INTRODUÇÃO
Cada vez se torna mais evidente que há um mercado para tocadores portáteis que têm como foco a qualidade de som. Até há poucos anos atrás éramos restritos ao HiFiMAN HM-801 e logo depois iBasso DX100, mas hoje há uma grande quantidade de dispositivos com esse fim: a HiFiMAN agora conta com uma família de tocadores, sendo o HM-901 o topo de linha; a Astell&Kern (ex-iRiver) conquistou uma enorme fatia do mercado com os atraentes AK100/120 e agora lançou o AK240, que ultrapassa a barreira dos 2 mil dólares; a Calyx está lançando o M; e até a Sony não ficou parada e lançou o NW-ZX1. O resumo é que aqueles que querem e podem gastar mais de 1.000 dólares num tocador portátil já têm várias opções a se considerar.
Mas o mais interessante, na minha opinião, é o que está acontecendo a preços mais convidativos. A HiFiMAN, após o sucesso do HM-801, lançou o HM-601 e o HM-602, consideravelmente mais baratos que o irmão maior, e a iBasso recentemente fez o mesmo, trazendo o DX50. No final do ano passado, a HiFiMAN também trouxe um novo aparelho, o ousado HM-700, que combina qualidade de som e estilo, e já vem com o bem conceituado RE-400B.
E, agora, quem entrou no jogo é a FiiO. Os que leram o E17 sabem o quanto gostei do aparelho, e eu sempre olhei para ele, com seu atraente formato e sua pequena tela com vontade de que aquilo fosse um player. Parece que a FiiO ouviu meus (e de muitos) anseios e trouxe o X3, que parece ser exatamente isso. É o aparelho que tenho aqui, graças a meu estimado colega Renato Nickel.
ASPECTOS FÍSICOS E FUNCIONALIDADE
O X3 repete muito do que elogiei no E17. Possui ótimo acabamento, sendo majoritariamente feito de metal, e é atraentemente compacto. É um pouco mais alto e mais gordo que um iPod Classic, porém mais fino.
Um de seus grandes trunfos é a versatilidade, já que ele pode, assim como o E17, ser usado como DAC e amplificador para um computador via USB assíncrona. Onde ele se difere é na disponibilidade de uma saída fixa, para alimentar um amplificador externo (o que no E17 requer o adaptador L7), e na saída coaxial, para que ele sirva de transporte enviando dados para um DAC externo.
Há 8Gb de memória interna e uma entrada para cartão microSD, que aceita cartões de até 64Gb. Não é tanto quando se tem em vista que o X3 é capaz de tocar áudio de altíssima resolução, até 192kHz/24Bits, nos formatos mais variados: FLAC, APE, ALAC, WAVE e até WMA – além, é óbvio, do bom e velho mp3. Nada mal para um pequeno player de meros 200 dólares. A bateria pode durar até 10 horas, dependendo do firmware usado.
A tela do X3 é relativamente grande, mas um pouco old-school. É um pouco distante do vidro, como alguns celulares mais antigos de tela touchscreen capacitiva, e a resolução não é das maiores, apesar de certamente maior do que a do iPod Classic. O X3 não toca vídeos, mas as capas dos CDs são mais aparentes e vivas do que no aparelho da Apple.
O sistema é relativamente completo, e funciona no clássico sistema drag-and-drop tanto no Memory Card quanto na memória interna. As músicas são reconhecidas automaticamente e, se as etiquetas estiverem corretas, podem ser encontradas via Álbum, Gênero e Artista – o que me incomoda é que as músicas aparecem pelo nome do arquivo. Tenho um “pouco” de TOC com essas coisas, e gosto de organização. Outra possibilidade é navegar pelas pastas e pelos arquivos, e aí é possível organizar você mesmo a hierarquia artista-álbum-música, com os nomes corretos. Nisso, um iPod sincronizado com uma biblioteca do iTunes feita por um obsessivo como eu são imbatíveis.
Há também controles de graves e agudos – que são feitos analogicamente, não digitalmente, o que provê um melhor resultado –, de ganho e de balanço. O sistema também possui as tradicionais configurações, como língua, função sleep, função repeat de álbum e música, temas, brilho e formatação do cartão microSD. Nada inovador, apenas o básico, mas bem executado. Muitas vezes esse tipo de aparelho apresenta sérios problemas de interface, mas gostei do que o X3 faz. Arrastei vários arquivos ALAC e FLAC para o Memory Card e, usando minha própria estrutura de pastas, consegui uma boa navegação. Em todos os arquivos o aparelho conseguiu mostrar as informações corretas e a capa do álbum.
Minha única revolta com o X3 é o leiaute dos botões. Aqui, fica claro que a FiiO é uma pequena empresa que provavelmente não tem um designer com considerações com a ergonomia. Os botões de navegação e volume estão em diagonal, e nas extremidades das linhas diagonais é que estão o botão de Menu/Retorno e Play/Pause/OK/Ligar/Desligar. Ou seja: quem está em cima do botão de navegação para baixo não é o de navegação para cima, é o de Menu/Retorno. E quem está embaixo do botão de volume para cima não é o de volume para baixo, é o Play/Etc. As diagonais até podem ser atraentes, mas trouxeram efeitos catastróficos para a ergonomia. O X3, graças a isso, é muito contra-intuitivo. Acho que com o tempo o usuário se acostuma, mas para mim (um designer quase formado, diga-se de passagem) é um erro grave.
A embalagem traz o mesmo estilo dos outros produtos da FiiO. Ou seja, compacta, inspirada na Apple – assim como o site da marca –, e inclui tudo o que é necessário para o uso: dois protetores de tela, cabo micro USB, adaptador para a entrada mini-coaxial e uma capinha protetora. Esta última é uma bela adição, já que dificilmente alguma outra marca se interessaria em produzir capinhas para um tocador obscuro como esse – afinal, convenhamos, fora do círculo audiófilo ele não vai fazer tanto sucesso, porque a briga lá fora é de cachorros grandes –, mas está longe de ser das melhores. É de uma borracha muito fina, e ela fica frouxa no X3.
O SOM
Essa seção será dividida em duas partes. O X3 não é apenas um tocador, e pode também ser usado apenas como transporte, como DAC e amplificador ou apenas como DAC. Essa última forma de uso será analisada separadamente, porque vai ser interessante analisar o que o DAC desse FiiO está fazendo, independente da amplificação interna.
– COMO PLAYER e DAC + AMPLIFICADOR
O X3 parece manter as competências do E17, e trazer sua sonoridade para um tocador portátil. Ou seja, é natural, inofensivo e apresenta uma personalidade doce e eufônica, mas sem perder de vista o detalhamento. Com o JH Audio Roxanne, não ouço nada radicalmente diferente do iPod Classic, o que não é ruim. Afinal, os dois estão na mesma faixa de preço e, ao contrário de alguns (que, na minha opinião, sofrem apenas de preconceito), gosto muito da sonoridade desse equipamento da Apple.
O equilíbrio tonal é muito semelhante, mas o FiiO me dá uma presença ligeiramente maior nos graves, com mais impacto, e é espacialmente mais desenvolvido. O palco sonoro é um pouco maior e mais aberto. Não é uma diferença incrível, mas é notável. Me parece uma assinatura igualmente correta, mas com pequenas melhorias.
Onde ele sai na frente é na potência. O JH Audio Roxanne é muito sensível – mais que o JH13 Pro –, e no X3 ouço com o volume perto de 40% no ganho mínimo. No iPod, o volume fica próximo aos 60%. Esse FiiO foi feito para ser usado principalmente com fones portáteis e intra-auriculares, mas é bom saber que há uma boa reserva de potência para usos um pouco mais ambiciosos. Li alguns relatos que indicavam que o X3 era muito agudo com full-sizes, mas não ouvi essa característica. É possível que sejam firmwares diferentes.
Com o ganho alto, ele possui a potência necessária para empurrar tanto o Sennheiser HD800 quanto o HiFiMAN HE500 sem qualquer dificuldade, com o volume em 50% – apesar de, acima disso, o HD800 apresentar uma leve distorção. O iPod precisa estar em 90% para empurrar o HD800, e praticamente não há atividade nos graves em relação ao X3. O HE500 também é facilmente levado a volumes acima da minha zona de conforto, mas os graves sofrem um pouco e são soltos, mostrando que o X3 não é capaz de tomar as rédeas do HiFiMAN e controlar totalmente os enormes diafragmas ortodinâmicos.
Mas vamos colocar da seguinte forma: se eu comprasse o HE500 ou o HD800 sem ter ainda um sistema de mesa competente, o X3 seguraria a onda até que eu o montasse com uma qualidade não só aceitável, mas também respeitável quando pensamos no preço desse aparelho. Com o iPod Classic, considero os dois praticamente “não-tocáveis”. No FiiO, é diferente.
Com full-sizes menos cascudos, como Audio-Technica W3000ANV, Grado HP1000, Sennheiser HD 25-1 II e Shure SRH840, a situação fica mais fácil para o lado do X3 e ele consegue mostrar um desempenho competente – dentro, é claro, das óbvias limitações de um aparelho como esse quando comparado a um sistema de mesa, principalmente considerando o Grado e o Audio-Technica.
– COMO DAC DISCRETO
Nessa seção, estou usando o X3 como fonte, alimentando o HeadAmp GS-X via RCA.
O primeiro detalhe interessante é o quão alta é a saída fixa. Estou comparando o X3 diretamente ao Abrahamsen V6.0 usando o GS-X (sei que não é uma comparação justa, mas é o que tenho aqui no momento), e apesar de o V6.0 estar usando as saídas balanceadas, o FiiO consegue ser mais alto.
Como DAC, me parece que o FiiO assume uma personalidade ligeiramente mais fria. A assinatura é menos relaxada e melódica do que quando ele é usado como tocador portátil. Isso me leva a crer que é a seção de amplificação que dá uma leve arredondada no som.
Essas não são críticas: ouço muita competência no X3 usado como DAC. A sonoridade é definitivamente muito balanceada, com um ótimo equilíbrio tonal. Não ouço falhas significativas, mas o Abrahamsen, obviamente, me traz um desempenho superior – os agudos são menos agressivos e mais lineares e há um significativo incremento na espacialidade. Há mais profundidade, tridimensionalidade e transparência.
Mas isso não é mais do que a obrigação de um DAC dedicado que custa múltiplas vezes o preço do FiiO, e o fato de os dois serem, em termos, comparáveis já mostra que o X3 sabe muito bem o que está fazendo. Lembro de quando ouvi o Emotiva XDA-1, e achei que ele tinha uma personalidade muito diferente do V6.0, com um equilíbrio tonal um pouco menos natural. Esse pequeno player, porém, está mais alinhado com o que eu, particularmente gosto. Veja, não estou dizendo que ele é melhor que o Emotiva, apenas que está mais de acordo com a sonoridade do Abrahamsen (apesar de logicamente pior), o que para mim é algo muito positivo.
CONCLUSÕES
Gostei muito do FiiO X3. É um player muito competente, com uma boa qualidade de som, versátil e a um preço baixo.
Não vou sair correndo e trocar meu iPod Classic por um – o X3 é superior em termos de qualidade de som, mas é uma diferença pequena e, no que diz respeito à conveniência, nada supera o tocador da Apple: bateria, interface e memória (pra mim o mais importante, já que gosto de carregar minha coleção inteira comigo) são ótimos. E eu, pessoalmente, não vejo muito uso para um DAC ou transporte portáteis hoje em dia.
Ao mesmo tempo, sei que muitos audiófilos não precisam dos 128Gb de um iPod e já se satisfazem com os 72Gb oferecidos pelo FiiO aliado a um cartão espaçoso. Para esses, o leve incremento na qualidade de som pelo mesmo preço certamente será muito bem vindo.
O X3 se mostra um equipamento excelente, porém, para aqueles que buscam primariamente a versatilidade. O FiiO E17 é recomendação frequente tanto aqui nos comentários quanto no fórum, já que é uma fonte competente que dá conta de um grande número de fones não tão pretensiosos, e por isso é a primeira opção de muitas pessoas que dão os primeiros passos nesse tipo de equipamento. O X3 faz a mesma coisa, mas com a vantagem de ser também um tocador.
Acho essa versatilidade algo excepcional. Quando eu tinha o HM-801, o usava na rua como player e no trabalho como amplificador e DAC conectado ao meu notebook. Ele atuava como uma central multimídia de certa forma. O problema sempre foi o preço.
Agora, há outra opção.
FiiO X3 – US$199,95
- Memória: 8Gb internos + suporte para cartões microSD de até 64Gb
- Bateria: Li-Ion 3000mAh com capacidade para até 10 horas de uso
- Saída fixa 3.5mm e saída mini-coaxial
- Suporte de arquivos: APE, FLAC, ALAC, WAV, WMA, AAC, OGG, MP3
- Suporte até 192kHz/24Bits
- Transmissão de dados: USB 2.0
- Gapless playback suportado
- Controle de graves e agudos
- Tela TFT 320×240
- THD+N: <0.005%@1kHz
- SNR: > 105 dB
- Potência: 540mW@16Ω, 270mW@32Ω, 30mW@300Ω
- Impedância de saída: < 0.3Ω
EQUIPAMENTOS ASSOCIADOS
- In-ears: JH Audio Roxanne, Unique Melody Mentor, Sony EX1000
- Full-sizes: Sennheiser HD800, Grado HP1000, Audio-Technica W3000ANV, HiFiMAN HE500, Sennheiser HD 25-1 II, Shure SRH840
- Amplificador: HeadAmp GS-X
- Transporte: iMac
- DAC: Abrahamsen V60