INTRODUÇÃO
Como já disse na recente avaliação do FiiO X3, está claro que há mercado para tocadores portáteis high-end, com foco na qualidade de som acima do que o típico aparelho pode fornecer. A popularidade dos Astell & Kern, dos HiFiMANs, dos iBasso, dos FiiO e, principalmente, a recente campanha do Kickstarter do Pono Player, que até o momento arrecadou mais de 6 milhões de dólares, são prova disso. Mas é curioso que seja um território onde as grandes marcas não pisam. Até agora.
Recentemente, a Sony apresentou um tocador portátil com os dois pés no high-end: o NW-ZX1, topo de linha da marca e comemoração dos 35 anos da linha Walkman. Até o momento ele só está disponível no Japão, na Austrália e na Europa, e nessas regiões o preço fica próximo dos 800 dólares.
ASPECTOS FÍSICOS E FUNCIONALIDADE
O que me fez partir para o Sony – ao invés dos outros tocadores high-end – foi uma combinação de fatores. Esses outros tocadores vêm de empresas menores, que simplesmente não têm a capacidade da gigante japonesa de fazer um aparelho tão completo em todas as frentes, e a um preço mais acessível sem necessariamente comprometer suas habilidades sonoras.
Os A&K são lindíssimos e bem construídos, mas sofrem de uma interface precária. Os HiFiMANs apresentam o mesmo problema e não são exatamente bonitos ou com qualidade de construção tão boa. Os FiiO são um pouco melhores nesse último aspecto, mas têm falhas e, mais uma vez, a interface é um problema. O mesmo para os iBasso. Nenhum deles, exceto o AK240, tem muita memória (confiam em cartões de memória para carregar uma grande coleção), ou boa duração da bateria.
O Sony não peca em nenhum desses aspectos. Não há nenhum porém. Como se não bastasse tamanha beleza e solidez de construção, o aparelho roda Android (um upgrade sem tamanho em relação às interfaces problemáticas dos HiFiMANs, A&K, iBasso e FiiO), tem 128Gb de memória interna, bateria que pode durar até 32 horas e tela sensível ao toque, além do tradicional em equipamentos desse tipo: é capaz de decodificar basicamente qualquer arquivo, de baixa ou alta resolução, inclusive DSD.
A única questão é que ele não possui a versatilidade dos FiiOs ou dos HiFiMANs topo de linha. Basicamente, a única opção do usuário é carregar arquivos à sua memória interna e ouví-los através da saída de fones. Não há entrada para cartões de memória e nem a possibilidade de usá-lo como DAC externo, mas acho que é possível usá-lo como transporte ou fonte, entretanto isso requer um adaptador. Uma coisa que é possível, porém, mas também requer um adaptador, é conectá-lo diretamente a um HD externo ou pendrive.
Fisicamente, não tenho do que reclamar. O tamanho é perfeitamente aceitável, apesar de o aparelho ser assimétrico (há um ressalto na parte inferior traseira), e há botões físicos de volume, avançar, retroceder e play/pause, além do de desligar e ligar. Tudo muito sólido, e alguns botões possuem ressaltos, de modo que é possível realizar operações básicas sem vê-lo. Vale observar, inclusive, que os passos do botão de volume são muito pequenos, o que é algo muito positivo por permitir um ajuste fino do volume, sem grandes saltos.
Também gosto do detalhe dourado em torno da entrada para fones. De acordo com a marca, não é algo puramente estético, é uma peça funcional que permite cabos internos mais grossos. A tela é relativamente grande e, apesar de não ser nada impressionante em termos de resolução, faz seu trabalho com competência. Outro detalhe é o logotipo Walkman na parte de trás, que é na verdade um alto-falante – de péssima qualidade, obviamente.
O considero lindíssimo, com um belo corpo de alumínio usinado, proveniente de um bloco inteiriço – como os MacBooks unibody –, e a parte traseira de borracha com textura de couro, o que melhora a aderência à mão e previne que o aparelho arranhe quando estiver numa mesa. Ele certamente parece um aparelho caro. O normal, numa situação como essa, é ter medo de danos físicos, e é bom ver que, incluso no pacote, vem uma capa de borracha para o aparelho.
Ela não é, no entanto, conveniente – é necessário tirar o ZX1 dela para operá-lo –, e é basicamente o único acessório incluso no pacote além do cabo para carregar o aparelho e ligá-lo a um computador. Esse cabo, aliás, usa um odioso conector proprietário. Isso é algo que me incomoda bastante, visto que tenho que ter cuidado dobrado para não perdê-lo.
Não é necessário falar muito sobre o sistema operacional. A essa altura do campeonato o Android (4.1 Jellybean) é conhecido por todos, e oferece um sistema completo, atraente e estável, com uma variedade enorme de aplicativos, e o necessário em termos de conexões: Bluetooth, Wi-Fi e NFC. Confesso que sempre dei preferência a interfaces simples e efetivas, como a do iPod Classic, haja vista que já tenho um smartphone comigo a todo momento e o que quero num tocador é que ele simplesmente toque música bem. Mas o Sony me seduziu… a possibilidade de escolher novos aplicativos para ouvir música ou para enaltecer a experiência de usar um tocador portátil de alto nível é muito interessante.
A transferência de arquivos é simples, baseada em drag’n drop, e o aplicativo de músicas incluso é bem completo, além de não ter dificuldades em ler as tags e organizar a biblioteca corretamente. Também é capaz de ler basicamente qualquer formato de arquivo. Essa, aliás, é uma conveniência que me agrada. Não tenho o hábito de ouvir arquivos de alta resolução, mas gosto da facilidade de simplesmente jogá-los no tocador e ele faz o que é preciso para lê-los. A ideia de ter que mexer em configurações no computador para que ele leia os arquivos de alta resolução sem interferência (como alterar as configurações MIDI num Mac) sempre me incomodou. DSD nem se fala, então é muito bom ter um aparelho que se entende com qualquer coisa e resolve tudo para você. Nunca tive qualquer dificuldade com o ZX1 nesse aspecto. Se ele lê (e ele vai ler), é jogar o arquivo e pronto.
SOM
Arquivos prontos, é hora de escutar.
Como os que acompanham minhas avaliações devem saber, não acho que a diferença entre tocadores portáteis seja tão grande quanto muito do que se lê pela internet dá a entender. Ela existe, mas está numa magnitude muito menor do que aquela que fones ou que as próprias gravações das músicas fazem. Por isso, acho que julgar a hora de investir num não é fácil. Se o objetivo é empurrar full-sizes mais cascudos fora de casa o investimento faz mais sentido, mas com intra-auriculares é mais complicado.
Explico: um JH Audio JH13 Pro aliado a um Sansa Clip ou a um iDevice trará um resultado espetacularmente superior àquele trazido por um Astell & Kern AK240 empurrando qualquer in-ear universal na faixa dos 500 dólares. Acho que um tocador como esse para in-ears só deve ser contemplado quando já se tem os melhores intra-auriculares do mercado ou, ainda, quando o objetivo é já ter uma “base” preparada para upgrades futuros. Ainda não seria minha escolha, mas julgo essa uma opção válida. Como recentemente parti para o JH Audio Roxanne, resolvi que era a hora de tentar mais uma vez chegar no topo da cadeia dos tocadores e ver o que acontece.
Imediatamente, minha impressão foi a de uma sonoridade mais cheia e calorosa do que aquela que tenho com o iPod. É estranho, porque tudo o que li sobre esse tocador me levou a crer que ele apresentava uma personalidade mais analítica do que a de seus concorrentes – e o que o ouvi, quando o comparei ao iPod, foi justamente uma apresentação mais eufônica que a de meu fiel escudeiro.
Há um leve incremento na atividade dos graves e médio-graves, o que torna a apresentação mais autoritária. No entanto, não são graves secos ou com impacto excessivo. São bastante melodiosos, e me lembram o EX1000 – in-ear com o qual o pareamento ao tocador foi bem interessante. O mesmo ocorreu com o Etymotic MC3. Há mais peso e mais calor. É uma apresentação mais convidativa e o iPod Classic, em comparação, me parece mais magro e sem vida. Não gosto muito de usar esse termo numa situação como essa, mas talvez seja aquele que melhor define o que estou ouvindo: o ZX1 possui uma personalidade mais analógica.
Saindo do iPod, também há ganhos em refinamento. Os médios do aparelho da Apple são mais proeminentes e algo agressivos quando comparados ao que o japonês me mostra. Não é uma diferença grande, mas ao mesmo tempo, não posso negar que o ZX1 apresenta a região média de maneira mais correta: há menor granulação e maior transparência, além de melhor coerência em termos de equilíbrio tonal.
Essa coerência é também enaltecida por um desempenho ligeiramente mais competente nos agudos. Cheguei a ler algumas vezes que eles eram mais ativos no Sony – definitivamente não concordo, e ainda o coloco no campo dos tocadores mais eufônicos, mas essa região é consideravelmente mais definida do que no iPod Classic. É aqui que encontrei as “maiores” diferenças (mas ainda assim realmente pequenas) entre os dois. É como se pratos de bateria fossem melhor formados. Estão mais bem definidos no espaço e o timbre é renderizado de maneira ligeiramente mais correta. No entanto, em termos de quantidade, são muito parecidos com os do iPod.
Outra área onde noto progresso é na espacialidade: há um pouco mais de profundidade. Na Foot In The Door, do Fink, a voz e o violão parecem estar mais destacados do fundo. Mais uma vez, nada gritante, mas notável com alguma concentração.
No que diz respeito a potência e capacidade de empurrar fones mais difíceis, me parece que o ZX1 ainda está mais próximo dos tocadores comuns. Ele é mais potente que o iPod Classic, mas ainda está longe da força bruta de algo como um HiFiMAN HM-801, por exemplo. Com o planar-magnético HE500 tenho que chegar próximo ao limite para atingir um volume perto de onde escuto normalmente, e ainda assim não há a autoridade do antigo DAP high-end da marca chinesa. Me parece que o Sony foi feito para in-ears ou para fones portáteis menos exigentes. Acredito que até o nível de um Sennheiser HD650, HD700 ou AKG K701 ele não tenha problemas – mas subindo para planares ou para fones da estirpe de um HD800, a coisa pode complicar um pouco.
CONCLUSÕES
Basicamente só tenho elogios com relação à experiência que tive com o Sony NW-ZX1. Fisicamente e em termos de interface o considero imbatível no mundo dos DAPs high-end. É lindíssimo, bem construído, roda Android, possui muita memória interna, e bateria com duração bem acima da média de sua categoria.
Em termos de som, não acho que a diferença para tocadores comuns seja grande. Muito pelo contrário, e peço que o leitor relativize minhas palavras. De toda forma, para aqueles que procuram a última gota de desempenho com seus in-ears customizados, o ZX1 é definitivamente uma belíssima opção, apesar de talvez não o ser se o objetivo for empurrar full-sizes mais difíceis – o que não é problema para mim, já que não pretendo usar meu HD800 fora de casa. Ele é sim superior a um iPod, por apresentar uma sonoridade mais cheia, eufônica, transparente, refinada, além de possuir maior profundidade no palco sonoro e ser particularmente mais competente nos agudos. E, ao contrário do que ocorre com os outros tocadores dessa estirpe, não há preço a se pagar – fora, bem… o preço.
Eu também gostaria da possibilidade de ele atuar como DAC e amplificador externos, mas não é algo que me incomoda muito tendo em vista que a memória interna é muito generosa e ele toca basicamente qualquer tipo de arquivo, até mesmo os DSDs que andam na moda em círculos audiófilos atualmente.
Porém, mesmo diante de tantos elogios, decidi não mantê-lo, por causa do que aconteceu com o Roxanne. Sempre bato na tecla da sinergia, e aqui encontrei uma das melhores formas de exemplificar essa questão. Um dos motivos para eu considerar esse in-ear tão espetacular é sua personalidade cheia, com médios com bastante corpo e peso. O som, como consequência, é grande e vai muito além do que tradicionalmente se espera de um intra-auricular.
O que acontece com o Sony é que essa questão acaba cruzando um pouco o limite do que eu gostaria. São dois equipamentos com uma sonoridade similar de certa forma: personalidade cheia e corpulenta. Acaba se tornando o clássico too much of a good thing. Acredito que com basicamente qualquer outro in-ear o pareamento seja bom – exceto monstros de graves, como o Sennheiser IE80 –, inclusive com o JH13 Pro. Com o Roxanne, no entanto, acabo preferindo o som mais magro do iPod, mesmo perdendo desempenho em outras categorias.
A grande vantagem do ZX1 é que seus predicados vão muito além do habitual em DAPs high-end, e não se restringem a uma qualidade de som mais competente – o que, como já disse diversas vezes, não é uma vantagem exatamente grande. Ele vai além disso e compõe, com suas proezas construtivas e de interface, uma experiência de uso excelente. Sempre achei um pouco difícil digerir o preço desses tocadores mais sofisticados. No Sony, ficou muito mais fácil.
Sony NW-Z1 – US$800,00
- Sistema Operacional: Android 4.1
- Bateria: 32 horas
- Dimensões: 59.7mm x 122.3mm x 13.5mm
- Peso:139g
- Formatos de áudio suportados: WAV, FLAC, ALAC, DSD, MP3, WMA, AAC
- Memória Interna: 128Gb
- WiFi, Bluetooth, NFS
- Tela: LCD 854 x 480 Pixels
Equipamentos Associados:
In-Ears: JH Audio Roxanne, Sony EX1000, Etymotic Research MC3, Bang & Olufsen A8
Portáteis: Audio-Technica ATH-M50, Sennheiser Amperior, Sennheiser HD 25-1 II
Full-Sizes: Audio-Technica W3000ANV, Grado HP1000, HiFiMAN HE500, Sennheiser HD800
Set de Mesa: iMac, Abrahamsen V6.0, HeadAmp GS-X