INTRODUÇÃO
A EarSonics é uma fabricante francesa de intra-auriculares que, durante um tempo, foi protagonista da cena de IEMs universais no fórum internacional Head-fi com o modelo SM3. Lembro que fiquei muito curioso nessa época porque eu ainda estava focado em in-ears, e apesar de eu gostar muito do Shure SE530 e do Sennheiser IE8 que tinha, os relatos sobre a sonoridade eufônica do SM3 me encantavam. Com o tempo, acabei mudando o foco e a marca pareceu sair dos holofotes.
Sua linha atual, dividida entre fones para audiófilos e para músicos (não sei sob qual critério), é bastante completa e compreende desde o universal SM1, com duas armaduras balanceadas por canal, até o EM6, um intra-auricular personalizado de 6 armaduras por lado.
Há, no entanto, uma linha diferente, chamada Premium. Nela, há apenas um produto, o único da marca cujo nome não é uma série de números e letras, o Velvet. É o fone que tenho para avaliação aqui: trata-se de um intra-auricular universal, com três armaduras balanceadas e um crossover personalizável, com três modos que afetam como as armaduras operam e, consequentemente, a sonoridade final do fone. O modelo pode ser adquirido em duas cores – preto e transparente – e apesar de o preço de tabela ser 699 euros, é possível encontrar o modelo por 599 dólares.
ASPECTOS FÍSICOS
Observando a embalagem, o objetivo do Velvet – e da linha Premium da EarSonics – fica claro: esse não é apenas um fone para músicos ou para audiófilos, e sim um fone com um apelo mais luxuoso. A caixa é grande e bastante elaborada. Ao abrí-la, somos imediatamente agradecidos por meio de uma carta (em Francês) por escolher a marca e temos uma visão do fone e da caixa rígida para transporte, rígida e relativamente bem acabada.
Ao remover a tampa superior de EVA, é possível ter acesso a todos os acessórios, organizados em recortes específicos: 5 pares extra de ponteiras, um adaptador P2-P10, uma ferramenta de limpeza e dois lenços umedecidos, um pequeno cartão explicando as três posições do botão que regula o crossover e uma chave de fenda que faz a regulagem.
O fone em si foge um pouco desse apelo, já que ainda apresenta a estética de um fone voltado para o mercado profissional. O cabo é o tradicional dos monitores personalizados (inclusive usando o conector removível de dois pinos) e o corpo do Velvet em si é feito em plástico e deixa todos os seus componentes à mostra. Em termos de luxo, certamente não estamos falando de um AKG K3003i ou até mesmo de algo como um RHA 750i ou um Ortofon e-Q8.
Quanto ao conforto, se não tenho problemas sérios, também não acho que ele seja um exemplo. Tanto o Xtreme Ears Xtreme ONE quanto o HiFiMAN RE-400 são mais confortáveis para os meus ouvidos. Ele possui um gancho e foi desenhado para ser usado apenas com o cabo por cima das orelhas.
Há, no entanto, um problema grave no Velvet: o botão giratório que controla o crossover é muito semelhante ao de controle de graves do JH Audio Roxanne, mas fica posicionado na parte externa do corpo do fone. O problema é que a peça é frágil, e não são raros relatos de usuários que acabaram espanando o botão com a ferramenta de ajuste. Esse problema ocorreu com a unidade que está comigo, e por isso no lado esquerdo basicamente não tenho mais como alterar entre os modos do fone. Com muito cuidado até consigo, mas é extremamente arriscado e tenho medo de chegar a um momento em que a fenda do botão será totalmente erodida e ele não terá mais como ser girado.
O SOM
Comecei minhas audições no modo equilibrado, e de início, o que posso dizer é que o Velvet é totalmente diferente de todos os intra-auriculares que já ouvi. A questão é que ele é extremamente espacial, mas de um jeito um tanto inusitado. O JH Audio Roxanne, por exemplo, consegue ser muito espacial por que sua sonoridade parece literalmente grande e expansiva – no Velvet, é como se houvesse um espaço menor mas a noção de distância é muito evidente. O curioso é que parece que isso é atingido por meio de um efeito deliberado, e não algo exatamente natural.
A melhor forma de explicar é a seguinte: sabe quando vemos alguma boa gravação de um sistema de som high-end tocando? Como essa, por exemplo. Ouvimos não só o conteúdo da gravação em si, mas também (além das colorações introduzidas pelos equipamentos de reprodução e pelo microfone, apesar de elas serem reduzidas se os equipamentos forem de alta qualidade, como é o caso) a interação dela com a acústica da sala. O Velvet parece introduzir o som de uma sala em todas as gravações, de certa forma. É como se houvesse um leve filtro que adiciona uma camada extra de espacialidade – ou seja, não é um palco sonoro dos mais precisos ou fidedignos, mas é bastante expansivo e pode ser bem prazeroso.
Em termos de tonalidade, o Velvet possui os médios mais para a frente, independente da posição do botão de ajuste do crossover, porém em diferentes níveis. De toda forma, sua assinatura me parece mais eufônica e, em termos, o que ouço aqui me lembra um pouco o Audio-Technica W3000ANV: ou seja, não estou ouvindo uma resposta exatamente linear, mas sim uma sonoridade que parece ser finamente talhada para uma sonoridade específica.
Os graves, na posição 1 (o que a marca chama de Tight Sound, com graves reduzidos em relação aos médios e agudos), são o que eu consideraria neutro em termos em quantidade. Porém, tanto na posição 2 (Balanced Sound) quanto na 3 (Warm Sound, com graves mais fortes) eles vão além do que considero neutro, mas é interessante observar que parece haver um incremento justamente na área que traz a sensação de graves gordos, melodiosos e com peso e autoridade. Eles são se tornam menos onipresentes e lineares do que no JH Audio Roxanne por exemplo, mas ao mesmo tempo parecem ter mais substância e definição. A comparação com o Xtreme Ears Xtreme ONE é parecida. É como se, nesses dois, houvesse uma resposta razoavelmente reta dos graves até os médios, mas no Velvet há um incremento numa área específica dos graves, mais baixa, conferindo essa sensação de graves com bastante massa e peso (mas que de forma alguma se sobrepõem ao resto das frequências), seguido por um pequeno vale e, depois, mais um incremento na região média, na área das vozes.
Gosto muito do desempenho desse EarSonics nas baixas frequências, qualquer que seja a posição do botão de ajuste do crossover. Independente da quantidade, eles sempre apresentam uma personalidade bastante agradável, pesada porém melodiosa e, por mais que a quantidade varie consideravelmente, curiosamente eles parecem sempre apropriados – apresentam, apenas, sabores diferentes e mais ou menos interessantes para diferentes momentos.
Quanto aos médios, novamente tenho muitos elogios: eles são extremamente abertos e transparentes. Como parece haver um pequeno incremento em alguma região específica – mas certamente nada no nível do que ouvi no Fidue A83 –, não acho que essa região soe exatamente natural em termos timbrísticos (as vozes poderiam ter um pouco mais de calor e corpo, mais íntimas e um pouco menos distantes), mas ela é certamente muito viva e envolvente. Além disso, a capacidade de detalhamento do Velvet é excelente – acho que o colocaria no nível de muitos dos bons intra-auriculares personalizados. Violões, em particular, soam excepcionais nesse EarSonics. O ônus é que há uma granulação um pouco evidente nessa região, mas não é algo que me atrapalhe muito.
Na posição 1 do crossover os médios são mais proeminentes, e acho que o resultado é mais interessante para gêneros acústicos que dependem quase que inteiramente dos médios, visto que em outros cenários o resultado pode ser um pouco agressivo para o meu gosto. Rock, por exemplo, pode ser um problema.
Porém, basta passar para a posição 2 que os médios e os agudos se acalmam em relação aos graves, o que pode tornar o resultado ligeiramente menos transparente porém mais eufônico e que parece, no final das contas, de fato mais balanceado e mais apropriado para gêneros mais diversos. É dessa forma, aliás, que o Velvet deixa suas habilidades espaciais mais claras.
No entanto, é na posição 3 que esse in-ear mais me agrada. Ao contrário do que a descrição pode nos fazer acreditar, esse é o modo no qual o fone é, ao menos para os meus parâmetros, mais equilibrado. Os médios ainda são relativamente para a frente, mas consideravelmente mais melodiosos. Mais uma pequena parte da transparência do Velvet é deixada para trás, mas em minha opinião, por uma boa causa. E não me entendam mal; ele continua sendo um fone extremamente detalhado – muito mais do que todos os outros intra-auriculares que tenho à minha disposição no momento (Xtreme Ears Xtreme ONE, Ortofon e-Q8, In-Ear StageDiver 1, HiFiMAN RE-400), com exceção do JH Audio Roxanne, com o qual ele consegue uma boa briga nesse quesito.
Nos agudos, praticamente não tenho nada além de elogios: acho que essa é a região que menos sofre alterações nos três modos do Velvet, e eles parecem estar sempre presentes na medida que julgo correta – sempre soando como uma orgânica extensão dos médios. Apesar de a extensão não ser a melhor que já ouvi, em termos de timbre (o mais difícil) não tenho qualquer crítica. Pratos de bateria são excepcionalmente bem apresentados quando a gravação permite.
CONCLUSÕES
Não há motivo para rodeios: adorei o Velvet. Apesar de achar que ele se dá melhor com estilos mais calmos, não há nenhum gênero no qual ele seja deficiente; esse IEM manteve a compostura com qualquer coisa a que foi apresentado.
Se com o botão de ajuste do crossover na posição 1 ou 2 ele possa ser um pouquinho empolgado demais na região média, minhas reações sempre variavam de intrigado (pela sua espacialidade peculiar) a boquiaberto com o que ouvi no Velvet. Boas gravações de jazz, como as da Esperanza Spalding, da Melody Gardot ou da Diana Krall são simplesmente espetaculares nesse in-ear e, em várias delas, confesso que prefiro o EarSonics ao meu JH Audio Roxanne.
Encontrei nele uma visão refrescantemente diferente de como um intra-auricular pode soar. É um belíssimo fone que fico feliz em poder recomendar.
EarSonics Velvet – € 699,00
- Três armaduras balanceadas gerenciadas por um crossover de três vias variável
- Sensibilidade (1 mW): 116 dB SPL/V
- Impedância (1kHz): entre 31,5 e 41,5 ohms (dependendo da posição do controle)
- Resposta de Frequências: 10 – 20,000 Hz
Equipamentos Associados:
Portátil: FiiO X5 + HeadAmp Pico Slim, Ortofon MHd-Q7, iPod Classic, Sony Xperia Z2 e Xperia Z3
Mesa: Mac Pro, Geek Out 450, Yulong D100, HeadAmp GS-X