INTRODUÇÃO
Antes dessa avaliação, confesso que nunca havia ouvido falar da InEar (sim, esse é o criativo nome da marca). Até mesmo encontrar o site da fabricante no Google não foi uma tarefa tão fácil, mas no final das contas consegui descobrir que essa é uma fabricante alemã de intra-auriculares, que conta com modelos universais e personalizados.
Sua principal linha de universais, porém, é a curiosa StageDiver. A primeira vista, eles se parecem com fones personalizados com uma ponteira – a marca diz que são “monitores que se encaixam em quase qualquer orelha e que parecem idênticos a um sistema personalizado”. O que tenho em mãos é o mais simples da linha, o SD-1, que conta com uma única armadura balanceada e custa 269 euros.
ASPECTOS FÍSICOS
Fisicamente, o SD-1 de fato parece um intra-auricular personalizado, e o encaixe é surpreendentemente bom. A marca parece ter conseguido chegar a um formato que se encaixa num grande número de orelhas, e com esse in-ear tenho conforto e um excelente isolamento. O cabo removível também é tradicionalmente visto em fones personalizados.
Esteticamente, o InEar é bastante discreto. Essa versão em avaliação, porém, apresenta o opcional StageDiver Wood-Design, que custa 80 euros e na prática é um pequeno detalhe em madeira na face externa do fone. Não gostei muito do resultado visto que é apenas um (caro) corte de uma folha de madeira num formato estranho, mas imagino que esse opcional seja do agrado de alguns.
Em termos de acessórios, o SD-1 segue a linha germânica do simples e direto: quatro pares de ponteiras de diferentes tamanhos, um curioso adaptador TRS para TRRS (por que não um muito mais útil P2-P10?), três panos umedecidos para limpeza e uma caixinha para transporte. Essa caixinha, aliás, é diferente das tradicionais Ottercases e das mais recentes caixas de metal: é de nylon e, dentro, conta com uma moldura de EVA. Ela é satisfatória, mas além de ser maior do que o necessário, a costura apresenta um acabamento bem decepcionante, com cortes imprecisos e fios soltos – mas nada crítico.
O SOM
O SD-1 me deixa confuso. Minha primeira impressão era de que se tratava de um fone decididamente analítico, mas acho que agora eu não o classificaria dessa forma. A questão é que ele possui algumas características típicas de fones frios e analíticos, mas em outros aspectos ele é muito mais suave do que equipamentos que seguem essa vertente.
Indo diretamente ao ponto: o InEar praticamente não possui graves e sua extensão nos agudos não é incrível (como é de se esperar num intra-auricular baseado numa única armadura balanceada), então parece que com ele não estamos ouvindo toda a música – mas a fatia da música que ele parece mostrar é apresentada com imensa precisão. Por isso, se em muitas situações ele parece magro e não envolvente – o que me parece uma pegada mais analítica –, quando usado para ouvir gêneros acústicos centrados na região média, ele é surpreendentemente suave, natural e detalhado. Não há a agressividade nas altas frequências geralmente associada a fones mais frios e analíticos.
E é nas altas frequências que vou começar: em termos de extensão o SD-1 não é impressionante – assim como no Xtreme ONE, sinto falta de brilho nas últimas oitavas –, mas gosto do que ouço em termos de timbre, e a presença é muito boa. Na maior parte dos casos, os agudos me parecem condizentes com os médios, porém em gêneros um pouco mais pesados, como rock, toda a região que vai dos médios até os agudos mais baixos me parece agressiva e “gritante” demais. Mas não acho que esse seja um estilo em que o SD-1 se saia bem – se você quer ouvir esses gêneros, é melhor buscar outro fone –, e em estilos mais calmos, como jazz, considero o desempenho do InEar muito natural nos agudos.
Nos médios, a história se repete: com músicas mais pesadas, acho que ele é muito agressivo e centrado nos médios – não tão agressivo quanto o Fidue A83 que já avaliei, mas certamente mais do que a vasta maioria dos intra-auriculares que já ouvi –, porém não são poucos os casos em que gosto muito do que o SD-1 me mostra. Vozes e violões, em particular, são muito bem renderizadas por esse intra-auricular: naturais e muito detalhadas.
Consequentemente, bandas que possuem a voz e o violão (ou guitarras limpas) como foco – como Kings of Convenience, Harry Keyworth, e alguns álbuns do John Mayer, por exemplo – soam excelentes com o InEar. O resultado me lembra muito o Grado SR60i, inclusive em termos de espacialidade (que assim como no supra-aural não é muito desenvolvida) apesar de haver menos atividade nos agudos. Não há a envolvência do Xtreme ONE, do EarSonics Velvet ou principalmente do JH Audio Roxanne, mas o que ele apresenta parece ter precisão cirúrgica, com muita velocidade e excelente detalhamento, ao mesmo tempo em que soa doce e natural. De alguma forma, me parece um retrato bastante apurado do acontecimento musical, só que a uma certa distância, se isso fizer sentido. Ou seja, não estamos ouvindo tudo, mas o que ouvimos é verossímil.
Nos graves, chegamos ao calcanhar de Aquiles do SD-1 porque, bem, eles quase não existem. Bumbos são audíveis e contra-baixos mostram excelente textura, mas eles parecem não apresentar peso algum. É como se eu pegasse meu Peavey Max 115 e zerasse o botão bass. Ainda vou ouvir meu baixo, com seu ronco característico nos médios, mas sem peso, sem preenchimento. É muito parecido com o Sony SA1000 e com o Audio-Technica AD700X. Isso faz com que esse fone seja uma péssima escolha para qualquer estilo que precise de energia nas baixas frequências, como rock, pop, ou música eletrônica por exemplo. Parece que um pedaço da música está faltando, e ele certamente não irá empolgar.
Mas, vejam, isso está longe de torná-lo um fone ruim, só é mais específico. Confesso que em muitas situações gosto muito da sonoridade mais magra e direta do SD-1, e ele acaba soando como um ótimo complemento ao meu JH Audio Roxanne, que me parece o oposto com sua sonoridade realmente cheia e envolvente. A magreza do InEar é uma outra apresentação que, em alguns estilos, faz bastante sentido. Gosto muito de ouví-lo em músicas do tipo voz-e-violão, e com música clássica ele é exemplar. Nesse gênero, sua naturalidade se sobressai, apesar de um pouco mais de brilho nos agudos ser sadio. No entanto, para aproveitar suas competências, você deve basicamente abdicar das baixas frequências.
CONCLUSÕES
O SD-1 é um fone muito específico. Em termos de conforto gosto muito dele, mesmo com seu formato pouco usual, e o isolamento é excelente. Mas, em muitos casos, a sensação que tenho quando o ouço é de que um pedaço da música está faltando. Graves e agudos mais altos simplesmente não estão lá.
Entretanto, basta trocar para algo que não possui atividade nessas regiões de qualquer forma – como música clássica (especialmente música de câmara), solos de piano ou os tradicionais voz-e-violão e você será recompensado com uma apresentação natural, suave, detalhada, rápida e extremamente precisa.
Por isso, recomendar o InEar é difícil. A vasta maioria das pessoas simplesmente não irá gostar dele, já que em sua faixa de preço é fácil encontrar opções muito mais completas, musicais e divertidas. Porém, aqueles que escutam exclusivamente os gêneros nos quais o SD-1 se destaca, ou que queiram um complemento para algum fone que segue outra linha, esse InEar pode ser interessante.
InEar StageDiver 1 – € 269,00
- Uma armadura balanceada
- Sensibilidade (1 mW): 122 dB SPL/V
- Impedância (1kHz): 45 ohms
- Resposta de Frequências: 40 – 17,000 Hz
Equipamentos Associados:
Portátil: FiiO X5 + HeadAmp Pico Slim, Ortofon MHd-Q7, iPod Classic, Sony Xperia Z2
Mesa: Mac Pro, Geek Out 450, Yulong D100