RHA 750i

INTRODUÇÃO

IMG_7228Vou fazer uma confissão: estou por fora de in-ears universais. Comecei nesse hobby justamente nos in-ears – o primeiro investimento mais sério foi um Shure SE530 –, mas desde que pulei para os full-sizes e os in-ears personalizados, acabei deixando o mundo dos universais para trás. Até avaliei uma coisa ou outra nesse meio tempo, mas de modo geral, me concentrei em outras coisas.

E, hoje, é difícil me atualizar. A quantidade de marcas que surgiu durante esses poucos anos é imensa. As marcas tradicionais acabaram mirando mais alto, com os universais na faixa dos mil dólares, e os queridinhos de antigamente, como Shure SE530/535, Sennheiser IE8/IE80, Westone 3 e UM3X e Ultimate Ears Triple.fi perderam espaço para uma leva de chineses que sabem muito bem o que estão fazendo. Marcas como SoundMagic, DUNU, VSonic, Fidue e outras chegaram chegando.

Mas não são só as chinesas que têm surgido e feito sucesso. Recentemente, uma marca que tenho visto bastante é a RHA. Trata-se de uma fabricante escocesa de intra-auriculares que possui uma linha com cinco modelos – desde o MA350, de 49 dólares, até o T10i, de 199 dólares. Todos os modelos da marca usam falantes dinâmicos e, com exceção do MA350, possuem as versões normais e as que terminam com i, que incluem microfone e controles no cabo para iPhones. O que tenho aqui para avaliação é o modelo anterior ao T10i, o RHA 750i, de 129 dólares.

 

ASPECTOS FÍSICOS

IMG_7226Fisicamente, o RHA750i impressiona. Em primeiro lugar, a qualidade de construção é excelente. O corpo do fone em si é feito de metal usinado, e além do belo acabamento, há uma forte sensação de solidez. O peso é o certo para transmitir essa sensação sem que ele se torne exageradamente pesado. O plugue e o divisor Y também são feitos de metal e possuem alguns relevos e texturas, além de gravações a laser contendo a assinatura do designer responsável pelo fone neste e o nome da marca e especificações do metal usado (!) na construção do fone naquele. A parte que abriga o microfone e os controles para iPhone também é feita de metal, com os botões de borracha.

O cabo também é muitíssimo bem acabado, sendo revestido de borracha. Ele também é um pouco grosso, transmitindo uma sensação de resistência. Inclusive, algo fantástico é que ele não embola! Tentei de todas as formas, mas basta puxá-lo que ele volta. Outra observação interessante é que os ear-hooks, ou seja, aquela parte curva do cabo, logo antes do fone em si, que serve para colocar por cima das orelhas, já possui uma forma curva mas não há nenhuma guia de metal ali dentro, como nos in-ears personalizados. Não tenho ideia de como eles isso foi feito, visto que pelo tato essa seção parece igual ao resto do cabo, exceto pela cor preta. O único fone que já vi que possui algo parecido é o Sony EX1000, mas nele essa parte era mais mole, era dobrável e a solução não me pareceu tão eficaz. Minha única reclamação é que o cabo do RHA infelizmente não é removível.

A marca também sabe apresentar o fone. Ele vem numa caixa de papelão, mas a parte da frente abre e revela não só o fone, como também todos os detalhes interessantes. As partes de metal (plugue, divisor Y e controle no cabo) ficam visíveis, e até as ponteiras são organizadas numa placa de metal que fica à mostra, com o logotipo da marca gravado a laser. Fantástico.

IMG_7219Além do fone e das ponteiras (10 pares de três tipos diferentes com vários tamanhos), estão inclusos no pacote um clip para prender o fone à blusa e uma pequena caixinha para transporte de courino, que inclusive é feita de um tamanho projetado para guardar a placa com as ponteiras.

O 750i está entre os intra-auriculares mais confortáveis que já usei. As ponteiras de borracha pequenas se encaixaram perfeitamente em meus ouvidos e, vestindo o fone, a sensação é que não estou usando nada. No entanto, devido ao encaixe mais raso, o isolamento é apenas mediano – o que pode ser bom ou ruim, dependendo do gosto do ouvinte.

 

O SOM

Em in-ears, principalmente os mais simples, costumo preferir as armaduras balanceadas, porque os dinâmicos com muita frequência possuem uma sonoridade em V, algo que não me agrada. Existem exceções – gosto muito do Sony EX1000, do Etymotic Research MC3 e do Bose IE2, por exemplo –, mas não gosto nem um pouco do pico nos agudos e impacto indefinido dos graves muito frequentes em intra-auriculares dinâmicos. Alguns culpados dessa percepção são Audio-Technica CKM500 e CKS1000, Bang&Olufsen BeoPlay H3, JVC FX700, Denon AH-C551 e Sony EX310 e EX510.

IMG_7227Por isso, ao receber um in-ear na crucial faixa de preço onde isso mais acontece, e produzido por uma fabricante nova, fiquei com bastante receio. O que vi, porém, é um fone que possui sim uma personalidade em V, mas apenas ligeiramente, mas que traz uma personalidade muito interessante e agradável em diversos momentos.

Vamos começar pelos graves. Eles são fortes e possuem a sonoridade tradicional de dinâmicos nessa faixa de preço – ou seja, apresentam bastante impacto, mas não são particularmente definidos, apesar de serem relativamente secos. Felizmente, apesar de fortes, eles não são intrusivos, e não há prejuízo significativo nos médios e agudos. Ainda é perfeitamente possível considerá-lo um fone equilibrado. Em termos de extensão, não tenho do que reclamar.

Os médios são ótimos. Coerentes, relativamente transparentes e bastante naturais, apesar de estarem um passo atrás dos graves e agudos. Os agudos é que são um pouco mais fortes do que eu gostaria, principalmente em alguns picos específicos. Essa é uma faca de dois gumes: em diversos momentos, não gosto do resultado. Com muita coisa de rock por exemplo, acho que os agudos acabam sendo meio agressivos, e o timbre dos pratos é prejudicado. É uma sensação um pouco difícil de explicar, porque me parece um tipo de pico nos agudos específico de in-ears – é bem diferente das frequências altas incrementadas de algo como um Sennheiser HD800 ou Superlux HD681, por exemplo.

No entanto, curiosamente, em outras situações gosto muito do equilíbrio tonal do RHA 750i, porque existem algumas coisas que ele faz muito bem. Em primeiro lugar, esse leve recuo nos médios o confere uma personalidade bastante espacial para um intra-auricular nessa faixa de preço. Não é que o palco seja exageradamente expansivo, mas em compensação há muito espaço e arejamento, principalmente pelo fato de o encaixe raso das ponteiras não promover um isolamento extremo. Me lembra um pouco o Sony EX1000, que é excelente nesse aspecto.

IMG_7216Além disso, o pico nos agudos, aliado a essa capacidade espacial do 750i faz com que em muitos momentos ele soe bastante refinado. Quando o pico não fica em forte evidência, ele parece estar ali para promover mais detalhes, e o resultado me parece muito transparente e elegante, de alguma forma. Em jazz e gêneros acústicos esse resultado é especialmente bem vindo.

Mas a consequência mais curiosa de seu equilíbrio tonal é que, nesses mesmos gêneros, de alguma forma o RHA 750i faz com que muitas gravações pareçam ser ao-vivo. É uma sensação que realmente não sei explicar bem, mas é como se ele trouxesse as alterações no equilíbrio tonal comuns em gravações ao-vivo. Ele soa vivo, dinâmico e excitante.

No entanto, é importante dizer que isso não acontece sempre. O RHA 750i parece ter alguma sinergia especial com algumas gravações, e em outras, acho que ele cai mais perto da personalidade que não gosto muito nos intra-auriculares dinâmicos. Isso acontece, principalmente, em gravações mais modernas de rock e metal.

 

CONCLUSÕES

O RHA 750i mostrou muita competência. Indo direto ao ponto, não estamos falando de um incrível all-rounder que vai atender a todos os gostos e preferências. Apesar de ele ser relativamente equilibrado, a curva de frequências ainda é um pouco em V, com graves e agudos mais acentuados. O pico nas altas frequências, em especial, pode trazer alguns problemas.

IMG_7212E, em minha opinião, fones mais calorosos, com agudos um pouco mais comedidos e médios em evidência tendem a ser mais facilmente aplicados a uma vasta gama de estilos musicais. Vide Sennheiser HD600 e JH Audio JH13 Pro, por exemplo. Ao mesmo tempo, sei que muitas vezes graves e agudos são justamente as coisas que iniciantes buscam, motivo pelo qual fones com essa curva fazem muito sucesso. Então acho que esse intra-auricular tem os predicados para agradar as massas.

Para completar, ao contrário da maioria dos fones com esse tipo de personalidade que já pude ouvir, o 750i possui habilidades raras, que trazem um desempenho perfeitamente capaz de encantar nos momentos certos. Em primeiro lugar, sua apresentação é bastante espacial, algo incomum nessa faixa de preço. Além disso, como sua resposta em V não é exagerada, em gêneros mais calmos a consequência dela não é uma alteração drástica no equilíbrio tonal, e sim uma personalidade refinada e transparente que se adequa muito bem a gêneros como jazz ou músicas acústicas. E, nesses estilos, essa tonalidade traz uma curiosa sensação de que estamos ouvindo uma versão ao vivo da música. Isso é interessante, para dizer o mínimo.

Não podemos nos esquecer, também, das muitas virtudes físicas do RHA 750i. Afinal, trata-se de um intra-auricular discreto porém muito atraente, realmente confortável e incrivelmente bem construído.

Por isso, ele não é um fone que eu recomendaria cegamente – mas, para aqueles que consideram suas virtudes importantes, tenho total certeza de que o RHA 750i tem tudo para agradar.

 

RHA 750i – US$129,00

  • Driver dinâmico único.
  • Impedância (1kHz): 16 ohms
  • Sensibilidade (1kHz): 100 dB/1mW
  • Resposta de Frequências: 16Hz – 22kHz

 

Equipamentos Associados:

Portátil: FiiO X5 + HeadAmp Pico Slim, iPod Classic, Sony Xperia Z2

Mesa: Mac Pro, Yulong D100, HeadAmp GS-X

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