Nota de esclarecimento: o Xtreme ONE era, assim como a maioria dos equipamentos enviados para testes, um empréstimo temporário até a publicação da avaliação. No entanto, ao pedir o endereço de envio para o retorno, a marca gentilmente decidiu ceder o fone indefinidamente. Consequentemente, ele fará parte permanente de minha coleção e será usado para futuras referências. Reforço que não tenho afiliação a qualquer marca.
INTRODUÇÃO
Recentemente, tive a oportunidade de testar três modelos da Xtreme Ears, fabricante brasileira de intra-auriculares personalizados. Os que leram a avaliação sabem que achei o ONE (o único universal do portfolio da marca) interessante, mas um sério problema de extensão nos agudos me impedia de realmente gostar dele.
Desde então, a marca fez uma revisão no modelo adicionando filtros intercambiáveis, e perguntou se eu estaria interessado em reavaliar o modelo. É claro que aceitei, e agora tenho o novo ONE em mãos.
ASPECTOS FÍSICOS
Em termos físicos, fora a possibilidade de trocar os filtros, nada mudou. Ou seja, o ONE continua sendo um intra-auricular que pode não impressionar pelo visual e pelo acabamento simples, mas é discreto, pequeno e conveniente. Continuo achando que o divisor Y do cabo é alto demais, me enforcando um pouco, e não sou muito fã das ponteiras inclusas no pacote. As de borracha parecem muito as do Shure SE530 que já tive, que proporcionam um isolamento acima da média mas me incomodam bastante por serem mais rígidas que o normal.
Agora, porém, estou com um par de Complys que transformaram a experiência de usar o ONE. O bocal desse intra-auricular é dos mais finos, que é justamente o meu tipo favorito porque mais espaço das ponteiras é ocupado por espuma, o que significa que é possível compactá-las bastante antes de inserir o fone nos ouvidos e a inserção pode ser mais profunda sem prejudicar o conforto. Com elas, o ONE se encaixa com perfeição nos meus ouvidos, ficando totalmente dentro da concha, e se torna um dos intra-auriculares mais confortáveis que já pude usar. Infelizmente elas são um acessório à parte, mas que recomendo fortemente para aqueles que estiverem interessados no ONE.
Agora, sobre o sistema de filtros: foram enviados três filtros para mim, com atenuações diferentes nas altas regiões (ainda não sei se todos os três serão disponibilizados na versão comercializada). Um par de filtros brancos, menos restritivos aos agudos, um par de verdes, mais restritivos, e um de marrons, um meio termo. O sistema para trocas é feito com uma pequena ferramenta de metal. Não é um sistema tão bem pensado quanto o da Shure no SE846, sendo necessário bastante cuidado para não perder os filtros minúsculos e também na hora de retirá-los do fone, para não romper o filtro em si com a ferramenta. Mas funciona, e não tive problemas para trocar os filtros no ONE.
Os outros acessórios inclusos no pacote não mudaram. Há uma caixinha rígida para transporte, o conjunto de ponteiras, o manual, uma ferramenta para limpeza e um paninho.
O SOM
O antigo ONE que avaliei era um bom fone, mas a carência de presença e extensão nos agudos me parecia um problema sério. Quando fiquei sabendo que ele havia passado por uma revisão que incluía filtros intercambiáveis, achei que fosse ter uma pequena melhora, o que mereceria apenas uma nota adicional no artigo original.
O fone que recebi, porém, me parece completamente diferente e merece uma avaliação inteiramente nova porque é, pura e simplesmente, fenomenal.
A primeira coisa que notei, com qualquer um dos filtros, é como as altas frequências estão mais presentes. Agora, sua apresentação é não só extremamente coerente e muito natural: o ONE me lembra muito o Sennheiser HD600, que é uma das minhas maiores referências em termos de neutralidade e naturalidade. Minha sensação com ambos os fones é que eles não têm som de nada. O full-size, além de obviamente mais espacial, ainda me parece mais aberto e transparente, mas nos médios e graves os dois são incrivelmente próximos.
Em teoria, essas duas faixas do espectro não deveriam trazer alterações significativas, mas a maior presença dos agudos transformou o que ouço delas no ONE. Os graves mantém as mesmas qualidades, ou seja, são presentes na medida certa e, em termos de personalidade, curiosamente estão mais próximo do que ouço em muitos fones dinâmicos, o que é bom. Eles são mais melodiosos, e não tão secos como o que já ouvi de vários IEMs baseados em uma ou duas armaduras balanceadas, apesar de apresentarem excelente texturização.
Acredito que eles estejam bem próximos do que considero neutro em termos de presença, com uma belíssima integração ao resto do espectro, o que significa que o resultado nessa área é ótimo independente do estilo musical. Há a extensão e o peso necessário nos sub-graves para a Truant do Burial realmente funcionar, a pancada que faz Weathered do Creed mostrar toda a sua intensidade e a delicadeza e o refinamento que fazem com que o baixo de Ney Conceição em Vera Cruz do Nosso Trio soe como um contra-baixo real – lembrando que sou baixista, então sei como um baixo deve soar.
A impressão que tive de que os graves interferiam um pouco nos médios, inclusive, desapareceu. Agora, o que ouço na região média mais uma vez é extremamente próxima do HD600, ou seja, um exemplo de naturalidade – muito superior tanto ao Fidue A83 quanto ao HiFiMAN RE-400, que frequentemente é visto como um fone neutro. Por isso, não tenho muito o que dizer aqui. Os médios me parecem perfeitamente em linha com o resto da apresentação e são um exemplo de naturalidade.
Porém, aqueles que preferirem uma apresentação mais transparente e analítica podem ficar um pouco decepcionados. Ele não tem a mesma transparência do HD600, e parece que alguns detalhes são um pouco “amaciados”, por assim dizer. O ONE pende para o lado mais caloroso da naturalidade, o que é muito de meu agrado, mas pode não ser do seu.
Já nos agudos, veio a surpresa. Esse intra-auricular é totalmente diferente do que esteve comigo anteriormente, independente do filtro usado. Inclusive, os filtros que mais gostei foram o verde (mais restritivo) e o marrom (meio termo), o que é curioso, já que o que eu mais queria no anterior era justamente mais agudos. De acordo com a marca, aquela unidade estava em perfeito estado de funcionamento, e outras pessoas que ouviram o fone tiveram a mesma impressão que eu. Logo, não sei qual a explicação para isso.
O que sei é que, com o filtro verde, o ONE se mostra um fone mais eufônico mas ainda com uma ótima presença nas altas frequências. Me lembra um pouco um Audio-Technica IM50 (um fone do qual gostei muito) melhorado. Foi o filtro que usei durante a maior parte do tempo, mas a sonoridade com o marrom me parece mais próxima do que eu chamaria de neutro. Ainda há um pouco menos presença do que no HD600 – particularmente nos médio-agudos –, mas não é pior, é apenas diferente. Em algumas situações, como em músicas mais pesadas, prefiro o intra-auricular, que é menos fatigante e mais musical, em outras o circunaural, que é mais transparente e talvez seja mais realista.
Com ele, ouço mais uma vez uma região em perfeita sintonia com o resto do espectro. Minha única ressalva é que a extensão ainda não é incrível e as últimas oitavas não aparecem, mas está dentro do que se espera de um intra-auricular baseado em poucas armaduras balanceadas. Não é mais um problema específico do fone, e sim da tecnologia. Na verdade, não sei nem se caracterizaria isso como um problema, mas a questão é que não há uma última gota de extensão e brilho nos agudos mais extremos. Está mais para um detalhe.
Em termos de timbre, gosto do que ouço, mas acho que um pouco mais de definição nos pratos de bateria seria interessante. Porém, mais uma vez, é algo perfeitamente esperado de um IEM com duas BAs.
Já que estou fazendo algumas pequenas críticas, aproveito para frisar que não estou dizendo que o ONE é um fone perfeito. Poderia haver um pouco mais extensão nos extremos (principalmente nos agudos, apesar de a presença agora ser exemplar) e ele não é um exemplo de transparência. Só que ele é tão natural, e tão musical, que ele faz com que você simplesmente não se importe.
CONCLUSÕES
O Xtreme Ears Xtreme ONE pode não impressionar num primeiro momento, mas aqueles que têm mais tempo de hobby sabem que esse muitas vezes é o marco dos grandes fones.
O ONE me parece uma versão intra-auricular do Sennheiser HD600, e podem ter certeza: esse é um elogio da mais alta ordem. Mesmo tendo um Sennheiser HD800, um Grado HP1000 e um Audio-Technica W3000ANV, o headphone que mais ouço é sem dúvida alguma o HD600. Tecnicamente não é o melhor de todos, mas em termos de tonalidade, que é justamente o que mais valorizo, esse fone é o que me parece mais natural. Ele tem a habilidade de, com o tempo, não soar como nada: ele desaparece e deixar a música ficar.
E é justamente essa habilidade que o Xtreme ONE possui. Ele pode não trazer a dinâmica, a extensão, a transparência e o refinamento de muitos intra-auriculares mais sofisticados, mas no mais importante (e mais difícil) ele é simplesmente espetacular. Excepcionalmente natural, pendendo para uma apresentação um pouco mais calorosa e eufônica. Não há gênero musical ou momento em que ele não me pareça perfeitamente apropriado.
Atualmente tenho tido a oportunidade de avaliar uma quantidade maior de equipamentos, e nessa rotina faço várias audições dos equipamentos testados, já tomando nota do que ouço. É algo mais profissional, por assim dizer. Com o Xtreme ONE, porém, me pego colocando-o nos ouvidos não para avaliá-lo, mas simplesmente para ouvir música.
Consequentemente, aqueles que procuram um dos in-ears mais naturais disponíveis no mercado de intra-auriculares tem no ONE uma de minhas maiores recomendações. Vir de uma empresa brasileira, com todas as vantagens que isso implica, é um bônus.
Xtreme Ears ONE – R$ 999,00
- Duas armaduras balanceadas: uma para médios e graves e outra para agudos, gerenciadas por um crossover de 2 vias.
- Sensibilidade (1 mW): 119 dB SPL/V
- Impedância (1kHz): 75 ohms
- Resposta de Frequências: 10 – 17,000 Hz
Equipamentos Associados:
Portátil: FiiO X5 + HeadAmp Pico Slim, iPod Classic, Sony Xperia Z2
Mesa: Mac Pro, Yulong D100, HeadAmp GS-X