS-X me parece ligeiramente mais espacial e transparente, principalmente na região média – na Walk on By, da Diana Krall, isso é relativamente claro. É como se na apresentação do HeadAmp a instrumentação se espalhasse por um ambiente um pouco maior e mais tridimensional, e por consequência, é possível “enxergar mais” da música. O Secret, em comparação, é um pouco mais compacto e escuro. Outra diferença é que o HeadAmp é sutilmente mais rápido, mas novamente, estamos falando de algo ridiculamente pequeno que, para todos os efeitos, é desprezível.
Contudo, tenho quase certeza de que não conseguiria diferenciar os dois amplificadores (ao menos com o GS-X em single-ended) num teste cego. O que ouço dos dois é muito, muito próximo e, consequentemente, boa parte dos elogios que faço ao HeadAmp, em termos de desempenho sonoro, pode ser feita ao Secret: um verdadeiro wire-with-gain que praticamente não impõe assinatura sonora no resultado final.
Um pequeno detalhe, porém, é que com intra-auriculares mais sensíveis há um discreto porém notável (sem música) hiss no Secret, mas conversei com o Guto Pereira, que participou ativamente no desenvolvimento do amplificador, e ele disse que essa unidade não possui uma rede resistiva que melhoraria essa questão com fones de alta sensibilidade e baixa impedância. Pelo que entendi, isso será implementado em futuras unidades.
Já quando o comparo às saídas de fones do Yulong D100, um DAC/amplificador de 500 dólares, o Secret se mostra superior – as diferenças não aparecem sempre (com alguns fones são mais evidentes do que com outros), mas em determinadas situações é possível observar que se trata de um amplificador mais aberto, transparente e refinado. É um pouco como a diferença entre o Secret e o GS-X, porém em maior proporção. Os médios e graves do D100 são mais fechados, e por consequência há menor arejamento e perda aparente de detalhes.
Sei que essa não é uma comparação nada justa, mas também comparei o Secret ao GS-X totalmente balanceado usando o HD600 – e nesse caso, o espaço entre os dois aumentou um pouco. O HeadAmp manteve toda a transparência que o caracteriza, mas ganhou uma dose extra de corpo e uma pitada a mais de espacialidade. É um incremento sutil, mas que tornou mais fácil distinguir o Secret do GS-X e aumentou um pouco a vantagem do aparelho americano.
Com relação à potência, mais uma vez os dois são muito parecidos: o volume máximo do GS-X com o HD600 balanceado é praticamente o mesmo do Secret com o Sennheiser single-ended, então há uma ligeira vantagem do Secret – afinal, em single-ended o volume no HeadAmp é menor.
E já que estamos falando de vantagens do Secret, aqui vai outra: sei que muitos audiófilos batem o pé para isso, mas há um controle de tonalidade, com controle de graves e agudos, que pode ser muito bem vindo em diversas situações. Gostei muito dessa possibilidade em muitos casos, mas confesso que gostaria que o controle de graves atuasse numa faixa um pouco mais baixa: como está, acho que há uma invasão na área dos médio graves que deixa a região um pouco nebulosa e não adiciona peso e autoridade como eu gostaria. Nos agudos, não tenho do que reclamar.
CONCLUSÕES
Vou repetir: só falei de diferenças realmente pequenas aqui. O Secret é um amplificador espetacular que, ao lado do GS-X, escancara a lei dos diminishing returns. Na maior parte dos casos, sei que não conseguiria diferenciar os dois num teste cego. E isso não está dizendo algo sobre o HeadAmp, e sim das proezas do Secret. Ele é um dos melhores amplificadores que já testei e, pelo que me lembro, – por mais irresponsável que seja comparar amplificadores confiando na memória – entra na lista acima de opções como Leben CX300XS, Schiit Mjolnir, Little Dot MKVI e Burson HA-160D.
Me deixa muito feliz dizer que temos, finalmente, um amplificador nacional de altíssimo nível, relativamente acessível (principalmente em tempos de dólar a 4 reais), capaz de brigar com concorrentes importados de peso. Ele não é perfeito – o acabamento poderia ser melhor; há esse hiss com IEMs, apesar de em teoria isso poder ser resolvido sem dificuldade; e, assim como o que ocorre com o GS-X, ele pode em várias ocasiões ser transparente demais.
Mas não tenho a menor dúvida de que estamos falando de um amplificador definitivo para muitos entusiastas.
Clonus Audio Secret – R$1.800,00
Amplificador de fones/Pré-amplificador estado sólido
- Potência de Saída em Classe A: 160 mW em 8 ohms / 600 mW em 30 ohms / 120 mW em 600 ohms
- Distorção Harmônica: 0,01% entre 20 Hz e 20KHz
- Resposta de Frequência: 6 Hz a 100KHz, plana
- Relação Sinal/Ruído: superior a 90 dB (1mW sobre 8 ohms)
- Fator de Amortecimento: maior que 80 (20 Hz a 20 KHz) sobre 8 ohms
- Sensibilidade de Entrada: 8mV para 1 mW sobre 8 ohms
Equipamentos Associados:
Fones: Audio-Technica ATH-W3000ANV, Grado HP1000, JH Audio Roxanne, Sennheiser HD600 e HD800
Caixas de Som: Jamo R907
Fontes: Yulong D100 e Electrocompaniet ECD-1
Transportes: MacPro e MacMini