Criações DIY de Leandro Luiz: SR80i e Starving Student

INTRODUÇÃO

Um dos aspectos mais legais de um hobby é o espírito de comunidade, e acho que onde isso fica mais evidente é no DIY. Existem projetos muito interessantes, vários deles abertos, e as pessoas se ajudam. Sempre me encantei com esse mundo, mas ao mesmo tempo nunca me arrisquei a entrar.

Ao que parece, no entanto, não é algo particularmente difundido no Brasil, talvez por questões culturais – não temos o hábito de fazermos as coisas nós mesmos, ao contrário dos americanos. Por isso fico feliz quando encontro conterrâneos meus indo contra as estatísticas. Recentemente conheci, pelo HTForum, o Leandro Luiz, um DIYer com alguns projetos que me despertaram bastante curiosidade: amplificadores, DACs, caixas, fones… acho que ele já se arriscou em quase todas as áreas do áudio, e com resultados muito interessantes. Dois deles estão aqui comigo.

 

Grado SR80i

IMG_6666O primeiro é um Grado SR80i altamente modificado: o arco foi trocado por um da Turbulent Labs, com acolchoamento extra, os copos foram substituídos por enormes peças de alumínio de projeto próprio, os falantes foram levemente modificados e o fone foi recabeado com cabos Double Helix.

Apesar de o fone (que era antes extremamente leve) ter se tornado muito pesado, o novo arco trouxe grandes benefícios em termos de conforto. O SR80i original acaba incomodando depois de um tempo porque, apesar da leveza, há pouco acolchoamento e o topo da cabeça começa a sentir a estrutura interna de metal – o que não acontece mais. Em compensação, o Leandro colocou as almofadas L-cushion, que melhoram o som mas acabam fazendo com que a orelha encoste, as vezes, no copo de alumínio, o que incomoda um pouco.

Esses copos, aliás, são a parte mais interessante da adaptação. Ocorre que, em fones de ouvido e caixas de som, os alto-falantes são responsáveis apenas por uma parte do que se ouve (eu diria algo em torno de 50%). O que está em volta deles é responsável pelo resto. É por isso que vemos vários casos de fones diferentes, de preços diferentes, mas que usam o mesmo falante: por exemplo, Denons D2000 e D5000, alguns Sennheisers da linha HD, além do HD 25-1 II e Amperior, e por aí vai.

IMG_6672Infelizmente não tenho acesso a um SR80i original para comparar, mas o que posso dizer é que essa obra do Leandro está bem longe de soar como um fone de entrada. É a personalidade que tanto gosto da Grado a todo vapor, mas surpreendentemente refinada e relaxada. O equilíbrio tonal fica perto do que considero ideal: os graves têm corpo, textura e a presença ideal; os médios estão perfeitamente em linha com os graves – minha única crítica fica a uma coloração nessa região, que não me soa perfeitamente natural –; e os agudos são presentes mas muito doces. Eu gostaria, apenas, de um pouco mais de extensão. Uma diferença em relação ao SR80i original que é facilmente identificável, porém, é a espacialidade incrementada.

Saber que estou ouvindo o que já foi um fone de meros 100 dólares é algo que realmente me impressiona. Minhas críticas são poucas, e não levam em conta a faixa de preço original ou o fato de esse ser um fone muito modificado. Ele é seriamente competente e definitivamente não faz feio perto do resto da minha coleção. Ele possui o detalhamento, o refinamento e a naturalidade de equilíbrio tonal para tocar gêneros leves acústicos, a energia e a frontalidade típica da marca para rock e a autoridade e o peso nos graves para tocar música eletrônica com maestria. Há muito do que se gostar aqui.

 

Starving Student

IMG_6676O amplificador montado pelo Leandro, um Starving Student, é um projeto do renomadíssimo Pete Millet, quase uma lenda na comunidade entusiasta dos fones de ouvido. O objetivo era criar o amplificador mais simples possível usando válvulas – nesta montagem, no entanto, foram feitas pequenas melhorias com vistas a um melhor desempenho e a uma adequação à disponibilidade de peças do Leandro.

Fisicamente e esteticamente é um projeto muito interessante, montado em cima de um bloco de madeira, todo feito em circuito ponto-a-ponto. Gosto bastante da combinação com o Grado – o par possui uma aparência artesanal que muito me agrada.

Em termos de som, também tenho muitos elogios. É evidente que não é justo compará-lo ao GS-X, mas seu desempenho é muito respeitável. As perdas acontecem em relação a espacialidade, tridimensionalidade, transparência e resolução – em termos de equilíbrio tonal, ganho uma personalidade diferente. Ele é um híbrido que vai de acordo com o estereótipo dos valvulados: há um belo toque de calor na região média e agudos mais comedidos em relação ao estado sólido da HeadAmp. É um desempenho que favorece o Grado, e o pareamento também é extremamente agradável em termos sonoros.

 

CONCLUSÕES

IMG_6664Gostei bastante da experiência que tive com as criações do Leandro, mas gostei mais ainda de ver projetos DIY assim nascendo aqui no Brasil. Outro DIYer de altíssimo nível é o Renato Lira – ainda não pude ouvir nada dele, mas de acordo com relatos de algumas pessoas bastante experientes, algumas de suas caixas acústicas dão trabalho para equipamentos importados que custam várias vezes mais. Recomendo, aliás, a visita aos sites dos dois (Leandro aqui e Renato aqui) para ver o que eles fazem.

Hobbies são coisas que nos dão prazer, e é melhor ainda quando podemos dividí-los com outras pessoas. É por isso que tenho muita admiração por aqueles se aventuram no mundo do DIY. Os interesses econômicos das grandes marcas é reduzido a quase zero, e o que resta são pessoas com verdadeira paixão pelo que fazem, tanto sozinhos (como esse SR80i modificado) quanto em comunidade (como esse projeto aberto do Pete Millet), e que gostam de dividir aquilo que criam. E é melhor ainda quando os resultados são belíssimas criações como essas aqui.

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