Schiit Mjolnir

INTRODUÇÃO

IMG_6854Desde que entrei no hobby, pude presenciar a ascensão de algumas marcas que mudaram totalmente a cara do mercado: JH Audio, Audez’e, HiFiMAN e Schiit são exemplos óbvios, apesar de os motivos serem variados. Esta última trouxe, com um genial trabalho de marca, amplificadores, DACs e outros periféricos totalmente desenvolvidos e construídos nos Estados Unidos – e, impulsionada pelo patriocínio oferecido ao fórum Head-fi, a marca rapidamente se firmou com os dois pés no hobby e se estabeleceu como referência na relação custo-benefício, conquistando uma fatia de mercado que era dominada por chineses.

Os primeiros amplificadores, o Valhalla (valvulado) e o Asgard (estado-sólido), que ficavam entre os 250 e os 350 dólares, atingiram popularidade extrema. A seguir foi a vez do Lyr, um valvulado de altíssima potência que mira nos planares mais famintos, e o DAC Bifrost.

O que sempre ficou claro, em todos os lançamentos – apesar de um problema com o Asgard, que foi resolvido –, foi que não eram só os profissionais de marketing da Schiit que sabiam muito bem o que estavam fazendo – os engenheiros também. E foi por isso que foram desenvolvidos dois projetos mais pretensiosos: a dupla Gungnir e Mjolnir, ambos custando 750 dólares. O Mjolnir, objeto dessa avaliação, é um amplificador totalmente balanceado com topologia no estilo Circlotron, usando entradas JFET de alta tensão e saídas com MOSFETs, compondo o que a marca batizou de topologia Crossfet.

É uma topologia inusitada que, aparentemente, entrega altíssima potência – incríveis 8W em 32 ohms – sem prejudicar os números de distorção ou de relação sinal-ruído. O Mjolnir é capaz de alimentar desde os fones mais exigentes do mercado com potência de sobra até os full-sizes mais fáceis, como os Denons ou Grados, com uma única configuração de ganho e sem ruído de fundo.

 

ASPECTOS FÍSICOS E FUNCIONALIDADE

IMG_6843A Schiit sempre optou por uma estética minimalista moderna que me agrada bastante, e o Mjolnir não é exceção. É prateado e inteiramente feito em metal – assim como todos os modelos da marca, desde a econômica dupla Magni e Modi –, com uma construção digna dos mais fervorosos elogios. É bastante sólido e excepcionalmente bem construído. Ele definitivamente aparenta ser um equipamento altamente sofisticado.

Os plugs XLR são da Neutrik e o botão de volume traz bom peso, o que inspira confiança. Minha única ressalva fica por conta dos dois seletores na parte traseira do aparelho: o de força não é exatamente conveniente, porque poderia estar na frente (o que, no entanto, prejudicaria a estética limpa do aparelho), e a do seletor de entradas é frágil demais e não me transmite nenhuma segurança.

Em termos de funcionalidade, ele segue o estilo minimalista. Sua topologia incomum não permite que sejam usadas saídas single-ended, então as únicas opções são um XLR de 4 pinos e um par de XLR 3 pinos, que podem ser usados simultaneamente para alimentar dois fones. Há também uma saída XLR para o uso como pré-amplificador e um par de entradas, uma balanceada e uma single-ended.

 

O SOM

A Schiit é uma marca que sempre me despertou curiosidade – e quem eu mais queria ouvir era justamente a dupla Gungnir e Mjolnir. Este último principalmente, já que a comparação com o HeadAmp GS-X é promissora. Afinal, são dois equipamentos com propostas muito similares mas em faixas de preço distintas.

900x900px-LL-b5960824_mjolnir_01_06Minha primeira impressão na comparação foi, justamente, de similaridade. Nada me saltou aos ouvidos como sendo diferente do que estou acostumado. Ou seja: continuei tendo a sonoridade limpa, coesa e transparente que o HeadAmp me oferece.

A diferença mais imediata fica na potência – o Mjolnir tem mais força que o GS-X, que já é um amplificador potente. Ele empurra tanto o HD800 como o HiFiMAN HE500 (os únicos fones balanceados que possuo) com completa autoridade. Em ambos, parece haver total controle dos fones. O HE500 não é um fone particularmente difícil de ser amplificado, mas não é fácil extrair os melhores graves dele: eles são geralmente gordos, e é preciso de um amplificador competente para que eles não se tornem exageradamente soltos e tenham a definição e a textura que se espera. O GS-X ainda consegue ter uma quantidade um pouco maior de graves, mas no Mjolnir eles são tão precisos quanto.

O Schiit, em compensação, é mais vivo e energético. Os médios e agudos têm mais vigor. Não estou dizendo que se trata de um amplificador agressivo, mas ele definitivamente está mais para o lado da diversão. O GS-X, em contrapartida, me parece mais doce e relaxado.

A impressão que se tem, inclusive, é que o Mjolnir apresenta mais informações e consequentemente tem maiores capacidades em termos de detalhamento. Com o tempo, porém, vê-se que não é bem assim. Em minha opinião, a maior diferença entre os dois amplificadores se resume à seguinte comparação: o Mjolnir é mais energético porque parece ter todo o conteúdo da música de certa forma mais para a frente, o que traz justamente essa impressão de que os detalhes estão mais claros – o HeadAmp, em compensação, distribui toda a informação de uma maneira mais tridimensional e espacial. Ou seja, os instrumentos são mais bem posicionados e têm maior precisão, principalmente, em termos de profundidade. Soam, no final das contas, mais orgânicos. Todos os detalhes estão ali, e mais naturais. Basta querer ouví-los.

03O truque na manga do Mjolnir é o quanto ele consegue trazer essa personalidade energética e divertida sem prejudicar a naturalidade e a coerência e, principalmente, sem trazer um resultado fatigante. Com o HD800 essa capacidade fica muito evidente, já que se trata de um fone assustadoramente sensível a essa característica. Ainda prefiro o resultado com o GS-X, mas se alguém descrevesse para mim a personalidade do Mjolnir sem que eu tivesse o ouvido, apostaria que a combinação não seria ideal – a realidade, porém, não é essa. Muito pelo contrário, é um conjunto extremamente competente. É um pareamento tão bem sucedido quanto aquele com o HE500.

 

CONCLUSÕES

Se tem algo que tirei dessa avaliação, não foi o quanto o GS-X é superior – e sim o quanto o Mjolnir chega perto. As diferenças sobre as quais falei são pequenas e eu tenho certeza de que não conseguiria detectá-las dado um intervalo longo entre as audições de cada amplificador.

No entanto, são diferenças. Não posso negar que o GS-X é mais competente porque, além de ser mais versátil com suas entradas e saídas e capacidade de empurrar até mesmo in-ears altamente sensíveis, me apresenta uma personalidade mais suave, espacial, coerente e principalmente natural – ainda que seja perfeitamente razoável preferir a apresentação mais energética do Mjolnir, mesmo tendo em vista a superioridade do HeadAmp em termos técnicos.

IMG_6852Isso se torna impressionante quando consideramos que o Schiit custa menos de um terço do preço do GS-X MKI e, em termos físicos, não deve nada a ele. Mas não devemos nos esquecer que estamos falando de audiofilia, então é absolutamente natural pagar cada vez mais por menos. Nessa comparação, essa realidade fica escancarada: com 750 dólares compra-se um amplificador de altíssimo nível capaz de empurrar qualquer fone balanceado com extrema competência, e um upgrade longe de grande (em termos puramente objetivos, já que conheço vários que classificariam a diferença entre os dois como enorme), custa mais que o triplo.

Mas não tenho problema nenhum ao admitir que se eu não fosse aspirante a avaliador e precisasse da versatilidade extrema do GS-X, talvez preferisse fazer uma boa economia e viver com o Mjolnir – e provavelmente feliz da vida.

 

Schiit Mjolnir – US$745,00

  • Resposta de frequência: 20Hz-20kHz (- 0.1dB), 2Hz-400kHz (-3dB)
  • Potência: 8.0W RMS a 32Ω, 5.0W a 50Ω, 850mW a 300Ω e 425mW a 600Ω
  • THD: <0.006%, 20Hz-20kHz @ 1V RMS
  • SNR: >104dB
  • Impedância de saída: 1.5 ohms
  • Entradas: um par de XLR 3 pinos, um par RCA
  • Saídas: um XLR de 4 pinos, dois XLR 3 pinos para fones e dois para saídas do pré-amp

 

Equipamentos Associados

  • Headphones: HiFiMAN HE500 e Sennheiser HD800
  • DACs: Electrocompaniet ECD-1, Abrahamsen V6.0
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