V-Moda Crossfade M-100

INTRODUÇÃO

M-80 ao lado do M-100

M-80 ao lado do M-100

Queiram os audiófilos ou não, é inegável que a Beats colocou o mercado de fones de ouvido de cabeça para baixo. O que fez a marca deslanchar foi ter adicionado estilo como argumento de vendas num mercado populado por marcas que basicamente só ofereciam qualidade de som, o que não é suficiente para boa parte da população. Em outras palavras, ela mostrou que fones de ouvido, além de equipamentos de reprodução de alta-fidelidade, podem ser acessórios de moda.

No entanto, ao contrário do que eu pensava, esse posicionamento não foi tão inovador assim porque isso já havia sido feito antes por outra marca: a V-Moda.

Val Kolton, um DJ, se viu na necessidade de comprar um bom par de fones de ouvido após seu colega de quarto ameaçar expulsá-lo junto com suas caixas de som, mas se decepcionou ao não encontrar no mercado bons fones que também fossem atraentes. Com a observação desse gap no mercado, surgiu a V-Moda, em 2004.

O M-100, objeto dessa avaliação, é o segundo modelo da série Modern Audiophiles, que também compreende o M-80. Ambos são muito bem vistos na comunidade audiófilo como excelentes opções para aqueles que buscam fones atraentes mas que não abrem mão da qualidade de som. O M-80 é um pequeno supra-aural, enquanto o M-100 é um circunaural.

 

ASPECTOS FÍSICOS

Beleza é pessoal, mas é difícil ficar indiferente aos V-Moda. São fones com muita personalidade, e fica evidente que o design foi uma das prioridades.

Shields personalizados

Shields personalizados

E não é só o design: tanto o M-80 quanto o M-100 são verdadeiros exemplos em termos de construção. Ao contrário da vasta maioria dos fones em suas faixas de preço, eles são majoritariamente construídos de metal. No M-100, quase todo o cup e as hastes que o prendem ao arco são feitos desse material. Essas hastes, inclusive, são um dos detalhes que mais gosto do fone porque são muito finas mas assustadoramente resistentes. Quase todos os parafusos visíveis são do tipo allen pretos, e dobrar o arco ou estendê-lo resulta em cliques precisos. Com o M-100 nas mãos, a sensação é justamente de precisão e engenharia aliada a muita robustez e resistência.

E não é só uma sensação: esse fone excede o padrão militar MIL-STD-810G de resistência, podendo resistir, por exemplo, a mais de 70 quedas a 1,8 metro num chão de concreto e tendo um arco que pode ser retificado dez vezes e ainda vai retornar à sua curvatura original. Os cabos e os plugues podem ser dobrados mais de 1 milhão de vezes e todo o fone é feito para resistir a intensa exposição ao calor, umidade, sal e raios ultra-violeta. Estou digitando esses últimos parágrafos realmente impressionado.

E não para por aí: o M-100 ainda pode ser customizado. Ele está disponível em três cores, mas ao comprá-lo diretamente no site, é possível escolher ainda a cor do shield (a placa na parte externa dos cups), que podem ser texturizados ou personalizados com uma gravação a laser de designs prontos ou, então, com algum grafismo enviado pelo comprador. Não é muito diferente do serviço oferecido por fabricantes de CIEMs. Esses shields podem também ser comprados separadamente, por 25 dólares.

IMG_7076Em termos de conforto, considero o M-100 satisfatório. Acho que mais acolchoamento na parte superior do arco faria bem – após algum tempo de uso sinto algum desconforto nessa região, apesar de o fone não ser pesado – e, com as espumas inclusas de couro, minha orelha acaba encostando na parte interna do fone. Essa última questão, porém, é resolvida com a adição das espumas XL, vendidas separadamente por 20 dólares mas presentes na unidade que tenho para avaliação.

Outro excelente detalhe do M-100 é o fato de o cabo ser removível e de poder ser inserido em qualquer um dos dois lados do fone. Há até mesmo uma pequena tampinha de plástico estilizada com o logo da marca para tampar a que não estiver em uso. E o mais impressionante é que essa peça possui funções acústicas. O objetivo é impedir que os dois lados tenham propriedades acústicas diferentes. De fato, ao remover essa pequena peça, o lado que não a está usando parece ter um pouco mais de graves!

No pacote, estão inclusos dois cabos, ambos revestidos de tecido: um deles é preto e possui microfone e um botão para atender ligações e pausar músicas e o outro, vermelho, possui próximo ao plugue P10 uma entrada, para que outro fone possa ser conectado. É uma adição bem interessante.

Além disso, o fone acompanha um adaptador P2-P10 e uma capa para transporte rígida que a marca chama de Exoskeleton, ou exoesqueleto – que possui compartimentos específicos tanto para os dois cabos quanto para o adaptador (!). O M-100 está longe de ser um fone pequeno, mas é impressionante o quanto ele é colapsável. Dentro da capa, ele é consideravelmente menor que o M-80, que não se dobra, apesar de ser um fone muito maior e mais confortável. Nunca vi um fone próximo desse tamanho ficar tão compacto e conveniente.

A quantidade de acessórios disponibilizada pela marca não é pequena: além das espumas XL e dos shields personalizados, é possível comprar um cabo com mola, um com microfone, um adaptador para VoIP e, por último, uma estante de metal.

 

O SOM

Espumas XL (esquerda) e normais (direita)

Espumas XL (esquerda) e normais (direita)

Primeira impressão: estou diante de um verdadeiro monstro dos graves. Meu M50, que está a seu lado nesse momento, está envergonhado e quer voltar para a gaveta. Acho que muitos audiófilos secretamente têm um lado bass-head, e esse é o tipo de fone que acorda essa outra personalidade geralmente negligenciada.

Por isso, vamos começar por essa faixa de frequência. Inegavelmente, ela é bem elevada em relação às outras regiões do espectro. Os graves têm muita força e bastante impacto. Isso pode ser muito bem vindo em diversas situações. Ouvir música eletrônica no M-100, por exemplo, é uma experiência realmente divertida. Acho que os graves ainda vão um pouco além do que eu gostaria mesmo nesse estilo, mas basta ouvir Some Chords do deadmau5 que o apelo fica evidente para mim. Os graves são uma verdadeira pancada nos ouvidos, e no final das contas fica difícil não vibrar com a música e se deixar levar.

Mas, desnecessário dizer, existem problemas. O fato de essa região ser tão elevada faz com que seja praticamente impossível ter graves contidos e definidos (eles são muito soltos) e prejudica seriamente o desempenho desse V-Moda para outros gêneros. Tenho dificuldades em ouvir qualquer coisa que não seja música eletrônica/pop/hip-hop/rap ou gêneros parecidos nesse fone. Sempre há uma espessa camada de graves pairando em cima dos médios e dos agudos em qualquer coisa que se escute, mesmo que eles não existam, e isso pode incomodar bastante. Sabe aquela pessoa que não sabe a hora de parar de brincar? Esse é o M-100. Se você quiser se divertir, ótimo. Se não quiser… problema seu. Escolha outro fone. Mas não podemos nos esquecer: o que 95% dos jovens querem ao ouvir música é, justamente, se divertir.

Quanto aos médios, fico um pouco dividido. Ao passo em que eles são recuados, em termos de linearidade gosto bastante do que ouço. O M50, em alguns casos, me parece um pouco menos natural em sua representação dessa região. Me parece mais colorido, de certa forma. Mas o fato de essa região ser recuada no V-Moda faz com que sua apresentação seja um pouco mais espacial, ainda que isso venha ao custo da apresentação de detalhes. No próprio Audio-Technica, sinto que estou ouvindo mais da música. Por exemplo, na Pressure and Time do Rival Sons, acho que a voz e as guitarras têm menos presença do que eu gostaria.

IMG_7046Em compensação, curiosamente, não fico com a impressão de uma sonoridade excessivamente em V, algo que costuma me desagradar. Quando troco para o M50 vejo que a região média possui muito mais atividade, mas ao ficar alguns minutos com o M-100 novamente, não acho que os médios e os agudos sejam particularmente artificiais. Em suma, gosto muito da linearidade dessa região, que me parece natural, mas acho que ela poderia ter mais presença. Como está, acabo sentindo um pouco de falta de parte da música se eu estiver ouvindo gêneros que pedem atividade nessa região, como rock ou jazz, por exemplo. Já com música eletrônica a coisa parece fazer mais sentido, e a apresentação me parece coerente com a proposta do fone.

Subindo o espectro, gosto muito da forma como o M-100 apresenta os agudos. Há a quantidade certa de brilho, o que me mostra presença satisfatória, e acho que eles são bem definidos e apresentam um bom timbre. Pratos me soam razoavelmente naturais. E apesar dos graves elevados, não sinto que ele é particularmente escuro – minha única reclamação é que sinto que falta uma última gota de extensão.

Agora, uma observação: como alguns devem saber, o som que ouvimos não é apenas o que o alto-falante está tocando, mas também inclui sua interação com os arredores. Consequentemente, as espumas de um fone têm, tanto em termos de geometria quanto de material, total capacidade para alterar um pouco a resposta de frequência de um fone. Por isso, as espumas XL não afetam só o conforto – também têm influência na sonoridade M-100, e gostei muito do resultado.

Minha impressão é a de que elas limpam um pouco as baixas frequências. Elas me parecem menos exageradas e há menos sangramento nos médios. Ainda é um fone para bass-heads assumidos, mas me parece que há um preço menor a se pagar. Na Alive, do CD homônimo da Hiromi, o timbre inconfundível do Fodera do Anthony Jackson é menos invasivo e soa mais complementar ao resto da música. Ainda chama bastante atenção, mas vou colocar da seguinte forma: com as espumas normais, fico incomodado ao ouvir essa gravação. Com as XL, gosto do que ouço.

 

CONCLUSÕES

IMG_7054Não há porque esconder: o M-100 não é bem o meu tipo de fone. Mas meu trabalho como avaliador não é simplesmente dar minha opinião, é reconhecer as características e descrevê-las para o leitor, para que ele avalie se algum determinado equipamento bate com seu gosto pessoal.

E as muitas qualidades desse V-Moda ficaram bem evidentes para mim. Em primeiro lugar, há o respeito que tenho pela fabricante. Val Kolton foi absolutamente brilhante em termos de marca, tanto que foi justamente o posicionamento que ele criou que fez da Beats o que ela é hoje – a diferença é que a marca de Dr. Dre teve muito mais capital para investir.

Segundo, apesar de esteticamente ele também não ser particularmente o meu estilo, sou designer de produtos e a qualidade de construção desse fone é fantástica e a atenção aos detalhes assombrosa. Há inúmeros pequenos detalhes que mostram que o time de design da marca trabalhou exaustivamente para chegar a esse belíssimo resultado. A pequena dobradiça que permite que o fone se dobre é um exemplo: como designer, posso dizer que soluções de tamanha precisão e eficiência não são nada fáceis de serem concebidas e implementadas de forma tão elegante. Não podemos esquecer, também, as diversas possibilidades de personalização do M-100, sem custo adicional, e os padrões militares de resistência que ele cumpre.

Costumo dizer que o Audio-Technica M50 é um fone definitivo para muitas pessoas, mas acho que esse V-Moda vai além. Pode ser menos equilibrado em termos sonoros, mas é perfeitamente adequado aos gêneros mainstream de hoje em dia porque prioriza justamente o que a maioria dos jovens quer ao ouvir música: se divertir. Além disso, é pensado para o uso portátil, ao contrário do M50, e por isso é mais elaborado esteticamente, menor, se dobra num pacote muito mais conveniente, e possui cabos mais adequados para esse uso.

Por isso, aqueles que buscam um fone portátil que proporcione altas doses de diversão têm no M-100 uma das minhas maiores recomendações.

 

V-Moda Crossfade M-100 – US$310,00

  • Driver dinâmico único
  • Impedância (1kHz): 32 ohms
  • Sensibilidade (1kHz): 103 dB/1mW
  • Resposta de Frequências: 5Hz – 30kHz

 

Equipamentos Associados:

Portátil: iPod Classic, FiiO X5, iPhone 5, Sony Xperia Z2

Mesa: Mac Pro, Yulong D100, HeadAmp GS-X

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