Beats Solo2

Nota de esclarecimento:

Beats_Solo2-colorsAntes de começar essa avaliação, gostaria de esclarecer algumas questões. Meu objetivo com esse site é simples: testar equipamentos de som e relatar minhas impressões ao leitor. Consequentemente, o maior ativo que posso oferecer a você é minha sinceridade e imparcialidade – e manter esses atributos é minha maior prioridade.

Sempre coloquei o leitor em primeiro lugar, muitas vezes recusando propostas de parcerias ou o envio de produtos por achar que as condições propostas poderiam ferir não a minha imparcialidade, mas apenas a percepção do leitor acerca dela. Isso já é o suficiente. Nessa avaliação, a situação não é diferente. Esse fone pertence a um grande amigo, que o ganhou ao comprar um MacBook Pro como estudante nos Estados Unidos, e aproveitei a oportunidade para avaliá-lo. Tudo o que você vai ler aqui são minhas opiniões sinceras e honestas acerca desse produto – como em todas as outras avaliações que já fiz e que irei fazer, não há qualquer interesse com esse teste além de relatar essas opiniões, independente da marca.

 

INTRODUÇÃO

O nome Beats causa repulsa em muitos audiófilos, e não é sem motivo. A marca americana foi responsável por uma reviravolta no mercado de fones de ouvido, transformando um item puramente técnico e funcional em um acessório de moda. Consequentemente, a marca hoje detém mais de 50% do mercado de fones de ouvido acima de 100 dólares.

O grande problema é que a Beats conseguiu esse feito por meio de um brilhante trabalho de branding e marketing, e não por de fato entregar um produto alinhado ao discurso. Ao contrário do que a marca prometia, ao comprar um Solo, um Studio ou um Pro você definitivamente não estava tendo uma experiência sonora de qualidade e muito menos ouvindo o que o artista queria. A sonoridade desses fones era fortemente alterada, com nenhuma preocupação com um mínimo de fidelidade.

IMG_7649Não que essa deva ser sempre a busca: gosto de muitos fones justamente porque eles produzem uma assinatura eufônica e prazeirosa, mas há um limite para que isso não comece a deturpar inteiramente a apresentação. Por exemplo, o Solo original tinha uma ênfase enorme nos médio-graves que embaralhava e mascarava os médios a níveis cômicos, sem trazer nenhum benefício por isso; já o Studio, em compensação, basicamente não tinha médios. Resumidamente, em minha opinião, eram fones ruins, independente do preço. Já o Pro era aceitável, mas talvez no nível (ou abaixo) de um Audio-Technica M50 – nada que justificasse seus 400 dólares.

A segunda leva de fones da marca, com o Mixr e o Executive (esse último lançado após a separação da Monster) era consideravelmente melhor em termos de desempenho mas, em minha opinião, os fones ainda eram caros para o desempenho que apresentam. Recentemente, porém, a Beats lançou a segunda versão dos fones que causaram tanto ódio no mercado audiófilo: o Studio 2.0 e o Solo2 – fone cuja primeira versão foi responsável pela pior avaliação que já fiz aqui no MTH. E é justamente este último que tenho aqui para avaliação.

 

ASPECTOS FÍSICOS

IMG_7638O Solo2 não é exatamente um fone que eu consideraria discreto (eu ainda não me sentiria tão bem usando algo do tipo em público), mas acho que ele chama muito menos atenção do que o Solo original à época de seu lançamento. E, em termos de construção, as melhorias são evidentes: ele ainda é feito quase que inteiramente de plástico, mas há uma sensação de maior qualidade e solidez. As peças parecem mais desenhadas, as articulações mais robustas e a própria qualidade do plástico me passa a impressão de ser muito melhor. As almofadas laterais, em particular, são feitas com um couro sintético dos melhores que já vi: macio e extremamente agradável ao toque. A variedade de cores disponível também é consideravelmente maior.

O mesmo não pode ser dito, infelizmente, do acolchoamento do arco, que é basicamente uma peça de borracha que acaba puxando o cabelo. Em termos de conforto fico um pouco dividido, porque apesar de o encaixe ser bom, a parte de cima é um pouco dura e a pressão lateral não é exatamente imperceptível – o isolamento de ruídos externos, em contrapartida, é bom.

E se eu gosto do fato de o cabo incluso ser removível por meio de um conector TRS tradicional (P2), acho abominável que as almofadas laterais não sejam feitas para serem substituídas num fone de quase 200 dólares. É até possível substituí-las, mas elas são presas com fita adesiva e um novo par não pode ser comprado com a marca, sendo necessário encontrar fabricantes aleatórios em sites como eBay ou Alibaba. Em outras palavras, isso se chama obsolescência programada. Quantas pessoas vão ver suas almofadas desgastadas, observar que não é possível removê-las com facilidade e achar que precisarão descartar seu fone e comprar um novo? Quais os impactos ambientais de uma escolha irresponsável de design como essa?

Em termos de acessórios, não há muito: apenas uma pequena bolsa de neoprene – o Solo2 é dobrável e torna-se bem compacto – e o cabo removível, obviamente seguindo o padrão de botões da atual dona da Beats, a Apple.

 

O SOM

IMG_7651O Beats Solo original era um fone terrível, independente da faixa de preço. O problema era que ele tentava trazer graves acentuados para agradar seu público alvo, mas o incremento foi feito numa região bizarra que não fazia nada além de embaralhar completamente a apresentação. Não havia qualquer traço de definição, transparência ou, crucialmente, um mínimo de naturalidade.

O Solo2, ao que parece… é exatamente o que o Solo original deveria ter sido. Audiófilos de plantão, corram para as colinas: esse fone é bom. Muito bom.

Mas não se engane: ainda estamos falando de uma assinatura com forte ênfase nas baixas frequências, que têm mais presença do que em fones como o Audio-Technica M50. O mais próximo do Solo2 que consigo pensar é o V-Moda M-100, então tenha em mente que definitivamente não estou falando de um fone com pretensões audiófilas. A questão, no entanto, é que além de os graves apresentarem boa qualidade, os médios e agudos são bastante naturais  para um fone desse tipo e preço e deliciosamente eufônicos e musicais.

Como as baixas frequências serão certamente o tema mais polêmico aqui, é por onde vamos começar: não há dúvidas de que elas vão muito além de onde um fone neutro deveria ir, e em muitos casos podem incomodar – tanto o Sennheiser Momentum Over-Ear quanto o JH Audio Roxanne, fones que considero relativamente pesados nessa região, parecem magros frente ao Solo2. Mas felizmente, mesmo fortes, os graves apresentam ótima qualidade e nenhuma interferência nas outras regiões – há apenas a sensação de que eles estão mais à frente no espectro.

São graves carnudos, com bastante massa e força e ótimo impacto. Não são o maior exemplo de detalhamento ou de textura que conheço, mas estão certamente vão muito além do que eu esperava de um Beats. Apesar de no geral o Sennheiser Momentum ser um fone mais transparente e arejado, em termos de qualidade dos graves os dois são perfeitamente comparáveis. Em fones com as baixas frequências mais avantajadas, gosto de usar o belíssimo solo de baixo da Esperanza Spalding em Winter Sun para verificar se a apresentação acaba ficando embolada – e apesar de o que o Solo2 apresenta não ser um Sennheiser HD600, ele definitivamente superou minhas expectativas. Algumas notas acabam sendo mais gordas e embaralhadas do que deveriam, mas a um nível perfeitamente aceitável para um equipamento com essa proposta. O Momentum não se sai melhor. Vale lembrar, também, que esse tipo de característica é geralmente bem vinda em fones portáteis, já que os graves acentuados poderão se sobrepor aos ruídos de ambientes barulhentos com mais facilidade.

IMG_7653De toda forma, durante meu tempo com o Solo2, algo que gostei de fazer foi usá-lo com o iPod Classic usando o preset de equalização Bass Reducer, assim como fazia quando tinha o in-ear Sennheiser IE8. Isso faz com que os graves fiquem menos onipresentes, e a assinatura acaba deixando mais espaço para o que mais gostei no Beats.

E o que mais gostei no Solo2 é a região média – que é simplesmente encantadora. É surpreendentemente natural para um fone desse tipo e preço, e apresenta uma personalidade orgânica, carnuda e sedosa. São médios gordos, mas digo isso no melhor sentido possível. É um traço que me lembra, em partes, o JH Audio Roxanne. Veja, não estou dizendo que o Solo2 é comparável ao Roxanne, mas me parece que, nessa região, os dois estavam tentando chegar a um mesmo lugar, se isso fizer sentido.

Porém, ele não é o ápice da transparência ou da espacialidade, e talvez esse seja seu maior defeito. Uma comparação direta com o Momentum mostra o quanto o Beats é mais fechado, escuro e com menor arejamento, e o HD600 leva essa impressão a um novo patamar. Ao mesmo tempo, o Solo2 acaba encantando com uma apresentação mais eufônica e intimista. Jazz, em particular quando liderados por vozes femininas como a de Fredrika Stahl em seu primeiro álbum, A Fraction of You, é muito sedutor. E músicas mais modernas, como as de Lana Del Rey, continuam com essa linha.

Os agudos são parte integral dessa personalidade. Eles certamente são recuados, e não têm até mesmo a presença do Momentum (que é um fone que considero escuro a ponto de acabar ficando entediante), mas de alguma forma, a apresentação mais orgânica e sedosa do Solo2 acaba compensando. Ao invés da sensação de tédio que ocasionalmente tenho com o Sennheiser, acabo ouvindo algo que eu caracterizaria como intencionalmente líquido e eufônico.

Não é que eles não existam – pratos de bateria são audíveis quando devem ser, mas certamente estão atrás dos médios e mais ainda dos graves. No entanto, surpreendentemente, em termos de timbre, também gosto muito do que ouço. No final das contas, acaba sendo algo perfeitamente condizente com o que parece ser o objetivo do fone: uma sonoridade tranquila e doce aos ouvidos.

 

CONCLUSÕES

IMG_7648Pois é. O Beats Solo2 realmente me surpreendeu.

Porém, algumas coisas precisam ficar claras. Primeiramente, como já disse antes, não estamos falando de um fone audiófilo ou um que se preocupe com fidelidade. Há graves demais para isso, e sua sonoridade ainda é decididamente escura e fechada. Mas devo lembrar que muitos de nós, audiófilos, não estamos sempre em busca de neutralidade. Ao mesmo tempo em que tenho fones que buscam uma apresentação mais neutra, adoro meu Audio-Technica W3000ANV e sou fã confesso de fones como o Sennheiser HD650 ou até mesmo do Parrot Zik. E quem é que não adora um amplificador valvulado caloroso?

Acredito, entretanto, que há um limite para esse desvio da neutralidade para que algo ainda possa ser considerado “bom” em termos de qualidade de som, e se esse limite definitivamente não era respeitado pelo Solo e pelo Studio originais, aqui é. Em minha opinião, o Solo2 tem todos os predicados para competir em pé de igualdade com muitos fones renomados não só em sua faixa de preço, mas também acima dela, desde que se tenha em mente qual é a sua proposta. O próprio Momentum é um fone que vejo como objetivamente melhor, mas devo confessar que na maior parte dos casos os médios e agudos encantadores do Beats fazem com que, subjetivamente, eu goste mais do que ouço com ele.

Por isso, se o que você estiver buscando for neutralidade, o Solo2 ainda não será uma opção. Mas se você deixar seu forcado de lado e se conseguir lidar com graves exacerbados, vai encontrar uma personalidade deliciosamente melodiosa e eufônica que talvez surpreenda você também.

 

Beats Solo– US$199,00 MSRP / US$139,00 preço de rua

  • Driver dinâmico único
  • Sensibilidade (1 mW): não informada
  • Impedância (1kHz): não informada
  • Resposta de Frequências: não informada

 

Equipamentos Associados:

Portátil: FiiO X5 + HeadAmp Pico Slim, iPod Classic, Sony Xperia Z3

Mesa: Mac Pro, Yulong D100, HeadAmp GS-X

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