INTRODUÇÃO
Os entusiastas iniciantes talvez conheçam a JBL por suas caixinhas Bluetooth ou por sua linha J de fones de ouvido. Mas a verdade é que a marca é uma das mais tradicionais fabricantes de equipamentos de som do mundo, com presença particularmente expressiva no meio profissional.
Você sem dúvida alguma já foi a algum show e a algum cinema que usa caixas de som dessa marca, e não são raros os estúdios que usam seus monitores. Já tive uma banda, e o (excelente) estúdio em que gravamos usava um par das monstruosas JBL 4350 II para monitoração. É bem impressionante. A JBL também possui diversas linhas para áudio residencial, chegando à incrível Everest DD66000, uma caixa de som de mais de 60 mil dólares com os dois pés no áudio high-end.
Mais recentemente, porém, a marca tem feito esforços na parte de fones de ouvido, talvez correndo atrás do sucesso da Beats junto com a AKG, marca que pertence ao mesmo grupo, o Harman. Um dos fones recentemente lançados é o Synchros E40BT, objeto dessa avaliação. Trata-se de um supra-auricular fechado, Bluetooth, de aproximadamente 450 reais.
ASPECTOS FÍSICOS E FUNCIONALIDADE
O Synchros E40BT é bem menor do que as fotos me pareceram indicar, e em minha opinião é extremamente atraente. O enorme logotipo da marca na parte externa dos dois cups não é lá muito discreto, mas apesar de ele ser todo construído em plástico, o acabamento é muito bom. Diversas peças realmente parecem ser feitas de metal.
Em termos de conforto, não tenho do que reclamar e o fone é muitíssimo bem resolvido, estando num tamanho que julgo absolutamente perfeito para atender ao conforto e à portabilidade. O E40BT é bem leve, e não há pressão lateral ou superior significativa. Ao mesmo tempo, o encaixe é muito seguro e o isolamento satisfatório. Uma crítica fica com relação à dobradiça dos cups, que permite que eles sejam girados 360º: é muito dura, e demorei bastante para descobrir que ela existia!
O carregamento e a conexão por fios é feita por meio de um conector TRRS de 2.5mm, o P1. Para isso, estão inclusos no pacote mais dois cabos: um terminado num TRS de 3.5mm, P2, e o outro num USB macho tipo A. Não há nenhum outro acessório – mas um saquinho para transporte seria bem conveniente, principalmente porque o fone se dobra num volume bastante compacto.
A duração da bateria é muito boa, chegando até 16 horas. Mas o carregamento não é tão simples: o botão de ligar pisca em branco quando o fone está ligado e pareado, fica vermelho quando a bateria está baixa e pisca alternando as duas cores quando ele está ligado porém não pareado, mas não há nenhuma indicação de que o fone está carregando ou que o carregamento terminou. Além disso, por algum motivo não consigo carregá-lo em nenhum dos meus computadores, que dizem “Dispositivos USB inativos – desconecte o dispositivo que usa mais energia para reativá-los”. Não sei bem por que isso acontece. Isso exige que eu use um carregador de tomada, o que, como eu disse na avaliação dos Parrots, pode ser um problema porque não há qualquer informação sobre a corrente máxima recomendada. Então achei o carregador que tenho com a menor corrente, por segurança, e deixei o fone várias horas carregando, até eu achar que era o suficiente, porque não há como saber se o carregamento acabou. O manual diz que são três horas, mas não sei com que corrente.
E já que mencionei os Parrots, essa é uma boa hora para falar das funcionalidades do E40BT, que são muito parecidas. Assim como nos fones franceses, é possível controlar o smartphone pareado por ele, usando botões tradicionais no cup esquerdo. É possível aumentar ou diminuir o volume, avançar ou retroceder (inclusive dar fast forward e fast backward), e dar play e pause. Também é possível atender e fazer ligações com ele (com ótima qualidade, diga-se de passagem), inclusive atender duas ligações ao mesmo tempo e trocar entre uma e outra.
Os comandos são feitos através de botões físicos e não há um sofisticado aplicativo para celulares para controlar os fones como nos Parrots, mas não podemos nos esquecer que estamos falando de um fone de R$450 – o Parrot Zik original custa, aqui no Brasil, R$1.990. E uma função interessantíssima, que os Parrots não têm, é o que a marca chama de ShareMe: é possível dividir o áudio, sem fio, com outro fone da JBL que possui a mesma tecnologia, com o toque de um botão! Não pude testar a função porque não tenho outro JBL disponível, mas é fantástico que dois fones possam ouvir simultaneamente, sem fio, o áudio de um único smartphone.
O SOM
O JBL E40BT é completamente diferente do que eu esperava. Pensei que fosse encontrar um fone com a típica sonoridade voltada para as massas, com graves exagerados e médios e agudos recuados, mas o que ouço é justamente o contrário: é um fone com uma sonoridade mais puxada para os médios, e que me parece bastante equilibrada. Em termos de equilíbrio tonal, inclusive, me lembra o Sennheiser HD600. E esse é um enorme elogio.
Em primeiro lugar, uma observação: os que leram a avaliação do Parrot Zik e do Zik 2.0 devem se lembrar que comentei que, passivamente, esses fone são terríveis, e que suas agradáveis sonoridades eram resultado de um extenso trabalho por parte de seus DSPs internos – em outras palavras, o trabalho de ajuste do som feito pela marca foi eletrônico, e não acústico. Isso não é ruim para fones com o objetivo deles, é uma forma legítima de chegar onde se quer. A desvantagem é que você não vai querer ouví-los desligados.
Com o JBL, fico feliz em ver que as diferenças entre o fone ligado e conectado a uma fonte via Bluetooth e ele desligado e conectado por fio são significativas mas pequenas, e no caminho oposto ao que acontece com o Parrot – ele é melhor com fio, apesar de já ser muito bom sem ele. Isso mostra que o som do E40BT foi talhado acusticamente, e não eletronicamente.
Os graves: eles são bem mais comedidos do que eu imaginava, mas têm boa presença e qualidade, em ambos os modos de conexão. Essa região não me parece diferente entre eles. Estão mais ou menos a par da quantidade de graves do HD600, o que significa que estão precisamente no lugar que considero neutro. Como consequência, em rock, música eletrônica, hip-hop ou gêneros do tipo, você não vai ouvir uma apresentação particularmente excitante ou autoritária, mas que me soa bastante natural e coerente com uma apresentação mais neutra. Para gêneros mais calmos, em particular, gosto dessa apresentação, mas devo dizer que aqueles que buscam divertimento serão melhor servidos por outras opções.
O objetivo do E40BT, ao contrário do que eu imaginava, me parece ser fornecer uma personalidade relativamente livre de colorações. Isso é muito de meu agrado, principalmente porque em termos de qualidade ele também é muito competente. Em termos de textura e definição também gosto muito dos graves. Baixos são devidamente apresentados dentro de todo o acontecimento musical.
Nos médios, essa personalidade continua. Ele é mais para a frente nessa região, mas isso está em linha com minha percepção sobre neutralidade. Tanto o Sennheiser HD600 quanto o Grado HP1000, algumas de minhas referências nesse quesito, têm justamente essa característica. Por isso, o E40BT me agrada nessa região. Ela pode soar um pouco áspera as vezes, e comparada com o HD600 é definitivamente mais compacta e menos espacial – mas não podemos nos esquecer que estou comparando um pequeno on-ear fechado Bluetooth de 400 reais com um circunaural aberto de referência de mais de 1.500.
Me impressiona o quanto o E40BT parece enveredar para uma apresentação mais neutra e natural e o quanto, até certo ponto, ele consegue atingir seus objetivos. Ele definitivamente é parecido em termos de tonalidade com o HD600, apesar de haver uma leve coloração de fones fechados. Vozes são um pouco “sugadas”, se isso fizer sentido, mas é uma característica sutil e que só é mais perceptível numa comparação direta com o HD600, e o espaço apresentado é muito menos amplo. O palco sonoro é pequeno, e não é incrivelmente definido. Por isso, apesar de me parecer também bastante neutro, há um pouco mais de fadiga auditiva.
Isso não diminui, porém, as muitas capacidades desse pequeno JBL. Com rock o resultado é excelente, com guitarras e vozes apresentando um belíssimo e agressivo ataque. Passando para gêneros mais calmos, o resultado é verossímil e bastante natural – vozes e pianos, por exemplo, soam como vozes e pianos. Talvez não com a naturalidade absoluta do Grado e do Sennheiser, mas definitivamente com a mesma filosofia, por assim dizer. E isso me impressiona bastante num fone desse tipo e preço.
Os agudos, mais uma vez, parecem parte dessa personalidade, e são onde ouço as maiores diferenças entre o fone com fio e sem fio. Sem ele, os agudos são um pouco menos presente – com ele, estão mais à frente no espectro e tem maior extensão.
Gosto do que ouço de ambas as formas, mas confesso que com fio a relação entre os médios e agudos me parece mais coerente. A sensação de fadiga que mencionei anteriormente acaba sendo muito mais fraca ou inexistente, porque a região média acaba soando menos para a frente, apensar de ainda em destaque. O que ocorre é que as regiões altas fazem um contraponto melhor com as médias. Pratos de bateria tem excelente presença e boa definição e parecem o perfeito complemento para boas gravações de guitarras ou, principalmente piano. Não só isso: são surpreendentemente bem renderizados em termos timbrísticos.
Gosto muito do que ouço no E40BT ligado a meu Xperia Z2 por meio de um cabo tradicional. Ele é surpreendentemente natural, e boas gravações de jazz (como o álbum Alive, do trio de Hiromi Uehara) e de outros gêneros acústicos (como o Quiet is the New Loud, do Kings of Convenience) são os mais beneficiados, apesar de eu também gostar bastante do que ouço com rock. O resultado me parece consideravelmente equilibrado.
CONCLUSÕES
Indo direto ao ponto: adorei o JBL E40BT.
É um fone Bluetooth pequeno, confortável, atraente, conveniente e que possui uma sonoridade surpreendentemente neutra e competente. Em termos de equilíbrio tonal, em minha opinião ele é realmente parecido com o Sennheiser HD600.
A duração da bateria é excelente, mas o melhor é saber que quando você quiser conectá-lo com fio a alguma coisa não estará perdendo nada – muito pelo contrário, terá uma apresentação ainda mais interessante, natural e coerente.
Ele me lembra bastante o Logitech UE6000, porque minha surpresa com ele foi semelhante. Sei que não devemos julgar um livro pela capa, mas eu certamente não esperava encontrar uma apresentação natural como essa num pequeno on-ear Bluetooth que parece ter como público alvo as massas.
A maior ressalva que devo fazer é justamente essa: o que muitas pessoas querem é uma apresentação mais divertida, com graves enfatizados, algo que o E40BT não oferece. Se é isso que você quer, existem outras opções mais indicadas. Mas se você quiser saber o que é um som natural e ter um gostinho do que é a audiofilia sem ter que abrir mão de conveniência e estilo, ele é uma excelente opção.
E se você já for um audiófilo e estiver buscando algo conveniente para usar com o celular fora de casa, pode ter no JBL Synchros E40BT uma bela surpresa.
JBL Synchros E40BT – R$449,00
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 114 ohms
- Resposta de Frequências: 20Hz – 22kHz
- Conectividade: BT 3.0, A2DP v1.3, AVRCP v1.5, HFP v1.6, HSP v1.2
- Duração da bateria: 16 horas
Equipamentos Associados:
Portátil: Sony Xperia Z2, iPod Classic, FiiO X5, HeadAmp Pico Slim
Mesa: Mac Pro, Yulong D100, HeadAmp GS-X
Onde Encontrar